segunda-feira, 14 de março de 2016

Negros: A pobreza Brasileira


Ano passado, em outubro, escrevi sobre o impacto que até hoje nos afronta, da sombra de 400 anos de escravidão. Citei o professor Adalberto Cardoso, do IUPRJ, que revisitava a história social do trabalho na Nação, em publicação intitulada “Escravidão e sociabilidade capitalista: um ensaio sobre inércia social”. A ocasião da comemoração do mês da consciência negra me faz voltar ao tema, e peço licença ao leitor amigo para tecer alguns comentários amadurecidos desde então, na posição de ascendente nascido após a libertação formal da escravidão - já que a informal persiste sob a forma de baixa escolaridade e, além disso, na baixa qualidade de vida em meio a esgotos - pois a esmagadora maioria das cidades brasileiras sobrenada sobre eles - onde os mais desfavorecidos adoecem por doenças evitáveis e vinculadas por este ambiente.

Não é difícil, para os afro-brasileiros, constatarem as conclusões do artigo citado, quais sejam, vivemos numa hierarquia social de grande rigidez caracterizando um “aphartheid tupiniquim”, e a dificuldade de que gerações sucessivas tiveram, e ainda tem, para se livrar deste paradigma, que contribui para uma imagem depreciativa do povo, cuja autoestima está melhorando, mas as realidades dos números no censo de 2010, não nos deixa sonhar. Eles mostram novamente uma sofrida áfrica sob os descendentes de anglo saxões e ibéricos, onde os salários dos negros e pardos são em média 50% menores, e a escolaridade é bem menor, sem perspectivas de mudança deste quadro nos próximos 30 anos, a não ser que façamos uma revolução educacional e sanitária neste país. Enfim, a realidade nos mostra que a pobreza brasileira tem cor: ela é negra, e faltam líderes negros no Brasil para enfrentar esta realidade e a esterilização de consciências desta maioria - que consiste em formatar a pior escravidão possível em tempos modernos qual seja a permanência na exclusão digital (em plena primavera árabe) e na dependência de “beber” o cálice venenoso da informação postada por cerca de 20 famílias brancas da elite brasileira, que escolhem o que essa massa vai saber ou não, nos “jornais nacionais” da vida.
    
Nos anos 50, os capitais liberados pelo café, financiaram a consolidação do capitalismo. Observou-se um mercado de trabalho desigual, caracterizado pela lenta incorporação dos negros e seus descendentes, apesar da distante ordem escravocrata. Atualmente alguns traços de violência, absorvidos ao longo do tempo pela sociedade do trabalho brasileira, cunham o termo “escravos modernos”, no cenário em que “senhores” mantêm coletividades inteiras de escravos, e nossos fiscais do trabalho “ousam” libertar tais vítimas da escravidão, que hoje também são brancas.
Muita gente, inclusive este autor (mea culpa), critica as ações diferenciadas para negros - por exemplo, as cotas nas universidades, todavia, este povo merece uma reparação, da mesma forma como acontece após longas guerras onde crimes são cometidos. E o maior crime perpetrado contra a comunidade negra foi e continua sendo sua ausência compulsória em escolas sejam elas básicas, de ensino médio ou na universidade. Por isso minha dedicatória no e-book de doutoramento, disponível em www.teses.usp.br: “À comunidade negra do Brasil, pelo espírito de luta contra o maior período de escravidão jamais visto: da senzala à exclusão social e ausência compulsória na Universidade Pública do País”.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário