domingo, 21 de junho de 2015

Estava Escrito


“ Amor da minha vida /Daqui até a eternidade/Nossos destinos/
Foram traçados/Na maternidade”(Cazuza)

Dois mistérios me fascinam. Sim, dois entre muitos: O cumprimento de profecias e a essência do amor. E de repente lendo as Escrituras Sagradas, descobri que são dons espirituais. O destino que às vezes maltrata, e outras vezes dá alegrias, pode ser previsto por profetas. Alguns ainda estão entre nós. Outros já se foram, e anos depois seus oráculos são desvendados um a um para espanto  dos incrédulos. As profecias são segundo Paulo, aos Corintios, recomendadas como um dom superior e devem ser buscadas porque edificam a igreja. Conheço pessoas com o dom de antever desastres. Sonham e interpretam sonhos que são avisos. Profetas modernos, os cientistas John Naisbitt e Patrícia Aburder publicaram pela editora Amana Key o livro “Mega Trends 2000 : Revelando As Mega Tendências do Séc XXI”. Ainda na década de 80. São elas:*a economia global em explosão a partir dos anos 90;*Um renascimento das artes;*A emergência do socialismo de mercado;*Estilos de vida globais e nacionalismo cultural;*A privatização do Well Fare State;*A ascensão dos países do Pacífico;*A era da biologia;*A década das mulheres liderando;* O renascimento religioso no novo milênio; e *O triunfo do indivíduo.

Contudo sigo as orientações de Paulo no cap.13 aos coríntios. Dentre todos os dons, o de suprema excelência é o amor, cujo poema na íntegra foi popularizado na música de Renato Russo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa, ou como o sino que tine (vazio)”.

E ainda que tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda ciência, e ainda que tivesse tamanha fé que transportasse os montes para o mar (poder ilimitado), se não tivesse amor nada seria.

E ainda que distribuísse toda minha fortuna para o sustento dos pobres (Extremo da responsabilidade social).E ainda que entregasse meu corpo para ser queimado(mártir por causa nobre),se não tivesse amor nada disso me aproveitaria.

O amor é sofredor, é benigno, não é invejoso; O amor não se porta com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (suprema utopia de que carece a humanidade).

O amor nunca falha, mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas cessarão; havendo ciência, desaparecerá.

Este hino ao amor estava escrito em pergaminhos. Hoje poetas modernos o fazem em blogs, Okuts e acordes. Como Nelson mota na canção cantada por Lulu Santos: ”Não existiria` som senão/Houvesse o silêncio/Não haveria luz senão/Fosse a escuridão[...] Eu te amo calado/Como se fosse uma/ Sinfonia/De silêncio e de luz.

Ou Carlos Rennó: “Signo do destino/que surpresa /Ele nos preparou/meu amor nosso amor estava escrito nas estrelas/ Tava sim. Para os críticos deste estilo, poderia parafrasear Vinícius de Moraes: “Canto porque o momento “exige” e minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste. Sou poeta”. Vivendo um grande amor há 31 anos, homenageio minha mulher Maria Terezinha.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com


Fome


Você tem fome de que? O  rock pergunta. Além  da comida... bebida, diversão e arte, ele mesmo responde, compondo um hino à qualidade de vida. É claro, tudo começa com a comida. E esta é fonte de sobrevivência, além de cultura e prazer, mas há falta dela para bilhões de pessoas no mundo, e para milhares aqui ao nosso lado. E se não bastasse essa ausência de “fome zero”, a realidade nos remete para intoxicações e contaminações de alimentos diariamente, além do paradoxal desperdício, que em alguns itens chega a mais de 50% entre o produtor e a nossa mesa.
Quanto à bebida, recentemente 29 casos de Mal de Chagas foram registrados em Santa Catarina. Desses 20 e tantas pessoas morreram infectados após consumir caldo de cana em um quiosque. Outros 29 casos de Mal de Chagas foram registrados em Macapá e de novo  dezenas de pessoas faleceram infectadas após consumir suco de açaí em um bairro de periferia.Observações:1)todas as vezes que há este tipo de ocorrência  um sem número de sub notificações acontecem, ou seja muita gente adoece ou morre, sem que a autoridade sanitária sanitária tenha o registro correto da causa.2)adoro caldo de cana com limão, e suco de açaí com laranja. Terei sede deles por um tempo até ver como caminham as pesquisas sobre estas contaminações com o Tripanossoma Cruzi.

