quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Futebol é inconsciente coletivo


“Amanheceu o pensamento/ que vai mudar o mundo /com seus moinhos de vento” Cazuza


A copa aconteceu, e a sabedoria do povo está goleando a nossa nova elite estabelecida, e a antiga também. Primeiro, separou os anarquistas do quanto pior melhor, daqueles que protestam por causas notáveis e necessárias à cidadania. Depois torceu como nunca, cantou o hino nacional à capela e estabeleceu o costumeiro clima cordial que encantou os 600 mil turistas que entraram de avião, e outros estimados 500 mil que passaram pelas nossas fronteiras secas de moto, carro trem ou ônibus. Dando um recado claro: não tente tirar proveito político deste evento que encarna para nós a pátria de chuteiras. Roubar vocês já roubaram. Agora nos deixem curtir o jogo em paz. O País, portanto, está vivendo uma coisa de cada vez. Não esqueceu as estripulias contábeis de dona Dilma, que está lançando como despesas de saúde e educação, gastos exorbitantes das arenas exigidas pela FIFA. E só está esperando o momento certo para cobrar de novo, o uso correto do dinheiro público, em suas prioritárias agendas.


Gosto de observar como pessoas humildes e não letradas possuem elevado senso de justiça social, e como herdamos isso dos índios brasileiros, que usam o bem estar coletivo como forma de vida. Se alguém enriquecesse na aldeia, com certeza repartiria com suas ocas o novo PIB coletivo. Em algum ponto de nossa história passamos a importar a ética do “lobo de Wall Street” em nossas relações de concidadãos- e aí perdemos muito, principalmente parte da tal felicidade, que é o indicador chave. Neste contexto, o futebol aparece como o esporte mais popular do mundo, usa a leveza e a arte como matéria prima, e traz o inconsciente coletivo-aquela aura de euforia pela vitória, ou de tristeza absoluta na derrota, que transpassa mentes e corações - à baila como protagonista. Faz crianças aprenderem a cantar o hino pátrio, muitas vezes com uma “pátria amada, goiabada salve, salve”. E nos encanta, quando tira um menino franzino de um campinho de terra batida no agreste nordestino, e o eleva à condição de estrela mundial por gramados “nunca dantes navegados”.


O poeta perguntaria: “mas quem tem coragem de ouvir?” idêntica pergunta feita ao vento por São João Batista: Quem ouviu a nossa pregação? Com certeza não foi à elite branca que vaiou as autoridades na pífia abertura dos jogos. Eles têm ouvidos moucos diria meu avô. E visão pior, eu afirmaria. São cegos que cismaram de guiar a Nação. E a riqueza do momento é identificar o povo de olhos abertos, se desviando das pirambeiras a que são levados diuturnamente.


Quando uma empresa planeja seu futuro, é obrigada a fazer seminários com seus stackholders (parceiros/ colaboradores/ acionistas) para explicitar a sua visão. Ou seja, como ela quer se ver daqui a algumas dezenas de anos a frente. A própria FIFA – com todos seus senões, nos ensina como planejar para o cenário de 2022. E não aprendemos? Não conseguimos planejar nossas revoluções na educação, e nas áreas sanitária fiscal e política!? É bom frisar que nem sempre foi assim: Juscelino Kubisheck construiu Brasília do nada uma cidade modelo da arquitetura mundial, no cerrado vazio do planalto central em 5 anos e realmente fez 50 anos em 5. E o que ele tinha? Rompia em fé e Visão. Que seu exemplo sirva, portanto, de inspiração àqueles que se apresentam agora como alternativa real de poder para realizar as mudanças sonhadas e cobradas durante esta copa do povo.


José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia

debatef@debatef.com

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