terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A era da Abundância

“O poeta é um fingidor /Finge tão completamente /Que chega a fingir que é dor /A dor que deveras sente”. Fernando Pessoa
Leitor da Folha de SP, me deparei dia desses com dois artigos primorosos em termos de ideias e agendas para o ano que bate à porta. O primeiro, de Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do RJ, e outro de Nizan Guanaes, premiadíssimo publicitário e empresário de SP. Ambos abordam, de forma inteligente, agendas para o futuro próximo, além de fazerem análises da atual conjuntura sócio econômico cultural do País, o que me agradou muito - haja vista a desoladora quadra que todos vivemos, na era de escândalos de corrupção e desmandos lulopetistas.
Felizmente o Brasil não é uma Venezuela e nem Cuba, e nossas Instituições se mostram fortes, a despeito dos ocupantes do máximo poder no planalto central, que aparelham a justiça, corrompem o Congresso nacional, jogam contra a estabilidade econômica ao ferirem a lei de Responsabilidade Fiscal, e para tanto retiram o povo das arquibancadas e de suas prioridades, ao, com toda desfaçatez, comprarem formalmente o voto de parlamentares, através de decreto presidencial.
Nizan Guanaes lembra que nossa força advém da experiência, pois já passamos por hiperinflação, ditadura além de várias guerras contra moinhos de vento, e devemos ser otimistas, pois o otimismo fortalece. Faz sentido. O IED (Investimento direto estrangeiro) apesar dos péssimos indicadores atuais da economia, chega este ano a 66 bilhões de dólares (investidores olham além desta conjuntura), quando se esperava 50 bilhões. O STF (Supremo Tribunal Federal), o MPF (Ministério Público Federal) e a Polícia Federal republicanos, têm prendido e julgado maus políticos, bandidos disfarçados como dirigentes de partidos ou empresas, além de banqueiros corruptores. Agora é preciso prender e julgar ex-presidentes bandidos, após impedi-los. Algo se move: Quem viver verá. E isto era impensável há alguns anos, e é pois, uma obra imaterial realizada por toda sociedade brasileira, a despeito de quem esteja ocupando o poder na vez.
Já Ronaldo Lemos joga luz sobre as cruciais transformações que a tecnologia trará para essa mesma sociedade como um todo, e afirma que como um enredo, o ano de 2014 representará o fim de um arco narrativo, e 2015 será o início de outro, muito mais significativo, pois apoiado pela base já lançada por múltiplos setores - das telecomunicações, aos serviços na internet, onde a universalização da banda larga (onde estamos 30 anos atrasados), a regulamentação do marco civil da internet, aliadas ao acesso de smartfones com mais capacidade de acesso e armazenamento de informações do que possuía o ex - presidente americano Bill Clinton – elas criarão  a era da abundância, segundo Peter Diamandis em seu livro “Abundance” citado por Nizan Guanaes.
Estas vantagens competitivas em boas escolas com educação de qualidade para as massas, gerarão, a baixo custo, soluções integradas a grandes centros de pesquisa ao redor do mundo: Mais da metade do que iremos usar no dia  a dia doravante, será concebido desta forma nos próximos cinco anos. É um espetacular mundo novo que se descortina.
Com esta visão otimista, porém sem tirar os pés do chão, me despeço do leitor amigo, desejando ótimas festas, para em seguida avançarmos rumo às mudanças que já estão escritas nas estrelas: Maktub.

José Carlos Nunes Barreto

Professor Doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia (ALU).

