segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Epidemias

 “Toda idéia realmente nova, a princípio, parece loucura” A.H. Maslow
   
Muitas revoluções começaram por simples inovações. Imagine a pólvora na arte da guerra. Ou o conceito de “micróbio”, que explicou o mal dos pântanos. Muitas delas aconteceram por acaso, como a maçã na cabeça de Isac Newton, ou o priapismo - ereção involuntária acometida por certos pacientes - ao tomarem medicamentos com determinada fórmula, que estudada mais de perto, fez os cientistas criarem o fenômeno “a calda abana o cachorro”, ou seja, o princípio ativo, agora, deveria ser usado só para o efeito colateral, e estava criado o Viagra. Vilfredo Pareto ordenou dados estatísticos de modo a orientar, quem administra, sobre o que é mais importante. Alguns itens fazem você conseguir 80% de resultado com 20% de esforço. Estava criada a curva ABC, e os modernos conceitos de priorização de investimentos na administração pública e de empresas.
As vezes me pergunto como se prioriza 50 milhões de reais de gastos em um ano para um palácio (o do planalto) e se corta 20 milhões do orçamento destinado a erradicação da dengue no Rio de Janeiro. O fim, quero dizer o resultado para a Saúde, não seria o prioritário em relação ao meio, o palácio? O pior é que dezenas de vidas já se foram, e a julgar pelo andar da carruagem, infelizmente, muitas dezenas ainda irão. E haja estômago para ouvir políticos discutirem, se o mosquito é federal, municipal ou estadual. Ainda mais porque esta é uma epidemia anunciada. Outras virão, e os cientistas epidemiologistas já estão afirmando, que em 2009 outras cidades brasileiras passarão por este mesmo problema. Todavia, gostaria de inovar, caro leitor, no conceito de epidemia. Seriam os gastos inconsequentes privados (crise sub prime americana) ou de estado (cartões corporativos no Brasil), epidemias? Imaginemos que sim. Então poderíamos afirmar que teríamos milhares, talvez bilhares de vítimas, certo? Pois leio em manchetes: Milhares de empregos ceifados no mundo pela crise americana, que pode exigir aportes de até 1 trilhão de dólares, para não se tornar sistêmica. No estado de Minas, o governo Aécio gastou 60 milhões em diárias em 2007. Diárias são meios e não fins. Esse montante supera em 4 milhões o gasto na universalização do ensino médio. Quem são as vítimas? Você já sabe, é só visitar escolas e ver. Aliás, o ministro da educação já afirmou que o ensino médio é o elo mais fraco da educação no País. Outra epidemia. Escolas abandonadas, alunos idem. Evasão escolar. Professores desmotivados. Melhorou alguma coisa? Não sejamos xiitas. Claro que sim. Mas epidemia só nos permite apagar incêndio. E nada deve ser feito sem planejamento estratégico. Na era do conhecimento, como explicar que dos 24 milhões de jovens entre 18 e 24 anos no Brasil 82% estão fora das universidades? E dos 18% que estão estudando a maioria (75%) estão em escolas privadas e nelas,segundo o Instituto Educar, a inadimplência chega a 50%? Mais um dado estarrecedor nesta epidemia: Só 48 mil estudantes foram atendidos pelo FIES -Financiamento do ensino superior do MEC. Ou seja, com tanto dinheiro indo para o ralo, o principal, e mandatário não está sendo realizado. Uma última inovação: é mais barato criarmos um bolsa - político, mandar esse pessoal pra casa, e colocar administradores profissionais nestas áreas epidêmicas.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

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