“Em paz /Eu digo que eu sou/O antigo
/do que vai /Adiante /Sem mais /Eu fico onde estou /Prefiro continuar /Distante”
Cancioneiro popular
A propósito da onda de suicídios
relatada na mídia, motivada pelas elevadas perdas patrimoniais de pessoas
físicas e jurídicas com o “crash” ao redor do mundo, me pus a pensar nas palavras
do profeta Habacuque após os caldeus saquearem e levarem cativa a tribo de Judá,
usando para isso, seus cavalos mais ligeiros que os leopardos, e guerreiros
mais perspicazes que lobos à tarde. O homem de Deus, também os compara às águias,
vindas de longe voando em direção à comida. E se desespera, como qualquer
mortal, vendo prisioneiros irmãos seus, serem levados com violência, pisados e ele,
sendo testemunha ocular do escárnio dos opressores sobre seus príncipes e reis.
E grita: ”Até quando Senhor, clamarei eu, e não me escutarás? Gritarei
violência! E não salvarás?” E aí Deus responde ao profeta sinalizando que aquilo
era um castigo pela iniquidade anterior de Judá e que após o sofrimento e a
intercessão de Habacuque pelo seu povo, os caldeus seriam castigados a seu
turno. Deus sempre cumpre o que promete-a história comprova que realmente isso
aconteceu. E o profeta nos dá uma lição sobre como um intercessor deve agir e por
que: “O justo viverá pela fé”. Ele se referia à fé em Deus. O poeta Carlos Drummond
de Andrade completaria - fé no homem, fé na vida, fé no que virá.
Séculos depois da morte de Habacuque, Jesus
o messias, entre os inúmeros sermões que fez, exorta seus discípulos para não
ajuntarem tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem e os ladrões
roubam, mas a “ajuntar tesouros no céu, pois onde estiver o vosso tesouro, aí
estará o vosso coração”. Então como entender a visão patrimonialista de algumas
“igrejas” que se dizem igreja de Jesus Cristo? E a atitude de pastores que não
vivenciam o sofrer de suas comunidades?(e por isso não intercedem adequadamente
junto a Deus por eles). Alguns, pasmem, delegam esta importante parte do seu
trabalho, a diáconos e presbíteros. Já pensou se Habacuque tivesse feito assim?
Se houvesse nele aquela clássica postura de funcionário público prestes a se
aposentar?
Hoje estamos vivendo um tempo em que
pessoas, aos bilhares, cativas do deus mercado, sucumbem sem pastor. Para que
serve esse religioso se na hora crítica da tentação ou da morte não está ao
lado de seu rebanho? Alguns estão tão desmotivados quanto o profeta Jonas antes
de ser tragado por uma baleia assassina. Este acordou e mudou, será que nossos
“clérigos” farão o mesmo?
Habacuque termina sua pequena, mas
significativa participação na bíblia (são só 3 capítulos) com uma oração
poderosa até os dias de hoje, porque já
varou milênios e recuperou a fé de tantos, cujos números se igualam à areia do
mar. E é com ela que pretendo alentar aqueles que,desesperados por perderem
patrimônio ou ente queridos, pensam na morte como solução: “Porquanto, ainda
que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira
minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam
arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exaltarei
no Deus da minha salvação”.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com
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