quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Cuidar bem das pessoas é a meta(2)


Estive de férias por alguns dias, refletindo em uma praia chamada Itacoatiara, que faz parte de uma reserva florestal bem próximo ao turbilhão do Rio de Janeiro e fincada junto às pedras monumentais que seguram as ondas do atlântico, ao lado de uma preservada vegetação de mangue. Todas as vezes que isso acontece, há um produto: Estar sozinho consigo mesmo, às vezes dá medo, mas é inspirador. Tomar chuva e sol-ficar no sereno, Descobrir depois ser um animal com fome, e sede de justiça,exige coragem, mas nada como  voltar à tenda à noite  e curtir o netinho de 2 anos.

Agora entendo por que no caminho da Santiago de Compostela na Espanha, muitos mudam a vida. Descobrem vocações. E tomam decisões cruciais para suas vidas, suas famílias e suas empresas. A correria dos dias que seguem como torrente tempestuosa a escorrer pelas calçadas da vida, nos anestesia. Faz tudo parecer igual, pasteurizado e sem brilho. E pior é não poder observar as diferenças nas cores, nos sons, nos ambientes (carregados ou leves) e nas pessoas (alegres ou tristes). Principalmente, nelas. Um pai ou uma mãe que desaprende a percepção da linguagem do corpo e do tom de voz dos filhos, perde, segundo especialistas 80% da comunicação com eles. No trabalho e na vida somos muitas vezes cantores de um samba de uma nota só (com o perdão ao Tom Jobim e seu ao belo samba-arte). Não sabemos escutar. Gente. Cachoeiras. Pássaros. O vento. Não temos tempo.

Anos atrás, achei interessante e novamente comento a entrevista do antropólogo Wilian Ury - especialista em técnicas de negociação, - intitulada "O Inferno somos nós". Respondendo se concordava com Jean-Paul Sartre que cunhou "o inferno são os outros", Ury respondeu que o outro somos nós e quando dizemos que o inferno são os outros, na verdade estamos olhando para o nosso próprio inferno interior. Na negociação, o fundamental é ouvir o outro. Nos treinamentos de nossa consultoria (lançamos em 2012 um MBA em Gestão de pessoas em parceria com a UNIUBE) e ministramos cursos de extensão sobre o tema para executivos e funcionários que, como afirma Ury, querem aprender a negociar. Porque a democratização de algumas instituições (são poucas ainda – normalmente aquelas campeãs como melhor lugar para se trabalhar) está exigindo deles ouvir a outra parte. Por isso gastam mais de 50% do tempo com este item e sentem que não estão preparados para lidar com o intangível: o capital intelectual. Todos diagnósticos empresariais dos últimos anos mostram que as grandes perdas de produtividade e via de consequência de mercado se dão justamente por não começarmos por aí. Não há falta de recursos. Há desperdício... Equipamentos errados são modernizados. Instalações são aumentadas quando não há demanda para isso... Tudo sem cuidar das pessoas e do clima organizacional. E a lição de casa que fica é ir conversando com seu "chão de loja", ”chão de fábrica”, desenvolvendo talentos humanos, e os bons resultados não tardarão a acontecer. Para finalizar - ainda pensando sobre tudo que aprendemos nestes últimos anos, ao analisar essa inversão de valores, e a ausência da ética da diversidade nas empresas- nada melhor que a velha poesia da canção de Raul Seixas. "Prefiro ser esta metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião formada sobre tudo.", mesmo revisitando um artigo de seis anos atrás.

José Carlos Nunes Barreto
Professor-doutor
Uberlândia (MG)

debatef@debatef.com

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