terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Os Avarentos


“Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre nós”. Salmo bíblico


Chama-me a atenção a quantidade de Organizações não Governamentais que desviam dinheiro arrecadado na sociedade, cujo endereço seria os necessitados, motivo da missão da organização. Não há controle adequado no Brasil sobre doações bem interessadas de toda parte, principalmente do exterior. E a Amazônia chega a ter uma ONG para cada seis índios. Mas lá, como em todo lugar deste País, algumas fazem como o “establishment” na parábola do bom samaritano, contada por Jesus aos hipócritas - fariseus e doutores da lei: Após ser assaltado e espancado por ladrões, um judeu foi deixado à beira da estrada. Por lá passaram ao largo além daqueles, os sacerdotes, religiosos, e quem sabe certos “ongeiros” da época, todos compatriotas seus. Foi um inimigo marcado pelo opróbrio, um samaritano, que se compadeceu do judeu, colocou-o sobre o cavalo, pagou médico, hospedaria etc, e ainda mandou “pendurar” o que passasse do numerário deixado para o tratamento, para ser pago na sua volta pelo mesmo caminho.

O sempre atual tema proposto por Jesus na parábola do bom samaritano “arrepia” muitos políticos e religiosos, até “evangélicos”. Eles usam instituições filantrópicas de utilidade pública no Brasil, para desviar vultosas somas de recursos, que ao longo dos anos, vão para contas de laranjas, e para paraísos fiscais, e exatamente por isso, não têm compromisso político em acabar com a pobreza neste País. O fato dessas somas consideráveis não serem usadas para retirar pessoas de “desvios” do caminho, colocadas que foram por peças pregadas pelo destino, não conta para esses agentes, cujo modelo mental é de total irresponsabilidade social, ou seja, socializar perdas, e faturar com o que é público e destinado à maioria.

Todavia, caro leitor, quantas vezes não deparamos-nos com esse fato na nossa própria família? E é em casa que tudo começa. Aquele tio irresponsável (e religioso) que nunca divide os remédios da mãe doente com os irmãos, mas faz questão de faturar sua parte no aluguel da casa da velha. Ou aquela filha que apesar de bem empregada, e usar caras roupas de grife, nunca paga sua parte na conta coletiva do restaurante, nem nos presentes combinados para a tia avó enquanto viva, mas faz questão absoluta, de receber sua parte nos despojos da mesma, agora, após a sua morte.  Ou nas lições deixadas pela briga familiar pela herança deixada pelo avô rico. Os familiares mais pobres são passados para trás, porque não tem bons advogados. E os mais ricos e que “nem precisavam”, fazem questão até daquele copo de cristal assim assado. Enfim há total falta de misericórdia. E o que é misericórdia? Ela é prima da caridade é fruto do espírito da tríade fé, esperança e caridade proposta pelo apóstolo Paulo aos cristãos. Significa pensar-nos outros em primeiro lugar. Se colocar no lugar de outrem, e procurar sentir o que passa no seu coração. O principal resultado para quem a pratica é ver criado na alma um “espírito público”, que gerará sinergias liderança, e fará o povo, qualquer povo, atravessar “o mar vermelho a pés secos”. E que Deus nos livre dos avarentos.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

Luz x Apagões


No gênesis disse Deus: Haja Luz; e houve luz. Que bom, porque só nos damos conta da importância da luz, quando estamos em trevas, como agora, neste apagão de sete horas em 18 estados brasileiros. Se ele tivesse acontecido em 1960 - época das máquinas de escrever, o prejuízo não seria tão grande em nossas vidas. O paradigma da energia elétrica condiciona nosso cotidiano à dependência de equipamentos que nos dão conforto, e em alguns casos até a vida, como em uma UTI. E nem cogitamos que de repente ela pode falhar, e isso ocorre em todos os lugares do mundo - em alguns com freqüência maior, dependendo de como são projetados e geridos estes sistemas. Nos EUA, por exemplo, empresas com nível de qualidade seis sigma proporcionam 1 hora de falta de energia elétrica a cada 34 anos, enquanto empresas com nível de qualidade quatro sigmas sete horas de falta de energia elétrica por mês, em média (Werkema,C.Criando a Cultura Seis sigma,Ed. Qualitymark RJ 2002). Um sistema elétrico seis sigma gasta menos que 1% do seu faturamento com retrabalho e erros operacionais por isso é tão confiável. Já um sistema com nível de qualidade quatro sigma gasta até 25% do faturamento com erros e retrabalhos, perfazendo cerca de 6000 erros por cada milhão de operações. Quantos erros tem o processo seis sigma? Cerca de 3 por cada milhão de operações. A má notícia é que as evidências mostradas na operação do sistema energético brasileiro (apesar de não conhecer nenhuma pesquisa da ANEEL com esta métrica), apontam para um nível de qualidade entre 3 e 3,5 sigmas, o que eleva o número de erros para até 66000 erros por cada milhão de operações, o que significa gastar até 40% do faturamento com erros e retrabalhos -  pagamentos com precatórios e demandas judiciais, advindas de prejuízos e mortes causadas a consumidores.


O atual apagão é muito diferente daquele de 2001, quando faltou oferta de energia devido a uma equivocada falta de investimentos estatais, que aliada às condições hidrológicas desfavoráveis e uma expansão da economia, fez de uma crise anunciada, a realidade de um apagão continuado. Medidas de racionamento foram então coordenadas por um ministério da falta de luz, e por um governo comandado por um presidente alcunhado à época de “príncipe das trevas”. Não há como um apagão acontecer sem desdobramentos técnicos e políticos. O que de novo acontecerá sob a era dilmista.


