terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Cisne Negro


Foram mais de dois anos após o lançamento, quando tive o prazer e a oportunidade de apreciar a obra de arte do diretor Darren Aronofsky que dá título a este artigo, ou Black Swan na língua original estadunidense, que dá maior significado ao título como expressão idiomática (evento não esperado), e por conseguinte ao que se quer dizer no drama -  é um filme de suspense estrelado por Natalie Portman na interpretação da bailarina Nina Sayers, que lhe valeu o Oscar e 9 entre dez premiações em que concorreu entre 2010 e 2011. Para quem ainda não viu, aviso que vou fazer revelações sobre o enredo, que não impedirão ninguém de curtir este drama psicológico, vivido por Nina, ao saber pelo seu diretor artístico Thomas Leroy (Vicent Cassel), que fora a indicada para principal protagonista da estréia da companhia nova-iorquina de Ballet, em “O lago dos Cisnes”. Ela teria que interpretar tanto o cisne branco quanto o cisne negro. Ocorre que o perfil de Nina se encaixa perfeitamente no do cisne branco, pela sua suavidade, inocência e graça, e nunca no do cisne negro, que exige malícia, sensualidade e algo de anjo do mal, papel que sua rival, Beth MacIntyre (Winona Ryder), faz com perfeição, ao ponto do diretor balançar na decisão sobre qual das duas escolheria para o espetáculo.

A ambição profissional da bailarina em foco, fora incentivada desde muito cedo pela sua mãe Erica, uma bailarina aposentada que jamais chegara aos pincaros da glória que sua filha está prestes a alcançar. E o wikipédia em seu resumo sobre a trama alimenta a curiosidade de quem não assistiu a película: “ Na busca pelo seu lado obsceno, Nina acaba causando um conflito dentro de sua conturbada mente, e nessa obsessão em criar um cisne negro, ela pode acabar destruindo sua sanidade”.

Na verdade ela enlouqueceu. A busca constante pela perfeição, aliada ao antagonismo de sua principal oponente, bem como a luta com o alterego da mãe, foram demais para a “pobre coitada” mas excelente bailarina. Todavia ela venceu a disputa e conseguiu dançar na estréia  com perfeição, tanto o cisne branco quanto o cisne negro.

O ápice da trama ocorre nos momentos de tensão anteriores a entrada de Nina no palco, ainda  no camarim, num ataque de loucura, ela  quebrou o vidro do espelho e se perfurou no abdome, achando que estava atacando sua oponente. O filme acaba dando a entender que a artista morre em virtude desses ferimentos, e pelo esforço sobre humano de tão grande performance, apesar do grave ferimento.

Fiquei condoído e pensei: que pena! Tanta vida pela frente e bastava uma boa psicóloga e um  divã para poder harmonizar o lado  anjo mal da sensualidade exigida, com o lado angelical de doçura e graça, nato na artista. E parei para tirar algumas lições apos refletir - Quantas vezes  somos violentados para mostrar algo estupendo que não temos, e a partir daí, após o evento, somos esvaziados ao ponto de adoecermos, e no limite morrermos com um cancer ou enfarto?

Aprender a sobreviver para contar a história aos netos, significa não se deixar morrer tão cedo, e também não ser o primeiro em honra diante de um juri impassível, ou de uma sociedade que quer cada vez mais e mais, para desperdiçar depois. Desperdiçamos vidas, e isso é crime. Oxalá possamos salvar ainda alguma destas crianças, das armadilhas do  ego exacerbado de pais e mães, e da falta de misericórdia de chefes e diretores pitbuls. Que haja luz, menos câmeras e mais ação!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia(ALU-MG)

debatef@debatef.com

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