“Caminhando
e cantando/ E seguindo a canção/Somos todos iguais,/ Braços dados ou não...” Geraldo
Vandré.
O
fim de férias de um professor, não é igual ao de outros profissionais... O
começo do trabalho já se faz presente bem antes, através das revisões
bibliográficas, leituras, e preparações de programas de ensino das disciplinas,
a serem ministradas no semestre. Raras vezes, nesse período, um livro de
poesias, ou best seller, estão entre as
folhas que servem de prazer aos olhos que leem. Desta vez, mesmo fazendo
aquelas, me deparei, na volta pra casa, entre aeroportos e livrarias, com a última
obra de Laurentino Gomes - autor de 1808, 1822 e 1889 e seis vezes ganhador do
prêmio Jabuti - em parceria com Omar Ludovico, pastor de almas e mentor de
centenas de novos cristãos, sob o título “O Caminho do Peregrino: Seguindo os
passos de Jesus na Terra Santa” pela editora Globo, SP.
Baseado
neste inspirado texto, gostaria de dividir com meus leitores, as impressões a
seguir, e erigir as diferenças entre um eventual turista, e um peregrino: o
turista, ao visitar lugares, fixa seu olhar na geografia, na arquitetura e nas
belezas naturais, o que não é pouca coisa... Já o peregrino, durante suas
caminhadas, se volta pra dentro de si, seu coração, suas ânsias, dúvidas e
escolhas... No caso dos autores, não foi diferente, e esta é a riqueza da obra,
por se tratar da experiência pessoal dos mesmos, ao realizar peregrinação em
grupo pelos lugares onde Jesus cresceu, viveu e foi crucifixado.
Os
autores descrevem a cidade física de Jerusalém nos dias atuais, e a comparam
com a cidade eterna e espiritual mostrada nas escrituras sagradas, sonho e
crença de 4 bilhões de pessoas ao redor
do mundo, de 3 grandes religiões - islamismo,
judaísmo e cristianismo - e, o
livro a quatro mãos, escrito após esta peregrinação, passa pela conversão de
Laurentino durante as meditações
dirigidas por Omar, entre a as ruínas e vielas, repletas de mistérios e
significados, na caminhada interior rumo a Deus.
Ser
Peregrino em latim pode ser traduzido como caminhar através do campo: a pé, de
bicicleta a cavalo, até de moto... com destino ligado ao imaterial, e à
construção da fé, tudo acontecendo em
trilhas, que cortam continentes, como o caminho de Santiago de Compostela, ou nas
centenas de peregrinações no Brasil e no mundo. E, entre tantas omilias assinadas
pelo pastor Omar, neste belo livro, me tocou a aura do surdo e gago, ao se
encontrar com Jesus naquelas terras, descrita em São marcos 7:31 - 37.
Vinícius
de Moraes lavrou a máxima, de que a vida é a arte do encontro. No
texto sagrado com cerca de 2000 anos, o surdo e gago é encontrado por Jesus, e
nos representa, numa metáfora, pois temos dificuldade de ouvir, nos calamos ou
nos expressamos mal, e, na caminhada, quantas vezes? sequer somos notados à
beira do caminho. Contudo, neste encontro somos curados, ao sermos tocados com sua
santa saliva, e então o ouvirmos em aramaico gritar Efatá - abre-te! - ao
suspirar com emoção, e olhar para o céu, em prece que nos faz chorar...
Neste
evangelho, Deus nos confronta a nos abrirmos ao outro, ao próximo ferido (refugiado?),
e, nos ensina a não sermos trancados em nós mesmos - só então poderemos ser
curados de nossos relacionamentos, e a partir daí, reconstruídos em nossos
vínculos de afetos e intimidade, ao ouvir e falar com o coração. Que assim
seja.
José Carlos
Nunes Barreto
Professor
Doutor
Presidente
da Academia de Letras de Uberlândia-ALU
debatef@debatef.com
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