Ocorre que depois da porta arrombada, buscam-se a toque de caixa soluções e não raro os “Midas” como os que, na contramão das medidas consensuais contra o aquecimento do planeta, implantaram as termoelétricas e ainda encareceram nossas contas de luz, ao invés de conceberem uma cesta de soluções (PChs - pequenas centrais hidrelétricas, eólicas, solar, células de combustível, gás natural e a associação destas), teimaram no paradigma grandes centrais hidrelétricas com milhares de quilômetros de linhões, o que agrava a vulnerabilidade do sistema.


Enquanto isso, no plano mundial, há uma revolução tecnológica na produção e transporte de energia elétrica semelhante àquela ocorrida quando passamos do mainframe para os laptops, deixando a produção de ser centralizada para ser gerada localmente. Será que vamos perder o bonde da história da energia reprisando erros de governos e sem uma política de Estado?


Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com


Crimes de Guerra


“A guerra é de vital importância para a Nação. É o domínio da vida ou da morte, o caminho para a sobrevivência ou a destruição”. Sun Tzu em “A Arte da Guerra”.

Ao refletir sobre os 12 anos do “nine eleven” americano, que mudou o mundo contemporâneo, reli a obra em epígrafe, haja vista sua luz, que atravessa séculos, a clarear estratégias de empresas e governos, principalmente após arqueólogos chineses encontrarem, em 1972, fragmentos do livro deste general chinês, autor do mais sábio tratado militar da humanidade. Segundo ele “um soberano não pode convocar o exército só por raiva, e um general não pode lutar apenas por vingança. Uma pessoa com raiva pode recuperar a serenidade, e o ressentido pode ser apaziguado, mas um Estado arruinado não se recupera, e os mortos- não podem retornar à vida”. Lembro-me, então, que era esperado na Universidade de Miami, para um pós-doutorado a ser orientado pelo coordenador do 4º “Simpósio internacional de sistemas e novas energias” em Shangai na China, do qual participei. Estávamos em agosto de 2001 e até aquele momento, eu pensava que iria para Universidade de Miami em janeiro de 2002. Recebi, entretanto, logo após a retaliação americana, um e-mail do orientador recomendando que ficasse no Brasil, pois alguns de seus orientandos, com o mesmo perfil étnico que eu estavam sendo levados para Guantánamo-sem julgamento. Era a Guerra.

Segundo Sun Tzu, 5  coisas são mandatórias quando se deseja prever o desfecho de uma guerra:  “O Caminho”, ou seja, a harmonia do governante com o povo; O Tempo(clima); O Terreno; A Liderança e as Regras(Leis). Segundo o mestre, numa guerra, é fundamental destruir os planos do inimigo. Depois destruir suas alianças, e por fim atacar suas tropas. Ele destaca que o ideal é vencê-lo sem combates, o que dá sentido ao recrudescimento da espionagem, pelo Estado americano e demais países avançados em tecnologia da informação, desnudada agora pelo herói Snowdem.

Em toda guerra, a primeira vítima, dizem, é a verdade. Acredito. Vejam nossa guerra política interna, entre o governo petista e a classe médica, lançando a população contra os médicos. É crime em uma guerra, não cumprir regras- e o governo Dilma não cumpre as leis do País ao tentar revalidar, a qualquer preço, a atuação de médicos cubanos como política de estado. Subordinando a Nação à política de saúde dos Castros ditadores, ao invés de fazer aqui as revoluções na área médica, que o País necessita e tem pressa. Dilma agora é o Bin Laden que sempre sonhou ser, pois esta medida é uma cunha para que outras desregulamentações aconteçam. É um míssil ou avião lançado em nosso arcabouço jurídico- profissional.

Ela foi gestada como estratégia de guerra (estava pronta há um ano), enquanto seu ministro Padilha “negociava” com nossas autoridades médicas que são culpadas, sim, por este estado da arte: por não terem mudado com o MEC o currículo da medicina, por não terem pressionado o Congresso por leis que obrigassem nossos médicos recém- formados, a prestarem serviços em lugares ermos do Brasil. Todavia, inaceitável é, que um governo democrático não cumpra a Lei, e faça propaganda contra uma classe, para tirar proveito eleitoreiro.

Finalizo com as palavras de Sun Tzu, e as envio para reflexão da Presidente e dirigentes de seu partido: “Um bom líder avança sem desejar glória, e se retira sem temer os castigos”. Vide o julgamento do nazismo em Nuremberg e o da ação 470 do mensalão petista, ora no STF: o crime de guerra não compensa.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlandia(ALU-MG)

Um Índice para a Felicidade


O cancioneiro popular já definia na década de 60, o estado de graça de alguém possuído pelo fluido “felicidade”, caracterizado como ativo precioso e difícil de manter. “A felicidade é como a pluma/que o vento vai levando pelo ar/ voa tão leve/mas tem a vida breve/precisa que haja vento pra levar/[...] tristeza não tem fim/felicidade, sim”. Agora, empresas e governos estão utilizando métodos científicos para fazer um índice que mede o nível de bem estar físico, mental, social e de atividades espirituais de um cidadão, vejam só.


