quinta-feira, 28 de maio de 2015

Um Débito pela Dignidade

 “Não me ofereça coisas.
Não me ofereça sapatos.
Ofereça-me comodidade para meus pés e o prazer
De caminhar.
Não me ofereça casa.
Ofereça-me segurança, conforto e um lugar que prime
Pela limpeza e felicidade.
Não me ofereça livros.
Ofereça-me horas de prazer e o benefício
Do conhecimento.
Não me ofereça móveis.
Ofereça-me conforto e tranquilidade de um ambiente
Aconchegante.
Não me ofereça coisas.
Ofereça-me idéias, emoções, ambiência, sentimentos
E benefícios.
Por favor, não me ofereça coisas.”
Autor desconhecido

Um luminar artigo do jurista Fábio Konder Comparato intitulado “Um débito colossal” em um importante jornal paulista, expõe para a sociedade brasileira com crueza,a ferida aberta, mãe de todas as nossas atuais vicissitudes: a desigualdade social neste País onde 70% dos 10% da população mais pobre são negros ou afrodescentes. Tenho repetido neste espaço que o mercado de trabalho e as demais relações da sociedade , tem em sua memória a cultura escravagista que dominou o País por 4 séculos: Punir os negros e seus descendentes.Nos séculos anteriores com o ferro do suplício e as 300chibatadas.Atualmente com a perversa exclusão social. Assim é que  com a mesma qualificação e escolaridade, eles recebem em média quase a metade do salário pago aos brancos, e as mulheres negras, até metade da remuneração dos trabalhadores negros.Na atual guerra urbana em nossas cidades, mais de dois terços dos jovens assassinados entre 15 e 18 anos são negros.Um verdadeiro genocídio que a história cobrará dos atuais governantes e de todos nós sujeitos e agentes de nosso tempo.
Na USP onde estive sendo afrodescendente por 10 anos, desde a especialização, do mestrado ao doutorado, só vi um negro na pós graduação além de mim.um médico fazendo especialização em Saúde Pública.Os demais eram africanos ,indianos chilenos em convênio com a instituição, pois maior universidade da América Latina, os alunos negros não ultrapassam 2%, e, dos 5.400 professores, menos de dez são negros. É vergonhoso que tenhamos esperado 120 anos para ensaiar a primeira medida de apoio oficial à população negra: a reserva de vagas para matrícula em estabelecimentos de ensino superior.
Dele:”A ESCRAVIDÃO de africanos e afrodescendentes no Brasil foi o crime coletivo de mais longa duração praticado nas Américas e um dos mais hediondos que a história registra”.
 
Tudo começa pela pirâmide de Maslow, que é uma escala de prioridades das pessoas em que degraus nunca podem deixar de ser vivenciados para que se siga em frente. O primeiro deles é a conservação da vida, onde as necessidades fisiológicas básicas devem ser satisfeitas - comer, beber, vestir, etc.. O seguinte é o domínio do ambiente físico. Se estiver frio, aquecer, se quente esfriar,  se escuro, iluminar, adequar moradia e trabalho às exigências psicofisiológicas e anatômicas do corpo humano.A isto damos o nome de ergonomia, que é um conjunto de ciências com uma diretriz ética e técnica fundamental: adequar o ambiente ao ser humano para   produção ou para o lazer. Continuando a sequência de MasloW, o terceiro degrau é a necessidade que o ser humano têm de ser aceito pelo grupo,o que explica a profusão de clubes de servir, ongs e tribos na atual sociedade do conhecimento. Interessante notar que em nações em guerra não se chegam à este patamar por ausência de condições de domínio do ambiente(Nossa guerra urbana talvez explique nossa falta de solidariedade...) Após cumprir esta etapa o cidadão segundo o autor, pode reconhecer o seu próprio valor que é o quarto degrau, e chegando à autonomia logo a seguir. Finalmente no último degrau estará a auto realização. Hora em que se deixa legados para futuras gerações.

Entre todos os degraus o que mais demanda tecnologia é o segundo, exatamente o da ergonomia. E onde houver fome, frio, ausência de moradia,  aí estará  todo tipo de tensão social. ica para o País em termos de qualidade vida e sucesso. Por favor não me ofereça coisas...