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Habacuque e o Crash

“Em paz /Eu digo que eu sou/O antigo /do que vai /Adiante /Sem mais /Eu fico onde estou /Prefiro continuar /Distante”
Cancioneiro popular
A propósito da onda de suicídios relatada na mídia, motivada pelas elevadas perdas patrimoniais de pessoas físicas e jurídicas com o “crash” ao redor do mundo, me pus a pensar nas palavras do profeta Habacuque após os caldeus saquearem e levarem cativa a tribo de Judá, usando para isso, seus cavalos mais ligeiros que os leopardos, e guerreiros mais perspicazes que lobos à tarde. O homem de Deus, também os compara às águias, vindas de longe voando em direção à comida. E se desespera, como qualquer mortal, vendo prisioneiros irmãos seus, serem levados com violência, pisados e ele, sendo testemunha ocular do escárnio dos opressores sobre seus príncipes e reis. E grita: ”Até quando Senhor, clamarei eu, e não me escutarás? Gritarei violência! E não salvarás?” E aí Deus responde ao profeta sinalizando que aquilo era um castigo pela iniquidade anterior de Judá e que após o sofrimento e a intercessão de Habacuque pelo seu povo, os caldeus seriam castigados a seu turno. Deus sempre cumpre o que promete-a história comprova que realmente isso aconteceu. E o profeta nos dá uma lição sobre como um intercessor deve agir e por que: “O justo viverá pela fé”. Ele se referia à fé em Deus. O poeta Carlos Drummond de Andrade completaria - fé no homem, fé na vida, fé no que virá.
Séculos depois da morte de Habacuque, Jesus o messias, entre os inúmeros sermões que fez, exorta seus discípulos para não ajuntarem tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem e os ladrões roubam, mas a “ajuntar tesouros no céu, pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”. Então como entender a visão patrimonialista de algumas “igrejas” que se dizem igreja de Jesus Cristo? E a atitude de pastores que não vivenciam o sofrer de suas comunidades?(e por isso não intercedem adequadamente junto a Deus por eles). Alguns, pasmem, delegam esta importante parte do seu trabalho, a diáconos e presbíteros. Já pensou se Habacuque tivesse feito assim? Se houvesse nele aquela clássica postura de funcionário público prestes a se aposentar?
Hoje estamos vivendo um tempo em que pessoas, aos bilhares, cativas do deus mercado, sucumbem sem pastor. Para que serve esse religioso se na hora crítica da tentação ou da morte não está ao lado de seu rebanho? Alguns estão tão desmotivados quanto o profeta Jonas antes de ser tragado por uma baleia assassina. Este acordou e mudou, será que nossos “clérigos” farão o mesmo?
Habacuque termina sua pequena, mas significativa participação na bíblia (são só 3 capítulos) com uma oração poderosa até os dias de  hoje, porque já varou milênios e recuperou a fé de tantos, cujos números se igualam à areia do mar. E é com ela que pretendo alentar aqueles que,desesperados por perderem patrimônio ou ente queridos, pensam na morte como solução: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exaltarei no Deus da minha salvação”.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com

A Educação e a Fome

“O Homem não é nada além do que a educação faz dele”
Immanel Kant
Revisito hoje um artigo de oito anos atrás em que indagava como o famoso rock: Você tem fome de que? Educação, eu completo, além de comida... bebida, diversão e arte- que ainda é a resposta do verso. Faz parte- e pra ser feliz, devemos assim, compor um hino à qualidade de vida. Mas até para reconhecer isso e preciso de professor e escola de qualidade. Sem eles não se tem a luz. E claro, depois vem a comida. É esta nossa fonte de sobrevivência, além de cultura e prazer, mesmo quando não se pode comer um macarrão com molho de tomate da mama aos domingos, por causa da inflação dilmista. Contudo, ainda há falta de alimento para bilhões de pessoas no mundo, e para milhares aqui ao nosso lado. E se não bastasse essa ausência de “fome zero”, a realidade nos remete para intoxicações e contaminações de alimentos diariamente, pelo abuso no uso de agrotóxicos que fazem do Brasil o maior consumidor mundial desses venenos, além do paradoxal desperdício, que em alguns itens chega a mais de 50% entre o produtor e a nossa mesa, haja vista as perdas da maior safra de grãos de nossa história, derramada pelas estradas engargaladas, contaminadas em caminhões, num atentado à ciência logística e ao bom senso.
  Bem dizia meu avô: “bicho de goiaba é goiaba”. Mas no tempo dele não se derramava tanto veneno de avião. Hoje quando vejo um bichinho desses, sorrio e aprovo a fruta porque como indicador biológico, ele me passa a mensagem: ”Se eu sobrevivi, você sobreviverá também”. 

Quanto à bebida, por exemplo, endemicamente temos casos de Mal de Chagas registrados principalmente no norte e nordeste em bebidas como o açaí e caldo de cana, e todas as vezes que há este tipo de ocorrência, um sem número de sub notificações acontecem, ou seja, muita gente adoece ou morre, sem que a autoridade sanitária tenha o registro correto da causa.