Uma revista semanal informa que, num recente seminário sobre o tema, os organizadores estabeleceram nove pilares do Índice Felicidade Interna Bruta - FIB: além do bem estar psicológico,(aí incluídos,  auto estima e otimismo em relação à própria vida), são medidos padrões de comportamento, stress, frequência de exercícios físicos, hábitos alimentares que proporcionam saúde; também a forma como cada um faz a divisão do tempo no cotidiano - quanto mais tempo preso no trânsito, e com  agenda sobrecarregada pelo que só dá dinheiro e não prazer, pior o índice; A  vitalidade dos relacionamentos afetivos, com a prática de doação e de voluntariado melhoram o índice; A educação que vai além da acadêmica e se expande como consciência ambiental e social; O desenvolvimento das capacidades artísticas, como a participação em eventos culturais, que moldam a convivência a 360 graus com as muitas faces de religiões,  raças ou gêneros, ajudam muito na conta.


O pilar meio ambiente então é um dos mais importantes, pois mede o acesso que as pessoas tem à áreas verdes e a percepção das mesmas quanto à qualidade dos recursos naturais, como a água, ar, solo e biodiversidade; Já a coluna governança é umas das que os brasileiros menos podem dela esperar, pois analisa as atribuições de instituições públicas, a imagem de políticos e governos (principalmente quanto à segurança e transparência), a situação da imprensa,judiciário e do nível de envolvimento dos cidadãos. Por último mede-se o padrão de vida, considerados aí, renda, segurança e nível de endividamento, além da qualidade das aquisições, da casa até ao alimento, passando pelos gastos com lazer.


O tripé renda, longevidade e educação, do IDH da década de 90, já foi um grande avanço sobre como medir o lado intangível do desenvolvimento humano, comparado ao PIB, mas por não pode ir fundo no que realmente importa para as pessoas – a felicidade apresenta lacunas que este novo indicador, com metodologia ainda em estudo, promete preencher. Já o indicador PIB per capita, mostrou no Brasil da ditadura, que um crescimento baseado na média aritmética da renda, é mentiroso quando se deseja diagnosticar o bem estar e o desenvolvimento social de uma nação. Fora daqui, o acidente com o super petroleiro Exonn Waldez que se chocou na costa do Alaska durante o ano de 1989, apesar do dano ambiental e do catastrófico resultado para a fauna, flora e futuras gerações, fez o PIB da região crescer - em função da mudança para lá de trabalhadores e empresas envolvidas no processo de remediação pós-acidente. Depois, o mesmo só caiu, e o IDH alto dos EUA não conseguiu medir tanta infelicidade. Viva, portanto, o novo índice de felicidade interna bruta!


José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br


Khobane vive!

“Por isso eu vou/esquecer de tudo/das  dores do mundo/Não quero saber e err errr...”
Cancioneiro popular

Escrevo no rastro da maior crise humanitária desde a segunda guerra, com cerca de 700000 refugiados atravessando o mar mediterrâneo em direção ao Reino Unido e Alemanha, com milhares de mortos (por afogamento, asfixia, e por toda sorte de privações)- além de outros 4 milhões se deslocando entre as fronteiras da síria, Líbia, Iraque, em direção a Turquia e arredores, além de  países  norte da África, todos correndo da morte certa, dos horrores da guerra contra a besta do apocalipse – o ISIS  ou Estado Islãmico, em sua  cruzada contra o ocidente e sua cultura judaico cristã representada pela cruz de Cristo. Neste cenário, algo me iluminou de esperança: um exército de mulheres em Khobane, que, mesmo com armamentos precários, venceu os jiradistas do ISIS, ao coloca-los em retirada, isso após 25 mil homens dos exércitos regulares do Iraque e Líbia recuarem, dando espaço para esses rebeldes, mesmo contando com os melhores armamentos cedidos por forças americanas.

Esse nosso mundo não aprende mesmo: o atual estado da arte é resultado do vazio de poder propiciado por erros dramáticos dos americanos no Iraque e na Líbia, sob o olhar atônito da ONU e a complacência da União Europeia.  E o que se viu, foram menos esforços e ações do que o momento exigia - quando os EUA e suas forças invasoras mataram líderes regionais que amalgamavam tribos e nações, com histórias de rivalidades e guerras há milhares de anos. O vácuo se estabeleceu e foi preenchido pelos extremistas financiados por islamistas do mundo inteiro.

O mais perto que se chega deste dramático tempo. Simbolizado pelo menino sírio de três anos morto nas praias da Turquia, é o holocausto dos judeus na segunda grande guerra. Também naquela época, o vácuo de poder contra a Alemanha de Hitler, começou a ser arquitetado pelo tratado de Versalhes, que impôs à Alemanha penas impagáveis, como resultado da capitulação na primeira guerra mundial e que fizeram nascer o nazismo e o ódio aos prósperos judeus que viviam em seus territórios. O resto da história já é conhecido. Agora temos um “deja vi”: O que dizer das decapitações do EI?  Dos padres e pastores queimados vivos em gaiolas?