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br


Resíduos POPS

Saber e não fazer ainda é não saber. (adaptado)

POP é popular, querido, daí a incongruência deste adjetivo ao falarmos de resíduos, que são antiafetivos, antiestéticos, mal cheirosos, têm impactos de longa duração, o que explica o fato de sempre querermos afastá-los de nossas tendas desde tempos imemoriais. Os resíduos dos castelos europeus na idade média eram jogados para seus exteriores onde ficavam os párias da sociedade. E os nossos de hoje muito mais volumosos e perigosos? Em 80% dos casos estão nos lixões e nas periferias onde vivem os pretos e pobres.(último senso IBGE, cruzado com dados do IPEA).

Segundo definição da ABNT NBR10004:2004. Resíduos sólidos são resíduos nos estados sólidos e semi sólidos que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornam inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis face à melhor tecnologia disponível. Chegamos ao ponto: POPs são poluentes orgânicos persistentes- “uma classe multivariada de substâncias, que abarca de inseticidas e fungicidas à cosméticos e materiais de limpeza”- os chamados xenobióticos, ou seja substâncias ativas estranhas ao organismo, incorporadas muitas das vezes como micro resíduos (da ordem de 0,00000001 g) através  da alimentação, da água e do ar. Os “hormônios ambientais” –outra denominação dada por alguns autores- têm efeito devastador sobre a fertilidade masculina e têm sua origem nesta civilização petroquímica. Segundo publicação “sementes de preocupação’’ – Nature(www.nature.com) de 5/11/2004 - esses resíduos são suspeitos de causar danos aos aparelhos reprodutivos de jacarés da flórida e a homens do mundo inteiro. Marcelo coelho replica a matéria em patético artigo na folha de SP-7/11/2004-intitulado “Xenobióticos e o crepúsculo do macho”. Eis os fenômenos observados pelos pesquisadores australianos sob a liderança de  John Aitken da Univ. de New Castle: 1)baixa contagem de espermatozoides; 2) câncer de testículo3)Mal formações genitais (um ou dois testículos permanecem na cavidade abdominal) 4)hipospadia-o canal da uretra se abre na parte de baixo do pênis. Esses dados alarmantes apresentados por DR Aitken e equipe, são claros em mostrar que cada vez mais os espermatozóides só têm cumprido seu papel graças à clínicas de  produção assistidas. Até 6% dos partos em países desenvolvidos ocorreram porque os espermatozoides de baixa qualidade foram inoculados nos óvulos das parceiras através de micro agulhas em ambiente de laboratório altamente qualificado.

Finalizando, Resíduos perigosos não são brincadeira. Saber dispor e não fazê-lo é crime de lesa humanidade. Você sabia que aqui em Uberlândia segundo dados obtidos na FEAM, cerca de 230 toneladas de resíduos classe 1 – perigosos – são gerados todo mês, e que há uma fraca política municipal de disposição dos mesmos?

Dr José Carlos Nunes Barreto
Professor Pós Graduação Gestão Ambiental UNIMINAS 

nunesbarreto@uol.com.br

Réquiem para o Rio?

“Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, arranca-nos a voz da garganta e porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.” Maiakóvski

Li atentamente as diversas reportagens do jornal “O Correio” sobre a devastação que atinge a nascente e os tributários do rio Uberabinha. Pude ver diversas manifestações de leitores, muitos de fora da cidade preocupados com a falta d’água que está sendo contratada ainda para esta década. Uso este espaço como voz de muitos leitores que através de e mails tem mostrado indignação com a alienação de autoridades com tudo que está acontecendo a este corpo d’água. Principalmente o ministério público que normalmente é a grande esperança do povo para reverter situações como essa. Com artigos de jornal e os estudos da UFU sobre o tema, qualquer promotor de meio ambiente já tem condições de promover uma ação civil pública, obrigando autoridades municipais, estaduais e federais a realizar ou interditar obras em favor da saúde e do futuro do rio. Não entendo o que está impedindo estes senhores de fazer o seu dever!