O que dizer da diversão e arte? Dar risadas ,estudos comprovam, são um antídoto pra depressões a e a falta da libido, além de grande aliado na higidez do corpo contra doenças.Mas o que o cenário artístico e cultural de uma cidade do interior como Uberlândia oferece? Quase nada! Daí a se louvar a proposta da terceira conferência municipal de cultura do novo governo-ainda uma promessa- para diagnosticar a fome de cultura e lazer em nosso povo, que deveria consumir cultura e arte, como se come arroz com feijão e se bebe caldo de cana. A grande sacada dos americanos para dominar o mundo foi o paraíso dos filmes de Hollywood. Hitler até tentou com museus, artistas, e música clássica de Wagner. Quando não se conquista pela força, se chega a bastiões antes inacessíveis de uma nação pela estratégia do conhecimento, da cultura e da arte. Viva Bibi ferreira que estreia na Broadway aos 90, levando nossa cultura e arte ao mundo. Precisamos das milhares de Bibi que estão sem brilhar ainda.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com

Ensaio Sobre a Cegueira

“Enquanto esse velho trem/ atravessa o pantanal/.../ rumo a Santa Cruz/ de La Sierra
Cancioneiro popular

Saramago escreveu e Fernando Meireles levou para a telona, algo que ao longo da história somos protagonistas, muitas vezes testemunhas: a cegueira coletiva a depender dos olhos de poucos, como visão. Dar esse poder a alguém, de enxergar por nós é complicado. Porém situações, doenças coletivas da alma e do corpo nos levam a isso. Fome, Carências, ilusão por prestígio e dinheiro são algumas delas. O fascínio por lideranças carismáticas e fascistas é outra. Enquanto wall street se desmancha na esteira da quebra do quarto maior banco de investimento americano- o Lehmon Brothers, a marcha da insensatez bolivariana de Evo Morales insuflado por Chavez, divide a Bolívia em duas nações em guerra: A dos índios cocaleiros pobres contra as províncias que produzem a maior parte do PIB daquele País. FHC afirmou em entrevista recente, que o maior desafio de um governante é liderar de forma a não dividir um povo em facções que possam brigar entre si, causando destruição de culturas e ou atrasos no desenvolvimento de países e do mundo. Concordo plenamente. A falta de sabedoria de alguns líderes americanos do passado levou à tensão contra o mundo islâmico, que derrubou as torres gêmeas há sete anos. A falta de visão e despreparo de Jango para assumir o espólio de Vargas nos legaram 21 anos de escuridão na ditadura.
  Apesar de constantes avisos de especialistas sobre a política monetária frouxa do FED-Banco Central Americano, sob os estertores do mandato de Alan Greespean, construiu-se um castelo de cartas de créditos podres do financiamento imobiliário chamado subprime, que acaba de causar a maior crise financeira desde 1929, assolando os EUA, Europa e Ásia. Outras bolhas aconteceram. Quem não se lembra da insustentável leveza da “nova economia” das ponto com? Ou, recorrendo aos escritos de John Galbraith, da crise das tulipas na Holanda do século 17, quando uma tulipa vermelha chegou a valer 17000 euros em valores de hoje?
Os extremismos são os mesmos, incorporados que foram por líderes de pouca visão, levaram milhares de cegos ao desespero e à morte por suicídio. O próprio Galbraith afirma que a fé no mercado livre é algo irracional, o que é validado pela segunda feira negra-15/09/2008 - que obrigou o FED a injetar no mercado 700 Bilhões de dólares - quase o PIB do Brasil e ainda assim não resolver a crise. Socializou-se o prejuízo de banqueiros especuladores alavancados (o L. Brothers tinha US$20bi em ativos e US$600 bi em obrigações), que sempre pregaram remédios amargos para quem, dos pobres e em desenvolvimento, procurava suas casas de crédito. A fé cega no mercado está morta.
 Daí, outro líder aqui no Brasil vem a público dizer aos cegos da planície que nada acontecerá conosco, que somos uma ilha de prosperidade, tudo para eleger seus candidatos a prefeito? Hipócrita! Temos de colocar, isso sim, as barbas de molho. Acender todas as luzes amarelas. Cortar os excessivos gastos públicos – segundo o IPEA de cada 3 reais arrecadados só 1 é aplicado em seus fins. E Rezar. Rezar muito para que a china não seja contaminada pela crise ao ponto de deixar de comprar nossas commodities. Finalizo acreditando que ao compartilhar com vocês leitores, esta análise, deixamos todos de ser candidatos à cegueira que nos espreita.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

