terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Jacy de Assis: Presídio ou Escola?

"Da faculdade de Direito de Uberlândia/ Jacy de Assis foi fundador/ Mas fazia outras coisas/ De lá também era diretor/ Não isso somente/ Também era professor.

Não ficou só em Uberlândia/ No Rio também trabalhou/ Membro do Instituto do direito processual/ Em SP também ficou/ Trabalhou em Goiás/ E lá também se casou.

Em 1995 ele morreu/ mas a sociedade o homenageou/ Com escola, praça e presídio,/ O seu nome todo mundo honrou/ Ele merecia porque além de tudo/ Por todos ele lutou.

Minha escola fez uma homenagem/ aquele que sempre lutou/ Recebeu o nome de Jacy de Assis/ Dele a população recordou/ Porque falo de um grande homem/ Então nesta escola aqui estou."

Após um silêncio de 200 dias, começo a opinar hoje, sobre as ações do governo Gilmar Machado nesta cidade. Primeiro deixar claro que apoiei com meu voto esta mudança, que caracterizou uma alternância de poder, apesar de na maioria das vezes discordar do estilo de seu partido ao governar. Desde janeiro presido uma ONG – A Academia de Letras de Uberlândia, e temos uma comenda intitulada Jacy de Assis, que entregamos para as personalidades, empresas e organizações que constroem o capital social da cidade, através da colaboração em prol da cultura e das artes. Entre outros homenageados, fomos dia 14 de maio até a Escola Jacy de Assis no bairro São Jorge, e ali, em singela solenidade com participação da direção, professores e alunos, entregamos a comenda, ocasião em que foi exaltada a figura do nosso patrono, em prosa, versos e cordel como o mostrado em tela, de autoria de 2 alunos que cursam o oitavo ano do turno da manhã, discípulos da professora Eliane Cristina, a quem parabenizamos. Todavia uma ausência foi notada: apesar de convidada, a secretaria de educação não compareceu e sequer mandou representante.

Por ironia do destino, o mesmo nome da escola serve a um presídio. E uma reflexão se faz necessária: a inspiração para construção de mais escolas, irá reduzir o número de cárceres num País, que apesar do clamor para redução da impunidade, só esclarece 8 por cento dos homicídios e já possui a quarta população carcerária do mundo. Afinal estamos vivendo em uma sociedade violenta e importa pensarmos no porque disso - faltam escolas e professores de qualidade - e em como reduzir estes indicadores. E por falar neles, os do Brasil figuram entre os piores - só para entender, a violência é medida pelo índice que conta o número de mortes violentas-homicídios, por grupo de 100 mil habitantes. O número considerado “normal” pela OPAS -Organização Pan Americana de Saúde, varia de 0 a 5,0. Canadá está com 1,5, os EUA com 6,4 o Uruguai com 4,0, Chile com 5,3, e México com 10,9. O Brasil comparece com 31,0, superior à média da América Latina 25,3. Os números de Uberlândia estão em torno de 36 mortes por 100.000 habitantes. Somos, portanto, um dos povos mais violentos do mundo. E sofremos por isso. O risco de se viver em um lugar assim é muito alto. Morre-se mais nos assaltos e durante a ação da polícia contra bandidos. O prefeito desta cidade deveria ter em mente que prestigiar escolas e melhorá-las, é uma forma de trabalhar positivamente o intangível capital social, que salvará vidas e resgatará seu governo de ser sócio da iniquidade, e candidato ao esquecimento pela história.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia

debatef@debatef.com

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