domingo, 6 de setembro de 2015

Ira santa é indignação


A Bíblia ensina sabiamente  que  não se deve permitir que o sol se se ponha  sobre a nossa ira,  pois os apóstolos e profetas, e até o  próprio Cristo ficavam irados, mas não iam dormir assim. Aproveitava-se  a energia vital da raiva para transformar pessoas, situações e até mercados. Quem não se lembra da parte do texto sagrado em que Jesus açoita os cambistas, revira mesas com produtos expostos como em uma  feira livre montada dentro do templo? Se  eles, que eram santos, sentiam e usavam esta poderosa emoção básica, porque não nós?

Mônica Simonato em seu  livro “Competências emocionais - O Diferencial competitivo no mercado” ed. Qualitymark - 2006, estuda a raiva e suas consequências, e nos ajuda a medi-la, classifica-la e gerenciá-la. Segundo ela, são  4 tipos: a implosiva, que se acende no interior, ataca o estômago, a cabeça, eleva a pressão e mata; a gerenciada, cuja forma de atuar  faz de seu portador uma pessoa  sadia e equilibrada, pois aprendeu a saber quando está perdendo as estribeiras,  pois já tem controle sobre as próprias emoções; a explosiva, que  é  aquela que faz seu dono ser tomado de uma ira que não respeita nada, nem pessoas nem ocasiões, “quebra tudo”, vítima de um “sequestro emocional; Por último ela cita a raiva normativa, cujo dom peculiar de quem a nutre, é dar broncas e fazer críticas para desafoga-la, e se sentir melhor,  causando  danos ao seu relacionamento interpessoal. No filme “Tratamento de choque” o tímido Dave Buznik (Adam Sandler), por causa de um imprevisto banal, foi condenado à pena alternativa de fazer um curso para controlar a raiva, dado por Buddy Rydell (Jack Nicholson), um psicoterapeuta imprevisível, de métodos desconcertantes, que predispõe a uma cura perturbadora. Para isso se muda para a casa do paciente, e passa a interferir no seu cotidiano  de tal forma que o tímido Dave se satura  e explode diante da imperturbável postura do doutor Rydell, que afirmava então que fazia parte do tratamento,  tirar Dave da “zona de conforto” para se conhecer melhor. Dave descobriu após suas desventuras, hilariantes para o expectador, que o fato de nunca  exprimir sua raiva, na verdade, era uma forma de  reprimir sua identidade, e um fator limitante para seu crescimento pessoal e profissional. O filme traz provocações: por exemplo, como no caso de Dave, porque não reagimos com ira coletiva ante o desrespeito e falta de espírito público por parte de governantes?

A propósito estive na comissão de orçamento da câmara de deputados que aprovava a LDO e percebi o quanto somos o “país Dave”. Aceitamos bovinamente que retirem do nosso orçamento cerca de 47% para pagamento de uma dívida pública  escravizadora. Permitimos “acordos espúrios de líderes”, que aprovam emendas de bilhares de reais viciadas por propinas a empreiteiras e políticos, tais, que especialistas afirmam que levam 7% do PIB per capita. Procurei nosso representante Gilmar Machado e mostrei os números, apresentei um artigo sobre o assunto. Ele prometeu estudar com seus assessores, e me retornar, mas até agora não o fez. A meu ver está faltando nele e também em nosso povo, a ira santa de Cristo- de chutar o balde dos cambistas que conspurcam o templo sagrado da nação, pois quem cala consente. Estou esperando deputado!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

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