quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Empregados x Pessoas

É sempre inspiradora a releitura de Peter Drucker. Chamou-me a atenção um profético artigo publicado em abril de 2002 na Harvard business Review /Exame, intitulado “Eles não são Empregados, são Pessoas”. Trata-se de algo espantoso: milhares de pessoas que trabalham para grandes conglomerados, não são  empregados tradicionais destas organizações- são trabalhadores temporários. E as empresas que ainda têm relações formais com seus funcionários estão terceirizando suas administrações de RH, justamente aí, no desenvolvimento de talentos, onde as principais águias da administração moderna ensinam ser a tarefa sine qua non de uma economia do conhecimento.

A tarefa enfadonha de administrar empregados (plano de aposentadoria, pagamentos de pensão, contratações, demissões, cortes, treinamentos), sua mutante legislação, seus custos- maior que 40% para quem contrata diretamente nos EUA, e por aqui mais que o dobro disso, dizem os especialistas- fica delegada à uma Organização de Empregados Profissionais(OEP),que foi o serviço empresarial que mais cresceu nos anos 90 nos EUA. Segundo P. Drucker até o final de 2005 as OEPs tornar-se-ão co-empregadoras  de 10 milhões de trabalhadores americanos de baixo e alto escalão e esta é uma mega-Trend (tendência predominante no cenário). Todos os dias úteis um dos maiores empregadores do mundo, a empresa suíça Adecco, coloca 700.000 cadastrados em funções administrativas, industriais, técnicas em negócios espalhados pelo mundo. Estima-se em 8 milhões/dia o número de trabalhadores temporários disponibilizados pelas OEPs pelo mundo. A Exult, provavelmente a OEP mais conhecida, é co-empregadora de 500 companhias World Class que fazem parte da lista da revista Fortune, teve suas receitas aumentadas em 48% em 2001 superando o de crescimento médio de 30% ao ano das OEPs observados desde então.

Afinal como empregados são fardos se as pessoas são o nosso maior patrimônio? O que as empresas e seus executivos querem é não perder 25% do tempo resolvendo problemas típicos de empregados, e se concentrar na administração dos negócios, deixando esta parte espinhosa para as co-empregadoras que podem gerir também com maior eficácia as especificidades das fragmentadas carreiras dos trabalhadores do conhecimento, que são extraordinariamente especializados e na maioria das vezes não são ouvidos pela média e alta administração que, apesar de precisar deles (seus conhecimentos, habilidades e atitudes) não consegue entendê-los dada a complexidade e quantidade de áreas envolvidas (ex: eng de software, oncologia, advocacia tributarista  etc). Sem oportunidade de crescimento na carreira, nenhum deles quer ser administrador, porque ama o que faz e porque não tem chance de obter o cargo, daí a importância de uma OEP com gerente especializado, que dê voz e instrumentos para fazer a organização  trabalhar para cada um dos envolvidos, buscando sua satisfação, crescimento e consequente aumento de produtividade dos  co-empregadores.

Como P. Drucker, concluo: “A economia do conhecimento vai exigir mais do que alguns novos programas e práticas. Os empregados podem ser nosso passivo, mas as pessoas a nossa maior oportunidade”.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com

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