E não é só isso. Ainda há o caso do Sashimi, que aprendi a apreciar em minhas viagens ao oriente. O peixe cru lá parece saudável. As pessoas o comem a vida inteira e morrem aos 100 anos de velhice. Aqui o vilão é o Salmão chileno parasitado pelo “diphyllobothhrium Latum”, um verme de peixes cuja presença não era conhecida em nosso meio. A ANVISA publicou regras para o consumo de salmão: - 20graus C por 7dias ou –35 graus C por 15 horas para garantir a segurança. A faculdade de Saúde Pública da USP, decreta: “O melhor é não comer peixe cru”- fome de Sushimi-as geladeiras da maior parte da população só chegam a –6 graus C e a cadeia deste suprimento é muito longa e dá chances de contaminação em muitas de suas fases. Pesquisa desta Faculdade em 30 pontos de venda do produto, mostrou que 100% não tinha refrigeração adequada para armazenar o peixe. E pior 66,4% das amostras apresentavam coliformes fecais, sendo que 16,7% delas possuíam índices acima do limite aceitável pela legislação.

Você já ouviu falar naquela tal festa em que 100% das pessoas que comeram maionese tiveram problemas gastro intestinais?-fome de maionese. Ou das 63% das amostras de morango (lindos!!) analisados pela vigilância sanitária de SP e que continham excesso de agrotóxicos(que no longo prazo causam câncer)?-fome de morangos.

Bem dizia meu avô: “bicho de goiaba é goiaba”. Hoje quando vejo um bichinho desses, sorrio e aprovo a fruta porque como indicador biológico, ele me passa a mensagem :”Se eu sobrevivi ,você sobreviverá tambem”.  E concluo, próximo da hora do almoço, analisando dados da pesquisa da Faculdade de Saúde pública da USP em “Self Sevices” da cidade de SP entre 14 e 15 horas:80% estavam impróprias para o consumo por falta de BPF-boas práticas de fabricação e manipulação inadequada. Seria diferente em Uberlândia?-fome de arroz, feijão, bife e salada. Para ser feliz como prescreve o rock, está mais fácil procurar diversão e arte, e relativizar a fome(e a sede)!

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

Debatef@debatef.com

Gestão Educacional



“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito. É um hábito”. Aristóteles

Costumo dar aulas parra 20~30 alunos. Porém quando escrevo um artigo( e fico feliz  por você me honrar com esta leitura) ,no mínimo 5000 pessoas podem lê-lo, e também aprender alguma coisa. E isto é maravilhoso. Hoje, mais uma vez vou abordar uma ferramenta da qualidade que está fazendo falta nas escolas do Brasil e também na gestão de seu espaço aéreo em pleno apagão: o ciclo PDCA ou roda de Deming.-primeiro planejar, depois realizar o que planejou ,checar (ou auditar) e por último agir para melhorar por meio de plano de ação. Trata-se de uma ferramenta, que se usada, proporciona melhoria contínua nos processos. O que é um processo? é uma sequência de passos para se obter um bem ou serviço de acordo com a especificação da parte interessada - o cliente. Quando se faz um café para as visitas, pode-se ilustrar muito bem o que é um processo. Primeiro coloca-se a água no fogo. Mas que quantidade? Depende do número de pessoas. Usa-se este indicador para não haver desperdício de água, pó e energia. Desperdiçar para quê? depois de colocar a quantidade exata de pó, despeja-se a água quente sobre o mesmo. Servir quente. Um belo sorriso de anfitriã (o) completa o processo.  Que é um sucesso em fito ativos, pois fazem o papo seguir lívido e o relacionamento quente como o café servido.

