“Sou um negro gato/de arrepiar/E esta minha vida /É mesmo de
amargar./.../Eu sou um negro gato”.
Do nosso cancioneiro popular
Escrevo na véspera do dia nacional da consciência negra. Dia
da morte de Zumbi dos Palmares, lider da resistência dos negros contra a
escravidão. Que continua. Sob outra forma pior.E o IBGE joga luz no assunto: no
racismo dissimulado que os números não deixam mentir. Como explicar que o
aumento da escolaridade possa elevar o fosso entre a renda dos pardos/ negros e os brancos? E que na
média entre todas as faixas salariais os
mesmos ganhem 51,1% dos salários dos brancos? Filho de pai branco e mãe negra
não sou xiita. Mas sempre me assumi negro. Até porque só isso podia explicar
tantos nãos ao longo da vida. Para um menino pouco quieto e perguntador. Para
um jovem namorador que acreditava no amor sem a barreira da epiderme. Para um
velho professor com 30 anos de experiência em salas de aula, ensinando tudo que
sabia não importando a cor de quem quer
que fosse. Ultimamente na Pós Graduação da Academia sem ver os negros como seus
alunos. Volto a afirmar: não se constrói uma nação desse jeito: A pobreza tem cor e é negra. E essa
pobreza está sendo construída há
centenas de anos, institucionalmente no País.. A riqueza também tem cor e é
branca desde sempre.Daí porque precisamos de outros Zumbis . Outra resistência
porque cerca de dois milhões de jovens negros (até 22 anos)de baixa
escolaridade, só entre o Rio e São Paulo, por não terem estas positivas lideranças,
estão prestes a entrar nas fileiras do crime organizado,e aí sim virão
engrossar as estatísticas de morte de jovens negros.Um verdadeiro genocídio.Ou
adentrar em caras prisões quando não
tiveram sequer baratas escolas e mal
pagos professores.
Entre aqueles que estão desempregados ,diz o IBGE,
metade são negros.E o poeta já dizia
que” sem o seu trabalho , um homem não tem honra.E sem ela,se mata .Se
morre.Não dá pra ser feliz”.Principalmente porque no bairro ao lado a
opulência afronta: carros blindados com
segurança.Mansões , festas nababescas e escarnecedoras,( muitas delas feitas
com desvios de dinheiro público) ,a que seus irmãos só tem acesso pelo elevador de serviço. Já que esta pesquisa
mostra também que negros e pardos só são maioria no mercado de construção civil
e como domésticos. Pobre Brasil dos negros! .Rico Brasil dos brancos! .Uma mama
äfrica - mãe solteira,pobre e sofredora e uma europa bem nascida ,quatrocentona
e de puro sangue.Duas nações superpostas no mesmo espaço físico. Claro que os
negros estão por baixo. E não importa quão ricos e intelectuais eles sejam.
Quão famosos e elegantes se apresentem. Esta é uma constatação de todos negros e pardos que como
eu, a duras penas conseguiram ascender às classes A/B.
Ações civis públicas contra o racismo expresso nestes
números começam a romper o silêncio constrangedor a que se referia Martin
Luther King. A moderma escravidão a que estão sujeitos muitos dos irmãos pardos
e negros é a gerada pela falta de
escolaridade na era do conhecimento. “O sol da liberdade em raios fúlgidos” é
para esses brasileiros é aprender a aprender. Para romper o dia de amanhã sem grilhões.
José Carlos Nunes
Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br
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