Em época de
aquecimento global, elevação do nível do mar e tsunamis, ficamos
encharcados e ao mesmo tempo horrorizados, com o paradoxo da crescente
falta de água doce no planeta. Mas, que tal refletirmos sobre a “economia da água”?
Alguns
especialistas nos fazem entender sua importância ao transformar em litros
de água todos os bens e serviços que chegam até nós. Assim para um
simples galeto que tenha chegado à nossa mesa, 1.200 litros foram
necessários. Naquele quilo de carne consumido durante a semana mais 2.000
mais 2.000 litros. Em cada quilo de grãos que compramos em média mais
1000litros, Se você está em uma grande cidade, precisa de cerca de 150 litros
dia para seu uso diário, e por aí vai. Os números acima nos dão segurança para considerar
que utilizamos em média 4000 litros de água por dia para vivermos no conforto
estabelecido pela sociedade baseada na “economia da agua”. Quanto custa isso
para a sociedade? Esta é a questão, cujas ameaças e oportunidades precisamos
entender. Segundo a ONU em 2050 mais de 45% da população mundial não desfrutará
de água potável, tal é a marcha inexorável dos usos e contaminações das águas
superficiais e subterrâneas do mundo E esta é uma previsão otimista, em
função da estarrecedora velocidade das mudanças climáticas globais, que dia a
dia nos mostram que esta perspectiva virá muito antes de 2050. Apesar de sermos
planeta água, somente 0,02% dela está disponível para beber em lagos e rios e a
continuar assim este pouco se tornará quase nada. Basta olharmos nos entornos
das nossas cidades. O ciclo hidrológico tornou-se caótico: transformou-se em
enchentes com a ação antrópica de impermeabilizações, canalizações de rios,
adição de esgotos industriais e urbanos - destruição pura. Será que o que
aconteceu no Iraque, com relação ao petróleo, não acontecerá no futuro com o
Brasil, já que possuímos 12% das reservas de água doce do mundo? E o que é
exportar etanol e grãos senão toneladas de água, enviadas para fora do País?
As bacias
hidrográficas são áreas adjuntas ao rio e seus tributários. E elas, são uma
inteligente forma de fazer política da água, com centenas de cidades a cobrar
pelo seu multiuso, para aplicar na preservação deste bem, adequando
legislações já amadurecidas aqui e em várias partes do mundo. Um famoso “case”
é a bacia do rio Paraíba do Sul que atende mais de 300 cidades no sudeste
do país, sendo o rio, para a maioria delas a única fonte de água. Isto em
um país possuidor de um aquífero chamado “Guarani”, um dos maiores
reservatórios de água doce do mundo, que se estende por aproximadamente 840 800
Km2 no Brasil, Distribuídos por 8 estados, entre eles SP, RJ e MG atendidos
pela bacia do rio São Francisco. As reservas disponíveis de água filtrada, e
auto-depurada bio-geo-químicamente, neste aquífero são da ordem de 45 trilhões
de m3, e a população que poderia ser atendida sustentavelmente,
seria em torno de 15 milhões de pessoas, sem necessidade de tratamento da água (ABAS-Associação
Brasileira de Águas Subterrâneas). Uma riqueza desprezada pelo setor público,
que nela não investe. Agora que já preocupei você também( espero)Dê uma olhada
no que o governo federal está fazendo no Rio São Francisco:
desrespeitando orientações da ANA - Agência Nacional de Aguas, O Comitê
de Bacia, as decisões do plenário da CONAMA, e sociedade civil
organizada, além de toda tecnologia de gestão de bacias em uso no mundo,
para fazer a qualquer custo, e com empreiteiras sem EIA/RIMA, uma sangria num
rio que exige cuidados de preservação como um organismo vivo - Alguém que está
ambientalmente na UTI, porque foi violentamente agredido todos estes anos -
poluição de toda ordem, extinção da mata ciliar, assoreamentos, escassez
de água: O governo federal perpetra um crime ambiental. Desrespeita leis,
pessoas, nação, em um universo que clama por água doce. Até quando?
José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
debatef@debatef.com.br
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