domingo, 6 de setembro de 2015

Energia Nuclear e Catástrofe


“E cada qual no seu canto/E em cada canto uma dor/”
Cancioneiro popular

O crescimento contínuo do consumo de energia e as suas consequências, via de regra negativas para o ambiente, põem um conjunto de questões que, no mínimo, se poderão considerar como complexas. Complexas porque se a energia é hoje  considerada um dos elementos fundamentais do desenvolvimento econômico e social de todas as nações, não é menos verdade que o homem  começou, finalmente, a perceber que a sua disponibilidade está    ligada à  todos os aspectos relacionados com o equilíbrio do  meio ambiente.

Falemos sobre as  energias renováveis: são todas as derivadas do sol – Hidrelétrica, Biomassa, geotérmica, eólica, marés  - e estão em franco crescimento em termos de tecnologia disponível e redução de custo. Já a célula de Hidrogênio e a energia nuclear, chegam à maturidade tecnológica,e a segunda, em alguns países chega a ser a mais viável, todavia têm sobre seu uso uma espada de Dêmocles que é o resíduo perigoso (radiativo por milhares de anos)além da síndrome “Não em meu Quintal”, pelo medo que as populações nutrem, com toda razão, pelo  vazamento radiativo. As pessoas contaminadas  mundo afora, pelas sucessivas nuvens radiativas da usina de Fukushima no Japão, após maremoto seguido de tsunami, são a prova viva de que os protocolos de segurança, quanto ao uso dessa energia, devem ser revistos. A meu ver, há possibilidade de se continuar usando as energia nuclear para diversos fins, desde que com muito maior rigor e segurança.

Também concordo  com a  análise de Saraiva-1997, em minha publicação pela USP em 2000, sobre as questões relacionadas com a produção de qualquer bem ou serviço, que podem ser sistematizadas recorrendo ao que se denominou de “tetraedro  tecnológico”. Os vértices do tetraedro são: as matérias primas, a informação, a energia e o ambiente. Da associação desses fatores  resulta um serviço ou um bem. Há trinta anos o tetraedro se reduzia a um segmento de reta, entre  matérias primas e  informação, uma vez que naquela altura o custo de energia era considerado nulo e os problemas relacionados com as limitações de suas fontes não eram encarados, senão por alguns “pessimistas”. Há vinte anos o modelo  resumia-se  a um triângulo. As questões ambientais começavam então a ser postas, mas a avaliação dos seus custos reais eram um “problema para as gerações futuras”. Comentava no texto que, finalmente, aos poucos, nas últimas duas décadas, delineava-se um tetraedro, com o último vértice sendo ocupado pela energia a ser consumida durante os processos. Desde então se impõe responder, que quantidade e que tipo de emergia é exigida, não só pelo processo produtivo como também pelo transporte, distribuição e uso do bem resultante. No Livro “A Vingança de Gaia”, em 2006, o Cientista inglês James Lovelock preconiza que o equilíbrio ambiental já foi rompido pelo aquecimento global, e que  o mesmo já passou do ponto sem volta. Daí muitos cientistas passaram a pregar a solução da energia nuclear, sem fazer análise de risco adequada. Concluo compartilhando da mesma angústia do amigo leitor,  sobre os rumos da catástrofe japonesa.   E pergunto: com os acontecimentos ocorridos nas operações de usinas nucleares de Chernobyl a Fukushima, será demais revermos o uso desta tecnologia?

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.

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