Não quero ver crianças brasileiras mortas nas areias da praia de Copacabana, para acordar sobre a importância de combatermos o EI e o Jiradismo em suas atuais fronteiras, antes de cooptarem nossos jovens, contra nossa cultura ocidental libertária. Todavia, como ensina o cancioneiro popular, quero afirmar, que “Minha dor é perceber, que apesar de tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

O torpor da Europa contra o Dragão Hitleriano é o mesmo que observo hoje nos líderes europeus que armaram cercas e resoluções para impedir os migrantes de caminharem rumo a seus objetivos de sobrevivência. O êxodo não se extinguiu, só ganhou força - apesar do racismo, e do ódio contra imigrantes presentes hoje no solo europeu – como nunca antes observado. Alerto que um novo holocausto poderá acontecer daí, agora em tempo real em nossas redes sociais. Precisamos agir como as meninas de Khobane, e, orar como o salmista para que “Deus nos aguce os dedos para a batalha”.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia(ALU)

debatef@debatef.com

Educação Superior e Publicação Científica


Uma das alegrias de qualquer pesquisador é ver um trabalho seu publicado. E todas as vezes que isso acontece, a impressão que se tem é que nasceu mais um filho. Pois em recente viagem de reconhecimento de um curso de Engenharia de Automação e Controle pelo MEC, recebi a edição do artigo “A implantação do Sistema de Gestão Integrada (SIG) em Laboratórios de Análises Clínicas e Biomédicas” das mãos do editor da revista SINERGIA do Instituto Federal de Tecnologia de SP. Sou co-autor com um brilhante ex-aluno do Pós em Gestão Ambiental da UNIUBE, Paulo Henrique Lopes Alves, que faz parte com outros atores, de minha rede de ciência e tecnologia. Em uma época de escassez de talentos muito me honra esse tipo de parceria, pois já sabemos pelo histórico dos processos de formação de pós-graduados, que quando iniciamos uma turma, 30 por cento dos entrantes não concluirá o TCC-Trabalho de Conclusão de Curso, no caso um artigo científico, o que os impedirá de gozar o direito de ter o diploma do MBA. O porque disto é o que procuraremos analisar com este  artigo. E os outros setenta por cento? Desses, cinqüenta por cento faz o trabalho apenas para cumprir as etapas para obtenção do diploma. Sobram os vinte por cento que são a matéria prima para o desenvolvimento de cientistas e pesquisadores.

Um dos quesitos avaliados pelo SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior é exatamente a publicação ou produção científica do professor que trabalha nas faculdades isoladas, centros universitários e Universidades do País. E a situação que constatamos em cada visita mostra os professores muito mal na foto. O indicador de desempenho é pelo menos um artigo por ano nos últimos 3 anos anteriores à avaliação. E não raro encontramos setenta por cento dos professores, inclusive os mestres e doutores sem publicação alguma – zero o que explica a reprodução desta cultura nas pós-graduações Brasil afora. Esta visão é muito preocupante, pois uma publicação científica é a porta para a Academia compartilhar com a sociedade os resultados das pesquisas, e é o passo inicial para futuras patentes, inovações e melhorias incrementais em processos industriais e de serviços.

A ferramenta espinha de peixe de Ishikawa, ou diagrama de causa e efeito pode ser usado nesta análise: na cabeça do peixe o efeito indesejável, qual seja a baixa taxa de publicação dos docentes, e, nas espinhas as possíveis causas, que deverão ser eliminadas por competentes planos de ação. Que causas eu colocaria? A primeira, a comoditização do ensino superior da Nação, com mega grupos de ensino gerindo a educação como se fosse um supermercado ou um banco, implantando um modelo de precarização do trabalho do docente, horista em várias escolas e sem tempo sequer de preparar aulas para mais de 5  disciplinas diferentes, como ele irá  pesquisar e publicar?

A segunda causa é a metodologia utilizada nos PPCs – Projetos de Planos de Curso que não detalham no curso as etapas de iniciação científica e seus resultados que levarão os alunos e professores a inovar e publicar. Por último eu citaria a desmotivação e o desencanto: após o sonho do mestrado e doutorado em assuntos apaixonantes, o docente é obrigado a dar aulas de muitas disciplinas que nada tem haver com seu foco nos últimos anos, pela força da necessidade e da sobrevivência financeira.

Para resolver este problema alguns planos de ação precisarão ser desenvolvidos. Eu começaria pela motivação. Sou obrigado pelo protocolo de avaliador institucional e de cursos, a fazer reuniões com professores, e tenho visto muitas “lamparinas apagadas”, olhos opacos e sem brilho, em pessoas que outrora, pelo fato de se doutorarem, foram obrigadas a se apaixonar por assuntos que geraram artigos e criaram ciência na época, mas isto é passado. Hoje há necessidade de acender de novo essas lamparinas e transformá-las em faróis para o bem do Brasil e das futuras gerações.

Finalizando não sou daqueles que acham que só o Estado pode fazer a educação acontecer. Acredito na ação da iniciativa privada regulada pelo Estado. Todavia, assim como vemos a leniência do Estado brasileiro com a impunidade na justiça, e a falta de saúde, o mesmo acontece na educação superior: ha muito custo se pune adequadamente as más práticas, e se modela a maioria pelos bons exemplos – os benchmarks. O resultado não poderia ser pior, infelizmente - estamos pagando alto preço com a estagnação do País – falta produtividade – um subproduto da educação!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

Dengue e morte.



“A sabedoria e a ignorância se transmitem como doenças; daí a necessidade de se saber escolher as companhias”. William Shakespeare.

Já escrevi muitas vezes sobre este assunto nos últimos dez anos, mas nunca como vítima da doença. Estar com dengue prostra, deixa seu corpo com baixa produção de plaquetas, o que pode levar à morte sangrando pelos poros e internamente: um horror. E nove em cada dez mortos tem mais de 60 anos, como eu e minha mulher, e sucumbem pobres ou celebridades, como o ator global Claudio Marzo, tombado no interior de SP do PSDB, no ápice da epidemia, com dezenas de milhares de vítimas.

