segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Cidades Sustentáveis



Em recente entrevista publicada em www.planetasustentável.com.br, o premiadíssimo arquiteto Jaime Lerner conceituou cidade sustentável como aquela  que resolve três quesitos essenciais para a qualidade de vida das pessoas: mobilidade, sustentabilidade e diversidade social, e discorreu sobre os entraves para se construir em até três anos uma metrópole assim. Concordo com ele quando diz que as lideranças devem ter visão estratégica trazendo todas as forças da comunidade para atuar a favor deste vetor, definindo o que é sustentabilidade, de maneira clara para o cidadão comum, fazendo-o entender que a falta dela dificultará sua vida. Por exemplo, tendo de morar longe do trabalho e gerar a dependência excessiva do automóvel, além  de tomar decisões caras somente por conta do veículo. Uma cidade cada vez melhor é uma responsabilidade coletiva, por isso surge um sentimento de dó em ver se gastar tanto dinheiro só para atender uma elite, quando se multiplicam pontes e viadutos que sequer tem passagem para bicicletas – utilizada e muito por trabalhadores que se deslocam diariamente. Qual o custo de uma ciclovia associada a corredores de ônibus como em  Paris?

O pensador Lerner foi quem inventou o sistema BRT (Bus Rapid Transit - sistema de transporte coletivo em corredores exclusivos com pagamento antecipado de passagem) implantado hoje em mais de 80 cidades do mundo, inclusive em Uberlândia, aplicado pioneiramente  em 1974 na cidade de Curitiba  que acaba de ganhar o prêmio “Globe Award Sustainable City 2010”. Há 20 anos entre 60 e 70% dos habitantes desta cidade separa seus rejeitos para reciclagem e este é o mais alto índice do planeta, isto porque  líderes como Lerner quando a governaram, tomaram a decisão política de torná-la sustentável, e para isso promoveram  - com ajuda de ações coletivas da comunidade, mudanças culturais cruciais para o futuro da cidade e do planeta. Como entender que com o tamanho de seu orçamento, Uberlândia ainda não tem um serviço de coleta seletiva de lixo exemplar, seguindo todas as normas internacionais pertinentes? E como deixar para depois  decisões  envolvendo a gestão de resíduos perigosos classe 1? Eles colocam em risco a saúde e a vida de milhares de pessoas, já que somos um centro logístico que, por sua função, faz transitar estes materiais e muitas vezes estocá-los sem um código municipal à altura.

Por fim discorro sobre o terceiro pé do tripé: a diversidade social. E nele vejo algumas ações louváveis na gestão atual, notadamente nas reformas de escolas e creches, e nos programas institucionais para idosos, as duas pontas mais frágeis da sociedade, além da construção do hospital municipal que desafogará   o Hospital da UFU atendendo pessoas de qualquer cor ou credo provenientes de até 300 Km no entorno. Lembro, todavia ao gestor que, apesar disso, falta inovação e sustentabilidade nestas operações: aplicação de ideias simples e baratas que se colocadas em prática provocam mudanças, que segundo Lerner, no caso da criatividade corta um zero do orçamento, e quando se estabelece a  sustentabilidade, dois zeros. O que ele quis dizer é que não importa o tamanho da cidade para se alcançar a sustentabilidade. Existem cidades de 100 mil habitantes piores que cidades de 6 milhões. Tudo depende de nós, habitantes da pólis, e de seus administradores.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor


O Caminho do Peregrino



“Caminhando e cantando/ E seguindo a canção/Somos todos iguais,/ Braços dados ou não...” Geraldo Vandré.

O fim de férias de um professor, não é igual ao de outros profissionais... O começo do trabalho já se faz presente bem antes, através das revisões bibliográficas, leituras, e preparações de programas de ensino das disciplinas, a serem ministradas no semestre. Raras vezes, nesse período, um livro de poesias, ou best seller,  estão entre as folhas que servem de prazer aos olhos que leem. Desta vez, mesmo fazendo aquelas, me deparei, na volta pra casa, entre aeroportos e livrarias, com a última obra de Laurentino Gomes - autor de 1808, 1822 e 1889 e seis vezes ganhador do prêmio Jabuti - em parceria com Omar Ludovico, pastor de almas e mentor de centenas de novos cristãos, sob o título “O Caminho do Peregrino: Seguindo os passos de Jesus na Terra Santa” pela editora Globo, SP.

Baseado neste inspirado texto, gostaria de dividir com meus leitores, as impressões a seguir, e erigir as diferenças entre um eventual turista, e um peregrino: o turista, ao visitar lugares, fixa seu olhar na geografia, na arquitetura e nas belezas naturais, o que não é pouca coisa... Já o peregrino, durante suas caminhadas, se volta pra dentro de si, seu coração, suas ânsias, dúvidas e escolhas... No caso dos autores, não foi diferente, e esta é a riqueza da obra, por se tratar da experiência pessoal dos mesmos, ao realizar peregrinação em grupo pelos lugares onde Jesus cresceu, viveu e foi crucifixado.

Os autores descrevem a cidade física de Jerusalém nos dias atuais, e a comparam com a cidade eterna e espiritual mostrada nas escrituras sagradas, sonho e crença de 4 bilhões de pessoas ao  redor do mundo, de 3 grandes religiões -  islamismo,   judaísmo e cristianismo - e, o livro a quatro mãos, escrito  após  esta peregrinação, passa pela conversão de Laurentino  durante as meditações dirigidas por Omar, entre a as ruínas e vielas, repletas de mistérios e significados, na caminhada interior rumo a Deus.

