domingo, 6 de setembro de 2015

O capital


As pessoas costumam afirmar que os economistas são arrogantes. Falam uma língua diferente, o economês, e tem linhas de pensamento  conflitantes, que quando contrariadas pelos fatos, não são revistas pelo autores e seguidores. O tema de nossa reflexão hoje, é baseado em uma leitura que fiz nas férias, e que julgo  indispensável neste começo de século: “O Capital no século XXI” de Tomas Piketty - que não é arrogante, nem tem um discurso de economês, pelo contrário, é elegante, possui  um suave trato com as palavras, e apresenta competentes pesquisas sobre desigualdade de riqueza e renda, que inovam e impactarão o cenário da economia politica,   no século  XXI, tanto quanto Marx no século XX, daí  o sucesso editorial jamais visto em um livro de economia.

A principal força desestabilizadora da distribuição de renda, é o fato da taxa de rendimento do capital privado  ser muito mais elevada que o crescimento dos salários e da produção, e se nada for feito, algo acontecerá de muito grave e revolucionário, envolvendo o despertar das massas prejudicadas . O trabalho  é conclusivo, ao comparar as desigualdades de renda e capital, no tempo e no espaço, ao redor do mundo, utilizando o coeficiente  de Gini(indicador sintético de desigualdade que varia de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1 pior). Em 2010  este índice era 0,36  na Europa, 0,49 nos Estados Unidos,  e 0,19 nos países escandinavos – O PNUD, órgão da ONU,  avaliou o Brasil em  0,56- o 3º mais desigual. E o que mais me impressionou  nas pesquisas de Piketty, é que pouca coisa mudou desde  a belle époque,  as  pequenas  mudanças  que  ocorreram foram exógenas (com ação de fora das sociedades estudadas). Via de consequência, a  desigualdade  não mudou por ações de governantes, nem em países democráticos como Inglaterra e EUA. Como seria diferente por aqui?

Aprecio tabelas e gráficos com análise quantitativas e qualitativas,  para expressar resultados,  o que o livro apresenta fartamente. No capítulo sete,  por exemplo, em três tabelas, o autor mostra qualitativamente  que em 2010, em termos de propriedade do capital, em todos países o índice médio de Gini foi 0,70, enquanto que  para renda do trabalho foi  0,30(menos da metade). Percebam que o indicador  gini, de capital somado à  renda, mascara o poder dos rentistas, enquanto, sabe-se que  esta desigualdade  é por demais potencializada com ações de patrimonialismo, corrupção e desvios de orçamentos públicos. Uma das sugestões de Piketty (Polêmica) é taxar os mais ricos com, por exemplo, impostos sobre grandes fortunas, de tal forma que o estado  lidere e reproduza, uma distribuição mais equânime:os 10% mais ricos  ficariam  com 30%do capital nacional, os 50% mais pobres com 25% e os  do meio com 45% (contra os atuais 10% mais ricos com mais de  50% de renda e capital, os 50%mais pobres com menos de  20%).

Nas notas de conclusão, o autor dá uma estocada  em textos consagrados de Sartre, Althusser e Baldiou - seguidores de Marx, que segundo ele, não apresentam, soluções sobre a questão do capital e das desigualdades entre  classes  sociais, por  terem sido comunistas  engajados, e usarem esses dados para lutas de outras naturezas. Tudo isso  faz sentido, ao olharmos para este  desigual,  mas querido País, no lado de baixo do Equador. 

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU

debatef@debatef.com

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