Esse arbovírus existe há milhões de anos, e é descrito desde o Egito antigo. No Brasil, chegou com os navios negreiros-mais uma sina para os negros, que sofrem neste País, além do preconceito e desigualdade social, a moleza, manha advinda da falta de saneamento em suas casas, e da falta de educação de qualidade - usadas por este inimigo para ajuda-los a procriar e então atacar os incautos – somos todos vítimas deste mal, é produzido por um mosquito malevolente, o Aedes Aegypt, que infectado voa sobre muros, e é uma verdadeira praga egípcia, reproduzida em água parada qualquer lugar que junte água, seja num copinho no lixo, pneu velho ou e uma calha entupida. Vejam que ele usa o lixo e a desordem como vantagem competitiva.  É um forte. Um guerrilheiro vietmanita que consegue proezas ao atacar na espreita, adversários milhares de vezes maiores que ele, e ganha sempre, ao contar com a parceria do vírus, do qual é hospedeiro.

Todavia, o que aconteceu com os protocolos de saúde pública que praticamente eliminaram filas de doentes em barracas de campanha armadas em praças públicas da década passada?

O tal contingenciamento de verbas do Ministério da Saúde em 2014, tirou os funcionários da vigilância epidemiológica das ruas - eles iam de casa em casa, alertando moradores, e, treinados, retiravam ninhos com larvas nos criadouros, cujo ciclo é rápido - três a 10 dias, além de medirem o índice de infestação - caso extrapolassem a meta, sejam em bairros chiques (vizinhos podem ser assassinos) ou, na periferia, os bichos ao voar, eram abatidos pelo famoso fumacê, que não apareceu mais.

Em minhas caminhadas diárias, conversava com estes agentes sanitários, e ficava sabendo se subiu ou não, o índice, e, em que rua, que vizinho não permitia a entrada para inspeção etc... Desde janeiro não, mas os vi na minha rua. Justamente na época que mais recrudesceu a epidemia,quando os protocolos foram afrouxados, como nunca nos últimos 10 anos, pelo atual governo do PT desta cidade - Um crime de responsabilidade.

Concluo triste, pensando com meus botões sobre o aviso em epígrafe de - William Shakespeare, - esta foi a escolha dos eleitores de Uberlândia, que precisam escolher melhor companhia, se não quiserem morrer com as próximas cepas de vírus que estrão chegando por aí, com cada nome, que nem compensa falar pra não dar azar. Chô mosquito! Chô PT!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br


Conhecer o Futuro


Este é o tema do artigo científico que apresento com meus alunos do oitavo período de administração, no terceiro seminário de pesquisa do ENUTEC - encontro UNIUBE de Tecnologia. O objetivo deste seminário é promover a participação de pesquisadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação, no esforço de publicar seus experimentos e revisões bibliográficas num ambiente próprio, onde há expositores de novas tecnologias, professores convidados com expertises de notória especialização, além do mercado que participa buscando talentos e inovações. Peço vênia para dividir com o leitor amigo, a sequência utilizada para chegar a este momento especial na vida destes alunos, que vão agora em direção ao futuro. Tudo começou com a disciplina que lhes apresento no último semestre do curso de Administração: “Análise e elaboração de projetos” que tem como finalidade gerar a competência gerencial para o aluno criar, operar e gerenciar projetos, utilizando a tecnologia PMI/PMBoK reconhecida em qualquer parte do mundo. Iniciamos o semestre com um brainwriting 6-3-5, ou seja, um toró de ideias escrito em papel pelas equipes com seis participantes. Cada membro pode apresentar até 3 ideias em até 5 minutos em uma roda. Ao sinal do facilitador, passam o papel para o participante da direita, e cada membro tem acesso às ideias do companheiro do lado, de forma que todos tenham conhecimento das propostas do grupo, quando muitos “absurdos” à primeira vista, se revelam grandes inovações após implementações. E foi o que aconteceu com “Conhecer o Futuro” - projeto voltado para jovens carentes de 13 a 17 anos, que tem como objetivo fazer palestras e visitas técnicas nas áreas sonhadas como possíveis profissões para esses adolescentes. Aqueles que querem ser médicos ouvem palestras de médicos convidados e que doam seu tempo à causa. O mesmo acontece com engenheiros, juízes, geólogos, padres etc... Após este encontro, são disponibilizados ônibus com facilitadores que levam os interessados para visita técnica em sua área desejada, e no projeto há o controle posterior dos estudos e avanços dos meninos e meninas, envolvidos neste processo. Na contextualização do projeto, está colocada a carência de mão de obra qualificada no País, o que tem gerado importação de cérebros, enquanto nossos jovens permanecem desempregados ou subempregados por não terem as habilidades e atitudes necessárias para atuar no mercado. O caso da engenharia é gritante: em 1992 - quando atuei como chefe da assessoria técnica do CONFEA, em Brasília - o problema era a falta de oportunidade para engenheiros: vivíamos então a “década perdida”. Hoje este órgão libera por ano cerca de 20000 vistos de trabalho em áreas tecnológicas para indianos, chineses, argentinos e profissionais de toda parte do mundo, sem os quais o País não conseguiria crescer. Nossa elite dirigente, infelizmente, deixou no limbo a juventude do Brasil e somos obrigados a dar os melhores empregos para pessoas de outros países.

