sábado, 28 de maio de 2016

Hotel Ruanda


Ha! mama África/

A minha mãe/

É mãe solteira[...]

Chico César


Genocídio. É definido no Aurélio como crime contra a humanidade, o que consiste em destruir total ou parcialmente um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Cometer contra eles, qualquer dos atos seguintes: matar membros seus; causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo à condições de vida capazes de o destruir fisicamente no todo ou em parte (grifo nosso).
O tema desta crônica é o título de um filme que reproduz uma parte da história que cobre de vergonha a humanidade. Os europeus de forma geral, colonizaram as Américas, Ásia e África. A África e a América Latina foram alvo do que há de pior em termos de dominação. Foram saqueadas, humilhadas e tiveram seu futuro boicotado por aviltamentos acontecidos neste período.E que permanecem até hoje.Vocês acompanharam as discussões sobre a rodada de Doha e a última reunião da OMC em Hong Kong? Homens de estado,entre eles o ministro Celso Amorim,defendem nossos interesses contra uma nova dominação: A colonização mercadológica e tecnológica por esses mesmos países e os EUA. Primeiro tiraram o ouro, pedras preciosas, madeiras nobres. Agora, estão levando mercados,genes e princípios ativos. Infelizmente foram mais cruéis com a África. Escravizaram. E ao sair queimaram as pontes do futuro ao lançarem o dissídio entre irmãos, e dividirem países.Este filme sugerido por um ex-chefe das forças de Paz da ONU em Angola-  cel. Ribeiro ,expõe a divisão dos Tutsis e Hutus, de forma maquiavélica- através da desigualdade na divisão de poder pelos colonizadores belgas, que contrataram uma  guerra civil anunciada e construída pelo ódio racial. Que ceifou 2 milhões de almas tutsis .Provocou o deslocamento de outros milhões para países limítrofes. aTudo sob o olhar atônito da ONU, e com o fornecimento de armas aos hutus pelos franceses.
Este cenário aconteceu há somente dez anos atrás,e não teve tanto  impacto na opinião pública mundial  ,por causa dos interesses “cruzados” das mídias européias e americanas. Apesar disso, escancarou ao mundo uma ONU , depauperada e atada aos interesses dos EUA e de parte da Europa- tanto assim que anos depois foi desrespeitada em sua resolução contrária à invasão do Iraque pelos EUA.E a África? ora a África. Não é lá que vivem os negros?
Um dos poucos momentos políticos brilhantes do governo Lula(daí a César o que é de César),foi quando lá, em sua visita como chefe de estado ,pediu desculpas pelos 400 anos de escravidão de africanos neste País. Mas seria bom que o Presidente, Congresso e as demais autoridades estaduais e municipais, prestassem atenção ao nosso grifo na definição de genocídio, dando conta das estatísticas de mortes violentas que apontam para uma maioria (70%)de vítimas sendo jovens e negros. Aqui as balas da polícia substituem os facões hutus. E parece que não temos um Paul( herói e benfeitor dos tutsis).Nem um hotel Ruanda(que acolhia crianças e famílias Tutsis). Tão pouco temos educação de qualidade e escolas, que seriam a misericórdia para nossa população afro-brasileira.Com esta  reflexão me despeço...
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor


debatef@debatef.com    


Sobre a Consciência negra...



“Sou um negro gato/de arrepiar/E esta minha vida /É mesmo de amargar./.../Eu sou um negro gato”.
Do nosso cancioneiro popular

