No
gênesis disse Deus: Haja Luz; e houve luz. Que bom, porque só nos damos conta da
importância da luz, quando estamos em trevas, como agora, neste apagão de sete
horas em 18 estados brasileiros. Se ele tivesse acontecido em 1960- época das máquinas
de escrever, o prejuízo não seria tão grande em nossas vidas. O paradigma da
energia elétrica condiciona nosso cotidiano à dependência de equipamentos que
nos dão conforto, e em alguns casos até a vida, como em uma UTI. E nem
cogitamos que de repente ela pode falhar, e isso ocorre em todos os lugares do
mundo- em alguns com freqüência maior, dependendo de como são projetados e
geridos estes sistemas. Nos EUA, por
exemplo, empresas com nível de qualidade seis sigma proporcionam 1 hora de
falta de energia elétrica a cada 34 anos, enquanto empresas com nível de
qualidade quatro sigmas sete horas de falta de energia elétrica por mês, em
média (Werkema,C.Criando a Cultura Seis sigma, Ed. Qualitymark RJ 2002). Um
sistema elétrico seis sigma gasta menos que 1% do seu faturamento com
retrabalho e erros operacionais por isso é tão confiável. Já um sistema com
nível de qualidade quatro sigma gasta até 25%
do faturamento com erros e retrabalhos, perfazendo cerca de 6000 erros
por cada milhão de operações. Quantos erros tem o processo seis sigma?cerca de
3 por cada milhão de operações. A má notícia é que as evidências mostradas na
operação do sistema energético brasileiro (apesar de não conhecer nenhuma
pesquisa da ANEEL com esta métrica), apontam para um nível de qualidade entre 3
e 3,5 sigmas, o que eleva o número de erros para até 66000 erros por cada
milhão de operações, o que significa gastar até 40% do faturamento com erros e
retrabalhos - pagamentos com precatórios
e demandas judiciais, advindas de prejuízos e mortes causadas a consumidores.
O
atual apagão é muito diferente daquele de 2001,quando faltou oferta de energia
devido a uma equivocada falta de investimentos estatais, que aliada às
condições hidrológicas desfavoráveis e uma expansão da economia, fez de uma crise
anunciada, a realidade de um apagão continuado. Medidas de racionamento foram então
coordenadas por um ministério da falta de luz, e por um governo comandado por
um presidente alcunhado à época de “príncipe das trevas”. Não há como um apagão
acontecer sem desdobramentos técnicos e políticos. O que de novo acontecerá sob
a era dilmista.
Ocorre
que depois da porta arrombada, buscam-se a toque de caixa soluções e não raro
os “Midas” como os que, na contramão das medidas consensuais contra o
aquecimento do planeta, implantaram as termoelétricas e ainda encareceram
nossas contas de luz, ao invés de
conceberem uma cesta de soluções (PChs-pequenas centrais hidrelétricas, eólicas,
solar, células de combustível, gaz natural e a associação destas), teimaram no
paradigma grandes centrais hidrelétricas com milhares de quilômetros de linhões,
o que agrava a vulnerabilidade do sistema.
Enquanto
isso, no plano mundial, há uma revolução tecnológica na produção e transporte
de energia elétrica semelhante àquela ocorrida quando passamos do mainframe
para os laptops, deixando a produção de ser centralizada para ser gerada
localmente. Será que vamos perder o bonde da história da energia reprisando erros de governos e sem
uma política de Estado?
Jose Carlos Nunes
Barreto
Professor
doutor
debatef@debatef.com
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