quinta-feira, 28 de maio de 2015

Um Débito pela Dignidade

 “Não me ofereça coisas.
Não me ofereça sapatos.
Ofereça-me comodidade para meus pés e o prazer
De caminhar.
Não me ofereça casa.
Ofereça-me segurança, conforto e um lugar que prime
Pela limpeza e felicidade.
Não me ofereça livros.
Ofereça-me horas de prazer e o benefício
Do conhecimento.
Não me ofereça móveis.
Ofereça-me conforto e tranquilidade de um ambiente
Aconchegante.
Não me ofereça coisas.
Ofereça-me idéias, emoções, ambiência, sentimentos
E benefícios.
Por favor, não me ofereça coisas.”
Autor desconhecido

Um luminar artigo do jurista Fábio Konder Comparato intitulado “Um débito colossal” em um importante jornal paulista, expõe para a sociedade brasileira com crueza,a ferida aberta, mãe de todas as nossas atuais vicissitudes: a desigualdade social neste País onde 70% dos 10% da população mais pobre são negros ou afrodescentes. Tenho repetido neste espaço que o mercado de trabalho e as demais relações da sociedade , tem em sua memória a cultura escravagista que dominou o País por 4 séculos: Punir os negros e seus descendentes.Nos séculos anteriores com o ferro do suplício e as 300chibatadas.Atualmente com a perversa exclusão social. Assim é que  com a mesma qualificação e escolaridade, eles recebem em média quase a metade do salário pago aos brancos, e as mulheres negras, até metade da remuneração dos trabalhadores negros.Na atual guerra urbana em nossas cidades, mais de dois terços dos jovens assassinados entre 15 e 18 anos são negros.Um verdadeiro genocídio que a história cobrará dos atuais governantes e de todos nós sujeitos e agentes de nosso tempo.
Na USP onde estive sendo afrodescendente por 10 anos, desde a especialização, do mestrado ao doutorado, só vi um negro na pós graduação além de mim.um médico fazendo especialização em Saúde Pública.Os demais eram africanos ,indianos chilenos em convênio com a instituição, pois maior universidade da América Latina, os alunos negros não ultrapassam 2%, e, dos 5.400 professores, menos de dez são negros. É vergonhoso que tenhamos esperado 120 anos para ensaiar a primeira medida de apoio oficial à população negra: a reserva de vagas para matrícula em estabelecimentos de ensino superior.
Dele:”A ESCRAVIDÃO de africanos e afrodescendentes no Brasil foi o crime coletivo de mais longa duração praticado nas Américas e um dos mais hediondos que a história registra”.
 
Tudo começa pela pirâmide de Maslow, que é uma escala de prioridades das pessoas em que degraus nunca podem deixar de ser vivenciados para que se siga em frente. O primeiro deles é a conservação da vida, onde as necessidades fisiológicas básicas devem ser satisfeitas - comer, beber, vestir, etc.. O seguinte é o domínio do ambiente físico. Se estiver frio, aquecer, se quente esfriar,  se escuro, iluminar, adequar moradia e trabalho às exigências psicofisiológicas e anatômicas do corpo humano.A isto damos o nome de ergonomia, que é um conjunto de ciências com uma diretriz ética e técnica fundamental: adequar o ambiente ao ser humano para   produção ou para o lazer. Continuando a sequência de MasloW, o terceiro degrau é a necessidade que o ser humano têm de ser aceito pelo grupo,o que explica a profusão de clubes de servir, ongs e tribos na atual sociedade do conhecimento. Interessante notar que em nações em guerra não se chegam à este patamar por ausência de condições de domínio do ambiente(Nossa guerra urbana talvez explique nossa falta de solidariedade...) Após cumprir esta etapa o cidadão segundo o autor, pode reconhecer o seu próprio valor que é o quarto degrau, e chegando à autonomia logo a seguir. Finalmente no último degrau estará a auto realização. Hora em que se deixa legados para futuras gerações.

Entre todos os degraus o que mais demanda tecnologia é o segundo, exatamente o da ergonomia. E onde houver fome, frio, ausência de moradia,  aí estará  todo tipo de tensão social. ica para o País em termos de qualidade vida e sucesso. Por favor não me ofereça coisas...

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br


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