terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O Fermento dos Fariseus

“Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./Não há falta na ausência./ A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada,/ninguém a rouba mais de mim.” Carlos Drummond de Andrade

Escrevi cerca de 400 artigos neste espaço nos últimos 11 anos... e agradeço por isso a parceria dos leitores e editores do “Correio de Uberlândia”. Neste período, procurei ser propositivo, às vezes fiz desabafos, outras vezes homenagens. E, nessa linha de tempo nunca vi meu País em situação tão desesperadora em termos de perspectivas. É claro que vamos sair dessa... contudo não gostaria que esperássemos três anos de crise, corroendo  patrimônios e esperanças... a meu ver, para virarmos esta página, deveríamos fazer um grande pacto(apesar do desgaste da palavra), como o de Moncloa, na Espanha pós- ditadura Franco, quando em plena guerra fria, se conversou até com o partido comunista. Por isso, advogo que, após prendermos quem, no PT ou em outros partidos, ainda deva à justiça, devamos conversar, sim e rápido, com seus interlocutores, pois é preciso desatar nós e pacificar a Nação.

A atual conjuntura sócio-política-econômica não é favorável. E nos últimos 30 anos nunca se viu um congresso tão desconectado da sociedade e caracterizado por 3 forças  que iniciam com b: bala, boi  e bíblia... Nele, o poder econômico sequestrou nossa representatividade, pasteurizou nossas pautas e faz pouco caso do povo - um parlamentar afirmou dia desses -”Estou me lixando para a opinião pública”, e a cereja deste bolo, foi a eleição do Sr. Cunha para a presidência da Câmara representando a bancada da bíblia.

E é forçoso observar como este grupo de pseudos seguidores de Jesus, à revelia da maioria esmagadora de cristãos, está na vanguarda do atraso no congresso, e faz um papel semelhante ao do “tea party” americano. Pois estas pessoas – muitas envolvidas com falcatruas, e esperando julgamento do STF, fazem nossa gente amargar (numa imagem futebolística) um empate sem gols, em uma pelada desastrosa, de campo de chão batido, e com muita chuva. Lama!

São fariseus modernos- que, impõem  à maioria pesos e obrigações que eles mesmos nunca  carregarão. E procuram mudar as leis a seu bel prazer- usando o fermento citado por Nosso Senhor em são Mateus –“Guardai-vos com o fermento dos Fariseus”- para favorecer os 1% de abastados citados por pikety no seu livro “O Capital”. Esta elite já se apoderou de 50 % das riquezas do País, e quer mais. Vivemos como se estivéssemos no século XIX, em termos de desigualdade e opressão. Infelizmente faltam líderes que nos tirem deste atoleiro.

Por esta razão, esse acordo nacional liberaria forças vivas da Nação para as novas oportunidades de globalização das Inovações nas grandes “suply chains” do mundo. Ancorado por 3 grandes revoluções, já amplamente dissertadas : a primeira delas a educacional, a segunda a fiscal/sanitária, a terceira, a política e social.

Não será difícil fazê-las. Basta dedicarmos a mesma energia e dinheiro que devotamos à copa de 2014, onde gastamos dezenas de bilhões de dólares, e às Olimpíadas de 2016- que estão mudando a arquitetura do Rio de Janeiro. Não nos falta competência – nem recursos: carecemos é de prioridades e  lideranças.

Que Deus nos ajude!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da Academia de Letras de UDIA-ALU
debatef@debatef.com


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