Ser Peregrino em latim pode ser traduzido como caminhar através do campo: a pé, de bicicleta a cavalo, até de moto... com destino ligado ao imaterial, e à construção da fé, tudo  acontecendo em trilhas, que cortam continentes, como o caminho de Santiago de Compostela, ou nas centenas de peregrinações no Brasil e no mundo. E, entre tantas omilias assinadas pelo pastor Omar, neste belo livro, me tocou a aura do surdo e gago, ao se encontrar com Jesus naquelas terras, descrita em São marcos 7:31 - 37.

Vinícius de Moraes lavrou a máxima, de que a vida é a arte do encontro. No texto sagrado com cerca de 2000 anos, o surdo e gago é encontrado por Jesus, e nos representa, numa metáfora, pois temos dificuldade de ouvir, nos calamos ou nos expressamos mal, e, na caminhada, quantas vezes? sequer somos notados à beira do caminho. Contudo, neste encontro somos curados, ao sermos tocados com sua santa saliva, e então o ouvirmos em aramaico gritar Efatá - abre-te! - ao suspirar com emoção, e olhar para o céu, em prece que nos faz chorar...

Neste evangelho, Deus nos confronta a nos abrirmos ao outro, ao próximo ferido (refugiado?), e, nos ensina a não sermos trancados em nós mesmos - só então poderemos ser curados de nossos relacionamentos, e a partir daí, reconstruídos em nossos vínculos de afetos e intimidade, ao ouvir e falar com o coração. Que assim seja.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
Presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU

debatef@debatef.com

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Vida e Morte: Chacinas em Uberlândia



“Muitos se perderam no caminho/ mesmo assim é fácil inventar/ uma nova canção/que venha trazer/ sol de primavera/ a lição sabemos de cor/ só nos resta aprender”. Cancioneiro popular.


Contam às escrituras que Jesus estava ocupado demais a atender as multidões, fazendo milagres, de tal forma que se atrasou para ir ver a doença de Lázaro – quase um irmão. Quando enfim se desvencilhou dos compromissos, e chegava no lugarejo, ainda longe, Maria e Marta -  irmãs do doente, correram ao seu encontro e relataram o pior: Lázaro havia morrido. Jesus chorou. E esta é a única vez em todos os evangelhos, que esta humana condição é revelada por Nosso Senhor. Gosto de ler esse texto em www.bibiaonline.com.br. O espectro da morte como companheira de nossa existência, aparece nos escritos sagrados, para nos mostrar a brevidade da vida, e o poder de Deus sobre este, que é o temido fim de todos nós. No caso de Lázaro, Jesus pediu que o levassem até a tumba do morto, mas as irmãs tentaram demovê-lo, porque já faziam três dias e ele cheirava mal. A multidão o seguia. Ao chegar ao túmulo Ele ordenou que retirassem a enorme Pedra que bloqueava a caverna, e gritou- “Lázaro vem para fora”. E este apareceu como um fantasma, cheio de ataduras e cheirando muito mal. Jesus não o tocou, apenas ordenou que o desatassem - o que foi imediatamente feito por suas irmãs e amigos, que provavelmente providenciaram banho, comida, e festa para brindar a ressureição de um amigo querido. Neste milagre, Deus quis ensinar que existe um tempo dele. Também serviu para lembrar a todos, que para tirar pessoas dos túmulos da vida é preciso atender às ordens do Rei do Universo: mover pesadas pedras; desatar defuntos apesar do mal cheiro - e este é um trabalho de equipe; não é possível fazê-lo sozinho. Pelo que depreendemos no texto, Lázaro tinha muitos amigos. E eles é que fizeram tudo, alegres por estarem vivendo aquele momento mágico, sob as ordens do Mestre.

Mas o que tem haver esta escritura com as chacinas que tem ocorrido em Udia? Permitam-me a licença poética: nossa sociedade esta que nem Lázaro: doente. E mandou sinais - os indicadores de morte violenta. A ONU ensina que acima de 8 mortes por 100 mil habitantes, seria epidemia. MG já estaria muito ruim, cerca de 18 mortes por 100 mil habitantes. Já Udia esta muito pior mais de 30 mortes por 100 mil. Pior inclusive que a média brasileira. As nossas autoridades deixaram a elite da zona sul ilhada entre dois focos de delinquência, os bairros São Jorge e Patrimônio, e que equivalem no Rio ao Complexo do Alemão e a Rocinha antes das UPPs. Agora com as chacinas ocorridas e ainda na metade do ano, com indicador de 22 mortes por 100 mil, o doente morreu e cheira mal. Precisamos de milagres, ou de outro governo - qualquer que seja o partido vencedor das eleições - que use intelligentsia e estratégias como a do Rio de Janeiro: entrar na comunidade e ficar - desatar nós, pegar no pesado, tirar as pedras da falta de comunicação com a sociedade, não ter medo do cheiro ruim daqueles que estão mortos socialmente.  As perguntas dos dirigentes hoje são iguais a de Alice (no País das Maravilhas) ao gato na bifurcação da estrada, e a resposta é a mesma. Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve. Oremos!


José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
debatef@debatef.com



Um dia para o meio Ambiente?