Escrevo na véspera do dia nacional da consciência negra. Dia da morte de Zumbi dos Palmares, lider da resistência dos negros contra a escravidão. Que continua. Sob outra forma pior.E o IBGE joga luz no assunto: no racismo dissimulado que os números não deixam mentir. Como explicar que o aumento da escolaridade possa elevar o fosso entre a renda  dos pardos/ negros e os brancos? E que na média entre todas as faixas salariais  os mesmos ganhem 51,1% dos salários dos brancos? Filho de pai branco e mãe negra não sou xiita. Mas sempre me assumi negro. Até porque só isso podia explicar tantos nãos ao longo da vida. Para um menino pouco quieto e perguntador. Para um jovem namorador que acreditava no amor sem a barreira da epiderme. Para um velho professor com 30 anos de experiência em salas de aula, ensinando tudo que sabia não importando  a cor de quem quer que fosse. Ultimamente na Pós Graduação da Academia sem ver os negros como seus alunos. Volto a afirmar: não se constrói uma nação desse jeito:  A pobreza tem cor e é negra. E essa pobreza  está sendo construída há centenas de anos, institucionalmente no País.. A riqueza também tem cor e é branca desde sempre.Daí porque precisamos de outros Zumbis . Outra resistência porque cerca de dois milhões de jovens negros (até 22 anos)de baixa escolaridade, só entre o Rio e São Paulo, por não terem estas positivas lideranças, estão prestes a entrar nas fileiras do crime organizado,e aí sim virão engrossar as estatísticas de morte de jovens negros.Um verdadeiro genocídio.Ou adentrar em  caras prisões quando não tiveram sequer  baratas escolas e mal pagos professores.
Entre  aqueles  que estão desempregados ,diz o IBGE, metade  são negros.E o poeta já dizia que” sem o seu trabalho , um homem não tem honra.E sem ela,se mata .Se morre.Não dá pra ser feliz”.Principalmente porque no bairro ao lado a opulência  afronta: carros blindados com segurança.Mansões , festas nababescas e escarnecedoras,( muitas delas feitas com desvios de dinheiro público) ,a que seus irmãos só tem acesso pelo  elevador de serviço. Já que esta pesquisa mostra também que negros e pardos só são maioria no mercado de construção civil e como domésticos. Pobre Brasil dos negros! .Rico Brasil dos brancos! .Uma mama äfrica - mãe solteira,pobre e sofredora e uma europa bem nascida ,quatrocentona e de puro sangue.Duas nações superpostas no mesmo espaço físico. Claro que os negros estão por baixo. E não importa quão ricos e intelectuais eles sejam. Quão famosos e elegantes se apresentem. Esta é uma  constatação de todos negros e pardos que como eu, a duras penas conseguiram ascender às classes A/B.
Ações civis públicas contra o racismo expresso nestes números começam a romper o silêncio constrangedor a que se referia Martin Luther King. A moderma escravidão a que estão sujeitos muitos dos irmãos pardos e negros é  a gerada pela falta de escolaridade na era do conhecimento. “O sol da liberdade em raios fúlgidos” é para esses brasileiros é aprender a aprender. Para romper o dia de amanhã  sem grilhões.
 José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br


A Quarta Revolução


“A vida só é possível reinventada/anda o sol pelas campinas/ E passeia a mão dourada/ pelas águas, pelas folhas.../Há! Tudo são bolhas/ Que  vêm de fundas piscinas/De ilusionismo,,,-mais nada/Mas a vida, avida, a vida/ A vida só é possível  reinventada. ”Cecilia Meireles