Há preocupação com a desarticulação da sociedade com relação a este assunto. Não existe um conselho Municipal de Meio Ambiente, que seria um dos fóruns adequados. O outro seria um comitê de bacia, a exemplo de tantos já instalados no País e no mundo. Interesses divergentes entre cidades quanto ao uso da água. Denúncias e ações contra crimes ambientais. Planejamento estratégico envolvendo várias regiões metropolitanas. Tudo deve ser discutido nesses fóruns. Há falta de vontade política dos governantes. Só restam os trabalhos idealistas das ONGs de Meio Ambiente. Que representam um novo paradigma com sua voz rouca de gritar, e que acabará por ser ouvida - porque estruturará a reação da sociedade. Me lembro do NPABS- Núcleo de Pesquisas Ambientais da Baixada Santista- uma ONG que ajudei a fundar e fui seu primeiro presidente. Queríamos somente ajudar a população contra os impactos sobre sua saúde da poluição residual em Cubatão. E conseguimos, defendendo teses de mestrado, doutorado. Aliados a promotores públicos centros de pesquisa, outras ONGs, Universidades, buscamos força política contra o poder político viciado e o poder econômico das indústrias interessados em que não viesse a tona os resultados das pesquisas. Houve ameaças contra pesquisadores e até morte de promotor público (Talvez seja por isso que assistimos tanto silêncio de alguns). Mas conseguimos vitórias significativas. Cinco anos e 300milhões de dólares depois a solução está acontecendo. Um sucesso para a saúde da sociedade da baixada santista. Aqui o ar empestado do jardim patrícia e adjacências por importante indústria avícola não incomoda a FEAM e promotores de meio ambiente, tampouco nossos políticos, que só pensam na próxima eleição. E o Rio? deixaremos  morrer? Finalizando, uma homenagem à voz que o governo Lula calou. Bóris Casói – que se tivesse aqui diria: Isto é uma vergonha!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor-debatef@debatef.com.br


Os PCBs e o Paradigma Criativo

Através dos tempos a ciência tem buscado soluções para o homem conquistar poder, bem estar e qualidade de vida, que mais tarde constatamos, têm deixado para futuras gerações um legado assustador definido por um paradigma, que é um modelo ou padrão sobre o qual a ciência e através dela a humanidade, embasa seus conhecimentos e ergue seus “edifícios tecnológicos”. Os paradigmas mudam: do positivismo, para o interpretativismo, e daí para os paradigmas crítico e/ou ecológicos e finalmente para o criativo. Durante cada “império” eles representam uma visão de mundo diferente em termos cosmológico, ontológico, epistemológico, ético, espiritual e político. Jonhn Naisbitt em “Mega Trends 2000” enumera mega tendências para o século 21 entre elas duas tem tudo haver com o case que mostro a seguir: era da biologia e o triunfo do indivíduo.

O PCB (Policlorado Bifenil), foi descoberto antes do século 20 e sua utilidade para industria foi cedo reconhecida, tendo sido usado comercialmente desde 1930 –descontinuado em 1980 por recomendação da OECD -como dielétrico, fluido trocador de calor e uma série de outras aplicações. Os PCBs foram distribuídos largamente no meio ambiente através do globo e são persistentes e acumulativos em cadeias alimentares. A exposição humana aos mesmos têm acontecido a partir do consumo de comida contaminada, absorção pela pele em ambientes de trabalho e inalação.

Os PCBs se acumulam em tecidos gordurosos de humanos, animais e tem causado efeitos tóxicos em ambos, particularmente se repetidas exposições acontecem. A pele e o fígado são os maiores locais de patologia, mas o trato gastrointestinal, o sistema imunológico, e o sistema nervoso são também alvos.