“É pau/ É pedra/ É o fim do caminho/ É o resto de toco...”. Cancioneiro popular

Acompanho e participo todos os anos das programações do dia mundial do meio ambiente. Contudo, jamais vi tamanha urgência em se fazer “Educação ambiental” e planos de ação emergenciais, como na atual crise do planeta Terra. Caso não tenhamos êxito, enfrentaremos o maior teste pelo qual a humanidade já passou: Um desastre maior que as guerras, maior que a desigualdade social construída por séculos de exploração do homem pelo homem: O aquecimento global sem controle e sem volta. Vê aquela mulher catadora de lixo na porta de sua casa? Como ela, bilhões que estão no limiar da pobreza no mundo, podem se tornar reféns da sede e da fome, e não só eles, outros bilhões, mais ricos na pirâmide social, a seguirão, e no cenário mais pessimista, todos cairemos mortos, como acontecia nas pestes da idade média.  Por isso, um só dia para o meio ambiente é pouco ou nada, face ao desafio que emerge com exponencial velocidade. James Lovelock, em seu livro “Gaia, cura para um planeta doente” (ed. Cultrix, SP), nos ensina que a Terra possui um sistema autorregulador composto de todas as formas vidas, incluindo os seres humanos e todas as partes materiais que a constituem, o ar, os oceanos e as rochas da superfície. Segundo o autor, o sistema terra se assemelha a um organismo vivo, e regula seu clima e a sua química. Logo adicionar gases estufa à atmosfera, por exemplo, através de queimadas na Amazônia, ou nos terrenos urbanos das cidades, tem conseqüências muito diferentes, se tal fosse feito em um planeta morto como Marte. A cada dia em que emporcalhamos o ar, nos aproximamos da faixa não reversível, acima de 400 partes por milhão, após a qual o sistema Terra ficará sujeito a um superaquecimento irreversível. Hoje estamos na faixa de 380 ppm, ou seja ainda nos resta algum tempo para agir.

Mas sejamos honestos. Alguma vez você pegou um balde d’agua para apagar o fogo criminoso ateado no terreno ao lado da sua casa? Ou protestou contra os monstros desmatadores - maiores da Amazônia, Blauro Maggi e Lula, que queimam a área da floresta equivalente a um campo de futebol a cada cinco minutos?Para a maioria a resposta é não. E é por isso que o desastre climático já bate à nossa porta, com enchentes assassinas, ventos destruidores, pragas de insetos que agora estão mais aclimatados, e o pior, a alta dos alimentos decretada pelas quebras de safras por motivo de desarranjos climáticos.

O Professor Lovelock viveu como inglês, a luta contra Hitler na segunda guerra mundial. E compara o desleixo dos líderes mundiais com o Tratado de Kiotto, ao mesmo que ocorreu ao tratado de Munique em 1938, contra o dragão hitleriano. Só se ganhou tempo para que o Dragão crescesse e quase destruísse a Europa. Mesmo as mortes de 20.000 velhos no CEE no superaquecido verão de 2005, o furacão em Santa Catarina no Brasil, a inflação dos alimentos, nada nos desperta da anomia e do estupor. Ver a Amazônia ser queimada, matas ciliares dos rios desaparecerem e os novos Neros atearem fogo no mato ao lado de nossas casas, não nos tira da imobilidade. O poeta diria que isto é o mesmo que conviver com um espinho na mão, ou um corte no pé. E a continuar assim não haverá mesmo, promessa de vida para o nosso coração.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com

Tragédia Brasileira



“Segurança é uma questão de Estado e deve estar acima das diferenças políticas. Precisamos de um pacto por uma reforma institucional profunda. Ou haverá segurança para todos, ou ninguém estará seguro”. Luiz Eduardo Soares Ex-Secretário Nacional de Segurança Pública.


Após o voto do decano do STF a favor dos embargos infringentes estabeleceu-se de vez a sensação de impunidade na sociedade brasileira - uma das tragédias que fazem parte do conjunto da obra de insatisfação da Nação. A ausência de educação e saúde com “qualidade fifa”,  aliadas aos crimes sem solução, à polícia corrupta e despreparada e a política de encarceramento em massa das classes menos favorecidas, que não podem usar a justiça da elite e dos grandes advogados, completam a lista mas não a esgotam, tamanha a miséria espiritual desta agenda.

Vou falar em seguida alguns números instigantes citados pelo sociólogo e estudioso em tela, criador do conceito das UPPs, e autor do livro “Segurança têm Saída” pela editora Sextante, que recomendo aos dirigentes e gestores da segurança pública deste País. Começo com o número de jovens assassinados na maioria homens e afrodescendentes - são quarenta mil por ano na faixa de idade entre 14 e 24 anos - de tal impacto, que já falta na pirâmide etária social este perfil étnico. Se juntarmos a estes, os cinquenta mil mortos em acidentes de trânsito por ano e os cerca de 40000 mortos em acidentes de trabalho, teríamos mais mortos anualmente que os cem mil mortos em dois anos e meio de guerra na Síria. E porque nós e o mundo não percebemos isso? Sem dúvida porque as vítimas são da maioria silenciosa: preta, pobre e pouco representada. Basta ver o alarde que é feito quando cai um boeing com algumas dezenas de mortos, que concentram mais usuários brancos e da elite (o que está mudando, ainda bem, mas  não invalida a comparação).

