segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O Caminho do Peregrino



“Caminhando e cantando/ E seguindo a canção/Somos todos iguais,/ Braços dados ou não...” Geraldo Vandré.

O fim de férias de um professor, não é igual ao de outros profissionais... O começo do trabalho já se faz presente bem antes, através das revisões bibliográficas, leituras, e preparações de programas de ensino das disciplinas, a serem ministradas no semestre. Raras vezes, nesse período, um livro de poesias, ou best seller,  estão entre as folhas que servem de prazer aos olhos que leem. Desta vez, mesmo fazendo aquelas, me deparei, na volta pra casa, entre aeroportos e livrarias, com a última obra de Laurentino Gomes - autor de 1808, 1822 e 1889 e seis vezes ganhador do prêmio Jabuti - em parceria com Omar Ludovico, pastor de almas e mentor de centenas de novos cristãos, sob o título “O Caminho do Peregrino: Seguindo os passos de Jesus na Terra Santa” pela editora Globo, SP.

Baseado neste inspirado texto, gostaria de dividir com meus leitores, as impressões a seguir, e erigir as diferenças entre um eventual turista, e um peregrino: o turista, ao visitar lugares, fixa seu olhar na geografia, na arquitetura e nas belezas naturais, o que não é pouca coisa... Já o peregrino, durante suas caminhadas, se volta pra dentro de si, seu coração, suas ânsias, dúvidas e escolhas... No caso dos autores, não foi diferente, e esta é a riqueza da obra, por se tratar da experiência pessoal dos mesmos, ao realizar peregrinação em grupo pelos lugares onde Jesus cresceu, viveu e foi crucifixado.

Os autores descrevem a cidade física de Jerusalém nos dias atuais, e a comparam com a cidade eterna e espiritual mostrada nas escrituras sagradas, sonho e crença de 4 bilhões de pessoas ao  redor do mundo, de 3 grandes religiões -  islamismo,   judaísmo e cristianismo - e, o livro a quatro mãos, escrito  após  esta peregrinação, passa pela conversão de Laurentino  durante as meditações dirigidas por Omar, entre a as ruínas e vielas, repletas de mistérios e significados, na caminhada interior rumo a Deus.

Ser Peregrino em latim pode ser traduzido como caminhar através do campo: a pé, de bicicleta a cavalo, até de moto... com destino ligado ao imaterial, e à construção da fé, tudo  acontecendo em trilhas, que cortam continentes, como o caminho de Santiago de Compostela, ou nas centenas de peregrinações no Brasil e no mundo. E, entre tantas omilias assinadas pelo pastor Omar, neste belo livro, me tocou a aura do surdo e gago, ao se encontrar com Jesus naquelas terras, descrita em São marcos 7:31 - 37.

Vinícius de Moraes lavrou a máxima, de que a vida é a arte do encontro. No texto sagrado com cerca de 2000 anos, o surdo e gago é encontrado por Jesus, e nos representa, numa metáfora, pois temos dificuldade de ouvir, nos calamos ou nos expressamos mal, e, na caminhada, quantas vezes? sequer somos notados à beira do caminho. Contudo, neste encontro somos curados, ao sermos tocados com sua santa saliva, e então o ouvirmos em aramaico gritar Efatá - abre-te! - ao suspirar com emoção, e olhar para o céu, em prece que nos faz chorar...

Neste evangelho, Deus nos confronta a nos abrirmos ao outro, ao próximo ferido (refugiado?), e, nos ensina a não sermos trancados em nós mesmos - só então poderemos ser curados de nossos relacionamentos, e a partir daí, reconstruídos em nossos vínculos de afetos e intimidade, ao ouvir e falar com o coração. Que assim seja.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
Presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU

debatef@debatef.com

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