segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Habacuque e o Crash

“Em paz /Eu digo que eu sou/O antigo /do que vai /Adiante /Sem mais /Eu fico onde estou /Prefiro continuar /Distante”
Cancioneiro popular
A propósito da onda de suicídios relatada na mídia, motivada pelas elevadas perdas patrimoniais de pessoas físicas e jurídicas com o “crash” ao redor do mundo, me pus a pensar nas palavras do profeta Habacuque após os caldeus saquearem e levarem cativa a tribo de Judá, usando para isso, seus cavalos mais ligeiros que os leopardos, e guerreiros mais perspicazes que lobos à tarde. O homem de Deus, também os compara às águias, vindas de longe voando em direção à comida. E se desespera, como qualquer mortal, vendo prisioneiros irmãos seus, serem levados com violência, pisados e ele, sendo testemunha ocular do escárnio dos opressores sobre seus príncipes e reis. E grita: ”Até quando Senhor, clamarei eu, e não me escutarás? Gritarei violência! E não salvarás?” E aí Deus responde ao profeta sinalizando que aquilo era um castigo pela iniquidade anterior de Judá e que após o sofrimento e a intercessão de Habacuque pelo seu povo, os caldeus seriam castigados a seu turno. Deus sempre cumpre o que promete-a história comprova que realmente isso aconteceu. E o profeta nos dá uma lição sobre como um intercessor deve agir e por que: “O justo viverá pela fé”. Ele se referia à fé em Deus. O poeta Carlos Drummond de Andrade completaria - fé no homem, fé na vida, fé no que virá.
Séculos depois da morte de Habacuque, Jesus o messias, entre os inúmeros sermões que fez, exorta seus discípulos para não ajuntarem tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem e os ladrões roubam, mas a “ajuntar tesouros no céu, pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”. Então como entender a visão patrimonialista de algumas “igrejas” que se dizem igreja de Jesus Cristo? E a atitude de pastores que não vivenciam o sofrer de suas comunidades?(e por isso não intercedem adequadamente junto a Deus por eles). Alguns, pasmem, delegam esta importante parte do seu trabalho, a diáconos e presbíteros. Já pensou se Habacuque tivesse feito assim? Se houvesse nele aquela clássica postura de funcionário público prestes a se aposentar?
Hoje estamos vivendo um tempo em que pessoas, aos bilhares, cativas do deus mercado, sucumbem sem pastor. Para que serve esse religioso se na hora crítica da tentação ou da morte não está ao lado de seu rebanho? Alguns estão tão desmotivados quanto o profeta Jonas antes de ser tragado por uma baleia assassina. Este acordou e mudou, será que nossos “clérigos” farão o mesmo?
Habacuque termina sua pequena, mas significativa participação na bíblia (são só 3 capítulos) com uma oração poderosa até os dias de  hoje, porque já varou milênios e recuperou a fé de tantos, cujos números se igualam à areia do mar. E é com ela que pretendo alentar aqueles que,desesperados por perderem patrimônio ou ente queridos, pensam na morte como solução: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exaltarei no Deus da minha salvação”.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com

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