domingo, 6 de setembro de 2015

Cuidar bem das pessoas é a meta



Estive de férias por alguns dias, refletindo em uma praia chamada Itacoatiara, que faz parte de uma reserva florestal  bem próximo ao turbilhão do Rio de Janeiro e fincada junto à. Pedras monumentais que seguram as ondas do atlântico, ao lado de uma preservada vegetação de mangue. Todas as vezes que isso acontece, há um produto: Estar sozinho consigo mesmo, às vezes dá medo, mas é inspirador. Tomar chuva e sol-ficar no sereno, Descobrir depois ser um animal com fome, e sede de justiça, exige coragem, mas nada como  voltar à tenda à noite  e curtir o netinho de 2 anos.

Agora  entendo por que no caminho da Santiago de Compostela, na Espanha, muitos mudam a vida. Descobrem vocações. E tomam decisões cruciais para suas vidas, suas famílias e suas empresas. A correria dos dias que seguem como torrente tempestuosa a escorrer pelas calçadas da vida, nos anestesia. Faz tudo parecer igual, pasteurizado e sem brilho. E pior é  não poder observar as diferenças nas cores, nos sons, nos ambientes (carregados ou leves) e nas pessoas (alegres ou tristes). Principalmente, nelas. Um pai ou uma mãe que desaprende a percepção da linguagem do corpo e do tom de voz dos filhos, perde, segundo especialistas 80% da comunicação com eles. No trabalho e na vida somos muitas vezes cantores de um samba de uma nota só (com o perdão ao Tom Jobim e seu ao belo samba-arte). Não sabemos  escutar. Gente. Cachoeiras. Pássaros. O vento. Não temos tempo.

Anos atrás, achei interessante e novamente comento, a entrevista do antropólogo Wilian Ury - especialista em técnicas de negociação -, intitulada "O Inferno somos nós". Respondendo se concordava com Jean-Paul Sartre que cunhou "o inferno são os outros", Ury respondeu que o outro somos nós e quando dizemos que o inferno são os outros, na verdade estamos olhando para o nosso próprio inferno interior. Na negociação, o fundamental é ouvir o outro. Nos treinamentos de nossa consultoria (lançamos em 2012  um MBA em Gestão de pessoas em parceria com a UNIUBE) e ministramos cursos de extensão sobre o tema  para executivos e funcionários que, como afirma Ury, querem aprender a negociar. Porque a democratização de algumas  instituições (são poucas ainda – normalmente aquelas campeãs como melhor lugar para se trabalhar) está exigindo deles ouvir a outra parte. Por isso gastam mais de 50% do tempo com este item e sentem que não estão preparados para lidar com o intangível: o capital intelectual .Todos diagnósticos empresariais dos últimos anos mostram  que as grandes perdas de produtividade e via de conseqüência de mercado, se dão justamente por não começarmos por aí. Não há falta de recursos. Há desperdício... Equipamentos errados são modernizados. Instalações são aumentadas quando não há demanda para isso... Tudo sem cuidar das pessoas e  do clima organizacional. E a  lição de casa que fica é  ir conversando com seu "chão de loja", ”chão de fábrica”, desenvolvendo talentos humanos, e  os bons resultados não tardarão a acontecer. Para finalizar - ainda pensando sobre tudo que aprendemos nestes últimos anos, ao analisar essa  inversão de valores, e a ausência da ética da diversidade nas empresas- nada melhor que a velha poesia da canção de Raul Seixas. "Prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo", mesmo revisitando um artigo de seis anos atrás.

José Carlos Nunes Barreto
Professor-doutor
Uberlândia (MG)

debatef@debatef.com

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