terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Os Resíduos e você



“O que a gente pode/ O que a gente não pode/ explodirá/Realce...”. Cancioneiro popular

Ando as voltas com análises de viabilidade técnicas econômicas financeiras de projetos por conta das minhas atividades profissionais. E dias desses apareceu uma inusitada, pois era de um aterro industrial. Digo isso porque este equipamento de controle de poluição é dos mais esquecidos nas cidades brasileiras, principalmente agora quando a produção Industrial explode puxada por um aumento do PIB de 6% no último trimestre. Um aterro industrial possui ETE - Estação de Tratamento de Esgoto, e incineradores para resíduos perigosos, que podem ser industriais, de farmácias, de hospitais e de laboratórios, ou da sua casa. Porque nossos resíduos são tão desconsiderados nos planejamentos estratégicos de governos e de empresas? Porque existe uma propensão natural do ser humano, desde nossos pais bíblicos, até por sobrevivência, de afastar para longe de sua tenda seus resíduos. Uberlândia por exemplo manda seus resíduos classe 1 – os perigosos, para Ribeirão preto, o que caracteriza a expressão internacionalmente conhecida “NO in my back Yard”, não em meu quintal, por favor!

Primeiro vamos deixar claro uma coisa: Lixo é resíduo, e ele pode ser perigoso ou não (o classe 2). Mesmo o não perigoso traz sérios problemas para a saúde pública, por conta dos vetores de contaminação, tão conhecidos, como ratos, baratas, moscas e principalmente pelo líquido efluente que brota dele-o chorume, altamente poluidor, porque tem alta demanda biológica de oxigênio e alta demanda química de oxigênio, é pior que esgoto, e quando cai em um corpo d’agua retira rapidamente seu oxigênio gerando os tietês da vida, mesmo no subsolo onde a gente não vê. Em virtude disso, deve ser tratado em uma estação de esgoto acoplada ao aterro sanitário para não afetar o lençol freático e a água da região. Nosso aterro sanitário em Uberlândia está no final de vida útil, porque ninguém discute isso em campanha eleitoral? Mais de 70% das cidades brasileiras dispõe inadequadamente o lixo, sem coletar chorume, logo grande partes das doenças do SUS são devido às contaminações deste estado da arte. Portanto o lixo quando depositado em lixão, e ou aterro controlado, não tem o efluente tratado, como quando disposto em aterro sanitário feito adequadamente com estudos de impacto ambiental, e respeito às normas técnicas vigentes para destino final de resíduos domésticos não perigosos.
    
Via de consequência remédios vencidos, pilhas e lâmpadas fluorescentes à base de mercúrio não deveriam estar em aterro sanitário, muito menos em lixão e aterro controlado, mas sim em aterro industrial, mas por falta de políticas publicas e de comunicação, a população joga neles e até nos rios e terrenos baldios e tudo acaba nos rios e mananciais de superfície, voltando depois na água que se bebe, pois, atenção, nenhuma ETA deste País tem capacidade técnica para extrair micros poluentes orgânicos persistentes e outros que se agregam à água, causando a epidemia de cânceres que estamos assistindo. Explodirá ainda mais, se as autoridades não atentarem em seus programas de governo, para os resíduos urbanos, perigosos ou não, que são, todavia, seguros indicadores de aumento da riqueza de um povo que vota.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com



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