domingo, 27 de março de 2016

“As pessoas em primeiro lugar”



Relembrando e adaptando 10 anos depois o artigo

“A ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado” de Amartya Sen e Bernardo Kliksberg, da editora Companhia das Letras, é o livro que recomendo para os presidenciáveis, e todos os cidadãos interessados em debater os temas candentes do País para os próximos 20 anos, tendo como foco a ecologia humana - a sustentabilidade nas ações, e no planejamento voltado para atender  homens e mulheres, como centro das atenções de governantes. Nele, os autores pretendem combater o descaso do poder público, responsável pelo aumento assustador da desigualdade, que atinge amplos setores sociais no mundo, notadamente na América Latina, a mais desigual das regiões - onde jovens, negros, indígenas e mulheres, são os mais atingidos por ações de políticas públicas reféns de uma cegueira social, que explica, desde o  aumento da mortalidade infantil, ao empobrecimento generalizado da classe média argentina após a crise de 2001, e a devastação do pós Kichnerismo, passando pela drástica diminuição da expectativa de vida dos homens negros, habitantes das periferias das grandes cidades brasileiras, mortos, a maioria ainda muito jovens, na guerra urbana patrocinada pelo tráfico de drogas. Todas as informações foram retiradas de um impressionante arsenal de dados estatísticos, que são contrastados  com a realidade sócio cultural de cada país e região do mundo.

Chama a atenção, os dados de segurança  urbana, pois, segundo a Organização  Pan-Americana de Saúde, um índice normal de criminalidade, se situa entre zero e cinco homicídios a cada 100 mil habitantes por ano. Tal situação pode ser tratada com os instrumentos convencionais. Segundo os autores, quando o índice está acima de oito, estamos diante de um quadro de criminalidade epidêmica - caso de Uberlândia, de Minas e do Brasil: uma tabela mostra estes dados em vários países da região, onde focamos o Brasil (em 1980, 11,5 homicídios por 100 mil habitantes.; em 2006, 31 homicídios para cada 100 mil habitantes, hoje acima de 35), ou seja: mais que triplicamos a taxa de homicídio em   de quatro décadas, uma média de homicídios que é o dobro da média mundial. Como nós vivemos nas cidades, é nelas que sentimos a insegurança e o medo, intangíveis, embora tropecemos no tangível: as perdas de vidas humanas além das materiais, segundo estudiosos, (10,5% do PIB), e esta é, a meu ver, a agenda para as próximas décadas. (No Brasil, o estado de SP saiu de 33,15 para 10,08 mortes violentas por 100 mil habitantes nos últimos 10 anos-Um benchmarking).

As ações que tomarmos agora poderão nos aproximar, por exemplo, do Chile (5,4 hom./100 mil hab.) ou do Uruguai (5,2) e nos tirarão, por exemplo, da inaceitável companhia da Colômbia (40); Área andina (45,4) e El Salvador (43,4)- Hoje ao lado da Venezuela, acima de (60), as mais violentas sociedades da América latina, onde o Brasil possui 25 cidades, entre as 50 mais violentas do mundo, com índices como o de Parati-RJ (60).

Portanto não dá para deixar passar despercebido o cutucão do candidato Serra em Lula e Morales, ainda no debate eleitoral 2006: O boliviano aumentava em seu governo a plantação de coca, cuja produção (90%) é dirigida ao Brasil. Lula, então presidente brasileiro fingia não ver, e deixava as fronteiras que nem peneiras (como ainda hoje - com Dilma e seu defunto lulopetisno uma década depois) e sem a devida atenção  de patrulhamento, não evitando a invasão de narcotraficantes do país vizinho. Via de consequência, aonde chega a cocaína, se estabelece um rastro de morte e destruição. Em virtude do exposto, não pudemos concordar com Marina Silva, quando saiu em defesa do governo Lula de então: Não é por ser um índio, que o Sr. Morales não deva ser cobrado assertivamente.

Infelizmente, ele é o chefe de um narco – estado colado ao nosso País, e uma gestão adequada pelos padrões da ONU, deste item lá, significa uma questão de sobrevivência para milhares  de pessoas aqui, nesta sofrida e, agora paralisada Nação.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia (ALU)
debatef@debatef.com

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