terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Reengenharia na Educação



“Ê Ê/ Hoje eu vô pegá você/ Ê Ê/.../ Ê Ê/ vô pegá você”. Funk da periferia.

Escolas de lata, professores surrados na saída das aulas, alguns assassinados. Diretores e gestores de escolas encurralados pelo tráfico de drogas em regiões carentes. Milhões de adolescentes que chegam ao final do ciclo básico sem conseguirem aprender matemática, física e química, matérias fundamentais para a produção de bens e serviços. Apesar disso, e paradoxalmente, uma pesquisa mostrada numa edição de revista semanal brasileira mostra que 90% dos pais estão satisfeitos com o ensino recebido por seus filhos. Autoengano ou o sucesso da propaganda de governos inescrupulosos?E este é o panorama da educação que estará freando o desenvolvimento do País. Via de consequência, por falta de mão de obra qualificada na área tecnológica, muitas empresas transnacionais já estão indo embora, levando investimentos e oportunidades.

Como explicar que em comparação com o Reino Unido, um benchmark, o estado brasileiro gasta no ensino fundamental cerca de 30% menos por aluno, enquanto no ensino superior nosso gasto é 30% maior? Simples: Inversão de prioridades e desperdício de recursos.

Precisamos criar uma “cultura da dona de casa”(Housekeeping) em torno da escola, em que os pais, através de conselhos aliados aos diretores, possam transformá-las e  melhorá-las utilizando  indicadores de desempenho e planos de ação.

A matéria prima que chega ao ensino superior está cada vez pior. Jovens recém-saídos do ensino médio que não sabem ler e interpretar um texto. Em que física e matemática são terrores que ameaçam a formação de engenheiros e arquitetos. Química deixa atordoados médicos, farmacêuticos e nutricionistas. E estas lacunas perseguirão por toda vida os profissionais, limitando-os, e cobrando um alto preço da sociedade em termos de erros técnicos, envolvendo perdas econômicas e sociais.

O mal resultado, mostrado acima gerou uma crise, que não se resolverá com mais salário para professores, mas sim com gestão e  mudança de perfil econômico – financiado com rubrica federal já existente - dos alunos pobres em sua maioria, e sem condição de pagar os 100 dólares mínimos exigidos por uma mensalidade.

Uma série de fusões está acontecendo e culpa-se a inadimplência. Um trivial problema de administração, e após esse fato, segue-se a lei de ajuste de capacidade do mercado: demissões em massa de mestres e doutores, os mais caros, assim que os cursos são reconhecidos pelo MEC. Um verdadeiro desperdício de capital humano, já que 90% deste pessoal especializadíssimo, no Brasil, ao contrário do EUA, CEE, China e JP, só encontra trabalho nas universidades, e não em empresas.  De que adianta formarmos mestres e doutores se não sabemos usá-los? Seria mais sensato gastarmos mais com o ensino fundamental, médio e tecnológico, enquanto nos preparamos para usar melhor estes cérebros em futuro próximo. Como grandes atores deste cenário, desafio os novos prefeitos eleitos com as sábias palavras de Mahatma Gandhi: Acreditar em algo, e não vivenciá-lo, é ser desonesto. Ou a refletirem com Newton Von Zuben no livro de Regis de Morais, org. “Sala de aula que espaço é este”? ed. papirus: A sala de aula deveria ser pensada  como o árduo caminho que leva da angústia do labirinto à fundação da liberdade.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com


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