Os PCDFs(Policlorados Dibenzofuranos)que são contaminantes em misturas de PCBs comercializados, contribuem significativamente para sua toxidade. Resultados de estudos em roedores sugerem que alguns congêneres de PCBs podem ser carcinogênicos (cancerígenos) e podem promover a carcinogenicidade em outros produtos químicos. É certo que a partir de dados sobre PCBs, o ideal seria não tê-lo na cadeia alimentar em qualquer  nível, no entanto também está claro que a redução da exposição dos PCBs na cadeia alimentar para zero ou próximo de zero, significaria a proibição do consumo de uma larga quantidade de importantes itens alimentares como peixe, aves, plantações, e mais importante ainda o leite e seus derivados.(O leite materno contribui com cerca de 1,3% da meia vida do PCB nas pessoas).Comitês Científicos internacionais têm de decidir entre o que significa um balanceamento adequado ,entre um seguro grau de proteção da saúde pública,(quanto ao PCB)  e a excessiva perda de alimentos em um mundo já faminto.

A Partir desse ponto nos parece estar colocada uma questão filosófica: Que novo paradigma deve reger a ciência para levar a humanidade a superar esta situação de alguma forma parecida à uma “peste bíblica”. Através da dialética (arte do diálogo como força de argumentação), o prof. Colin Peile conceitua o paradigma criativo, que produz poder de síntese, visão e desenvolvimento do grau de conhecimento, como forma de mudar o comportamento da ciência e dos cientistas a fim de evitar futuras “pestes bíblicas”. Amém.

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com.br

O Tetraedro de Lovelock.

     Na defesa de minha tese de doutorado na USP, em 2000, citei Murgel Branco, quando definia qualidade de vida como o objetivo final do desenvolvimento ou da civilização. O que implica necessariamente na preservação dos padrões e características regionais, já que civilizações milenares foram destruídas ou deformadas pelo processo, que consiste  basicamente em erradicar costumes e alterar o meio natural. Analisávamos que, ao contrário, o desenvolvimento é algo que vem de dentro para fora, como a evolução de um embrião, o desabrochar de uma flor, o germinar de uma semente. ”São os fatores intrínsecos já contidos na semente ou no gérmen que mais contam, e se algo tiver de ser adicionado de fora para acelerar seu processo, terá de respeitar o que ali existia em gérmen e não destruí-lo”. Também concordei com a análise de Saraiva -1997, sobre as questões relacionadas com a produção de qualquer bem ou serviço, que podem ser sistematizadas recorrendo ao que se denominou de “tetraedro  tecnológico”. Onde fica clara a evolução dos conceitos nas sociedades tecnológicas, em especial aqueles que surgiram nas últimas décadas. Os vértices do tetraedro são: as matérias primas, a informação, a energia e o ambiente. Da associação desses fatores resulta um serviço ou um bem. Há trinta anos o tetraedro se reduzia a um segmento de reta, entre as matérias primas e a informação, uma vez que naquela altura o custo de energia era quase nulo e os problemas relacionados com as limitações das fontes não eram encarados, senão por alguns “pessimistas”. Há 15 anos o modelo resumia-se a um triângulo. As questões ambientais começavam então a ser postas, mas a avaliação dos seus custos reais eram um “problema para as gerações futuras”. Finalmente aos poucos na última década delineou-se um tetraedro, com o último vértice sendo ocupado pela energia a ser consumida durante o processo. Impõe-se desde então responder que quantidade e que tipo de emergia é exigida não só pelo próprio processo produtivo como também pelo seu transporte, distribuição e uso. Que impacto ambiental produz o processo energético-chuvas ácidas, aquecimento global e desatres climáticos são exemplos de problemas que precisam ser  urgentemente mitigadose/ou eliminados.

No Livro “A Vingança de Gaia”, em 2006, o Cientista inglês James Lovelock preconiza que o equilíbrio ambiental já foi rompido pelo aquecimento global, e o mesmo já passou do ponto sem volta. A única saída para a terra seria nos próximos anos, reduzir  a quantidade de seres humanos, motivada pela essência de Gaia( na sua teoria a terra seria um organismo vivo com capacidade de se manter saudável e tem compromisso com todas as formas de vida), o que reduziria em até  80% a população do planeta até 2100... Loucura? Lovelock não é qualquer um. Trabalha até hoje, aos 87, em seu laboratório particular. É o Inventor do aparelho que permitiu detectar o acúmulo do pesticida DDT nos seres vivos, motivo pelo qual se interrompeu seu uso. O mesmo aparelho ajudou a identificar  o CFC como o gás responsável pela destruição da camada de ozônio.. Por mim rebatizaria o tetraedro tecnológico para tetraedro “de Lovelock” .Ele merece.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