O Projeto “Conhecer o Futuro” - faz análise técnica econômica financeira e comprova ser viável. Usa a ferramenta MS PROJECT que delimita o caminho crítico de execução, e tem uma relação custo - benefício excelentíssima, por resgatar a um custo baixo (graças à Deus e ao voluntarismo), o futuro de nossos jovens, filhos e filhas do Brasil.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br 

Código Florestal e Água


Apesar dos desastres climáticos que castigam nosso País e o mundo, e que fizeram pessoas despertarem para a dura realidade do aquecimento no planeta, o desmatamento da Amazônia aumentou 37% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o INPE-Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, caracterizando uma inflexão da curva que descia há 3 anos e que coincide com a aprovação na Câmara Federal do novo código florestal que afrouxa a legislação ambiental, concede anistia  a quem desmatou, permitindo  reduções de área de reserva legal e APAs - Área de preservação ambiental ao longo de  corpos d’água, Brasil afora.  Neste “affair” entre agronegócio e ambientalistas, ainda não resolvido pelo Congresso Nacional, todos perdem se não convergirmos para um ponto comum: a necessidade de gerirmos melhor os recursos hídricos e preservarmos os mananciais de água doce, para estas e as futuras gerações. Não há como produzir no campo sem água, e esta nova legislação, visando atender situações de curto prazo, compromete o futuro da água no País, encoraja o desmatamento, e desmotiva quem preservou, pois não há compensação por isto, muito pelo contrário, dependendo de onde se encontra a propriedade, grande parte da área útil pra plantar fica indisponível, diminuindo o preço da terra. Quem cumpriu a lei se sente lesado, e a ciranda da impunidade se fortalece. Há uma miopia estratégica que precisamos reverter no senado federal: pensar na área da floresta de pé e preservada como improdutiva e impecílio para a produção. Por exemplo, avançando sobre o serrado - que funciona como uma caixa d’água da Nação, a produção de grãos ficará insustentável daqui a menos de uma década, por falta d’água. O que fazer? A meu ver, mudar a lei para remunerar quem preserva, quebrando este círculo vicioso, que é incentivado de fora do País por grandes grupos econômicos que veem no aumento da demanda mundial por alimentos, uma oportunidade fácil para ganhar muito dinheiro, com a política de “terra arrasada”. Sobre este aspecto, chama a atenção recente publicação publicitária financiada por empresas do agronegócio mundial, que querem orquestrar um conceito no seio da população, de que há orgulho em nos transformarmos em “uma grande fazenda mundial chamada Brasil”. Uma ideia que não respeita nossas leis, nem nosso patrimônio sócio - ambiental: este País seria simplesmente uma terra com porteiras, cadeados, poucos donos e pouquíssima água, em sentido contrário as lutas do agronegócio nacional e do movimento ambientalista.

Vale registrar que uma das heranças benditas do governo Lula, foi à criação de unidades de conservação e a demarcação de terras indígenas que somam 75 milhões de hectares, e que equivalem a um muro de proteção que impede o avanço do desmatamento, colaborando para a preservação da água e, por conseguinte do clima.

Concluindo, não dá para viver sem água e em clima cada vez mais seco como o que vivemos hoje em dia, e o Brasil precisa desconstruir esta ideia alienígena de que é só uma fazenda. Ela nos é maligna, pois contribui para que não reajamos à desindustrialização, já que desta forma podemos acreditar - como querem estes mesmos atores, que a China é que é a indústria. O preço que pagaremos como nação é alto demais para não agirmos já.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com.br

Cisne Negro


Foram mais de dois anos após o lançamento, quando tive o prazer e a oportunidade de apreciar a obra de arte do diretor Darren Aronofsky que dá título a este artigo, ou Black Swan na língua original estadunidense, que dá maior significado ao título como expressão idiomática (evento não esperado), e por conseguinte ao que se quer dizer no drama -  é um filme de suspense estrelado por Natalie Portman na interpretação da bailarina Nina Sayers, que lhe valeu o Oscar e 9 entre dez premiações em que concorreu entre 2010 e 2011. Para quem ainda não viu, aviso que vou fazer revelações sobre o enredo, que não impedirão ninguém de curtir este drama psicológico, vivido por Nina, ao saber pelo seu diretor artístico Thomas Leroy (Vicent Cassel), que fora a indicada para principal protagonista da estréia da companhia nova-iorquina de Ballet, em “O lago dos Cisnes”. Ela teria que interpretar tanto o cisne branco quanto o cisne negro. Ocorre que o perfil de Nina se encaixa perfeitamente no do cisne branco, pela sua suavidade, inocência e graça, e nunca no do cisne negro, que exige malícia, sensualidade e algo de anjo do mal, papel que sua rival, Beth MacIntyre (Winona Ryder), faz com perfeição, ao ponto do diretor balançar na decisão sobre qual das duas escolheria para o espetáculo.

A ambição profissional da bailarina em foco, fora incentivada desde muito cedo pela sua mãe Erica, uma bailarina aposentada que jamais chegara aos pincaros da glória que sua filha está prestes a alcançar. E o wikipédia em seu resumo sobre a trama alimenta a curiosidade de quem não assistiu a película: “ Na busca pelo seu lado obsceno, Nina acaba causando um conflito dentro de sua conturbada mente, e nessa obsessão em criar um cisne negro, ela pode acabar destruindo sua sanidade”.

Na verdade ela enlouqueceu. A busca constante pela perfeição, aliada ao antagonismo de sua principal oponente, bem como a luta com o alterego da mãe, foram demais para a “pobre coitada” mas excelente bailarina. Todavia ela venceu a disputa e conseguiu dançar na estréia  com perfeição, tanto o cisne branco quanto o cisne negro.