Cultura e poder nas organizações

“Valores transcendentes como a confiança e a integridade, traduzem-se literalmente em receita, lucros e prosperidade” Patrícia Aburdene

Nos últimos 10 anos orientei 6 mestres, 12 especialistas, além de 14 TCCs de graduação em Administração e Engenharia, além de participar de outras 20 bancas  de especialização como convidado. Fico feliz de participar deste momento singular na vida dos alunos que ajudo a formar. Como coordenador do curso de Pós Graduação em Gestão de Pessoas da UNIMINAS, já na quinta turma, sou convidado com frequência, como anteontem, quando estive na banca da aluna Ariadney Ferreira, orientada pela professora Luciane Grispe, no trabalho intitulado: “A Relação entre a Cultura Organizacional e o Poder nas Organizações”, e lá pude dar o primeiro dez em dez anos nesta atividade. E explico porque: Uma pesquisa bem feita em um assunto de suma importância e que cada vez mais necessitamos conhecer, para entendermos melhor a funcionamento das organizações. A autora demonstrou a hipótese de que a cultura organizacional influencia no tipo de poder exercido por seus gerentes. Afinal perguntaria o leitor, o que é cultura organizacional? E o que entendemos ser o poder? Na brilhante apresentação, vimos que várias palavras e/ou o conjunto delas constrói o conceito de cultura Organizacional: Identidade, costumes, normas, valores, políticas e artefatos (a parte tangível da organização). Já o poder, da mesma forma pode ser formal (coercitivo, de recompensas, de legitimidade, de referência ou de informação) ou pessoal (carismático, de talento, de perícia ou de referência - alguém que é um paradigma).
Todo trabalho científico precisa de um cuidado especial com a metodologia a ser usada, para atingir resultados. Ao investigar esta correlação, a aluna usou dois métodos já validados em muitas pesquisas anteriores: o método da abordagem que parte de teorias e leis de Gestão de Pessoas, e os métodos de Procedimento, que são o histórico, o comparativo e o estatístico, além da aplicação no campo, dos instrumentos: Escala de valores de TAMAYO (para medir a cultura organizacional) e a Escala de Poder do Supervisor de MARTINS e GUIMARÃES (para medir o poder).
Sei que artigos científicos não dão Ibope, mas é com a aplicação deles que caminhamos para um estado de bem estar social. Quando conseguimos aplicar os resultados de um trabalho como esse, na produção de bens e serviços, a prosperidade aumenta. E os resultados do trabalho apontam para a correlação positiva entre o poder e a cultura. Os talentos humanos participantes da pesquisa, vêem a empresa de forma hierarquizada e dominante, e o poder exercido pelos chefes como aquele baseado pelo conhecimento técnico. Nada mal, haja vista a notória especialização do setor pesquisado. Mas o que deve chamar a atenção é que a cultura organizacional, as competências e os resultados-lucros e dividendos, estão alinhados no mesmo vetor, agora desnudado. Logo entender a cultura e o uso do poder nas organizações, nos ajuda a trabalhar melhores instrumentos de construção da competência empresarial, adequada a cada empresa, e que gerarão os melhores resultados a curto, médio e longo Prazo. Parabéns à aluna e sua orientadora.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

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Crescimento x Desenvolvimento

“Nenhum cavalo chega a lugar algum antes de ser domado[...] Nenhuma vida se torna grande antes de ser focada, dedicada e disciplinada” Henry E. Fosdik

