Coordeno um curso de pós-graduação Lato
Senso em Gestão de Agronegócios na Uniminas em Uberlândia-MG. Estamos formando
a primeira turma, e 2005 foi um ano de muito trabalho e crescimento. As crises
da febre aftosa, a possibilidade da gripe aviária e a quebra da safra de grãos
por questões climáticas foram alvo de seminários e indicativos de soluções no
campo, por alunos e professores deste curso da academia, onde todos estão
diretamente ligados à produção agropecuária da região, que é um dos principais
pólos do agronegócio e o maior centro de logística do País. Estamos no olho do
furacão. Impossível não interagir com a sociedade, no momento em que a
tecnologia das universidades aplicadas em centros de pesquisa “surpreenderam”, apesar
todos os percalços acima, e geraram cerca de 44 bilhões de dólares em
exportações, nesta Nação de gargalos e desperdícios seculares.
Ilhas de excelência como universidades e centros de
pesquisa, que por décadas investiram em pesquisas e produção agroindustrial,
EMBRAPA, ESALQ/USP, UFU, LAVRAS, VIÇOSA, EMATER, UNESP/BOTUCATU, entre muitas
faculdades de agronomia e veterinária, foram as responsáveis por este êxito,
assim como o ITA foi o responsável pela Embraer e sua tecnologia na produção de
aviões, outra fonte significativa de recursos exportados. ”Não existe almoço
Grátis” nos ensinou um dos gurus de administração. A autossuficiência em
energia do carbono através da Petrobrás - um sucesso, só aconteceu porque a
sociedade embarcou na campanha “O petróleo é nosso” contra todas as previsões
dos gurus e especialistas de petróleo da época (início da década de 50). Eles,
nada de substancial nos ensinaram. O que nos fez suar a camisa atrás de novas
tecnologias como a de águas profundas. A competição no mercado de tecnologias é
duríssima. Veja o caso dos subsídios agrícolas: poderíamos ter faturado mais 5
bilhões de dólares se os países ditos
”desenvolvidos” usassem a mesma lógica de mercado que utilizam para nos empurrar
eletroeletrônicos por exemplo. É um escândalo os dois pesos duas medidas, para
nos subordinar ao ”subdesenvolvimento”. Que alguém já disse, não se improvisa.
É obra de séculos de manobras planejadas e cartas marcadas da agora OMC.
Mas poderíamos estar muito melhores se
cuidássemos do dever de casa. Se não vejamos o desperdício de alimentos, nesta
nação de 50 milhões de pessoas com déficit de calorias, que também desperdiçam
milhares de ton de grãos em casa antes de levá-lo à mesa, após outra perda
importante no varejo (por exemplo de cada 40,37 kg de arroz colocados em
disponibilidade pelo campo, só 25,4 são efetivamente consumidos). Recomendo consultar www.ibge.gov.br para acessar a pesquisa. O
Brasil perdeu 81,5 milhões de ton de grãos de 1996 a 2003, e o IBGE revela o
crescimento do desperdício na agricultura em estudo inédito nas fases de pré e pós-colheita
das safras agrícolas de feijão, milho, soja, arroz e trigo. Dos impressionantes
81,5 milhões (só para comparar até meados da década de 90 não passávamos de 40
milhões por ano de produção), 2,8 milhões foram desperdiçados na pré-colheita,
ou 5% do potencial de produção, enquanto 5,33 milhões de ton foram perdidas na pós-colheita,
ou seja, 8,7% da produção dos 5 tipos de grãos no intervalo estudado. Tudo por
causa da logística precária, da ausência de silos, da falta de universalização
da aplicação de tecnologias conhecidas e desenvolvidas nas nossas
universidades, que apesar de tudo que já fizeram, ainda estão longe de onde as
coisas realmente acontecem. Precisamos de mais trabalhos de campo. Interação
faculdades x homem do campo, inovação e novas tecnologias x fazendas e sítios.
A rentabilidade neste século está não no tamanho da fazenda, mas no que se vai
fazer em temos tecnológicos, em cima da terra. Com três alqueires paulistas
pode-se ganhar alguns milhões de dólares/ ano com, por exemplo, exportação de
rosas colombianas. E centenas de alqueires mineiros podem dar prejuízo
constante com inadequação de culturas e falta de aplicação de novas tecnologias.
Moral da história: não adianta dar terra para “sem terras” sem dar conhecimento
aos mesmos. Nem financiamento para agricultor tradicional, o que só vai fazer o
cidadão perder a terra herdada dos pais para bancos. Gerenciar a mudança de
paradigmas: a questão agora é aprender a aprender. Ensinar fazendeiros a inovar
no campo, atuando nos processos que geram desperdícios. O que já operamos nas
universidades. E é preciso trazer a universidade para o campo. Assim como já a
trouxemos para as siderúrgicas para realizarmos a execução do melhor e mais
competitivo aço. E também para criarmos e fazermos um dos melhores aviões do
mundo. Nestes dois exemplos, hoje, não é tolerado nenhum desperdício, caso
contrário não conseguiríamos vendê-los a preços competitivos. Gestão da
qualidade na logística e nos processos do agronegócio: Há urgência! O Brasil
não aguenta mais tanto desperdício!
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br
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