O ápice da trama ocorre nos momentos de tensão anteriores a entrada de Nina no palco, ainda  no camarim, num ataque de loucura, ela  quebrou o vidro do espelho e se perfurou no abdome, achando que estava atacando sua oponente. O filme acaba dando a entender que a artista morre em virtude desses ferimentos, e pelo esforço sobre humano de tão grande performance, apesar do grave ferimento.

Fiquei condoído e pensei: que pena! Tanta vida pela frente e bastava uma boa psicóloga e um  divã para poder harmonizar o lado  anjo mal da sensualidade exigida, com o lado angelical de doçura e graça, nato na artista. E parei para tirar algumas lições apos refletir - Quantas vezes  somos violentados para mostrar algo estupendo que não temos, e a partir daí, após o evento, somos esvaziados ao ponto de adoecermos, e no limite morrermos com um cancer ou enfarto?

Aprender a sobreviver para contar a história aos netos, significa não se deixar morrer tão cedo, e também não ser o primeiro em honra diante de um juri impassível, ou de uma sociedade que quer cada vez mais e mais, para desperdiçar depois. Desperdiçamos vidas, e isso é crime. Oxalá possamos salvar ainda alguma destas crianças, das armadilhas do  ego exacerbado de pais e mães, e da falta de misericórdia de chefes e diretores pitbuls. Que haja luz, menos câmeras e mais ação!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia(ALU-MG)

debatef@debatef.com

Cultura e Internet: morte ao Rei


“Cai o rei de espada /cai o rei de paus/.../cai não fica nada”. 

Cancioneiro popular


O mundo, nossa esfera azul, caprichosamente colocada neste ponto do universo, está cada vez mais complexo de se entender, seja pelas violentas transformações climáticas, seja pelas também violentas transformações sociais vividas nestes últimos dias, com a queda de tiranos e autointitulados reis no norte da África e em algumas partes da Ásia (por enquanto). Não por acaso, a China, além de censurar a internet, como há tempos já vinha fazendo, após estes eventos, prendeu preventivamente vários líderes de oposição ao regime. Uma revolta no Egito, no Barein e na Líbia, hoje é uma coisa. Já um levante de bilhões de chineses é outra bem diferente - e põe em risco tudo que está estabelecido como “ordem mundial”, mesmo assim, não está descartado neste momento.

Na atual revolta por emprego e liberdade, nota-se o traço da luta por identidade cultural, principalmente nos jovens, o que já havia ficado claro, na “guerra santa” de Osama Bin Laden, no onze de setembro americano: O estado de coisas que foi piorando, pouco a pouco, com o darwinismo cultural do mais forte sobre o mais fraco, primeiro exposto nas telas de cinema e da TV, depois materializado por mais de mil bases do USA espalhadas pelo planeta, inclusive na “terra sagrada” de Osama, a Arábia Saudita. Neste processo, o medo do Outro mais forte e imperialista, alimentou como combustível, o fogo do instinto de guerra. A assimetria de meios não impede por exemplo, o uso da criatividade para atacar inimigos. Relembremos os vietcongs que impuseram uma humilhante derrota à máquina de guerra americana, usando paus, bambus, e esconderijos, na brilhante estratégia de guerra de Ho Chi Min. E em setembro de 2001, apesar de todo dano cultural e de vidas a lamentar, pelo ocidente, não há como não louvar - a partir da clareza que o distanciamento no tempo dá - a precisão cirúrgica e a forma criativa de se usar aviões como arma de guerra, atacando sobre o rio Hudson o coração do capitalismo do mundo, a um custo operacional ínfimo, se comparado aos bilhões de dólares gastos anualmente pelos EUA para “garantir” sua segurança.

Com a Internet e as redes sociais, o conceito de segurança cultural está mudando, e a cultura como também o poder, mais do que nunca, não podem ser garantidos em um lar - nação trancafiada num espaço reservado fisicamente. Nenhum poder ou cultura pode fechar-se em si mesmo sem desaparecer. Daí as quedas, como em jogo de dominós, dos governos totalitários que presenciamos nos últimos dias. E os que ainda não caíram estão com medo, e por conta disto atacam a população civil (caso do sanguinário Kadafhi), prendem a oposição, e censuram os meios de comunicação-principalmente a internet.

“A Cultura é produto de escolhas individuais e coletivas constantes, e a aceitação do pluralismo cultural é o melhor antídoto para o “choque de civilizações”, e a convenção da UNESCO de 2005 é um primeiro passo neste sentido”, segundo artigo “A serviço do pluralismo cultural” de Abdou Diouf no Le Monde Diplomatique Brasil número 43. E ele completa com propriedade: “A globalização não provoca apenas um aumento da circulação de mercadorias. Ela transforma a maneira com a qual nós representamos o mundo, as suas possibilidades, as fronteiras, o espaço, o tempo: ela estrutura as imaginações”. Nada mais claro para nos fazer entender um pouco, esse caldeirão de emoções e possibilidades.


José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br


Não é o dinheiro!


“Não me amarra dinheiro não/.../a formosura..aa/”.

Cancioneiro popular


Um iluminado artigo de Nizan Guanaes semana passada, na Folha, me inspirou a ponto de escrever hoje, sobre a estupidez de pessoas só fazerem as coisas por dinheiro. Principalmente as que formam gente, as que cuidam da saúde, e as que são pastoras de almas. Dizia ele: “Quem pensa só em dinheiro, não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha”. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.

E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma. A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: “Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo”. E ela responde: “Eu também não, meu filho”.