O número de escolas particulares superiores e médias no Brasil cresceu exponencialmente com a entrada de jovens brasileiros em busca do conhecimento. E isto é uma coisa boa. O que não é bom é a crise que se avizinha em virtude da má gestão e da mudança de perfil dos alunos-agora muito mais pobres e sem condição de pagar os 100 dólares mínimos exigidos de mensalidade. Uma série de fusões está sendo esperada. Muitas instituições deixarão de existir e colocarão a culpa na inadimplência. Mas como explicar que para algumas empresas educacionais ela está na ordem de 0,3~0,8% e em outras em 10~30%?Como qualquer empresa de varejo, elas deveriam “pesquisar o cliente”. E não é o que vem acontecendo no segundo caso. A realidade do mercado fará o ajuste. Demissões em massa de mestres e doutores assim que os cursos forem reconhecidos pelo MEC. Um verdadeiro desperdício de capital humano. Mas o que fazer? Os salários representam até 60% dos custos. Se somarmos cerca de 25% de impostos, sobram 15% para serem  gastos com investimentos e  despesas correntes, e se há inadimplência  esta conta passa em muito de 100%.Dívidas trabalhistas  completam o quadro desolador. Um verdadeiro desastre como o do legacy- gol. Mas também didático para evidenciar que não adianta fazer aeroportos bonitos, escolas idem,  sem considerar uma parte crucial na gestão : o planejamento estratégico. E a exemplo das empresas de varejo ( 500) que pesquisamos pelo SEBRAETEC-expansões são feitas , sem cuidar do capital humano, do clima organizacional. De que adianta estes impecáveis aeroportos, se os operadores estão em frangalhos? E estas escolas de prédios pomposos, se a alma delas -os professores e os alunos( a parte interessada) estão insatisfeitos ?Um tsunami vem aí. É  preciso estar em lugar alto.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

Namorados


Há poesia no olhar. Um certo clima . De algo novo como criança. Doce como a esperança. Coração pulando a mil. Que faço para expressar meu amor? Flores nem pensar, isso já faço sempre. Em dias especiais, como o dia dos namorados, presentes devem ser especiais. Talvez um jantar, quem sabe uma poesia... mas, e se a  rima não for rica? E se as palavras não saírem? Hoje acordei assim: encantado com o amor. Duas vidas, um homem e uma mulher, que antes nunca se cruzaram, de repente, ao gatilho do olhar, se juntam, e para isso movem terra e mar, e passam a correr lado a lado  como “as marcas dos pneus na água da chuva ”.Que também é romântica. Nada melhor do que chover em eventos importantes. Início de namoro, casamento, no reencontro depois da briga....É como o ungir sobre nossas cabeças, da benção do Pai das Luzes, quem sabe o prenúncio do florescer que ela representa...

Namorados há que são lúdicos. Brincam o tempo todo em seu estado de graça. Casais românticos, dizem que são poucos, não acredito....vejo-os por toda parte. Acho sim que são loucos, como diz a música do Chico César. Por isso não há como seguí-los completaria Salomão em Eclesiastes. Faço gosto do meu amor. porque contém tudo isso. Mesmo tantos anos depois do primeiro beijo, não conseguimos ficar longe um do outro. É a mística de Vênus. Às vezes uma paixão tipo terremoto de sete graus na escala de Richiter, outras vezes um gostar doce e calmo como as águas puras e borbulhantes de uma nascente. Que um dia será um forte, caudaloso e revolto rio.
Sorrio quando lembro de nossas viagens, de nosso amanhecer juntos, e de nossos cafés da manhã aos domingos. Quer coisa pior de que uma manhã de Domingo longe de casa, e/ou brigados/separados? Como bem ilustrou uma nova compositora do nosso cancioneiro popular ao descrever o desespero da solidão de quem ama e se vê nesta situação sem volta: “ Vou bater na tua porta completamente  nua, quem sabe então assim, você repara em mim”. Desespero faz  parte.” É paixão, é amor”.

