Fazendo uma releitura do livro do professor da Universidade da Califórnia Jared Diamond “Colapso-como as
sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”,
quando peço vênia a meus amigos leitores,
para comparar situações que já presenciei - e relato hoje como sobrevivente, do
“Vale da morte” em Cubatão- com outras análogas e desesperadoras que estão
acontecendo agora no mundo, vividas por centenas de milhares retirantes,
fugindo das guerras na Líbia, Síria e Gaza
refém das lideranças do Hamas atacadas
por Israel, além das infindáveis guerras tribais africanas. Com este pano de
fundo, reflito sobre a pergunta do autor: “ O que é mais assustador do que o
espectro do colapso de uma geração - os restos dos templos abandonados de
Anykor Wat, no território de Camboja, das cidades Maias tomadas pelas selvas,
ou a vigília sombria das estátuas (Moais) da ilha de Páscoa?”.
Há ainda outro panorama
catastrófico sugerido pelo autor: O horror das pestes que se aproximam, na
esteira das crises sociais e ambientais, principalmente a gripe aviária e a
contaminação pelo vírus ebola. Aliás, o
único país que pode ensinar ao mundo como fazer gestão pós catástrofe é o Japão
pós- Fukushima. Um ano após a tragédia e depois de aplicar 1 trilhão de dólares em projetos de
reconstrução, o País já estava recuperado do pior. Porém nem sempre é assim: vide
o pós-tragédia de Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro e o Pós- Katrina em New Orleans. Aqui, roubaram
as doações aos desesperados, já os americanos,
que possuem a melhor logística, as melhores tecnologias, deram aquele espetáculo de despreparo ... É ou não é para
se preocupar? Nosso SUS não aguenta sequer
a dengue endêmica, e bancar o nascimento de crianças
nas santas casas ao redor do País. Suponhamos uma doença como o ebola, que em uma semana evolui para uma morbidade
de 70% dos casos!
Em Cubatão, nas décadas de
70 e 80, eu, engenheiro, aos 33 anos, na chefia da produção de aço da Cosipa, hoje
Usiminas, não tinha a exata noção de tudo aquilo. Mas meus dirigentes tinham. Haviam
comprado um equipamento obsoleto francês sem o lavador de benzol -cancerígeno-
e esconderam isso da sociedade. Nas favelas
ao lado da fábrica - na vila Parisi, anomalias em fetos (anencefalia) eram
noticiadas dentro e fora do País, todavia o ar que respirávamos era o mesmo, e
muitas colegas choravam dentro da fábrica ao ficarem grávidas.
E pensar que a recuperação
ambiental (embora parcial) daquele polo sídero - petroquímico, e do entorno da
serra do mar, por uma equipe multidisciplinar- da qual tive a honra de fazer
parte, livrou nosso principal parque industrial de ser, hoje, uma ilha de
Páscoa - e as fábricas de lá, de serem nossos
Moais. Nessa hipótese, nas décadas “perdidas”
de 80 e 90, doentes de câncer e refugiados ambientais, teriam sido retirados daquele município, correndo dos deslizamentos
da serra do mar também sobre demais cidades da baixada e o porto santista. Graças
a Deus, e às tecnologias multidisciplinares da Engenharia e da saúde ambiental da USP, e Academia brasileira, isto não ocorreu. Que um
possível novo governo de oposição, as usem em favor da sociedade no Brasil,
para evitar novos quadros de refugiados ambientais e sociais previstos
na poderosa visão de Jare Diamond.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente Academia de Letras de
Uberlândia(ALU)
debatef@debatef.com
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