“É pau/ É pedra/ É o fim do caminho/ É
o resto de toco...”. Cancioneiro popular
Acompanho
e participo todos os anos das programações do dia mundial do meio ambiente.
Contudo, jamais vi tamanha urgência em se fazer “Educação ambiental” e planos
de ação emergenciais, como na atual crise do planeta Terra. Caso não tenhamos
êxito, enfrentaremos o maior teste pelo qual a humanidade já passou: Um
desastre maior que as guerras, maior que a desigualdade social construída por
séculos de exploração do homem pelo homem: O aquecimento global sem controle e
sem volta. Vê aquela mulher catadora de lixo na porta de sua casa? Como ela,
bilhões que estão no limiar da pobreza no mundo, podem se tornar reféns da sede
e da fome, e não só eles, outros bilhões, mais ricos na pirâmide social, a
seguirão, e no cenário mais pessimista, todos cairemos mortos, como acontecia nas
pestes da idade média. Por isso, um só dia
para o meio ambiente é pouco ou nada, face ao desafio que emerge com
exponencial velocidade. James Lovelock, em seu livro “Gaia, cura para um
planeta doente” (ed. Cultrix, SP), nos ensina que a Terra possui um sistema autorregulador
composto de todas as formas vidas, incluindo os seres humanos e todas as partes
materiais que a constituem, o ar, os oceanos e as rochas da superfície. Segundo
o autor, o sistema terra se assemelha a um organismo vivo, e regula seu clima e
a sua química. Logo adicionar gases estufa à atmosfera, por exemplo, através de
queimadas na Amazônia, ou nos terrenos urbanos das cidades, tem conseqüências
muito diferentes, se tal fosse feito em um planeta morto como Marte. A cada dia
em que emporcalhamos o ar, nos aproximamos da faixa não reversível, acima de
400 partes por milhão, após a qual o sistema Terra ficará sujeito a um
superaquecimento irreversível. Hoje estamos na faixa de 380 ppm, ou seja ainda
nos resta algum tempo para agir.
Mas
sejamos honestos. Alguma vez você pegou um balde d’agua para apagar o fogo
criminoso ateado no terreno ao lado da sua casa? Ou protestou contra os
monstros desmatadores - maiores da Amazônia, Blauro Maggi e Lula, que queimam a
área da floresta equivalente a um campo de futebol a cada cinco minutos?Para a
maioria a resposta é não. E é por isso que o desastre climático já bate à nossa
porta, com enchentes assassinas, ventos destruidores, pragas de insetos que
agora estão mais aclimatados, e o pior, a alta dos alimentos decretada pelas
quebras de safras por motivo de desarranjos climáticos.
O
Professor Lovelock viveu como inglês, a luta contra Hitler na segunda guerra
mundial. E compara o desleixo dos líderes mundiais com o Tratado de Kiotto, ao
mesmo que ocorreu ao tratado de Munique em 1938, contra o dragão hitleriano. Só
se ganhou tempo para que o Dragão crescesse e quase destruísse a Europa. Mesmo
as mortes de 20.000 velhos no CEE no superaquecido verão de 2005, o furacão em Santa Catarina no
Brasil, a inflação dos alimentos, nada nos desperta da anomia e do estupor. Ver
a Amazônia ser queimada, matas ciliares dos rios desaparecerem e os novos Neros
atearem fogo no mato ao lado de nossas casas, não nos tira da imobilidade. O
poeta diria que isto é o mesmo que conviver com um espinho na mão, ou um corte
no pé. E a continuar assim não haverá mesmo, promessa de vida para o nosso
coração.
José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
debatef@debatef.com
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