Se você não tem um amor, arranje um. Há sempre um chinelo que se adapte um pé descalço e carente, filosofava com sabedoria meu saudoso pai. Mas se após muitas tentativas, nada deu certo. Relaxe. Ande na chuva. Leia poesias. Cante uma canção. Normalmente o amor chega nestas horas, e se apresenta de formas imprevisíveis para quem está fértil e pronto. Às vezes  aparece  uma pessoa que sempre esteve do seu lado, e que por não estar preparado pelo “cupido “você nem a via com sob este olhar mágico. Ou, supremo prazer, um velho romance antigo que não deu certo, agora se apresenta no “palco de ilusões” para se tornar realidade. E quando isso acontecer siga seu coração, que nunca deixou de ser romântico, e após tantos anos de seca no deserto da afeição, beberá da fonte, primeiramente como quem tem muita sede. Sem educação nenhuma. Sôfregamente. Depois aos poucos saciados e completos para todo o sempre ou como lembra Vinícius de Moraes “posto que é chama, que seja imortal enquanto dure”. A partir daí, beije... muito!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

Debatef@debatef.com 

O construir do amor

“Eu protegi teu nome por amor/ com o codinome beija flor” Cazuza


Tudo na vida se resume em “fazer amor”. Não só da forma crua e nua. Pois ”é de sonho e de pó /o destino de um só”, segundo Renato Teixeira. Para fugir da solidão, portanto é necessário conquistar alguém. Depois  “viver um grande amor” a lá Vinícius de Moraes. Ver juntos o pôr de sol e renovar esse amor em cada amanhecer... À  noitinha quando chegar do trabalho sentir o abraço confortável e o doce beijo da pessoa amada que acelera seu pulso e faz seu coração bater mais depressa. Você se lembra no momento do parto, as mãos dele apertando as suas como a te dizer te amo? agora quando vocês vêem crescer juntos os filhos sentem a mesma” presença” que durante anos lhes proporcionou  o apaixonar-se um pelo outro. Quando numa prece, ele põe as mãos em seu ombro, frente às camas dos filhos que dormem e lhe diz para não se preocupar com o futuro, pois Deus é Pai. Você se sente segura. E se na madrugada o mais velho ainda não chegou e vocês estão acordados e preocupados juntos, isto também é uma forma de dizer “eu te amo”. Principalmente quando escutam o barulho da porta, e brincam aliviados ... disfarçam e vão dormir de pés dados. (depois de fingirem que não estavam acordados para não aborrecerem o pimpolho).

Construir o amor é caminhar juntos na vida. Superar obstáculos. Crescer (Como duas palmeiras lado a lado) juntos espiritual e intelectualmente. Revolucionar unidos e fazer o ganha-ganha. Fortalecer laços em comum, como aqueles “detalhes tão pequenos de nós dois que são coisas muito grandes para esquecer” do verso de Erasmo. Muitas vezes chamados de bobos e insignificantes, eles são fundamentais para turbinar atitudes que agradem o outro e com isso evitar a rotina que é a mais cruel inimiga do amor.

Quando se está triste e deprimido (pois “são demais os perigos desta vida”) ela vai dizer que no fim tudo vai dar certo. Aquela promoção vai chegar sim e que é preciso ter paciência. Ele dirá que esta é só uma má fase, e a inspiração chegará para ela concluir sua tese. Nesse instante qualquer um dos dois podem dizer “eu fiz amor”. “Não fiquei sentado à beira do caminho”.

E se após décadas de relacionamento pinta um perde-ganha, como no verso de Herbert Vianna?” Você me tem fácil demais /mas não parece capaz de cuidar do que possui/”!?...Tempo! Reflexão! colocar na balança tudo que se construiu. Valeu a pena? ”Os momentos felizes deixaram raízes”? Vale tentar o “começar de novo” lambendo as feridas?