Gestão Ambiental: desafio

     A busca do desenvolvimento sustentado, ou seja, a prática de atividades produtivas, sem degradar o meio ambiente, e sem comprometer a capacidade das futuras gerações de responder às suas necessidades, tem se constituído em um desafio em todo o mundo civilizado. A preocupação com a sua preservação, em termos mundiais, não se restringe mais ao simples controle da poluição industrial. A tutela jurídica do meio ambiente já é uma exigência mundial, estando presente nas constituições de vários países e nos acordos multilaterais de cooperação internacional. Diversas medidas vêm sendo adotadas no sentido de harmonizar regulamentos e padrões de produtos, entre elas estão: a instituição do Selo Ecológico Comunitário pelo Conselho das Comunidades Européias; a proposta diretiva sobre embalagens e seus resíduos implementada por alguns países - membros da U.E.; as medidas fitosanitárias relativas ao comércio de carne bovina, após a doença da "vaca louca"; e a ISO 14000:2004, que padronizou no mundo, os conceitos de gestão ambiental.

Em Cubatão, onde está implantado o maior pólo sídero - petroquímico do país, operam vinte e três empresas que produzem do aço à gasolina de aviação, passando por uma série de produtos químicos. A degradação ambiental ocorre através da poluição do ar, solo e água. Apesar das melhorias já acontecidas, as condições ecológicas "sui generis" favorecem os altos índices de poluição do município, o que leva à destruição da fauna, flora e causam danos à saúde da população da baixada santista, conforme atestam ações do  orgão controlador do meio ambiente do estado, bem como estudos de saúde da USP e testes realizados na área, principalmente na siderúrgica, que  é responsável pela maior carga tóxica lançada  no estuário da Baixada Santista. A dissertação de mestrado que defendi  na Faculdade de Saúde Pública da USP em 1995, foi clara em mostrar que além de tóxico, o descarte líquido da siderúrgica possui sólidos sedimentáveis com atividade mutagênica -quebra dos pares do código da vida -  que sedimentam ao longo do canal do estuário (da mesma forma outras indústrias também colaboram com o processo de  sedimentação tóxica). Neste estuário está localizado o maior porto da América Latina, com elevado trânsito de navios com calados cada vez maiores, e impactos ambientais diários ao revolver o lodo do fundo do canal, e que é potencializado todas as vezes que a operadora do porto de Santos draga o canal e retira o sedimento, considerado pela NBR 10.004:2004 em alguns pontos como de classe 1 (o mais tóxico),e teria de ser disposto de forma adequada, ou seja em aterros industriais ou incinerado. Mas como fazê-lo se 25 milhões de metros cúbicos de lodo/ano, são contaminados? Este trabalho, é um desafio técnico pelo qual outros países já passaram e resolveram, e acontece lá agora 10 anos após meu primeiro estudo ser publicado. Apesar disso, falta o fundamental hoje: minimizar resíduos na fonte seja por reutilizar, reciclar, ou melhorar continuamente os processos, seja por desenvolver  sensibilidades na comunidade produtiva do polo para gerar um produto ambientalmente sustentável ,(e não somente em discurso). Aqui em Uberlândia temos um polo industrial que já gera quantidade de resíduos tóxicos significativa. Devemos atuar agora para não termos uma cubatão no futuro!

