“Não basta abrir a janela/Para
não ver os campos e o rio./ Não é bastante não ser cego para ver as árvores e
as flores./ É preciso não ter filosofia nenhuma./Com filosofia não há árvores: há
apenas ideias./ Há só cada um de nós, como uma cave./Há só uma janela fechada,
e todo mundo lá fora; /E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
/Que nunca é o que se vê quando se abre a janela” Fernando Pessoa.
A recente vinda de George
Gregório- o papa Francisco ao Brasil, suscitou reflexões, pelo seu jeito
despojado de ser, pelas oportunidades em que relevou recomendações da segurança
para estar junto do povo, sua matéria prima, e pela sua enérgica gestão contrária
à corrupção nos corredores daquele Estado. A independência deste pastor de
almas, em relação ao dirigismo praticado pela cúria romana, é outro aspecto
relevante a ser observado, e copiado por outros líderes, religiosos ou não,
sequestrados em suas ações, por assessorias, staffs e conselhos.
Jesus Cristo também agiu assim,
muitas vezes contrariando o senso comum e as normas da época. Por exemplo, ao
não lavar as mãos como exigia o ritual judaico, ensinou que o que contamina o
homem é o que sai pela boca – “a palavra” mal proferida em power point, a falsidade filosófica exposta aos incautos,
como a pregação domingueira pinçada no
velho testamento, e não na nova dispensação da Graça, acontecida após o
sacrifício do filho de Deus. A Herodes, que do alto de seu império, temia o
prestígio de nosso Senhor junto ao povo-mandou vários recados, num deles falou claramente:
“mande dizer à essa raposa, que curo cegos, expulso demônios e vou terminar
minha obra ao terceiro dia, e meus discípulos (pastores?) também farão estas maravilhas” - mostrando que tinha
foco na sua missão na terra : “Meu reino não é desse mundo.”
A principal lição de Francisco é
a humildade: estamos fartos de ver pastores, principalmente os protestantes,
desfilar em ferraris com relógios rolex, camisas de linho egípcio e voar em
seus próprios jatos de 300 milhões de dólares. Ou, pobres ainda, mas orgulhosos
e buscando glória e reconhecimento (salarial?). O reino deles é deste mundo.
Os versos de Fernando Pessoa
acima sugerem haver pessoas que não enxergam além de suas janelas. Acho
importante pensar essas janelas como espirituais. E em altares de igrejas
cristãs, onde padres, presbíteros e pastores não conseguem ver os anjos em
volta, com suas espadas desembainhadas-como no episódio bíblico da mula de
Balaão - ante o opróbrio, e a idolatria, igual na época da reforma de Lutero,
que pregou os” 5 solas” e incendiou os dogmas de Roma: sola(somente as)escrituras,
sola Cristo, Sola Graça, Sola Fé, e somente à Deus seja dada a Glória.
A agenda de Lutero, agora, deve
ser usada novamente por Francisco e líderes religiosos do mundo, principalmente
para barrar aqueles, que usando a Bíblia, esganam multidões como se lobos
fossem; enquanto o bom pastor, Jesus, descrito abaixo no salmo 23 de Davi, é
“soft” e amigo:
“O Senhor é o meu pastor e nada
me faltará; Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal
algum porque tu estás comigo; Unges a minha cabeça com óleo; Refrigera minha
alma; Sinto-me como em um banquete de honra; onde são abertas as janelas da fé,
o que me faz crer que no futuro habitarei na casa do Senhor por longos dias”. Que
assim seja.
Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da A.L.U.
Academia de Letras de Uberlândia
debatef@debatef.com
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