A função da Academia  e  Think Thanks em tempos de crise é apontar caminhos para a sociedade. Aliás, antever as crises, e evita-las está entre as metas que estes  players teimam em não cumprir, imobilizados em abraços de afogado com políticos e governantes cegos.
No excelente livro”A quarta Revolução”, os autores John Micklethwait  e   Adrian Wooldrige, cumprem esta regra ao anunciarem a falência do estado e alertarem para as grandes transformações previstas em escala global  em função do uso massivo de inovações tecnológicas, de tal monta ,que com os novos usos da tecnologia da informação as democracias correrão perigo.
E esta é uma boa leitura que recomendo  para  os próximos  feriados,  pois quem lê um livro assim muda primeiro a si mesmo, depois muda o mundo. Principalmente ao constatar, algo desesperador, que contratamos para a Nação mais uma década perdida, por causa da miopia estratégica de governantes de plantão. Onde o desemprego estrutural entre os jovens que ajudamos a formar, está infelizmente entre os subprodutos desses tempos de  ilusionismo  a que se refere a poetisa em tela.
O Brasil figura, ao lado, ao lado da África do Sul, Itália, e sudeste asiático, na lista de  países e regiões onde os impactos da quarta revolução industrial serão predominantemente negativos, informam os painéis de discussão do último fórum econômico mundial em Davos na Suíça.
Para contornar esta situação será necessário investir primeiro em qualificação de pessoas, e depois reformar o estado, utilizando principalmente os orçamentos  Legislativos para  investir em inovações tecnológicas e sustentabilidade-temos massa crítica para isso. Por exemplo, As inovações em start ups  em curso  no universo de produção de energia e no uso de tecnologia da informação, até 2020, impactarão nossa mão de obra reduzindo-a em6% pela otimização dos postos de trabalho ,Todavia, segundo os especialistas, há um contraponto que aquece a alma: o setor de mobilidade e logística no Brasil, e notadamente em Uberlândia terá uma janela de oportunidades jamais vista até hoje e poderá ser o trator a nos tirar da imobilidade. O novo governo de Uberlândia a ser eleito em novembro deve aliar  gestão e inteligência para explorá-la.
Já a área de relações internacionais das Academias deveriam, a meu ver redirecionar pesquisas ,patentes e artigos visando  países do oriente como Singapura, que reformou o estado e prepara seus alunos para esta nova era. E seus efeitos de benchmarking já atingiram a china e EUA, e estão se irradiando para países da região como Arábia Saudita, Bahrem, Omã, Quatar, Emirados árabes Unidos, e quem diria? Já chegaram ao Chile aqui pertinho, ao México, Índia e Turquia...Porque estaríamos fora disso?
Saúdo neste contexto, a visão do novo chanceler brasileiro, José Serra, que  está apenas há doze dias no poder, mas já disse a que veio: Realizar como em 1808,- abertura do País ao mundo  do conhecimento, da inovação e da iluminação dos talentos nacionais -para voltarmos à rota  no nosso destino de grandeza: Reinventando a vida.
José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da Academia de Letras de Udia (ALU)

debatef@debatef.com

Sobre a Lei de Cotas

                     

“Todos Têm Direitos Iguais na República”

Manifesto dos  contrários


Tenho me colocado a favor de políticas públicas chamadas afirmativas, que reduzam o fosso que existe  entre os negros / índios e a maioria da população branca neste País. Minha  voz, como tantas outras na academia, tem sido um instrumento a  dizer que como está não pode ficar. Temos uma  África  e uma Europa superpostas no mesmo território( Com tudo que isso significa em termos de tensões e diferenças em educação, longevidade e renda).E não se faz uma Nação desse jeito.
 Fui contra as cotas no Instituto Rio Branco ,quando participei  da comissão CNPQ Palmares e se buscava  enviar um diplomata negro para a África do Sul de Mandela. A  solução encontrada(com sucesso!) foi fornecer bolsas de estudos do CNPQ  para afrodescendentes se prepararem e enfrentar o concurso em  igualdade de condições aos demais.
 Sou por isso, a favor de cotas sociais nas Universidades.Como as da UNICAMP e USP. Que pontuam mais alunos da periferia e de escolas públicas ,além de fornecer cursinhos preparatórios para carentes –a maioria negros e índios, porém sem fechar as portas para uma minoria branca nesta mesma situação.
Retira-se    assim o viés racista da política afirmativa. Tanto negros e índios quanto os brancos pobres serão atingidos , e  os especialistas mostram que os primeiros serão entre 70 e 80% .E não se afrontaria o artigo primeiro da Constituíção !
A intelligentsia nacional está rachada  em dois manifestos. O primeiro, citado acima ,assinado por 114 intelectuais, dentre eles:Maria S. Carvalho Franco(USP,UNICAMP),Renato Lessa(Inst.  de Pesq.RJ), Manolo Florentino (UFRJ),o poeta Ferreira Gullar e  o músico Caetano Veloso.O segundo intitulado “Manifesto em Favor da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial” assinado por mais de 300 nomes,entre eles o antropólogo Eduardo V.  de Castro, o jurista Fábio Comparato,o sociólogo Emir Sader e o professor de história do Brasil na  Sorbonne,Luiz Felipe Alencastro. Apesar de minha posição ,concordo com a  afirmação este último na  entrevista ao caderno Mais! do Jornal “Folha de SP”  de Domingo 9/7, respondendo se a adoção do sistema de cotas, não introduziria um conflito e tensão que não existem atualmente no Brasil. Com total desassombro  ele diz:  “A tensão existe, está lá.Os signatários do manifesto contra as cotas passam a vida viajando para os EUA onde encontram negros o tempo todo nas salas de aula, que não estão nas salas de aulas deles( no Brasil),numa população negra que é muito maior. Acho que a divisão existe, está escrita na nossa sociedade”.
Uma sociedade que foi a última a abolir a escravatura que durou 400 anos na organização do estado nacional. Por conseguinte carrega marcas dolorosas no inconsciente coletivo. Onde as pessoas,mais de cem anos depois, na era do conhecimento e dos serviços, têm vergonha de servir, porque isto é para escravos. Para negros. Onde o trabalho é uma tortura(do latim tripalium ) como era para os  antigos  gregos ,e romanos.
Não sou o dono da verdade, mas quero contribuir para o debate que mais importa à Nação: como sarar nossas feridas?
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com





