domingo, 6 de setembro de 2015

Os Novos Refugiados


Fazendo uma releitura do  livro do professor  da Universidade  da Califórnia Jared Diamond “Colapso-como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”,  quando peço vênia a meus  amigos leitores, para comparar situações que já presenciei - e relato hoje como sobrevivente, do “Vale da morte” em Cubatão- com outras análogas e desesperadoras que estão acontecendo agora no mundo, vividas por centenas de milhares retirantes, fugindo das guerras na Líbia, Síria e  Gaza refém das lideranças  do Hamas atacadas por Israel, além das infindáveis guerras tribais africanas. Com este pano de fundo, reflito sobre a pergunta do autor: “ O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma geração - os restos dos templos abandonados de Anykor Wat, no território de Camboja, das cidades Maias tomadas pelas selvas, ou a vigília sombria das estátuas (Moais) da ilha de Páscoa?”.

Há ainda outro panorama catastrófico sugerido pelo autor: O horror das pestes que se aproximam, na esteira das crises sociais e ambientais, principalmente a gripe aviária e a contaminação pelo vírus ebola. Aliás,  o único país que pode ensinar ao mundo como fazer gestão pós catástrofe é o Japão pós- Fukushima. Um ano após a tragédia e depois de aplicar 1 trilhão de dólares em projetos de reconstrução, o País já estava recuperado do pior. Porém nem sempre é assim: vide o pós-tragédia de Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro e  o Pós- Katrina em New Orleans. Aqui, roubaram as  doações aos desesperados, já os americanos, que possuem a melhor logística, as melhores tecnologias, deram aquele  espetáculo de despreparo ... É ou não é para se preocupar? Nosso SUS  não aguenta sequer a  dengue  endêmica, e bancar o nascimento de crianças nas santas casas ao redor do País. Suponhamos uma doença como o ebola,  que em uma semana evolui para uma morbidade de 70% dos casos!

Em Cubatão, nas décadas de 70 e 80, eu, engenheiro, aos 33 anos, na chefia da produção de aço da Cosipa, hoje Usiminas, não tinha a exata noção de tudo aquilo. Mas meus dirigentes tinham. Haviam comprado um equipamento obsoleto francês sem o lavador de benzol -cancerígeno- e esconderam isso da sociedade. Nas favelas  ao lado da fábrica - na vila Parisi, anomalias em fetos (anencefalia) eram noticiadas dentro e fora do País, todavia o ar que respirávamos era o mesmo, e muitas colegas choravam dentro da fábrica ao ficarem grávidas.

E pensar que a recuperação ambiental (embora parcial) daquele polo sídero - petroquímico, e do entorno da serra do mar, por uma equipe multidisciplinar- da qual tive a honra de fazer parte, livrou nosso principal parque industrial de ser, hoje, uma ilha de Páscoa - e as fábricas de lá,  de serem nossos Moais. Nessa  hipótese, nas décadas “perdidas” de 80 e 90, doentes de câncer e refugiados ambientais,  teriam sido retirados  daquele município, correndo dos deslizamentos da serra do mar também sobre demais cidades da baixada e o porto santista. Graças a Deus, e às tecnologias multidisciplinares da Engenharia e  da saúde ambiental da USP, e  Academia brasileira, isto não ocorreu. Que um possível novo governo de oposição, as usem em favor da sociedade no Brasil, para evitar novos quadros de refugiados ambientais e sociais  previstos  na poderosa visão de Jare Diamond.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente Academia de Letras de Uberlândia(ALU)
debatef@debatef.com


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