sábado, 28 de maio de 2016

Sobre a Consciência negra...



“Sou um negro gato/de arrepiar/E esta minha vida /É mesmo de amargar./.../Eu sou um negro gato”.
Do nosso cancioneiro popular

Escrevo na véspera do dia nacional da consciência negra. Dia da morte de Zumbi dos Palmares, lider da resistência dos negros contra a escravidão. Que continua. Sob outra forma pior.E o IBGE joga luz no assunto: no racismo dissimulado que os números não deixam mentir. Como explicar que o aumento da escolaridade possa elevar o fosso entre a renda  dos pardos/ negros e os brancos? E que na média entre todas as faixas salariais  os mesmos ganhem 51,1% dos salários dos brancos? Filho de pai branco e mãe negra não sou xiita. Mas sempre me assumi negro. Até porque só isso podia explicar tantos nãos ao longo da vida. Para um menino pouco quieto e perguntador. Para um jovem namorador que acreditava no amor sem a barreira da epiderme. Para um velho professor com 30 anos de experiência em salas de aula, ensinando tudo que sabia não importando  a cor de quem quer que fosse. Ultimamente na Pós Graduação da Academia sem ver os negros como seus alunos. Volto a afirmar: não se constrói uma nação desse jeito:  A pobreza tem cor e é negra. E essa pobreza  está sendo construída há centenas de anos, institucionalmente no País.. A riqueza também tem cor e é branca desde sempre.Daí porque precisamos de outros Zumbis . Outra resistência porque cerca de dois milhões de jovens negros (até 22 anos)de baixa escolaridade, só entre o Rio e São Paulo, por não terem estas positivas lideranças, estão prestes a entrar nas fileiras do crime organizado,e aí sim virão engrossar as estatísticas de morte de jovens negros.Um verdadeiro genocídio.Ou adentrar em  caras prisões quando não tiveram sequer  baratas escolas e mal pagos professores.
Entre  aqueles  que estão desempregados ,diz o IBGE, metade  são negros.E o poeta já dizia que” sem o seu trabalho , um homem não tem honra.E sem ela,se mata .Se morre.Não dá pra ser feliz”.Principalmente porque no bairro ao lado a opulência  afronta: carros blindados com segurança.Mansões , festas nababescas e escarnecedoras,( muitas delas feitas com desvios de dinheiro público) ,a que seus irmãos só tem acesso pelo  elevador de serviço. Já que esta pesquisa mostra também que negros e pardos só são maioria no mercado de construção civil e como domésticos. Pobre Brasil dos negros! .Rico Brasil dos brancos! .Uma mama äfrica - mãe solteira,pobre e sofredora e uma europa bem nascida ,quatrocentona e de puro sangue.Duas nações superpostas no mesmo espaço físico. Claro que os negros estão por baixo. E não importa quão ricos e intelectuais eles sejam. Quão famosos e elegantes se apresentem. Esta é uma  constatação de todos negros e pardos que como eu, a duras penas conseguiram ascender às classes A/B.
Ações civis públicas contra o racismo expresso nestes números começam a romper o silêncio constrangedor a que se referia Martin Luther King. A moderma escravidão a que estão sujeitos muitos dos irmãos pardos e negros é  a gerada pela falta de escolaridade na era do conhecimento. “O sol da liberdade em raios fúlgidos” é para esses brasileiros é aprender a aprender. Para romper o dia de amanhã  sem grilhões.
 José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br


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