IDH- governos e Afrodescendência

"Sou um gato preto de arrepiar/E esta minha vida é mesmo de amargar/.../Eu sou um negro gato..."
Cancioneiro popular

     Os  governos FHC 1 e 2,Dilma 1 e Lula 1 e 2, justiça seja feita, apesar do desastre do Dilma2, trouxeram esperança - hoje já uma gasta redundância- às classes C,D e E do extrato social brasileiro(Muitos  hoje obrigados a voltar à pobreza),onde a maioria, segundo pesquisa do IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-WWW.IPEA.GOV.BR- é negra ou parda(cerca de 60%),e habitam as periferias das grandes cidades brasileiras.
     O IDH-Índice de Desenvolvimento Humano da ONU,é um indicador de Qualidade de vida criado pelo cientista paquistanês Mahbub Ul  Haq e varia de 0 (pior) à 1 (melhor),tendo por definição três pilares::renda per capita,longevidade e educação.Segundo os dados do IPEA-,o Brasil possui IDH de 0,750 semelhante a países como Arábia Saudita e Filipinas. Ainda segundo estes dados, dentro do País existem duas distintas populações: a dos brancos com IDH 0,805, considerado um alto índice de desenvolvimento Humano( quadragésimo sexto lugar no mundo,como a Croácia e Emirados árabes)e a dos negros com IDH 0,691 considerado baixo Índice de Desenvolvimento Humano(Centésimo primeiro lugar no mundo como Vietnã e Argélia).Estas populações representam respectivamente54% e 45%do total de brasileiros, e seus indicadores apontam um fosso entre as mesmas:na renda familiar em reais- 406,35 x 174,26-;na taxa de alfabetização na população maior de 15 anos-91,7% x 80,2%-;na expectativa de vida ao nascer em  anos-71,23 x 65,12.
Trabalho multidisciplinar levado a efeito no Centro Universitário do Triângulo e na UFU entre 2002 e 2003 identificava cinco grandes áreas de estudo para melhoria da Qualidade de Vida nos afrodescendentes brasileiros:1-Imagem-auto-estima((agravada pelos veículos de comunicação);2-Conhecimento-Educação (ausência de negros-<1%-nas faculdades e universidades brasileiras);3-Longevidade(os afrodescendentes morrem mais cedo pela mandatária e maior exposição aos riscos);4-Renda(Aínda há trabalho escravo no país,o que se supõe renda zero para milhares –OIT- de pretos e pobres)5-Meio Ambiente( A degradação ambiental atinge principalmente as periferias onde a maioria da população negra é vítima e também agente da poluição).
     O Projeto “Qualidade Ambiental e Qualidade de vida em Bairros Periféricos de UDI”, onde é claro, vivem a maioria de afrodescendentes, foi apresentado por este professor no colegiado CNPQ-PALMARES de Brasília em abril de 2003 e considerado como diretriz pelos demais conselheiros, a maioria afrodescendentes como este escriba. Estávamos no fim do governo FHC, e a instalação deste colegiado no CNPQ, em parceria com a Fundação Palmares, com verbas e atenção ministerial se deu após muitos anos de luta da comunidade negra do Brasil. Veio o governo Lula e não reconduziu o Conselho ,mas contigenciou as verbas de pesquisa pois  havia reproduzido a política econômica de FHC com rigores maiores, para obtenção de superávit público. Após o Lula 2 e o Dilma1 consolidar estas políticas.Com o Bolsa família, FIES, entre outras rubricas oriundas de  dinheiro público( 2 bilhões de reais/ano contra 600 bilhões da “bolsa empresário” e  o desvio de 9º bilhões da Petrobrás) que ajudaram a população negra. Hoje 14 anos depois, o PT se vê “emparedado” frente à sérios desvios éticos de conduta com dinheiro de contravenção,juntamente com outros partidos. Mais de dez anos serão necessários para que a Negritude possa ,após o governo Temer,recuperar os níveis econômicos e de atenção dos governos FHC1e2; Lula1 e 2; e Dima1, espelhados na melhoria do IDH, ministérios,conselhos e na retirada de dezenas de milhões da pobreza.Pobre País:jogaram a água de banho fora com a criança. Podre elite. Até quando?
Prof.Dr José Carlos Nunes Barreto
Sócio-diretor da DEBATEF  e Professor Universitário