Algumas pessoas de biografia impar, como o senador Pedro Simon, mancha-na após 50 anos de impoluta vida pública, ao tentar ganhar um dinheiro legal, mas imoral, advindo de uma aposentadoria polêmica de governador. Outros, religiosos, de tal forma se macularam que, não coram mais de vergonha ao aparecerem nos jornais, em escândalos de desvios de milhões de dólares, a partir de ONGs criadas para desviar dinheiro do erário. E para onde vai o “larjean”? Para compra de aviões de luxo, roupas de grife, haras de cavalos de raça. Uma boa notícia: alguns fiéis já estão na justiça para reaver terrenos e casas, que doaram em pleno transe, que pensaram ser do espírito santo, mas que na verdade era do maligno. Aqueles são grandes canalhas, pois precisaram sonhar antes para roubar, primeiro as pessoas, e depois o estado. Todavia existem os pequenos canalhas, no dia a dia, que tiram dinheiro até de viúvas, para com sua incompetência, aplicarem mal, fazendo investimentos em nome da coletividade, no que não entendem.  Mesquinhos de alma fazem questão de centavos, e não dão um pão à própria mãe, mas são capazes de fazer sermões, por horas, sobre o que é ser misericordioso. A respeito destes Jesus advertiu que são sepulcros caiados. E pensar que o apóstolo Paulo nada tinha, a não ser uma bela capa, que ordenava a seus seguidores trazê-la para poder enfrentar o frio!

Hoje alguns destes só mudam de cidades para ganhar altos salários e morar em bairros elegantes, além de outras exigências, dignas de cantor de rock. Fazem o que fazem por dinheiro, por isso tenho pena deles, pois assim terminam ganhando muito pouco nesta vida, em que Deus dá aos seus filhos, segundo o salmista, fortunas enquanto dormem.

Para que dinheiro? Pois é... e nesta linha o  Nizan vai, focando nas pessoas, que mais parecem a igreja de Laodicéia do apocalipse: “nem quente nem frio”,  fazem qualquer coisa por dinheiro, sem por a alma no ofício: o texto sagrado afirma que “Deus a vomitará”. Rarará. Antes fosse fria. Necessitando de misericórdia, e buscando-a! O mesmo recomendo para meus discípulos: Nota ruim? Tropeço? Tudo colabora para podermos dar a volta por cima. Melhor isso e aprender depois da derrota, que construir uma média anã que o incapacite como profissional depois. Digo mais: buscando de fé em fé, Deus o abençoará como fez com Jacó. Que assim seja.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br


A Herança Maldita


O governo mais auto elogiado da história do País saia, após tentar humilhar seus antecessores com pretensas lições de governar. Daí veio a catástrofe de Teresópolis e de Nova Friburgo, então, seu secretário de tecnologia foi obrigado a confessar, no Congresso Nacional: ”Falamos muito e fizemos pouco” - No caso do mapeamento de área de riscos, e fortalecimento da defesa civil nas áreas atingidas, e em  todo o País, esse pouco foi quase nada. O ex - governador Garotinho, de muitos outros pecados, além de coautor do atual estado da arte, divulgou em seu blog, que o governo federal disponibilizou 24 milhões de reais para serem utilizados na remoção de moradores destas áreas, e o dinheiro foi desviado pelo atual governador do Rio, para uma importante rede de televisão, na época da campanha para reeleição. Onde o ministério público? Porque ainda não foi usada polícia federal? Um crime como esse, se comprovado, não poderia ficar sem punição, a fim de servir de exemplo para todos os gestores da coisa pública que desviam recursos do erário. São políticos vigaristas, como ensinava Berttold Brech: por gastarem mal os escassos recursos da sociedade, geram como consequência mortes, carestia, fome, prostitutas, menores abandonados, e futuros assaltantes.

Goebels, no nazismo de Hitler, comprovou que uma mentira falada muitas vezes, se transforma em verdade, e maquiavelicamente, o governo que terminou foi um às no assunto: Mensalão virou “golpe das elites” mesmo com vasta documentação e condenação em andamento no STF. Outra lorota: abriu-se a porta da prosperidade, venderam-se ilusões para o povão e até, pasmem, para a elite que o elegeu como guia. Desgraçadamente para os jovens, reforçando a “lei de Gerson” do menor esforço, a megalomania, ao se julgar excepcionalmente melhor que os outros, sem ralar em cima de projetos, de estudos e da penosa preparação contra o que pode vir de pior. Pobre Brasil. Não somos melhores que ninguém, temos uma argentina de desvalidos, e precisamos investir muito em nossa gente para sairmos do septuagésimo terceiro lugar em IDH, para algo próximo ao que somos como economia, oitavo lugar. Isso só se faz com livros, professores, horas de estudo e meritocracia, ou seja, ganha quem tem conhecimento, habilidades e atitudes aprendidas. Nos últimos 5 anos, crescemos menos que a média da América Latina, e  os países pobres da Europa como Romênia, Sérvia, Bulgária. Apesar disso, ao crescermos 7,5% em 2010, nos deparamos com o apagão de talentos e de infraestrutura. E a perspectiva? Sem um grande projeto nacional de educação que englobe, da escola primária à pós-graduação, não teremos chance de brilhar nesta janela de oportunidade que se abre para os próximos vinte anos.

Finalizando, cada centavo do orçamento é sagrado e deveria ser utilizado para a redenção desta escravidão moderna que nos oprime: Teremos de importar, já, milhares de engenheiros, carpinteiros, pedreiros, pilotos de avião e arquitetos, se quisermos continuar a crescer, enquanto milhões de brasileiros que poderiam ocupar estes postos de trabalho permanecem no limbo. Não é triste?

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br