“Este
eclipse acontece quando a lua é encoberta pela sombra da Terra. Conforme o
meteorologista Leandro Puchalski, a coloração avermelhada ocorre por conta da
refração e dispersão da luz do Sol na atmosfera terrestre, que desvia apenas
alguns comprimentos de onda – É o mesmo fenômeno que acontece durante o nascer
e o pôr do sol" noticia nas mídias-ontem.
No começo do
século 20, um triste canto de louvor, entoado por negros americanos durante a
pascoa, ainda podia ser ouvido, enquanto sua igreja ardia
nas chamas da Ku klus Kan: “De joelhos
partamos nosso pão/De joelhos partamos nosso pão/Se de joelhos
estou/Contemplando o nascer do sol/Senhor tem pena de mim/De joelhos partamos
nosso pão...” Era como se nada estivesse acontecendo, embora muito sangue e dor crispasse o ar. De onde viria aquela
força?
Século zero: Jesus é morto na Cruz e este evento
divide a história em AC e DC. Os profetas que o precederam e os que o sucederam,
foram mortos das mais cruéis formas possíveis: crucificados, apedrejados,
serrados ao meio, queimados em fogueiras, decapitados. Muito sangue jorrou ao
longo de milênios na história do cristianismo. E a força dos que morriam em paz, vinha de Jeová Jihé.
Século 21 no Brasil: cerca de 40 mil pessoas são
assassinadas todo ano por motivos fúteis, além do latrocínio, e menos de 10%
dos autores destes crimes são punidos, na maior nação “cristã” da América latina.
Se de cada uma dessas mortes, sair alguns litros de sangue, seriam centenas de
caixas d'agua de mil litros cheias do conhecido líquido vermelho, que poderiam,
num suposto protesto, ser despejadas na
areia de Copacabana no Rio, poluindo o mar e impedindo o banho. Talvez assim o
mundo enxergasse tantas vidas perdidas por nada. Não pregavam o evangelho, não
eram revolucionários em valores, simplesmente
foram eliminadas como cidadãs, durante seu pacato cotidiano.
Já somos o País mais violento do mundo, e os que
morrem suplicam por suas vidas, não como os negros supliciados na América do
séculos 19 e 20, por uma entidade que
tinha cara e identidade, por isso
foram resilientes até a chagada de Martin Luther King, mas por uma cultura de
violência, horror e impunidade que não
tem cara, nem dono - não é de ninguém, nem do Estado, nem
da sociedade, muito menos de Deus.
A estranha coincidência, desta lua de sangue em
plena Páscoa me intrigou muito - ela é rara, e para mim trouxe uma mensagem da
não superficialidade incomum nestes tempos; da superação das velhas
lutas e dores: É como se Jesua mandasse seus anjos turgir de vermelho o branco
brilhante da lua, num celeste protesto, para nos alertar sobre a Nação que
estamos construindo, com tanta lama de sangue sob nossos pés, igual a que
Noé –um bom filme- presenciou - olhou na sola do calçado para se certificar, e a partir daí
construiu o novo, na arca, sobrevivendo ao dilúvio.
Finalizo sonhando assim, e esperando que este texto
possa ajudar leitores e leitoras
a refletir sobre esse evento cristão, chamado Páscoa.
José
Carlos Nunes Barreto
Professor
doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia
debatef@debatef.com
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