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
nunesbarreto@debatef.com.br


Ergonomia

“Não me ofereça coisas.
Não me ofereça sapatos.
Ofereça-me comodidade para meus pés e o prazer
De caminhar.
Não me ofereça casa.
Ofereça-me segurança, conforto e um lugar que prime
Pela limpeza e felicidade.
Não me ofereça livros.
Ofereça-me horas de prazer e o benefício
Do conhecimento.
Não me ofereça móveis.
Ofereça-me conforto e tranquilidade de um ambiente
Aconchegante.
Não me ofereça coisas.
Ofereça-me idéias, emoções, ambiência, sentimentos
E benefícios.
Por favor, não me ofereça coisas.”
Autor desconhecido


Apesar de ser engenheiro e professor, tenho me apaixonado ultimamente pela psicologia. E me aproximei dela, exatamente por trabalhar com gente, ensinando e dando consultoria. Uma sala de aula é um laboratório com a diversidade dos alunos a nos desafiar. Uma empresa possui famílias no comando e suas susceptibilidades têm nos levado à especializações em gestão familiar nos negócios, onde a psicologia do poder é uma constante, principalmente quando somada ao capital humano contratado, formando o chamado clima organizacional, que se “leve” favorece a produtividade, se “climão” leva à perdas de capital humano e  Mercado.

Tudo começa pela pirâmide de Maslow, que é uma escala de prioridades das pessoas em que degraus nunca podem deixar de ser vivenciados para que se siga em frente. O primeiro deles é a conservação da vida, onde as necessidades fisiológicas básicas devem ser satisfeitas - comer, beber, vestir, etc.. O seguinte é o domínio do ambiente físico. Se estiver frio, aquecer, se quente esfriar, se escuro, iluminar, adequar moradia e trabalho às exigências psicofisiológicas e anatômicas do corpo humano. A isto damos o nome de ergonomia, que é um conjunto de ciências com uma diretriz ética e técnica fundamental: adequar o ambiente ao ser humano para produção ou para o lazer. Continuando a sequência de MasloW, o terceiro degrau é a necessidade que o ser humano têm de ser aceito pelo grupo, o que explica a profusão de clubes de servir, ongs e tribos na atual sociedade do conhecimento. Interessante notar que em nações em guerra não se chegam à este patamar por ausência de condições de domínio do ambiente(Nossa guerra urbana talvez explique nossa falta de solidariedade...)Após cumprir esta etapa o cidadão segundo o autor, pode reconhecer o seu próprio valor que é o quarto degrau, e chegando à autonomia logo a seguir. Finalmente no último degrau estará a auto realização. Hora em que se deixa legados para futuras gerações.

Entre todos os degraus o que mais demanda tecnologia é o segundo, exatamente o da ergonomia. E onde houver fome, frio, ausência de moradia,  aí estará  todo tipo de tensão social. No Brasil segundo o IBGE, 10,525 milhões de micro e pequenas empresas com até 5 empregados, estão, similarmente às pessoas, na base desta pirâmide, e tudo indica, nunca chegarão ao topo com tudo que isto significa para o País em termos de qualidade vida e sucesso. Por favor não me ofereça coisas...

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br


Energia e Ambiente

“Tudo que acontecer à Terra acontecerá aos filhos da Terra”Índio Seatle.

SARAIVA-!997,inBARRRETO-2000[tese de doutorado-USP] ,analisa que o crescimento contínuo do consumo de energia e as suas conseqüências, via de regra negativas, para o ambiente põem um conjunto de questões que, no mínimo, se poderão considerar como complexas. Complexas porque se a energia é hoje considerada um dos elementos fundamentais do desenvolvimento econômico e social de todas as nações, não é menos verdade que o Homem começou, finalmente, a perceber que a sua disponibilidade está ligada à quase todos os aspectos relacionados com o equilíbrio do nosso meio ambiente.

     Ao longo dos últimos anos, um conjunto de soluções tem sido proposto para resolver, ou de alguma forma reduzir este problema:
1)redução da população; 2)crescimento econômico nulo; 3)recurso em grande escala às fontes ditas renováveis; 4)utilização de energia nuclear; 5)desenvolvimento de combustíveis alternativos; 6)adoção de medidas de conservação de energia,  promovendo a sua utilização racional.

     Falemos sobre as quatro últimas: As energias renováveis são todas as derivadas do sol – Hidropower, Biomasssa, geotérmica, eólica, marés - e estão em franco crescimento em termos de tecnologia disponível e redução de custo. Já a energia nuclear apesar da maturidade tecnológica, e em alguns países ser a mais viável, têm sobre seu uso uma espada de dêmocles que é o resíduo perigoso (radiativo por milhares de anos) além da síndrome “Não em meu Quintal”.

