Uma
das alegrias de qualquer pesquisador é ver um trabalho seu publicado. E todas
as vezes que isso acontece, a impressão que se tem é que nasceu mais um filho. Pois
em recente viagem de reconhecimento de um curso de Engenharia de Automação e
Controle pelo MEC, recebi a edição do artigo “A implantação do Sistema de
Gestão Integrada (SIG) em Laboratórios de Análises Clínicas e Biomédicas” das
mãos do editor da revista SINERGIA do Instituto Federal de Tecnologia de SP.
Sou co-autor com um brilhante ex-aluno do Pós em Gestão Ambiental
da UNIUBE, Paulo Henrique Lopes Alves, que faz parte com outros atores, de
minha rede de ciência e tecnologia. Em uma época de escassez de talentos muito
me honra esse tipo de parceria, pois já sabemos pelo histórico dos processos de
formação de pós-graduados, que quando iniciamos uma turma, 30 por cento dos
entrantes não concluirá o TCC-Trabalho de Conclusão de Curso, no caso um artigo
científico, o que os impedirá de gozar o direito de ter o diploma do MBA. O
porque disto é o que procuraremos analisar com este artigo. E os outros setenta por cento?
Desses, cinqüenta por cento faz o trabalho apenas para cumprir as etapas para
obtenção do diploma. Sobram os vinte por cento que são a matéria prima para o
desenvolvimento de cientistas e pesquisadores.
Um
dos quesitos avaliados pelo SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
Superior é exatamente a publicação ou produção científica do professor que
trabalha nas faculdades isoladas, centros universitários e Universidades do
País. E a situação que constatamos em cada visita mostra os professores muito
mal na foto. O indicador de desempenho é pelo menos um artigo por ano nos
últimos 3 anos anteriores à avaliação. E não raro encontramos setenta por cento
dos professores, inclusive os mestres e doutores sem publicação alguma – zero o
que explica a reprodução desta cultura nas pós-graduações Brasil afora. Esta
visão é muito preocupante, pois uma publicação científica é a porta para a
Academia compartilhar com a sociedade os resultados das pesquisas, e é o passo
inicial para futuras patentes, inovações e melhorias incrementais em processos
industriais e de serviços.
A
ferramenta espinha de peixe de Ishikawa, ou diagrama de causa e efeito pode ser
usado nesta análise: na cabeça do peixe o efeito indesejável, qual seja a baixa
taxa de publicação dos docentes, e, nas espinhas as possíveis causas, que
deverão ser eliminadas por competentes planos de ação. Que causas eu colocaria?
A primeira, a comoditização do ensino superior da Nação, com mega grupos de
ensino gerindo a educação como se fosse um supermercado ou um banco,
implantando um modelo de precarização do trabalho do docente, horista em várias
escolas e sem tempo sequer de preparar aulas para mais de 5 disciplinas diferentes, como ele irá pesquisar e publicar?
A
segunda causa é a metodologia utilizada nos PPCs – Projetos de Planos de Curso
que não detalham no curso as etapas de iniciação científica e seus resultados
que levarão os alunos e professores a inovar e publicar. Por último eu citaria
a desmotivação e o desencanto: após o sonho do mestrado e doutorado em assuntos
apaixonantes, o docente é obrigado a dar aulas de muitas disciplinas que nada
tem haver com seu foco nos últimos anos, pela força da necessidade e da
sobrevivência financeira.
Para
resolver este problema alguns planos de ação precisarão ser desenvolvidos. Eu
começaria pela motivação. Sou obrigado pelo protocolo de avaliador
institucional e de cursos, a fazer reuniões com professores, e tenho visto
muitas “lamparinas apagadas”, olhos opacos e sem brilho, em pessoas que
outrora, pelo fato de se doutorarem, foram obrigadas a se apaixonar por
assuntos que geraram artigos e criaram ciência na época, mas isto é passado. Hoje
há necessidade de acender de novo essas lamparinas e transformá-las em faróis
para o bem do Brasil e das futuras gerações.
Finalizando
não sou daqueles que acham que só o Estado pode fazer a educação acontecer. Acredito
na ação da iniciativa privada regulada pelo Estado. Todavia, assim como vemos a
leniência do Estado brasileiro com a impunidade na justiça, e a falta de saúde,
o mesmo acontece na educação superior: ha muito custo se pune adequadamente as
más práticas, e se modela a maioria pelos bons exemplos – os benchmarks. O
resultado não poderia ser pior, infelizmente - estamos pagando alto preço com a
estagnação do País – falta produtividade – um subproduto da educação!
José
Carlos Nunes Barreto
Professor
doutor
debatef@debatef.com.br
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