sábado, 28 de maio de 2016

Sobre a Lei de Cotas

                     

“Todos Têm Direitos Iguais na República”

Manifesto dos  contrários


Tenho me colocado a favor de políticas públicas chamadas afirmativas, que reduzam o fosso que existe  entre os negros / índios e a maioria da população branca neste País. Minha  voz, como tantas outras na academia, tem sido um instrumento a  dizer que como está não pode ficar. Temos uma  África  e uma Europa superpostas no mesmo território( Com tudo que isso significa em termos de tensões e diferenças em educação, longevidade e renda).E não se faz uma Nação desse jeito.
 Fui contra as cotas no Instituto Rio Branco ,quando participei  da comissão CNPQ Palmares e se buscava  enviar um diplomata negro para a África do Sul de Mandela. A  solução encontrada(com sucesso!) foi fornecer bolsas de estudos do CNPQ  para afrodescendentes se prepararem e enfrentar o concurso em  igualdade de condições aos demais.
 Sou por isso, a favor de cotas sociais nas Universidades.Como as da UNICAMP e USP. Que pontuam mais alunos da periferia e de escolas públicas ,além de fornecer cursinhos preparatórios para carentes –a maioria negros e índios, porém sem fechar as portas para uma minoria branca nesta mesma situação.
Retira-se    assim o viés racista da política afirmativa. Tanto negros e índios quanto os brancos pobres serão atingidos , e  os especialistas mostram que os primeiros serão entre 70 e 80% .E não se afrontaria o artigo primeiro da Constituíção !
A intelligentsia nacional está rachada  em dois manifestos. O primeiro, citado acima ,assinado por 114 intelectuais, dentre eles:Maria S. Carvalho Franco(USP,UNICAMP),Renato Lessa(Inst.  de Pesq.RJ), Manolo Florentino (UFRJ),o poeta Ferreira Gullar e  o músico Caetano Veloso.O segundo intitulado “Manifesto em Favor da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial” assinado por mais de 300 nomes,entre eles o antropólogo Eduardo V.  de Castro, o jurista Fábio Comparato,o sociólogo Emir Sader e o professor de história do Brasil na  Sorbonne,Luiz Felipe Alencastro. Apesar de minha posição ,concordo com a  afirmação este último na  entrevista ao caderno Mais! do Jornal “Folha de SP”  de Domingo 9/7, respondendo se a adoção do sistema de cotas, não introduziria um conflito e tensão que não existem atualmente no Brasil. Com total desassombro  ele diz:  “A tensão existe, está lá.Os signatários do manifesto contra as cotas passam a vida viajando para os EUA onde encontram negros o tempo todo nas salas de aula, que não estão nas salas de aulas deles( no Brasil),numa população negra que é muito maior. Acho que a divisão existe, está escrita na nossa sociedade”.
Uma sociedade que foi a última a abolir a escravatura que durou 400 anos na organização do estado nacional. Por conseguinte carrega marcas dolorosas no inconsciente coletivo. Onde as pessoas,mais de cem anos depois, na era do conhecimento e dos serviços, têm vergonha de servir, porque isto é para escravos. Para negros. Onde o trabalho é uma tortura(do latim tripalium ) como era para os  antigos  gregos ,e romanos.
Não sou o dono da verdade, mas quero contribuir para o debate que mais importa à Nação: como sarar nossas feridas?
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com





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