terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O Bom Pastor

“Não basta abrir a janela/Para não ver os campos e o rio./ Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores./ É preciso não ter filosofia nenhuma./Com filosofia não há árvores: há apenas ideias./ Há só cada um de nós, como uma cave./Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora; /E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, /Que nunca é o que se vê quando se abre a janela” Fernando Pessoa.

A recente vinda de George Gregório- o papa Francisco ao Brasil, suscitou reflexões, pelo seu jeito despojado de ser, pelas oportunidades em que relevou recomendações da segurança para estar junto do povo, sua matéria prima, e pela sua enérgica gestão contrária à corrupção nos corredores daquele Estado. A independência deste pastor de almas, em relação ao dirigismo praticado pela cúria romana, é outro aspecto relevante a ser observado, e copiado por outros líderes, religiosos ou não, sequestrados em suas ações, por assessorias, staffs e conselhos.

Jesus Cristo também agiu assim, muitas vezes contrariando o senso comum e as normas da época. Por exemplo, ao não lavar as mãos como exigia o ritual judaico, ensinou que o que contamina o homem é o que sai pela boca – “a palavra” mal proferida em  power point,  a falsidade filosófica exposta aos incautos, como a pregação domingueira pinçada  no velho testamento, e não na nova dispensação da Graça, acontecida após o sacrifício do filho de Deus. A Herodes, que do alto de seu império, temia o prestígio de nosso Senhor junto ao povo-mandou vários recados, num deles falou claramente: “mande dizer à essa raposa, que curo cegos, expulso demônios e vou terminar minha obra ao terceiro dia, e meus discípulos (pastores?) também  farão estas maravilhas” - mostrando que tinha foco na sua missão na terra : “Meu reino não é desse mundo.”

A principal lição de Francisco é a humildade: estamos fartos de ver pastores, principalmente os protestantes, desfilar em ferraris com relógios rolex, camisas de linho egípcio e voar em seus próprios jatos de 300 milhões de dólares. Ou, pobres ainda, mas orgulhosos e buscando glória e reconhecimento (salarial?). O reino deles é deste mundo.

Os versos de Fernando Pessoa acima sugerem haver pessoas que não enxergam além de suas janelas. Acho importante pensar essas janelas como espirituais. E em altares de igrejas cristãs, onde padres, presbíteros e pastores não conseguem ver os anjos em volta, com suas espadas desembainhadas-como no episódio bíblico da mula de Balaão - ante o opróbrio, e a idolatria, igual na época da reforma de Lutero, que pregou os” 5 solas” e incendiou os dogmas de Roma: sola(somente as)escrituras, sola Cristo, Sola Graça, Sola Fé, e somente à Deus seja dada a Glória.

A agenda de Lutero, agora, deve ser usada novamente por Francisco e líderes religiosos do mundo, principalmente para barrar aqueles, que usando a Bíblia, esganam multidões como se lobos fossem; enquanto o bom pastor, Jesus, descrito abaixo no salmo 23 de Davi, é “soft” e amigo:

“O Senhor é o meu pastor e nada me faltará; Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum porque tu estás comigo; Unges a minha cabeça com óleo; Refrigera minha alma; Sinto-me como em um banquete de honra; onde são abertas as janelas da fé, o que me faz crer que no futuro habitarei na casa do Senhor por longos dias”. Que assim seja.

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da A.L.U. Academia de Letras de Uberlândia

debatef@debatef.com

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