Seria o crescimento sustentável uma utopia? Alguns cientistas e economistas dizem que sim. Segundo eles basta olhar para a quantidade de países sub-desenvolvidos ao longo de séculos, e comparar com o baixo número de povos desenvolvidos, para comprovarem sua hipótese, logo apregoada como tese. Na década de 70 esses “think thanks” achavam que era melhor o PIB crescer para depois fazer a distribuição de renda. Aqui tivemos um porta voz deles no poder de triste memória, durante a “dita branda” para alguns, e ditadura para mim: o Delfim Neto, que hoje pensa diferente, mas deixou com sua longa gestão na economia, um rastro de pobreza e desigualdade neste País, esta sim uma herança maldita e filha daquela teoria maluca.
Hoje existe uma corrente que, guardadas as devidas proporções e o distanciamento pelas circunstâncias, prega algo similar. Segundo esses formuladores, um país degrada o meio ambiente até que a curva de ascensão de seu PIB chegue a 8000 dólares per capita. Então bastaria crescer para que tudo se resolvesse no âmbito da gestão ambiental? As evidências do aquecimento solar, e da exposição a produtos perigosíssimos cujos antídotos sequer conhecemos, provam quão frágil é esse argumento.
A desilusão com o desenvolvimento no entanto, tem alguns pontos que merecem análise: quem disse que o modelo de desenvolvimento americano e europeu é o melhor para a África, América Latina e Ásia? Ao invadirem culturas e destruírem formas de produção, criam necessidades absurdas para a população, só vista como mercado de consumo. Este modelo ainda “exporta” a degradação ambiental das águas, solo e ar, além de trazer doenças novas, cujos remédios devem ser comprados de indústrias de medicamentos oriundas de lá, o  que só repete o círculo vicioso de dependência.
 A recente quebra de bancos americanos soou como música aos ouvidos de parte de pensadores de esquerda, que colocaram lupa nos bônus ganhos pela elite mundial gestora deste modelo, antes da queda do sistema, e mesmo após o dilúvio, se deixassem - caso da seguradora AIG que praticamente repassaria a seus gestores, toda ajuda dada pelos EUA à instituição em dificuldades, cerca de 170 milhões de dólares. Pergunto: se fazem isso com o contribuinte americano, o que não fariam conosco e demais colonizados do mundo “globalizado”?
Um economista paquistanês ficou intrigado nos 30 anos que serviu a ONU e ao Banco mundial, com a falta de indicadores adequados para medir o crescimento sustentável de países. Só havia o PIB per capita, que considera a média da renda, que no caso do Brasil, somaria os 7 bi de dólares de Eike Batista com os 100 dólares da bolsa esmola de milhões. O cientista criou então o IDH- índice de desenvolvimento humano, que se alicerça sobre três bases: a taxa bruta de matrícula escolar, a longevidade e a renda per capita. Este índice é imbatível em termos de medir o desenvolvimento, e ele varia de 0 a 1, e quanto mais próximo de 1 melhor a qualidade de vida de um povo.
Finalizando, acredito em desenvolvimento sustentável. No papel do estado como regulador da economia e da livre iniciativa. E principalmente na educação como motor deste desenvolvimento com foco em pessoas.

