terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Educação Superior e Publicação Científica


Uma das alegrias de qualquer pesquisador é ver um trabalho seu publicado. E todas as vezes que isso acontece, a impressão que se tem é que nasceu mais um filho. Pois em recente viagem de reconhecimento de um curso de Engenharia de Automação e Controle pelo MEC, recebi a edição do artigo “A implantação do Sistema de Gestão Integrada (SIG) em Laboratórios de Análises Clínicas e Biomédicas” das mãos do editor da revista SINERGIA do Instituto Federal de Tecnologia de SP. Sou co-autor com um brilhante ex-aluno do Pós em Gestão Ambiental da UNIUBE, Paulo Henrique Lopes Alves, que faz parte com outros atores, de minha rede de ciência e tecnologia. Em uma época de escassez de talentos muito me honra esse tipo de parceria, pois já sabemos pelo histórico dos processos de formação de pós-graduados, que quando iniciamos uma turma, 30 por cento dos entrantes não concluirá o TCC-Trabalho de Conclusão de Curso, no caso um artigo científico, o que os impedirá de gozar o direito de ter o diploma do MBA. O porque disto é o que procuraremos analisar com este  artigo. E os outros setenta por cento? Desses, cinqüenta por cento faz o trabalho apenas para cumprir as etapas para obtenção do diploma. Sobram os vinte por cento que são a matéria prima para o desenvolvimento de cientistas e pesquisadores.

Um dos quesitos avaliados pelo SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior é exatamente a publicação ou produção científica do professor que trabalha nas faculdades isoladas, centros universitários e Universidades do País. E a situação que constatamos em cada visita mostra os professores muito mal na foto. O indicador de desempenho é pelo menos um artigo por ano nos últimos 3 anos anteriores à avaliação. E não raro encontramos setenta por cento dos professores, inclusive os mestres e doutores sem publicação alguma – zero o que explica a reprodução desta cultura nas pós-graduações Brasil afora. Esta visão é muito preocupante, pois uma publicação científica é a porta para a Academia compartilhar com a sociedade os resultados das pesquisas, e é o passo inicial para futuras patentes, inovações e melhorias incrementais em processos industriais e de serviços.

A ferramenta espinha de peixe de Ishikawa, ou diagrama de causa e efeito pode ser usado nesta análise: na cabeça do peixe o efeito indesejável, qual seja a baixa taxa de publicação dos docentes, e, nas espinhas as possíveis causas, que deverão ser eliminadas por competentes planos de ação. Que causas eu colocaria? A primeira, a comoditização do ensino superior da Nação, com mega grupos de ensino gerindo a educação como se fosse um supermercado ou um banco, implantando um modelo de precarização do trabalho do docente, horista em várias escolas e sem tempo sequer de preparar aulas para mais de 5  disciplinas diferentes, como ele irá  pesquisar e publicar?

A segunda causa é a metodologia utilizada nos PPCs – Projetos de Planos de Curso que não detalham no curso as etapas de iniciação científica e seus resultados que levarão os alunos e professores a inovar e publicar. Por último eu citaria a desmotivação e o desencanto: após o sonho do mestrado e doutorado em assuntos apaixonantes, o docente é obrigado a dar aulas de muitas disciplinas que nada tem haver com seu foco nos últimos anos, pela força da necessidade e da sobrevivência financeira.

Para resolver este problema alguns planos de ação precisarão ser desenvolvidos. Eu começaria pela motivação. Sou obrigado pelo protocolo de avaliador institucional e de cursos, a fazer reuniões com professores, e tenho visto muitas “lamparinas apagadas”, olhos opacos e sem brilho, em pessoas que outrora, pelo fato de se doutorarem, foram obrigadas a se apaixonar por assuntos que geraram artigos e criaram ciência na época, mas isto é passado. Hoje há necessidade de acender de novo essas lamparinas e transformá-las em faróis para o bem do Brasil e das futuras gerações.

Finalizando não sou daqueles que acham que só o Estado pode fazer a educação acontecer. Acredito na ação da iniciativa privada regulada pelo Estado. Todavia, assim como vemos a leniência do Estado brasileiro com a impunidade na justiça, e a falta de saúde, o mesmo acontece na educação superior: ha muito custo se pune adequadamente as más práticas, e se modela a maioria pelos bons exemplos – os benchmarks. O resultado não poderia ser pior, infelizmente - estamos pagando alto preço com a estagnação do País – falta produtividade – um subproduto da educação!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

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