A Consciência Negra
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertolt Brecht
A propósito da vitória de TRUMP nos EUA, e o aumento dos ataques racistas em todos os cantos do mundo, me amparo nas palavras sábias e minha mãe: Por ser negro, vc precisa ser o melhor, meu filho, assim eles terão um dia que te reconhecer. Mais de 60 anos depois, tento ser o melhor em tudo, meus amigos me chamam de excessivamente competitivo. Foi assim na escola pública , na universidade onde cheguei ao pós doutorado, e nas escolas onde até hoje leciono. As perseguições e golpes baixos, sem razão aparente, como a que sofreu Michele Obama nesta semana, sempre são desferidas, rudemente, por quem ficou para trás e possui a pele e olhos claros, embora isso nada signifique no plano espiritual de Deus , de onde vem a nossa força...
Escrevo na véspera do dia nacional da consciência negra. Dia da morte de Zumbi dos Palmares, lider da resistência dos negros contra a escravidão. Que continua. Sob outra forma pior.E o IBGE joga luz no assunto: no racismo dissimulado que os números não deixam mentir. Como explicar que o aumento da escolaridade, possa elevar o fosso entre a renda dos pardos/ negros e os brancos? E que na média entre todas as faixas salariais os mesmos ganhem 51% dos salários dos brancos? Filho de pai branco e mãe negra, sempre me assumi negro. Até porque só isso podia explicar tantos nãos, ao longo da vida. Para um menino pouco quieto e perguntador. Para um jovem namorador, que acreditava no amor sem a barreira da epiderme. Para um velho professor, com 40 anos de experiência em salas de aula, ensinando tudo que sabia, não importando a cor de quem quer que fosse. Ultimamente na Pós Graduação da Academia, sem ver negros como seus alunos. Volto a afirmar: não se constrói uma nação desse jeito: A pobreza tem cor e é negra. E essa pobreza está sendo construída há centenas de anos, institucionalmente no País... Daí porque precisamos de outros Zumbis . Outra resistência, porque cerca de dois milhões de jovens negros, (até 22 anos)de baixa escolaridade, só entre o Rio e São Paulo, por não terem positivas lideranças, estão prestes a entrar nas fileiras do crime organizado,e aí sim, virão engrossar as estatísticas de mais morte entre jovens negros. Um verdadeiro genocídio. Ou adentrar em caras prisões, quando não tiveram, sequer, baratas escolas e mal pagos professores.
Entre aqueles que estão desempregados, diz o IBGE, metade são negros. E o poeta já dizia que” sem o seu trabalho , um homem não tem honra. E sem a sua honra, se mata .Se morre. Não dá pra ser feliz”. Principalmente porque, no bairro ao lado, a opulência afronta: carros blindados com segurança. Mansões , festas nababescas e escarnecedoras,( muitas delas feitas com desvios de dinheiro público) ,a que seus irmãos só tem acesso pelo elevador de serviço...Há uma mama äfrica - mãe solteira,pobre e sofredora, ao lado uma europa bem nascida.Duas nações superpostas no mesmo espaço físico. Claro que os negros estão por baixo. E não importa quão ricos e intelectuais eles sejam. Quão formosos e elegantes se apresentem.
Ações civis públicas contra o racismo expresso nestes números começam a romper o silêncio constrangedor, a que se referia Martin Luther King. A moderna escravidão a que estão sujeitos muitos dos irmãos pardos e negros, é a gerada pela falta de escolaridade na era do conhecimento. “O sol da liberdade em raios fúlgidos” é para esses brasileiros - é aprender a aprender. Para romper o dia de amanhã sem grilhões.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente de Academia de Letras de Uberlândia(ALU)
debatef@debatef.com
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