     Por outro lado o principal problema associado à utilização de energia proveniente da queima de combustíveis fósseis (d.petróleo)tem sido identificado com o chamado efeito estufa ou aquecimento global, como alguns autores preferem dizer.

Mudando o clima do planeta, o CO2 (responsável por 60% do aquecimento) e demais gases (CFC, Nox, metano), contribuem para desastres ambientais e distribuem seus efeitos tanto para países e continentes pobres como o Haití e África, quanto para a costa dos EUA e CEE.

Hoje está claro que algumas ações devem ser tomadas desde já porque como não dispomos de tecnologias que nos permitam remover da atmosfera o CO2 produzido no último século ou mesmo qualquer dos outros gases, temos que reduzir as taxas de emissão atuais.

Neste cenário há uma janela de oportunidade para o biocombustível (de mamona, pequi, etc) e álcool brasileiros como combustíveis alternativos, haja vista, termos tecnologia e sol o ano inteiro para produção e exportação destes produtos para CEE, JP e EUA, ávidos para       pagar por uma energia limpa, que além de não colocar mais carbono no ar, ajuda a retirá-lo da atmosfera durante o crescimento das nossas plantações, o que gera também um novo negócio para o país: vender a captação do carbono.

A utilização racional de Energia será a agenda deste século para o Mundo. Não seria para o Brasil? Apesar do aprendizado com o apagão persistem lâmpadas acesas durante o dia. Concluo: A profecia do índio Seatle paira como um fantasma sobre nossas vidas, e ela pode ser traduzida pela maneira como lidamos com o ente energia. Haja Luz!

Dr José Carlos Nunes Barreto
Diretor da DEBATEF CONSULTORES


Naufrágio de Sonhos




“Pus o meu sonho num navio/e o navio em cima do mar;/- depois, abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar./Minhas mãos ainda estão molhadas/do azul das ondas entreabertas,/e a cor que escorre de meus dedos/colore as areias desertas.” – Cecília Meireles

         Sou um observador das ruas, e completo minha visão com o clímax nas salas de aula. E  o momento difícil que estamos vivendo, ao verificarmos a perda  do emprego de mais de 7 milhões de brasileiros, está a fazer naufragar  sonhos, e criar desespero em pessoas que há bem pouco tempo ascenderam na escala social. É claro que é cruel e muito mais difícil descer nessa escala, do que permanecer sofrendo,   mesmo a contragosto, num patamar de pobreza e esquecimento. Uma mistura de revolta e muita raiva, toma conta dessa população ,ao perceber que foi enganada pela governanta que gastou sem controle, deu pedaladas fiscais, e , tudo indica, favoreceu o desvio de dinheiro público, com o objetivo claro de favorecer seu partido lulopetista  a se perpetuar no poder. As somas desviadas da Petrobrás  passam de 70 bilhões de dólares, mostram os resultados da operação lava jato, que prendeu o tesoureiro de seu partido, como principal operador deste esquema.

         E ainda existe a caixa preta do BNDES, que escolheu empresas nacionais a serem aquinhoadas com empréstimos bilionários, que desviavam pelo menos 3% do valor dos contratos para os safados, entre elas as de Elke Batista, que faliu fragorosamente, como o navio da poesia em tela de Cecília Meireles. Dilma ainda colocou outros bilhões de dólares em Cuba ,na África, e na América latina, sem consentimento do Congresso nacional, sem discutir o assunto com a sociedade brasileira, e  queria que esta falcatrua ficasse em sigilo completo pelos  próximos 20 anos .E o povo escuta tudo isso... e sofre, pois se sente como um  velho palhaço no final da vida: sem  emprego, com fome e doente.

