quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Khobani vive!

“Por isso eu vou/ esquecer de tudo/das  dores do mundo/Não quero saber e err errr...”
Cancioneiro popular

Escrevo no rastro da maior crise humanitária desde a segunda guerra, com cerca de 700.000 refugiados atravessando o mar mediterrâneo em direção ao Reino Unido e Alemanha, os milhares de mortos (por afogamento, asfixia, e por toda sorte de privações) além de outros 4 milhões se deslocando entre as fronteiras da síria , Líbia, Iraque, em direção a Turquia e arredores, além de  países  norte da África, todos correndo da morte certa, dos horrores da guerra contra a besta do apocalipse – o ISIS  ou Estado Islâmico, em sua  cruzada contra o ocidente e sua cultura judaico cristã representada pela cruz de Cristo. Neste cenário, algo me  iluminou de esperança: um exército de mulheres em Khobani, que, mesmo com armamentos precários, venceu os jiradistas do ISIS, ao  coloca-los em retirada, isso após 25 mil homens dos exércitos regulares do Iraque e Líbia recuarem, dando espaço para esses rebeldes,  mesmo contando com os melhores armamentos cedidos por forças americanas.

Esse nosso mundo não aprende mesmo: o atual estado da arte é resultado do vazio de poder propiciado por erros dramáticos dos americanos no Iraque e na Líbia, sob o olhar atônito da ONU e a complacência  da União  Europeia.  E o que se viu, foram menos esforços e ações do que o momento exigia - quando os EUA e suas forças invasoras mataram líderes regionais que amalgamavam tribos e nações, com histórias de rivalidades e  guerras há milhares de anos. O vácuo se estabeleceu e foi preenchido pelos extremistas financiados por islamistas do mundo inteiro.

O mais perto que se chega deste dramático tempo simbolizado pelo menino sírio de três anos morto nas praias da Turquia, é o holocausto dos judeus na segunda grande guerra. Também naquela época, o vácuo de poder contra a Alemanha de Hitler, começou a ser arquitetado pelo tratado de Versalhes, que impôs à Alemanha penas impagáveis, como resultado da capitulação na primeira guerra mundial e que fizeram nascer o nazismo e o ódio aos prósperos judeus que viviam em seus territórios. O resto da história é conhecida. Agora temos um “deja vi”: O que dizer das decapitações do EI?  Dos padres e pastores queimados vivos em gaiolas?

Não quero ver crianças brasileiras mortas nas areias  da praia de Copacabana, para acordar sobre a importância de combatermos  o EI e o Jiradismo em suas atuais fronteiras, antes de cooptarem nossos jovens,  contra nossa cultura ocidental libertária. Todavia, como ensina o cancioneiro popular, quero afirmar, que “Minha dor é perceber, que apesar de tudo que fizemos,  ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

O torpor da Europa contra o Dragão hitleriano é o mesmo que observo hoje nos líderes europeus que armaram cercas e resoluções para impedir os migrantes  de caminharem rumo a seus objetivos de sobrevivência. O êxodo não se extinguiu, só ganhou força - apesar do racismo, e do ódio contra imigrantes presentes hoje no solo europeu – como nunca antes observado. Alerto  que um novo holocausto poderá  acontecer daí, agora em tempo real em nossas redes sociais. Precisamos agir como as meninas de Khobani, e,  orar  como o salmista para que “Deus nos aguce os dedos para a batalha”.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia (ALU)

debatef@debatef.com



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