debatef@debatef.com

Gestão da Diversidade:a Luta Continua...


 Reeditando artigo publicado há 12 anos no Correio de Uberlândia por sua atualidade...

Segundo pesquisa do Instituto Ethos em parceria com a Fundação Getúlio Vargas divulgada em Dez. 2003,entre as 500 maiores empresas brasileiras ,em 74% não há negros em cargo de direção e 58% delas não possuem mulheres na mesma função,porém 40% têm consciência da importância da importância da estratégia da diversidade(KLINGER K., Folha Equilíbrio-11/03/04).
MEDEIROS M. do IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas- em sua pesquisa de doutorado sobre desigualdade e riqueza afirma que apenas 0,03% da população brasileira está estabelecida no topo da pirâmide social. São os muito ricos, algo como 10000 brasileiros,que tem renda familiar per capita mensal em torno de 22,65 mil reais. Segundo o autor nesta faixa social há uma mobilidade social praticamente nula,pois há “numa blindagem”, e este grupo é majoritariamente branco, tendo somente 4% de negros ou afrodescendentes. Ainda segundo este estudo os ricos, que seriam 1% da população e onde os muito ricos estariam incluídos ,abocanham 14% da renda per capita total do país e representam 1,7 milhão com renda familiar mensal percapita de R$3,27 mil e detém mais renda que 50% da população brasileira mais pobre que detém 12% da renda per capita total do país. Cruzando estas informações com outro estudo do IPEA- WWW.IPEA.GOV.BR- de 2001 demonstrou que 70% dos mais pobres são negros ou afrodescendentes e habitam nas periferias das cidades brasileiras, temos o tamanho do “Apartheid’’ nacional. Talvez o melhor título para este artigo fosse “A Gestão do Apartheid”  pois estes estudos mostram a magnitude do fosso que separa os mais ricos dos mais pobres. Os dados do estudo de MEDEIROS mostram que o mundo corporativo no Brasil(KODAK,PÃO DE AÇUCAR, NATURA, IBM, JPMORGAN, entre outras) ,embora tardiamente,tem acordado para a melhoria do clima organizacional, quando inclui em suas estratégias, uma política de diversidade, onde os negros são equiparados(sic)à deficientes, gays, mulheres e outras minorias. Na esfera pública também há avanços em muitas cidades (Uberlândia é uma delas)com a criação de secretarias de combate ao racismo e forte atuação da comunidade negra nos legislativos, porém a nível federal aínda há muita letargia e autismo, mas pelo menos conseguiu-se colocar o primeiro negro na Suprema Côrte do País, após 100 anos.
 Mas será que Gestão é isto? Em primeiro lugar mais dados e fatos sobre este  importante assunto que explica nossa principal chaga social- a falta de segurança. Muitos jovens negros excluídos, são cooptados pela indústria da droga, e pelo crime organizado. Pesquisas recentes divulgadas nos meios de comunicação do País, mostram o perfil dos combatentes do tráfico, mortos pela polícia:60%são negros, idade entre 17 e 22 anos, baixa escolaridade, e residentes em favelas e periferias das cidades brasileiras.Com a ausência do Poder Público,(e poder odeia vácuo),quem manda agora é o Tráfico, com tudo que isto significa para a sociedade - bilhares de dólares gastos em segurança pelos mais ricos,sem evitar o caos social da guerra urbana nas grandes cidades. Quando se fala em gestão é necessário que se estabeleça Estratégias, Políticas, Objetivos, Gerenciamento de Metas e indicadores de desempenho. O principal indicador de desempenho para a Gestão da Diversidade é o IDH -Índice de Desenvolvimento Humano da ONU-. Porque? Sem estratégias, políticas, objetivos, etc.., não se consegue atender aos seus três pilares básicos:1)Educação2)Renda3)Longevidade. Os negros morrem mais cedo, tem renda menor, e baixa escolaridade-são secularmente excluídos -,vivem com um IDH africano(0,691)ao lado de um IDH europeu da maioria branca(0,805).E como fazer a Gestão da Diversidade? É a partir da melhoria do IDH ,políticas de inclusão social,  e políticas distributivas, que vamos impedir a escalada de violência que retira qualidade de vida de toda sociedade e nos impede de construir a “Ordem e Progresso” da Nação.   