José Carlos Nunes Barreto
Professor-doutor

debatef@debatef.com 

Câncer de mama: uma epidemia

 Em setembro, junto com a chegada da primavera, percebi que, paradoxalmente, um inverno se pronunciava: outra crise na saúde pública do País. E não se tratava de algo conjuntural, mas de um esgotamento do modelo de geração de riqueza, que além de excluir e gerar desigualdades de todo tipo, gera câncer. Simples: o modus operandis do ter e acumular riquezas para as 20000 famílias que mandam no Brasil(de acordo com o IPEA), não respeita limites naturais, quer sejam os ambientais ou sociais. E existe uma relação biunívoca entre câncer e poluição, câncer e degradação ambiental, câncer e grandes empreendimentos com baixa sustentabilidade sócio-ambiental. Mais uma vez fica comprovado, que a parte mais frágil da sociedade brasileira paga o preço do que Michael Lind cunhou de brazilinização: as mulheres negras e com baixa escolaridade, são as que mais morrem por não conseguirem o diagnóstico a tempo de se tratarem, em hospitais públicos, onde se leva até seis meses para se conseguir uma biópsia, e até um ano para se fazer um tratamento, isto, quando não são enganadas pela falta de equipamentos e profissionais treinados, como protesta a Sociedade Brasileira de Mastologia.
Li os tópicos principais da dissertação de mestrado sobre o assunto –“Sobrevida em cinco anos e fatores prognósticos em mulheres com câncer de mama em Santa Catarina”. Ela foi defendida pela fisioterapeuta Joyce Ceola Schneider na UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina, e seus resultados decretam que, o diagnóstico de câncer para mulheres jovens, não brancas e analfabetas, é uma condenação de morte em até 5 anos.
Na verdade o que é comum, onde se tem uma saúde pública medianamente adequada, mesmo em países muito mais pobres que o Brasil, é tratar o tumor na sua fase inicial, ou seja, menor que 1cm e com chance em torno de 100% de cura. Ocorre que, devido às piores condições sociais das pretas, pobres e analfabetas, há falta de acesso ao diagnóstico, à informação correta e ao tratamento, pois só podem usar os hospitais públicos com suas filas intermináveis, seu despreparo técnico e de pessoal, além do comum frio descaso, com que são tratados os negros, pardos, e indígenas neste País.
 Na pesquisa de Schneider, que catalogou prontuários de 1002 mulheres com informações abrangendo 5 anos, em 2 hospitais públicos, menos de 50% delas, com idade inferior a 30 anos, sobreviveram após 5 anos.
Enquanto no mundo a mortalidade por câncer de mama está diminuindo, no Brasil ela está aumentando, reclamam os especialistas e ONGs envolvidas na ajuda a essa gente. Uma epidemia evitável se formou entre nossas jovens não brancas, e um modelo que se esgota, tira vidas preciosas que farão falta ao Brasil do futuro – aquele com uma sociedade sustentável. Enquanto isso, o INCA-Instituto Nacional do câncer, estima que só neste ano, 50 mil casos de tumores de mama vão aparecer. Um tsunami cancerígeno, portanto, que atingirá milhares de famílias brasileiras. Não adianta pensar que não é com a gente. Concluo pedindo mobilização social já! Porque talvez muito perto de você, uma estrela negra pode se apagar para sempre.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

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Água Seis Sigma já

Domingo foi o dia mundial da água. E eventos em todo mundo marcaram a data, que no Brasil, com as raras exceções de sempre, passou batido, principalmente nas prefeituras que operam os sistemas de saneamento, incumbidos de gerirem a água potável, e que se caracterizam como um dos mais ineficientes e ineficazes do mundo, com perdas médias de 42%, e em alguns casos (10 empresas, segundo o Snis - Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento, por exemplo, no Piauí, Amazonas, Acre e Alagoas), desperdiçando mais de 50% do líquido antes que chegue à torneira do usuário, contra um benevolente indicador de no máximo 20% da ANA- Agência Nacional da Água.
O índice 20% já é um absurdo frente às perdas toleradas de outras manufaturas de no máximo 2%, sem falarmos nas excelentes que são seis sigmas e erram 3,4 erros por milhão de operações, o que representaria 0,00034%, e zeraria os vazamentos de água, utilizando uma já consolidada tecnologia de gestão testada com êxito em grandes empresas como 3M, NOKIA, TOYOTA, MARTINS entre outras.
A maioria das empresas está na faixa de 30%, caso da COPASA em Minas Gerais, que com esse índice joga no esgoto 777 milhões de litros de água/dia (só na capital BH 222 milhões de litros /dia), o que garantiria duas vezes o abastecimento da capital mineira em um dia. A ineficiência é por definição proporcionar um out- put, utilizando alta quantidade de recursos, quando comparado a um benchmark que gasta bem menos para atingir o mesmo resultado. Como não existe almoço grátis, quem paga a conta é o contribuinte, e a empresa quando não é monopólio, caso das operadoras de água, é descartada como fornecedora, por outra concorrente com melhores serviços e preços menores.
Há, no entanto uma preocupação maior, que foi desenhada nas conferências mundiais sobre o clima, que é o fato de cada vez mais bilhões de pessoas ficarão sem acesso à água potável neste século, e os números da OMS mostram que já hoje, em diversas partes do planeta a cada oito segundos morre uma criança por falta de água potável, o que equivale a 3 milhões de meninos e meninas mortos por ano.
É mandatário, portanto, criar políticas públicas para educar a população a melhorar o seu padrão de consumo, para evitar absurdos vistos todos os dias, por falta de conscientização. Mudar a legislação, focando no conceito de pegada hídrica (volume de água doce usado para produzir os bens e serviços consumidos por pessoa, empresa ou país), na taxação dos grandes consumidores que esbanjam. Por exemplo, para exportarmos 67,5 milhões de toneladas de grãos no Brasil, ano passado gastamos cerca de 70 bilhões de litros d’água. Como não se cobra eficiência também no uso, a irrigação perde, segundo especialistas, 50% do que aplica, com técnicas de inundação e por gravidade, já que poucos usam o gotejamento, mais eficaz indo ao ponto, e com baixo consumo de água, portanto eficiente.
Além disso, poluímos muito a água que usamos e não a reciclamos. Mesmo a água tratada, está cada vez mais insegura, pois as ETAS não dispõe de tecnologia para tirar alguns produtos químicos tóxicos e cancerígenos a taxas de 0,00000008g/l, como dioxinas e furanos, ou hormônios, ou qualquer outro produto perigoso criado ao redor do mundo enquanto você lia este artigo.

