“Se partires um dia rumo à
Ítaca,/ Faz votos de que o caminho seja longo,/ Repleto de aventuras, repleto
de saber./ Nem Lestrigões, Nem Ciclopes,/ nem o colérico Posidon jamais
encontrarás/ Se altivo for seu pensamento/ Se sutil emoção o teu corpo e o teu
espírito tocar./ Nem Lestrigões, nem Ciclopes/ Nem o bravio Posidon hás de
ver,/ Se tu mesmo não os levares dentro da alma,/ Se tua alma não os puser
dentro de ti”. Konstatinos Kavafis (1863-1933).
Fomos
acostumados a pensar em um lugar ideal para viver – Pasárgada. E, para chegar
lá, como amigo do rei, que nos espera, uma viagem seria necessária. Sobre a
vida a ser vivida, então, flores-vinho- a mulher amada, só um sonho acordado
poderia descrevê-la: céu-Felicidade.
Nesta
sábia poesia grega, no entanto, aprendemos que o importante é a viagem que
empreendemos na vida, e não o destino certo e ideal, acertado sob o ponto de
vista de um poeta.
No caso
dos gregos, de cuja cultura somos ascendentes, chegar não é o objetivo, mas o
crescimento com as vicissitudes do caminho, este sim, meta é, conforme o autor:
“Faz votos de que o caminho seja longo/numerosas serão as manhãs de verão/Nas
quais com que prazer/ com que alegria/Tu hás de entrar pela primeira vez em um
porto”.
De um colega que fez um pós-doutorado na Universidade de Atenas, recebi
esta preciosidade e a lembrança de que várias palavras de nosso dia a dia foram
lavradas por estes nossos antepassados culturais, e alguns significados calam
profundamente: por exemplo: escola significa lugar de gente feliz.
Como professor, há 40 anos em chão de escola, mesmo tendo sido
profissional de chão de fábrica e chão de loja, acredito neste poder
transformador da felicidade construída a partir da escola. Ela é o caminho para
Ítaca.
“Tem todo
o tempo na mente./ Estás predestinado a ali chegar./ Mas, não apresses a viagem
nunca./ Melhor muitos anos levares na jornada/ E fundeares na ilha velho
enfim,/ rico de quanto ganhaste no caminho,/ sem esperar riquezas que Ítaca te
desse./ Uma bela viagem deu-te Ítaca./ Sem ela não te ponhas a caminho./ Mais
do que isso não lhe cumpre dar-te./
Ítaca não
te iludiu, se a achas pobre./ Tu te tornaste sábio, um homem ou mulher de
experiência/ E, agora, sabes o que significam Ítacas.”
José
Carlos Nunes Barreto –
Professor doutor Presidente da Academia de Letras de Uberlândia
debatef@debatef.com
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