“Deus
tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre
nós”. Salmo bíblico
Chama-me
a atenção a quantidade de Organizações não Governamentais que desviam dinheiro
arrecadado na sociedade, cujo endereço seria os necessitados, motivo da missão
da organização. Não há controle adequado no Brasil sobre doações bem
interessadas de toda parte, principalmente do exterior. E a Amazônia chega a ter
uma ONG para cada seis índios. Mas lá, como em todo lugar deste País, algumas fazem
como o “establishment” na parábola do bom samaritano, contada por Jesus aos
hipócritas - fariseus e doutores da lei: Após ser assaltado e espancado por
ladrões, um judeu foi deixado à beira da estrada. Por lá passaram ao largo além
daqueles, os sacerdotes, religiosos, e quem sabe certos “ongeiros” da época, todos
compatriotas seus. Foi um inimigo marcado pelo opróbrio, um samaritano, que se
compadeceu do judeu, colocou-o sobre o cavalo, pagou médico, hospedaria etc, e
ainda mandou “pendurar” o que passasse do numerário deixado para o tratamento,
para ser pago na sua volta pelo mesmo caminho.
O
sempre atual tema proposto por Jesus na parábola do bom samaritano “arrepia”
muitos políticos e religiosos, até “evangélicos”. Eles usam instituições filantrópicas
de utilidade pública no Brasil, para desviar vultosas somas de recursos, que ao
longo dos anos, vão para contas de laranjas, e para paraísos fiscais, e exatamente
por isso, não têm compromisso político em acabar com a pobreza neste País. O
fato dessas somas consideráveis não serem usadas para retirar pessoas de
“desvios” do caminho, colocadas que foram por peças pregadas pelo destino, não conta
para esses agentes, cujo modelo mental é de total irresponsabilidade social, ou
seja, socializar perdas, e faturar com o que é público e destinado à maioria.
Todavia,
caro leitor, quantas vezes não deparamos-nos com esse fato na nossa própria
família? E é em casa que tudo começa. Aquele tio irresponsável (e religioso) que
nunca divide os remédios da mãe doente com os irmãos, mas faz questão de
faturar sua parte no aluguel da casa da velha. Ou aquela filha que apesar de
bem empregada, e usar caras roupas de grife, nunca paga sua parte na conta coletiva
do restaurante, nem nos presentes combinados para a tia avó enquanto viva, mas
faz questão absoluta, de receber sua parte nos despojos da mesma, agora, após a
sua morte. Ou nas lições deixadas pela
briga familiar pela herança deixada pelo avô rico. Os familiares mais pobres são
passados para trás, porque não tem bons advogados. E os mais ricos e que “nem
precisavam”, fazem questão até daquele copo de cristal assim assado. Enfim há
total falta de misericórdia. E o que é misericórdia? Ela é prima da caridade é
fruto do espírito da tríade fé, esperança e caridade proposta pelo apóstolo
Paulo aos cristãos. Significa pensar-nos outros em primeiro lugar. Se colocar
no lugar de outrem, e procurar sentir o que passa no seu coração. O principal
resultado para quem a pratica é ver criado na alma um “espírito público”, que
gerará sinergias liderança, e fará o povo, qualquer povo, atravessar “o mar
vermelho a pés secos”. E que Deus nos livre dos avarentos.
José
Carlos Nunes Barreto
Professor
doutor
debatef@debatef.com