“Cai o rei de espada /cai o rei de
paus/.../cai não fica nada”.
Cancioneiro popular
O mundo,
nossa esfera azul, caprichosamente colocada neste ponto do universo, está cada
vez mais complexo de se entender, seja pelas violentas transformações
climáticas, seja pelas também violentas transformações sociais vividas nestes
últimos dias, com a queda de tiranos e autointitulados reis no norte da África
e em algumas partes da Ásia (por enquanto). Não por acaso, a China, além de
censurar a internet, como há tempos já vinha fazendo, após estes eventos,
prendeu preventivamente vários líderes de oposição ao regime. Uma revolta no
Egito, no Barein e na Líbia, hoje é uma coisa. Já um levante de bilhões de
chineses é outra bem diferente - e põe em risco tudo que está estabelecido como
“ordem mundial”, mesmo assim, não está descartado neste momento.
Na atual revolta
por emprego e liberdade, nota-se o traço da luta por identidade cultural, principalmente
nos jovens, o que já havia ficado claro, na “guerra santa” de Osama Bin Laden,
no onze de setembro americano: O estado de coisas que foi piorando, pouco a
pouco, com o darwinismo cultural do mais forte sobre o mais fraco, primeiro
exposto nas telas de cinema e da TV, depois materializado por mais de mil bases
do USA espalhadas pelo planeta, inclusive na “terra sagrada” de Osama, a Arábia
Saudita. Neste processo, o medo do Outro mais forte e imperialista, alimentou como
combustível, o fogo do instinto de guerra. A assimetria de meios não impede por
exemplo, o uso da criatividade para atacar inimigos. Relembremos os vietcongs
que impuseram uma humilhante derrota à máquina de guerra americana, usando
paus, bambus, e esconderijos, na brilhante estratégia de guerra de Ho Chi Min.
E em setembro de 2001, apesar de todo dano cultural e de vidas a lamentar, pelo
ocidente, não há como não louvar - a partir da clareza que o distanciamento no
tempo dá - a precisão cirúrgica e a forma criativa de se usar aviões como arma
de guerra, atacando sobre o rio Hudson o coração do capitalismo do mundo, a um
custo operacional ínfimo, se comparado aos bilhões de dólares gastos anualmente
pelos EUA para “garantir” sua segurança.
Com a
Internet e as redes sociais, o conceito de segurança cultural está mudando, e a
cultura como também o poder, mais do que nunca, não podem ser garantidos em um
lar - nação trancafiada num espaço reservado fisicamente. Nenhum poder ou
cultura pode fechar-se em si mesmo sem desaparecer. Daí as quedas, como em jogo
de dominós, dos governos totalitários que presenciamos nos últimos dias. E os
que ainda não caíram estão com medo, e por conta disto atacam a população civil
(caso do sanguinário Kadafhi), prendem a oposição, e censuram os meios de
comunicação-principalmente a internet.
“A Cultura
é produto de escolhas individuais e coletivas constantes, e a aceitação do
pluralismo cultural é o melhor antídoto para o “choque de civilizações”, e a
convenção da UNESCO de 2005 é um primeiro passo neste sentido”, segundo artigo
“A serviço do pluralismo cultural” de Abdou Diouf no Le Monde Diplomatique
Brasil número 43. E ele completa com propriedade: “A globalização não provoca
apenas um aumento da circulação de mercadorias. Ela transforma a maneira com a
qual nós representamos o mundo, as suas possibilidades, as fronteiras, o
espaço, o tempo: ela estrutura as imaginações”. Nada mais claro para nos fazer
entender um pouco, esse caldeirão de emoções e possibilidades.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
Nenhum comentário:
Postar um comentário