Das quarenta mil mortes por assassinato, a maioria se dá com a presença do trinômio álcool, armas e tráfico de drogas, potencializada pela presença de uma polícia que é um verdadeiro macaco em loja de louças: desaparelhada, sem formação adequada, sem auxílio adequado de perícias, o que faz com que somente se esclareçam em média 10% dos assassinatos. Via de consequência, a vida vale muito pouco neste País, a pistolagem arrebanha tanta gente, e os crimes contra a vida e os patrimônios crescem em escala geométrica. Pois o professor Soares diagnostica: temos 56 polícias brasileiras - 27 PMs estaduais, 27 policiais civis estaduais, polícia Federal e polícia rodoviária federal. Não há um sistema nacional que organize estas instituições, que na maioria das vezes competem entre si, e raramente dialogam, mesmo quando as soluções de crimes exigem isso. Não nos esqueçamos das guardas municipais e das seguranças armadas, que equivalem a quase um exercito paralelo, com a maioria apresentando carência de formação, agravada pela falta de controle adequado por parte do estado, e eis o terrível estado da arte da segurança pública no País.

A grande verdade é que este assunto virou questão de vida e morte para todo cidadão brasileiro, que enfrenta esta guerra da falta de segurança diariamente, e é um sobrevivente da ação desordenada de nossas polícias, com eterno fogo amigo contra a população - sábia, a qual diz ter mais medo da polícia que dos bandidos, e o autor em epígrafe, infelizmente, mostra de maneira inequívoca, que ela tem toda razão. Que Deus nos ajude!

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da Academia de letras de Uberlândia (ALU-MG)
debatef@debatef.com



Reengenharia na Educação



“Ê Ê/ Hoje eu vô pegá você/ Ê Ê/.../ Ê Ê/ vô pegá você”. Funk da periferia.

Escolas de lata, professores surrados na saída das aulas, alguns assassinados. Diretores e gestores de escolas encurralados pelo tráfico de drogas em regiões carentes. Milhões de adolescentes que chegam ao final do ciclo básico sem conseguirem aprender matemática, física e química, matérias fundamentais para a produção de bens e serviços. Apesar disso, e paradoxalmente, uma pesquisa mostrada numa edição de revista semanal brasileira mostra que 90% dos pais estão satisfeitos com o ensino recebido por seus filhos. Autoengano ou o sucesso da propaganda de governos inescrupulosos?E este é o panorama da educação que estará freando o desenvolvimento do País. Via de consequência, por falta de mão de obra qualificada na área tecnológica, muitas empresas transnacionais já estão indo embora, levando investimentos e oportunidades.

Como explicar que em comparação com o Reino Unido, um benchmark, o estado brasileiro gasta no ensino fundamental cerca de 30% menos por aluno, enquanto no ensino superior nosso gasto é 30% maior? Simples: Inversão de prioridades e desperdício de recursos.

Precisamos criar uma “cultura da dona de casa”(Housekeeping) em torno da escola, em que os pais, através de conselhos aliados aos diretores, possam transformá-las e  melhorá-las utilizando  indicadores de desempenho e planos de ação.

A matéria prima que chega ao ensino superior está cada vez pior. Jovens recém-saídos do ensino médio que não sabem ler e interpretar um texto. Em que física e matemática são terrores que ameaçam a formação de engenheiros e arquitetos. Química deixa atordoados médicos, farmacêuticos e nutricionistas. E estas lacunas perseguirão por toda vida os profissionais, limitando-os, e cobrando um alto preço da sociedade em termos de erros técnicos, envolvendo perdas econômicas e sociais.

O mal resultado, mostrado acima gerou uma crise, que não se resolverá com mais salário para professores, mas sim com gestão e  mudança de perfil econômico – financiado com rubrica federal já existente - dos alunos pobres em sua maioria, e sem condição de pagar os 100 dólares mínimos exigidos por uma mensalidade.

Uma série de fusões está acontecendo e culpa-se a inadimplência. Um trivial problema de administração, e após esse fato, segue-se a lei de ajuste de capacidade do mercado: demissões em massa de mestres e doutores, os mais caros, assim que os cursos são reconhecidos pelo MEC. Um verdadeiro desperdício de capital humano, já que 90% deste pessoal especializadíssimo, no Brasil, ao contrário do EUA, CEE, China e JP, só encontra trabalho nas universidades, e não em empresas.  De que adianta formarmos mestres e doutores se não sabemos usá-los? Seria mais sensato gastarmos mais com o ensino fundamental, médio e tecnológico, enquanto nos preparamos para usar melhor estes cérebros em futuro próximo. Como grandes atores deste cenário, desafio os novos prefeitos eleitos com as sábias palavras de Mahatma Gandhi: Acreditar em algo, e não vivenciá-lo, é ser desonesto. Ou a refletirem com Newton Von Zuben no livro de Regis de Morais, org. “Sala de aula que espaço é este”? ed. papirus: A sala de aula deveria ser pensada  como o árduo caminho que leva da angústia do labirinto à fundação da liberdade.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com


Pensamento Positivo?




“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.” Cora Coralina.


A ensaísta americana Bárbara Enhreneich autora do livro “Sorria - Como a Promoção Incansável do Pensamento Positivo Enfraqueceu a América”, descreve o processo crônico que levou governos e lideranças americanas e do mundo, a subestimar os sinais e evidências da falência de fundamentos econômicos financeiros, que levaram à crise de 2008. Tenho para mim que esta sequência de passos, começou na cabeça de pastores protestantes americanos, que só leram o lado róseo da bíblia, e não absorveram a cultura e sabedoria de Salomão e de José do Egito. A partir daí fizeram best sellers  e sermões eletrônicos, até criarem  a mentalidade da teoria da prosperidade ad infinitum, sem considerar  os sete anos de vacas magras, como se tudo fosse   um ciclo de Carnot  onde não há perdas de energia.

