“Todos
Têm Direitos Iguais na República”
Manifesto dos contrários
Tenho me
colocado a favor de políticas públicas chamadas afirmativas, que reduzam o
fosso que existe entre os negros /
índios e a maioria da população branca neste País. Minha voz, como tantas outras na academia, tem sido
um instrumento a dizer que como está não
pode ficar. Temos uma África e uma Europa superpostas no mesmo território(
Com tudo que isso significa em termos de tensões e diferenças em educação,
longevidade e renda).E não se faz uma Nação desse jeito.
Fui contra as cotas no Instituto Rio Branco
,quando participei da comissão CNPQ
Palmares e se buscava enviar um
diplomata negro para a África do Sul de Mandela. A solução encontrada(com sucesso!) foi fornecer
bolsas de estudos do CNPQ para
afrodescendentes se prepararem e enfrentar o concurso em igualdade de condições aos demais.
Sou por isso, a favor de cotas sociais nas
Universidades.Como as da UNICAMP e USP. Que pontuam mais alunos da periferia e
de escolas públicas ,além de fornecer cursinhos preparatórios para carentes –a
maioria negros e índios, porém sem fechar as portas para uma minoria branca
nesta mesma situação.
Retira-se assim o viés racista da política afirmativa.
Tanto negros e índios quanto os brancos pobres serão atingidos , e os especialistas mostram que os primeiros
serão entre 70 e 80% .E não se afrontaria o artigo primeiro da Constituíção !
A
intelligentsia nacional está rachada em
dois manifestos. O primeiro, citado acima ,assinado por 114 intelectuais,
dentre eles:Maria S. Carvalho Franco(USP,UNICAMP),Renato Lessa(Inst. de Pesq.RJ), Manolo Florentino (UFRJ),o poeta
Ferreira Gullar e o músico Caetano
Veloso.O segundo intitulado “Manifesto em Favor da Lei de Cotas e do Estatuto
da Igualdade Racial” assinado por mais de 300 nomes,entre eles o antropólogo
Eduardo V. de Castro, o jurista Fábio
Comparato,o sociólogo Emir Sader e o professor de história do Brasil na Sorbonne,Luiz Felipe Alencastro. Apesar de
minha posição ,concordo com a afirmação
este último na entrevista ao caderno
Mais! do Jornal “Folha de SP” de Domingo
9/7, respondendo se a adoção do sistema de cotas, não introduziria um conflito
e tensão que não existem atualmente no Brasil. Com total desassombro ele diz:
“A tensão existe, está lá.Os signatários do manifesto contra as cotas
passam a vida viajando para os EUA onde encontram negros o tempo todo nas salas
de aula, que não estão nas salas de aulas deles( no Brasil),numa população negra
que é muito maior. Acho que a divisão existe, está escrita na nossa sociedade”.
Uma sociedade
que foi a última a abolir a escravatura que durou 400 anos na organização do
estado nacional. Por conseguinte carrega marcas dolorosas no inconsciente
coletivo. Onde as pessoas,mais de cem anos depois, na era do conhecimento e dos
serviços, têm vergonha de servir, porque isto é para escravos. Para negros.
Onde o trabalho é uma tortura(do latim tripalium ) como era para os antigos
gregos ,e romanos.
Não sou o dono
da verdade, mas quero contribuir para o debate que mais importa à Nação: como
sarar nossas feridas?
José Carlos
Nunes Barreto
Professor
doutor
debatef@debatef.com
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