“Olha/ será que é estrela/ Será que é mentira/ será que é
comédia/ será que é divina/ a vida de atriz/ .../ se os pagantes lhe pedirem
bis/ .../ se eu pudesse entrar na sua
vida”. Do nosso cancioneiro popular
Li dias desses, de novo, a definição de
entusiasmo: na etimologia do grego, é ter Deus dento de você. E nem sempre isso
significa sucesso. Jacó teve entusiasmo mesmo com o corpo coberto de feridas.
Mandela passou vinte anos preso por acreditar em um conceito divino: a igualdade
entre os homens. Mesmo em masmorras, as frestas de sol irradiavam em sua alma, a
liberdade. Tantos heróis nos ensinaram. E é hora de exercitarmos as lições. A
censura do poder executivo federal chegou a vários órgãos de imprensa nacional.
O endividamento e a dependência econômica construíram a subserviência.
Entrevistas compradas. Notas para conspurcar governos e pessoas. Silêncios
reveladores. Ordens diretas do Ministério de comunicação calam colunistas. E
nomes famosos como o âncora da Record. No âmbito municipal, colunas são
excluídas por criticarem ações na área de saúde e a falta de transparência com
o dinheiro público. A ditadura do pensamento único já está aí. Stalin, Hitler, Mao
tsetung e Fidel Castro, fazem escola. Muitos se perderam no caminho. Milhões
pagaram com a vida por cometerem o delito de opinião. Antes disso, todavia, apagaram a chama
interior da indignação. Ou se quedaram na indiferença a que o apóstolo Paulo
cunhou como morna, “nem fria nem quente, por isso a vomitarei”. Hoje é nauseante
também ver a intelligentsia nacional, ora se calar, ora vender suas
consciências ao governo de turno. Para que serve um intelectual assim?
Na classe artística, pessoas antes
comprometidas com a ética na política, agora relativizam princípios. E valores.
Termos chulos e mal cheirosos são utilizados para definir a real politik. Lamentável.
Estamos ainda vivos e cercados por um vale de ossos secos. Como ainda ter
entusiasmo? Contudo me socorro em dois paradigmas. Na classe artística, o
manifesto divulgado na internet, pela cantora mineira de Juiz de Fora, Ana
Carolina, da canção em epígrafe, quando diz que aprendeu desde pequena com seus
pais a não matar, não roubar. Devolver o lápis que não era seu. Pedir desculpas
ao colega depois de uma falha qualquer. E a não se conformar com os atuais
escândalos da república. Aprendendo, com o olhar marejado, a vislumbrar frestas
de luz, na sociedade. O outro paradigma eu leio em Ezequiel 37. O profeta
estava como muitos de nós. Sem entusiasmo. Tudo cinza em volta. Só ele vivo. No
meio de um vale de ossos secos. Deus ordenou que profetizasse para aqueles
ossos secos. E ele obedeceu. Teve fé. E logo em seguida as escrituras relatam
que os ossos começaram a se levantar, nervos foram criados, carnes, sobre os
ossos, e o sopro do espírito fez surgir um exército exuberante, excelente e
pronto para as batalhas que se impunham.
Talvez você não creia no sobrenatural,
sequer no intangível. Mas aprenda com numa canção de Geraldo Vandré - que em
1968 sacudiu um regime ditatorial do Brasil com seu verso: “Esperar não é
saber/ Quem sabe faz a hora não espera acontecer”.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debafef.com
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