Agora, que já pagamos o preço desta má fase nos últimos 5 anos de purgação, podemos levantar os olhos e observar as perdas e danos devastadores, e também as sutis mudanças simplificadoras destes mesmos processos e  as  melhorias  associadas. A articulista Olga de melo, do jornal “Valor Econômico” em recente publicação, vê a redução da edição de livros de autoajuda despencar neste período, após enriquecer por quarenta anos seus autores, haja vista os tempos mais sóbrios e porque não dizer sombrios, vivenciados na Europa e Estados Unidos. Por aqui, um líder, que se descobriu depois, chefiou a maior estrutura criminosa da história, destinada a desviar dinheiro público para perpetuar-se no poder, cunhou este tsunami de marolinha, e o Brasil até hoje se afoga e submerge quase desfalecido, ante tanto despreparo, abastecido por este pensamento irrealista.

Com mensaleiros já muito bem julgados pelo STF, que teve a coragem de colocar 25 ladrões na cadeia, contudo, infelizmente, manteve fora dela o Ali Babá, e o que ele representa para o Brasil de hoje: engodo, atraso, mentiras chavistas e ações castristas. Principalmente na saúde, continuadas pela gestão de sua sucessora, a qual destrói a economia com seu messianismo marxpetista pairando como um fantasma a assombrar a gestão pública do País, que necessita desesperadamente de mais saúde, mais educação, mais segurança e mais infraestrutura, só conseguidos com decisões precisas e rápidas - próprias de estadistas.

No plano municipal, votar só em bons nomes, sem considerar o arcabouço partidário, definitivamente precisa sair da agenda do homem comum e de bem, pois todo grande contrato que os governos municipais fazem com bancos, são oportunidades de fazer caixa para partidos políticos. As prefeituras vão atrás de grandes empréstimos, que endividam ainda mais as cidades, sempre a partir de um objetivo confiável. Quando o dinheiro sai é desviado, culminando no enriquecimento de seus líderes. Desafio alguém a provar que se fica rico na política, sem usar dinheiro público, vender facilidades, ou fazer trafico de influência.

Finalizando, sou um escritor “azedo” com os malfeitos do poder neste raiar de 2014, todavia apenas quero ser uma voz contra o pensamento positivo anacrônico e perigoso, e desejar um 2014 vitorioso a todos que me honram com sua leitura.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia.

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Os Resíduos e você



“O que a gente pode/ O que a gente não pode/ explodirá/Realce...”. Cancioneiro popular

Ando as voltas com análises de viabilidade técnicas econômicas financeiras de projetos por conta das minhas atividades profissionais. E dias desses apareceu uma inusitada, pois era de um aterro industrial. Digo isso porque este equipamento de controle de poluição é dos mais esquecidos nas cidades brasileiras, principalmente agora quando a produção Industrial explode puxada por um aumento do PIB de 6% no último trimestre. Um aterro industrial possui ETE - Estação de Tratamento de Esgoto, e incineradores para resíduos perigosos, que podem ser industriais, de farmácias, de hospitais e de laboratórios, ou da sua casa. Porque nossos resíduos são tão desconsiderados nos planejamentos estratégicos de governos e de empresas? Porque existe uma propensão natural do ser humano, desde nossos pais bíblicos, até por sobrevivência, de afastar para longe de sua tenda seus resíduos. Uberlândia por exemplo manda seus resíduos classe 1 – os perigosos, para Ribeirão preto, o que caracteriza a expressão internacionalmente conhecida “NO in my back Yard”, não em meu quintal, por favor!

Primeiro vamos deixar claro uma coisa: Lixo é resíduo, e ele pode ser perigoso ou não (o classe 2). Mesmo o não perigoso traz sérios problemas para a saúde pública, por conta dos vetores de contaminação, tão conhecidos, como ratos, baratas, moscas e principalmente pelo líquido efluente que brota dele-o chorume, altamente poluidor, porque tem alta demanda biológica de oxigênio e alta demanda química de oxigênio, é pior que esgoto, e quando cai em um corpo d’agua retira rapidamente seu oxigênio gerando os tietês da vida, mesmo no subsolo onde a gente não vê. Em virtude disso, deve ser tratado em uma estação de esgoto acoplada ao aterro sanitário para não afetar o lençol freático e a água da região. Nosso aterro sanitário em Uberlândia está no final de vida útil, porque ninguém discute isso em campanha eleitoral? Mais de 70% das cidades brasileiras dispõe inadequadamente o lixo, sem coletar chorume, logo grande partes das doenças do SUS são devido às contaminações deste estado da arte. Portanto o lixo quando depositado em lixão, e ou aterro controlado, não tem o efluente tratado, como quando disposto em aterro sanitário feito adequadamente com estudos de impacto ambiental, e respeito às normas técnicas vigentes para destino final de resíduos domésticos não perigosos.
    
