terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Ítaca ou Pasárgada?

“Se partires um dia rumo à Ítaca,/ Faz votos de que o caminho seja longo,/ Repleto de aventuras, repleto de saber./ Nem Lestrigões, Nem Ciclopes,/ nem o colérico Posidon jamais encontrarás/ Se altivo for seu pensamento/ Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar./ Nem Lestrigões, nem Ciclopes/ Nem o bravio Posidon hás de ver,/ Se tu mesmo não os levares dentro da alma,/ Se tua alma não os puser dentro de ti”. Konstatinos Kavafis (1863-1933).

Fomos acostumados a pensar em um lugar ideal para viver – Pasárgada. E, para chegar lá, como amigo do rei, que nos espera, uma viagem seria necessária. Sobre a vida a ser vivida, então, flores-vinho- a mulher amada, só um sonho acordado poderia descrevê-la: céu-Felicidade.

Nesta sábia poesia grega, no entanto, aprendemos que o importante é a viagem que empreendemos na vida, e não o destino certo e ideal, acertado sob o ponto de vista de um poeta.

No caso dos gregos, de cuja cultura somos ascendentes, chegar não é o objetivo, mas o crescimento com as vicissitudes do caminho, este sim, meta é, conforme o autor: “Faz votos de que o caminho seja longo/numerosas serão as manhãs de verão/Nas quais com que prazer/ com que alegria/Tu hás de entrar pela primeira vez em um porto”.

De um colega que fez um pós-doutorado na Universidade de Atenas, recebi esta preciosidade e a lembrança de que várias palavras de nosso dia a dia foram lavradas por estes nossos antepassados culturais, e alguns significados calam profundamente: por exemplo: escola significa lugar de gente feliz.


Como professor, há 40 anos em chão de escola, mesmo tendo sido profissional de chão de fábrica e chão de loja, acredito neste poder transformador da felicidade construída a partir da escola. Ela é o caminho para Ítaca.


“Tem todo o tempo na mente./ Estás predestinado a ali chegar./ Mas, não apresses a viagem nunca./ Melhor muitos anos levares na jornada/ E fundeares na ilha velho enfim,/ rico de quanto ganhaste no caminho,/ sem esperar riquezas que Ítaca te desse./ Uma bela viagem deu-te Ítaca./ Sem ela não te ponhas a caminho./ Mais do que isso não lhe cumpre dar-te./

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre./ Tu te tornaste sábio, um homem ou mulher de experiência/ E, agora, sabes o que significam Ítacas.”

José Carlos Nunes Barreto – Professor doutor Presidente da Academia de Letras de Uberlândia
debatef@debatef.com


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