         E não são    as pessoas sem  estudo e preparo que estão perdendo  oportunidades- gente com pós graduação e vasta experiência profissional, também está pagando o pato do ajuste fiscal terceirizado pela presidente. Todavia as barbeiragens foram muito grandes, e o TCU já caracterizou haver irresponsabilidade fiscal no período, e abriu a porteira para os pedidos de empeachment da má dirigente-É republicano tirar uma liderança assim, antes que ela comprometa as futuras gerações de brasileiros-Devemos dizer desta forma, um basta ,ao jogar na lixeira da história, ela ,seu mentor Lula, e o seu partido, o PT, que já foi uma esperança de renovação da política como instrumento de melhoria da sociedade, e que,  infelizmente ,se transformou, tanto, mas tanto, que se tornou num frankstein, e agora numa organização criminosa, com as luzes da operação lava Jato.


         Que Deus nos livre desta Cosa Nostra, e que possamos seguir em frente, após este triste período, porque a Nação é maior e seu povo é grande e republicano!


José Carlos Nunes Barreto

Professor Doutror e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU

debatef@debatef.com





Bancos X Projetos Sócio - Ambientais

“Uma visão sem ação não passa de um sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Mas uma visão com ação pode mudar o mundo” Joel Baker

Há luzes no fim do túnel. E não são locomotivas vindo em nossa direção. A primeira é o projeto de lei aprovado pelo congresso que trata de gestão de florestas públicas (PL 4776/2005).Pela primeira vez na história da Amazônia de muitas ambições e nenhum projeto de gestão, há consenso entre os vários atores de lutas eternas pela terra, madeira e preservação da floresta. Os seringueiros, madeireiros e ambientalistas, governos, ONGs e Universidades concordam com a concessão de áreas para exploração sustentável a fim de que a Amazônia continue floresta e pública, informa a revista ”Carta Capital” de 22 de fevereiro. Nada existia antes para evitar o conluio entre o madeireiro que desmatava ilegalmente e o ruralista que dava o novo uso à terra. Resultado: só nos dois primeiros anos do governo Lula uma área equivalente ao estado de Sergipe foi desmatada. E essa é uma indústria com quadrilhas montadas à sombra do estado. Há escândalos sendo desvendados pela Polícia Federal noticiados pela grande mídia, mostrando filas de caminhões com toras ilegais sendo liberadas por fiscais corruptos do Ibama - Pará ,envolvidos com altos escalões do governo federal e parlamentares do PT(outro mensalão - abafa, abafa!)A solução apresentada precisa ser vigiada pela sociedade. Cria-se o SFB-serviço Florestal Brasileiro com esse fim, e através dele licitações públicas e pagamento de royalties. Um modo inteligente de gerir o patrimônio ambiental está posto: a floresta valerá mais em pé do que no chão e queimada. Os seus principais objetivos são minar o secular problema de grilagem e permitir a concessão de áreas para exploração sustentável. Todos sabemos a importância econômica da Amazônia para o Brasil e o mundo. Mas como precificar o serviço da floresta como umidificador / regulador do clima e fonte de biodiversidade sequer mapeada?. Este é o começo.

A Segunda luz vem de Davos no encontro anual de Forum Econômico Mundial. As ONGs “WWF” e “Banck Track”, mediram o desempenho sócio -ambiental entre 39 bancos do mundo, entre eles 5 brasileiros( Banco do Brasil, Bradesco, BNDES, Itaú e Unibanco), e esta primeira avaliação mostrou- como era de se esperar, um resultado decepcionante.Com notas variando de E(pior) à A (melhor). Os melhores classificados ficaram com D,em 13 quesitos:* Sistema de Gestão Sócio- Ambiental;* Direitos Humanos;*Direito do Trabalho; *Populações Indígenas; *Clima e Energia;*Hidrelétricas;* Biodiversidade;* Florestas;* Pesca;* Agricultura;* Transparência de Informações;*Química e Petroquímica; e *Indústria Extrativista. Interessante notar que um dos piores classificados (tirou zero em tudo-E) é o BNDES, que tem o social só no nome. Como diria Ivan Santos: não é lindo?. Mas estamos no primeiro passo. Quem sabe a coisa não melhora?. Depende de vigilância, medição e premiação dos melhores, no caso o Banco do Brasil, que homenageio nesta oportunidade, para que continue público,melhore este desempenho  e seja futuramente um benchmarck em projetos sócio-ambientais, neste sofrido País das cinzas.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
Debatef@debatef.com.br