Via de consequência remédios vencidos, pilhas e lâmpadas fluorescentes à base de mercúrio não deveriam estar em aterro sanitário, muito menos em lixão e aterro controlado, mas sim em aterro industrial, mas por falta de políticas publicas e de comunicação, a população joga neles e até nos rios e terrenos baldios e tudo acaba nos rios e mananciais de superfície, voltando depois na água que se bebe, pois, atenção, nenhuma ETA deste País tem capacidade técnica para extrair micros poluentes orgânicos persistentes e outros que se agregam à água, causando a epidemia de cânceres que estamos assistindo. Explodirá ainda mais, se as autoridades não atentarem em seus programas de governo, para os resíduos urbanos, perigosos ou não, que são, todavia, seguros indicadores de aumento da riqueza de um povo que vota.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com



O silêncio de Adão


“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.” Martin Luther King

O livro de Consuelo Dieguez - “bilhões e lágrimas”, foi comentado pela atriz e escritora Fernandinha Torres em recente artigo, e abriu discussão sobre a história de desvios vultuosos de recursos públicos em três oportunidades concomitantes: Mensalão, Petrolão e agora em escala muito maior no BNDES - quando de maneira criminosa, e orquestrada no alienígena “foro de são Paulo”, sem passar pelo Congresso Nacional - bilhões de dólares foram enviados para fora do País  à líderes sanguinários como os irmãos Castros, ditadores africanos, além de bolivarianos cocaleiros que  destroem nossa sociedade. Uma sangria criminosa de dinheiro público, que poderia ser usado em investimentos cruciais para nosso futuro. As “Lamburguine e Ferrari” do ex-presidente Color, contumaz desviador destes recursos, e agora os recursos escusos do Instituto do ex-presidente Lula, envolvido até à raiz dos cabelos com a Odebrecht - abrem caminho para o impensável há alguns anos, mas que hoje diz muito bem das elites que temos: dois ex-presidentes presos na mesma cela. Collor, ex–caçador de marajás de araque, e Lula, líder corrupto dos metalúrgicos, que ao chegarem ao poder, cada um a seu modo, se tornaram predadores da Nação. Há um “líder” esperto que andou se escondendo neste momento - é José Sarney-com seu legado de opressão e baixo IDH do maranhão, e sua filha e genro também predadores do patrimônio público. Triste Nação a nossa - três ex-presidentes que não valem nada, e só sobrou FHC, que apesar dos pesares, deixa um legado, após ser guiado pela matriarca Ruth Cardoso- ideóloga no seu governo da distribuição de renda e da inserção de negros na sociedade. Sofreu ela, por isso, com os dossiês vazios de dona Dilma, que não rouba, mas deixa roubar, e usa o dinheiro do roubo em suas campanhas para presidente. Num claro golpe às nossas instituições republicanas. Impeachment já!

Liderança é tudo. Adão no Eden não foi líder. Silenciou diante da mulher. Abrahão também, quando Sara, deu aquela brilhante ideia para ele dormir com a escrava a fim de gerar descendência - e ante sua omissão, presenciamos 4000 anos de lutas entre seus descendentes árabes e israelenses. Num momento crítico como o atual, faltam líderes que são matéria prima escassa no Brasil. Não temos mais um Ulisses Guimarães, nem um Tancredo Neves, tampouco um JK.

A Nação está exasperada, e com pressa para resolver suas questões básicas de educação, saúde, e sustentabilidade social- enquanto alguns irresponsáveis como o presidente da câmara, brincam de serem líderes- se achando, e o povo mostra que não com mais um panelaço entre muitos, que ainda virão, antes, e após o dia 16 de agosto, quando voltaremos às ruas, mas desta vez, após o evento, haveremos de transformar nossas metas em ações legislativas, e planas de ação no executivo e na sociedade civil. Nós podemos!

Ghandhi, Churchil e Martin Luther King nos lembram de que, para serem seguidos, os mesmos tiveram de estar no meio do povo, sofrendo suas carências, passando por seus riscos ambientais, e mesmo assim prometeram uma visão de melhores dias, apesar do “sangue, suor e lágrimas”. Tiradentes – “aquele herói enlouquecido de esperança”, pagou com a vida. E por falar em silêncio, alguém aí viu Aécio Neves e Marina Silva?

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia (ALU)

debatef@debatef.com

Jacy de Assis: Presídio ou Escola?

"Da faculdade de Direito de Uberlândia/ Jacy de Assis foi fundador/ Mas fazia outras coisas/ De lá também era diretor/ Não isso somente/ Também era professor.

Não ficou só em Uberlândia/ No Rio também trabalhou/ Membro do Instituto do direito processual/ Em SP também ficou/ Trabalhou em Goiás/ E lá também se casou.

Em 1995 ele morreu/ mas a sociedade o homenageou/ Com escola, praça e presídio,/ O seu nome todo mundo honrou/ Ele merecia porque além de tudo/ Por todos ele lutou.

Minha escola fez uma homenagem/ aquele que sempre lutou/ Recebeu o nome de Jacy de Assis/ Dele a população recordou/ Porque falo de um grande homem/ Então nesta escola aqui estou."

Após um silêncio de 200 dias, começo a opinar hoje, sobre as ações do governo Gilmar Machado nesta cidade. Primeiro deixar claro que apoiei com meu voto esta mudança, que caracterizou uma alternância de poder, apesar de na maioria das vezes discordar do estilo de seu partido ao governar. Desde janeiro presido uma ONG – A Academia de Letras de Uberlândia, e temos uma comenda intitulada Jacy de Assis, que entregamos para as personalidades, empresas e organizações que constroem o capital social da cidade, através da colaboração em prol da cultura e das artes. Entre outros homenageados, fomos dia 14 de maio até a Escola Jacy de Assis no bairro São Jorge, e ali, em singela solenidade com participação da direção, professores e alunos, entregamos a comenda, ocasião em que foi exaltada a figura do nosso patrono, em prosa, versos e cordel como o mostrado em tela, de autoria de 2 alunos que cursam o oitavo ano do turno da manhã, discípulos da professora Eliane Cristina, a quem parabenizamos. Todavia uma ausência foi notada: apesar de convidada, a secretaria de educação não compareceu e sequer mandou representante.

