Foram mais
de dois anos após o lançamento, quando tive o prazer e a oportunidade de
apreciar a obra de arte do diretor Darren Aronofsky que dá título a este artigo,
ou Black Swan na língua original estadunidense, que dá maior significado ao
título como expressão idiomática (evento não esperado), e por conseguinte ao que
se quer dizer no drama - é um filme de
suspense estrelado por Natalie Portman na interpretação da bailarina Nina
Sayers, que lhe valeu o Oscar e 9 entre dez premiações em que concorreu entre
2010 e 2011. Para quem ainda não viu, aviso que vou fazer revelações sobre o
enredo, que não impedirão ninguém de curtir este drama psicológico, vivido por
Nina, ao saber pelo seu diretor artístico Thomas Leroy (Vicent Cassel), que
fora a indicada para principal protagonista da estréia da companhia
nova-iorquina de Ballet, em “O lago dos Cisnes”. Ela teria que interpretar
tanto o cisne branco quanto o cisne negro. Ocorre que o perfil de Nina se
encaixa perfeitamente no do cisne branco, pela sua suavidade, inocência e
graça, e nunca no do cisne negro, que exige malícia, sensualidade e algo de
anjo do mal, papel que sua rival, Beth MacIntyre (Winona
Ryder), faz com perfeição, ao ponto do diretor balançar
na decisão sobre qual das duas escolheria para o espetáculo.
A ambição profissional da
bailarina em foco, fora incentivada desde muito cedo pela sua mãe Erica, uma
bailarina aposentada que jamais chegara aos pincaros da glória que sua filha
está prestes a alcançar. E o wikipédia em seu resumo sobre a trama alimenta a
curiosidade de quem não assistiu a película: “ Na busca pelo seu lado obsceno,
Nina acaba causando um conflito dentro de sua conturbada mente, e nessa
obsessão em criar um cisne negro, ela pode acabar destruindo sua sanidade”.
Na verdade ela enlouqueceu. A
busca constante pela perfeição, aliada ao antagonismo de sua principal oponente,
bem como a luta com o alterego da mãe, foram demais para a “pobre coitada” mas
excelente bailarina. Todavia ela venceu a disputa e conseguiu dançar na estréia com perfeição, tanto o cisne branco quanto o
cisne negro.
O ápice da trama ocorre nos
momentos de tensão anteriores a entrada de Nina no palco, ainda no camarim, num ataque de loucura, ela quebrou o vidro do espelho e se perfurou no abdome, achando que estava atacando sua oponente. O filme acaba dando a
entender que a artista morre em virtude desses ferimentos, e pelo esforço sobre
humano de tão grande performance, apesar do grave ferimento.
Fiquei condoído e pensei: que
pena! Tanta vida pela frente e bastava uma boa psicóloga e um divã para poder harmonizar o lado anjo mal da sensualidade exigida, com o lado
angelical de doçura e graça, nato na artista. E parei para tirar algumas lições
apos refletir - Quantas vezes somos
violentados para mostrar algo estupendo que não temos, e a partir daí, após o evento, somos esvaziados ao ponto de adoecermos, e
no limite morrermos com um cancer ou enfarto?
Aprender a sobreviver para
contar a história aos netos, significa não se deixar morrer tão cedo, e também não ser o primeiro
em honra diante de um juri impassível, ou de uma sociedade que quer cada vez
mais e mais, para desperdiçar depois. Desperdiçamos vidas, e isso é crime. Oxalá
possamos salvar ainda alguma destas crianças, das armadilhas do ego exacerbado de pais e mães, e da falta de
misericórdia de chefes e diretores pitbuls. Que haja luz, menos câmeras e mais
ação!
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da Academia de
Letras de Uberlândia(ALU-MG)
debatef@debatef.com
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