DR José Carlos Nunes Barreto

Diretor de OperaçÕes da DEBATEF CONSULTORES ASSOCIADOS e Professor Universitário  

Ainda o Racismo

                                                                 
“Ando devagar/ porque já tive pressa/levo esse sorriso/
Porque já sofri /demais”
Almir Sater
 
Em abril de 2002 recebi uma correspondência enviada pelo gabinete da Presidência da República me convidando para instalação de um conselho da república intitulado CNPQ-Palmares,  no palácio do Planalto por FHC.- 8 conselheiros a maioria doutores e negros (uma raridade). Destinado a implantar ações afirmativas para a população negra e afrodescendente do País este conselho iniciou toda a discussão sobre cotas  ,começando pelo discurso do ex-presidente, ele mesmo um estudioso das mazelas raciais do país durante seu doutorado.Nos debates fui contra as cotas no Instituto Rio Branco do Itamarati. Explicava-se a urgência de se ter pelo menos um diplomata afrodescendente pela vergonha passada pelo Itamaraty ao enviar diplomatas brancos para a África do Sul de Mandela e sofrer reprimenda do líder africano que conhecia bem o País. e pediu para enviar um negro  que representasse 45% do extrato social brasileiro Na verdade não tínhamos. A prova do IRB é duríssima e exige estudos  de  pelo menos 2 línguas e só a elite branca tinha acesso à esta formação.  Argumentei com meus pares que minha defesa de doutorado também foi duríssima e não gostaria que tivesse sido por cotas, porque me seria retirado o mérito, e acabava de retornar de uma viagem ao exterior para defende-la .Após muitas discussões consegui convence-los a doar bolsas de estudo do CNPQ  com valores de doutorado para estudantes negros  graduados para que pudessem se preparar para o Itamarati.Um ano de pois uma médica negra como o saudoso geógrafo Milton Santos ,foi aprovada . Conto essa história para defender a minha opinião favorável às ações afirmativas em favor da comunidade negra desta nação e contra medidas paternalistas que só reforçam o preconceito contra os negros .Me lembro do prof. Milton Santos,que homenageei em vida quando diretor do Sindicato de Engenheiros do estado de SP,como a personalidade do ano de 1989.No cafezinho ele dispara :Barreto estamos fazendo a recontagem dos últimos negros na USP.Doente se referia ele à sua saída do conselho de professores titulares da maior Academia do Pais . Meses depois faleceu e pude entender: O outro negro entre os 400 era angolano naturalizado brasileiro e para  vaga de Santos foi destacado  outro branco. Numa de suas últimas entrevistas ao jornalista Roberto Dávila na rede Cultura de SP,ele,Doutor Honoris Causa nas principais Universidades do mundo,destilou amargura: Aqui no Brasil sou obrigado a estar em lugares em que os negros nunca vão e sempre me olham como se não devesse estar ali. Perfeita definição que só os afrodescendentes vencedores sabem o que  significa. O Racismo mais cruel e dissimulado do mundo. Num país que foi o último a abolir a escravatura, e olha até  hoje, pouco mais de 100anos depois ,os negros e seus descendentes como pessoas de segunda classe. Escrevo este artigo em homenagem à secretária negra barrada em uma boate  em Uberlândia e que foi à luta para denunciar este abuso ,que é apenas a ponta de um enorme iceberg social. Parabéns!
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

Debatef@debatef.com