Por ironia do destino, o mesmo nome da escola serve a um presídio. E uma reflexão se faz necessária: a inspiração para construção de mais escolas, irá reduzir o número de cárceres num País, que apesar do clamor para redução da impunidade, só esclarece 8 por cento dos homicídios e já possui a quarta população carcerária do mundo. Afinal estamos vivendo em uma sociedade violenta e importa pensarmos no porque disso - faltam escolas e professores de qualidade - e em como reduzir estes indicadores. E por falar neles, os do Brasil figuram entre os piores - só para entender, a violência é medida pelo índice que conta o número de mortes violentas-homicídios, por grupo de 100 mil habitantes. O número considerado “normal” pela OPAS -Organização Pan Americana de Saúde, varia de 0 a 5,0. Canadá está com 1,5, os EUA com 6,4 o Uruguai com 4,0, Chile com 5,3, e México com 10,9. O Brasil comparece com 31,0, superior à média da América Latina 25,3. Os números de Uberlândia estão em torno de 36 mortes por 100.000 habitantes. Somos, portanto, um dos povos mais violentos do mundo. E sofremos por isso. O risco de se viver em um lugar assim é muito alto. Morre-se mais nos assaltos e durante a ação da polícia contra bandidos. O prefeito desta cidade deveria ter em mente que prestigiar escolas e melhorá-las, é uma forma de trabalhar positivamente o intangível capital social, que salvará vidas e resgatará seu governo de ser sócio da iniquidade, e candidato ao esquecimento pela história.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia

debatef@debatef.com

Ítaca ou Pasárgada?

“Se partires um dia rumo à Ítaca,/ Faz votos de que o caminho seja longo,/ Repleto de aventuras, repleto de saber./ Nem Lestrigões, Nem Ciclopes,/ nem o colérico Posidon jamais encontrarás/ Se altivo for seu pensamento/ Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar./ Nem Lestrigões, nem Ciclopes/ Nem o bravio Posidon hás de ver,/ Se tu mesmo não os levares dentro da alma,/ Se tua alma não os puser dentro de ti”. Konstatinos Kavafis (1863-1933).

Fomos acostumados a pensar em um lugar ideal para viver – Pasárgada. E, para chegar lá, como amigo do rei, que nos espera, uma viagem seria necessária. Sobre a vida a ser vivida, então, flores-vinho- a mulher amada, só um sonho acordado poderia descrevê-la: céu-Felicidade.

Nesta sábia poesia grega, no entanto, aprendemos que o importante é a viagem que empreendemos na vida, e não o destino certo e ideal, acertado sob o ponto de vista de um poeta.

No caso dos gregos, de cuja cultura somos ascendentes, chegar não é o objetivo, mas o crescimento com as vicissitudes do caminho, este sim, meta é, conforme o autor: “Faz votos de que o caminho seja longo/numerosas serão as manhãs de verão/Nas quais com que prazer/ com que alegria/Tu hás de entrar pela primeira vez em um porto”.

De um colega que fez um pós-doutorado na Universidade de Atenas, recebi esta preciosidade e a lembrança de que várias palavras de nosso dia a dia foram lavradas por estes nossos antepassados culturais, e alguns significados calam profundamente: por exemplo: escola significa lugar de gente feliz.


Como professor, há 40 anos em chão de escola, mesmo tendo sido profissional de chão de fábrica e chão de loja, acredito neste poder transformador da felicidade construída a partir da escola. Ela é o caminho para Ítaca.


“Tem todo o tempo na mente./ Estás predestinado a ali chegar./ Mas, não apresses a viagem nunca./ Melhor muitos anos levares na jornada/ E fundeares na ilha velho enfim,/ rico de quanto ganhaste no caminho,/ sem esperar riquezas que Ítaca te desse./ Uma bela viagem deu-te Ítaca./ Sem ela não te ponhas a caminho./ Mais do que isso não lhe cumpre dar-te./

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre./ Tu te tornaste sábio, um homem ou mulher de experiência/ E, agora, sabes o que significam Ítacas.”

José Carlos Nunes Barreto – Professor doutor Presidente da Academia de Letras de Uberlândia
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Ira santa é indignação

A Bíblia ensina sabiamente que não se deve permitir que o sol se se ponha sobre a nossa ira, pois os apóstolos e profetas, e até o próprio Cristo ficavam irados, mas não iam dormir assim. Aproveitava-se a energia vital da raiva para transformar pessoas, situações e até mercados. Quem não se lembra da parte do texto sagrado em que Jesus açoita os cambistas, revira mesas com produtos expostos como em uma feira livre montada dentro do templo? Se eles, que eram santos, sentiam e usavam esta poderosa emoção básica, porque não nós?