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

Epidemias

 “Toda idéia realmente nova, a princípio, parece loucura” A.H. Maslow
   
Muitas revoluções começaram por simples inovações. Imagine a pólvora na arte da guerra. Ou o conceito de “micróbio”, que explicou o mal dos pântanos. Muitas delas aconteceram por acaso, como a maçã na cabeça de Isac Newton, ou o priapismo - ereção involuntária acometida por certos pacientes - ao tomarem medicamentos com determinada fórmula, que estudada mais de perto, fez os cientistas criarem o fenômeno “a calda abana o cachorro”, ou seja, o princípio ativo, agora, deveria ser usado só para o efeito colateral, e estava criado o Viagra. Vilfredo Pareto ordenou dados estatísticos de modo a orientar, quem administra, sobre o que é mais importante. Alguns itens fazem você conseguir 80% de resultado com 20% de esforço. Estava criada a curva ABC, e os modernos conceitos de priorização de investimentos na administração pública e de empresas.
As vezes me pergunto como se prioriza 50 milhões de reais de gastos em um ano para um palácio (o do planalto) e se corta 20 milhões do orçamento destinado a erradicação da dengue no Rio de Janeiro. O fim, quero dizer o resultado para a Saúde, não seria o prioritário em relação ao meio, o palácio? O pior é que dezenas de vidas já se foram, e a julgar pelo andar da carruagem, infelizmente, muitas dezenas ainda irão. E haja estômago para ouvir políticos discutirem, se o mosquito é federal, municipal ou estadual. Ainda mais porque esta é uma epidemia anunciada. Outras virão, e os cientistas epidemiologistas já estão afirmando, que em 2009 outras cidades brasileiras passarão por este mesmo problema. Todavia, gostaria de inovar, caro leitor, no conceito de epidemia. Seriam os gastos inconsequentes privados (crise sub prime americana) ou de estado (cartões corporativos no Brasil), epidemias? Imaginemos que sim. Então poderíamos afirmar que teríamos milhares, talvez bilhares de vítimas, certo? Pois leio em manchetes: Milhares de empregos ceifados no mundo pela crise americana, que pode exigir aportes de até 1 trilhão de dólares, para não se tornar sistêmica. No estado de Minas, o governo Aécio gastou 60 milhões em diárias em 2007. Diárias são meios e não fins. Esse montante supera em 4 milhões o gasto na universalização do ensino médio. Quem são as vítimas? Você já sabe, é só visitar escolas e ver. Aliás, o ministro da educação já afirmou que o ensino médio é o elo mais fraco da educação no País. Outra epidemia. Escolas abandonadas, alunos idem. Evasão escolar. Professores desmotivados. Melhorou alguma coisa? Não sejamos xiitas. Claro que sim. Mas epidemia só nos permite apagar incêndio. E nada deve ser feito sem planejamento estratégico. Na era do conhecimento, como explicar que dos 24 milhões de jovens entre 18 e 24 anos no Brasil 82% estão fora das universidades? E dos 18% que estão estudando a maioria (75%) estão em escolas privadas e nelas,segundo o Instituto Educar, a inadimplência chega a 50%? Mais um dado estarrecedor nesta epidemia: Só 48 mil estudantes foram atendidos pelo FIES -Financiamento do ensino superior do MEC. Ou seja, com tanto dinheiro indo para o ralo, o principal, e mandatário não está sendo realizado. Uma última inovação: é mais barato criarmos um bolsa - político, mandar esse pessoal pra casa, e colocar administradores profissionais nestas áreas epidêmicas.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com