Mônica Simonato em seu livro “Competências emocionais - O Diferencial competitivo no mercado” ed. Qualitymark - 2006, estuda a raiva e suas consequências, e nos ajuda a medi-la, classifica-la e gerenciá-la. Segundo ela, são 4 tipos: a implosiva, que se acende no interior, ataca o estômago, a cabeça, eleva a pressão e mata; a  gerenciada, cuja forma de atuar  faz de seu  portador uma pessoa  sadia e equilibrada, pois aprendeu a saber quando está perdendo as estribeiras,  pois já tem controle sobre as próprias emoções; a explosiva, que  é  aquela  que faz seu dono ser tomado de uma ira que não respeita nada, nem pessoas nem ocasiões,  “quebra tudo”, vítima de um “sequestro emocional; Por último ela cita a raiva normativa, cujo dom peculiar de quem a nutre, é dar broncas e fazer críticas para desafoga-la, e se sentir melhor,  causando  danos ao seu relacionamento interpessoal. No filme “Tratamento de choque” o tímido Dave Buznik (Adam Sandler), por causa de um imprevisto banal, foi condenado à pena alternativa de fazer um curso para controlar a raiva, dado por Buddy Rydell (Jack Nicholson), um psicoterapeuta imprevisível, de métodos desconcertantes, que predispõe a uma cura perturbadora. Para isso se muda para a casa do paciente, e passa a interferir no seu cotidiano  de tal forma que o tímido Dave se satura  e explode diante da imperturbável postura do doutor Rydell, que afirmava então que fazia parte do tratamento,  tirar Dave da “zona de conforto” para se conhecer melhor. Dave descobriu após suas desventuras, hilariantes para o expectador, que o fato de nunca  exprimir sua raiva, na verdade, era uma forma de  reprimir sua identidade, e um fator limitante para seu crescimento pessoal e profissional. O filme traz provocações: por exemplo, como no caso de Dave, porque não reagimos com ira coletiva ante o desrespeito e falta de espírito público por parte de governantes?

A propósito estive na comissão de orçamento da câmara de deputados que aprovava a LDO e percebi o quanto somos o “país Dave”. Aceitamos bovinamente que retirem do nosso orçamento cerca de 47% para pagamento de uma  dívida pública  escravizadora. Permitimos “acordos espúrios de líderes”, que aprovam emendas de bilhares de reais viciadas por propinas a empreiteiras e políticos, tais, que especialistas afirmam que levam 7% do PIB per capita. Procurei nosso representante Gilmar Machado e mostrei os números, apresentei um artigo sobre o assunto. Ele prometeu estudar com seus assessores, e me retornar, mas até agora não o fez. A meu ver está faltando nele e também em nosso povo, a ira santa de Cristo - de chutar o balde dos cambistas que conspurcam o templo sagrado da nação, pois quem cala consente. Estou esperando deputado!


José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

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A Guerra pela Informação

Esta última chuva em Uberlândia e região, veio para lavar a nossa alma e a natureza. Depois de tanta secura é bonito ver renascer o broto da relva, as flores do jardim e com elas retornarem os pássaros que dão vida ao lugar. Relembro então o verso da música de Chico Buarque: “Voa macuco/ voa sanhaço/ Vai Juriti./ Te esconde Colibri/ que o homem vem aí/ Que o homem vem aí”. A estupidez humana é escancarada pelo artista, mas infelizmente toda criação e todo ecossistema não podem se esconder da gente, daí os impactos ambientais, que tem na mudança climática e na escassez de água, seu ponto dramático. Acabo de voltar de Palmas no Tocantins e lá apesar da proximidade dos grandes rios Tocantins e Araguaia, mesmo se chover, haverá racionamento de água, tal a gravidade da situação de abastecimento de água da região. As cataratas do Iguaçu, mostradas a pouco na televisão, se apresentam como filetes de água, e nosso rio Uberabinha sofreu uma das mais drásticas reduções de vazão dos últimos 10 anos. Há ainda uma séria advertência, com o prolongamento ano a ano da estiagem, o que nos leva há imaginar o dia em que secos e sedentos, vamos esperar pela chuva e ela não virá.

A não ser que mudemos nosso paradigma. Gastarmos menos água. Educarmos o povo, principalmente as crianças, sobre atitudes sustentáveis quanto ao uso deste precioso líquido, além de fazermos planos de ação sérios para contingenciar o problema. Já existem tecnologias de ponta em nossas universidades, não utilizadas pelo poder público, por exemplo: bombardear nuvens com nitrato de prata faz chover antes que as mesmas se dispersem-diminuir a temperatura na “selva de pedra” obrigando por meio de leis municipais, os cidadãos a plantarem mais árvores e impermeabilizar o solo com grama - É inadmissível que um prefeito se utilize de verbas públicas e faça quilômetros de parques lineares em torno de um rio estratégico como o Uberabinha - principal fonte de água da cidade, e não incorpore em seu projeto a plantação de mata ciliar nativa!

Além de técnica, esta é também uma questão política: Os senhores governantes, cegos com a máxima do poder pelo poder, tal como Goebels na propaganda nazista, escondem a real situação da população, e mostram outra muito mais palatável e amena. Para isso querem calar a imprensa, e construir o “controle social da mídia”, projeto já tentado no plano federal, como fez durante décadas o estalinismo, na Rússia utilizando o jornal Pravda. No Brasil já existem jornais cassados em seu direito de informar suas cidades, o estado e até o País - caso do “Estadão”. Blogueiros são silenciados e colunistas também. No meu caso, um político que tenta se reeleger me levou até ao STF, com base na lei de imprensa da ditadura, e lá tive de esgrimir juridicamente com o cidadão até vencê-lo, a um custo muito alto para um simples professor, sem mordomias e sem jeton.

Em Palmas, quando desembarcava na segunda feira, pude presenciar a polícia do estado, a mando de um governador corrupto que tenta se reeleger tentar evitar pela força a distribuição da revista “Veja” com uma liminar comprada, e ele só não teve sucesso por conta da ação da polícia federal. Cena patética: quase uma guerra, de fato, pela informação. Para onde caminhamos com uma vitória desta turma? Pense nisso.


José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br