Neste ponto muitas vezes é necessário ajuda de um profissional psicólogo e facilitador deste encontro de contas. Muita gente peca neste crucial momento, ao tentar fazê-lo sozinho e perde a mulher ou o homem, “amor da sua vida”. Mas se vocês fizeram “amor pra valer”, vão se espelhar na canção “iluminados” de Ivan Lins e Vitor Martins: ”O amor tem feito coisas /que até mesmo Deus duvida/Já curou desenganados/já fechou tanta ferida /O amor junta os pedaços/quando um coração se quebra/Mesmo que seja de aço/mesmo que seja de pedra/Fica tão cicatrizado/que ninguém diz que é colado/Foi assim que fez em mim/foi assim que fez em nós/esse amor iluminado”.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

Os Caça Níqueis



Leio no Jornal Valor Econômico  em caderno especial “Empresa e Comunidade” de 21/12,sobre Geração de Oportunidades  para jovens de baixa renda por empresas que criam institutos de Ensino em comunidades carentes no Rio de Janeiro. Mais tarde estes jovens articulados transformarão o lugar onde vivem e terão chance no concorrido mercado de trabalho. Estarão incluídos, longe do tráfico de drogas e sabemos o que isso significa.

Como em um filme de Scorceze, corto para o Jardim da Colina, em um colégio de classe média Alta onde estudavam alunos do ensino médio em Uberlândia. Pais e mães na porta sem serem recebidos pela direção, impedidos por uma escolta de guarda costas. Desesperados tiram seus filhos da escola e tentam sem êxito, saber do verdadeiro estado financeiro – econômico da escola e tirar a documentação de transferência de seus filhos para outra escola. Mas ir para qual unidade de ensino? fala-se a boca pequena que esse mesmo grupo de donos de escola que lesa pais, ,professores e alunos comanda várias escolas na cidade e estaria construindo mais uma, em importante via da cidade. Estão ricos e a comunidade assustada com mais esta caixa preta de irresponsabilidade social.

Dias depois no mesmo jornal vejo a intervenção dos órgãos reguladores federais sobre um plano de saúde, levando também ao desespero milhares de segurados que nele investiram por décadas e viram, na hora que mais precisavam -já velhos-, esse investimento virar pó. Corte (no filme) para o Hospital do câncer de UDI (levantado com doações e apoio político e econômico de toda comunidade) que com excelência atende a quem precisa mesmo que não tenha substanciais recursos. Um exemplo de cidadania.

São extremos que nos fazem entender na mão de quem estão nossa saúde e educação e por conseguinte nossa a renda e qualidade de vida: de um lado os que constroem  a sociedade e do outro os predadores. Chico Buarque na folha de SP de domingo dia 26/12 vê cinismo e intolerância em certa elite do Brasil. Indiferença é claro, ao silencioso e sistemático extermínio dos afrodescendentes e pobres deste país. E não tem governo que resolva. 

Recentemente no jornal O Correio, importante pesquisador e professor ocupando alto cargo público de secretariado conclui: Uberlândia é uma cidade rica e com altíssima concentração de renda, repetindo e até acentuando as mazelas do país e suas elites. Se você lê jornal, têm acesso à internet, têm renda familiar superior a 11 salários mínimos está segundo o IBGE (e por favor respeitem  este órgão de excelência em estatística!)  está nas classes B e A, portanto, no topo da pirâmide social a que se refere o ilustre e  compositor/escritor. De que lado você está? Platão pensador grego a quem devemos os fundamentos da ética, nos ensina a hierarquizar o verdadeiro, o bom, o útil e o belo. No lado da sociedade em que estão os caça níqueis, o útil e belo estão na frente de todos os empreendimentos, vindo por último o bom e o quicá o verdadeiro. Parece que na educação onde atuo na banda boa, cada vez mais escuto o tilintar dos níqueis neste cassino que se tornou  o ensino neste país!  

Dr. José Carlos Nunes Barreto
Professor Universitário

nunesbarreto@uol.com.br

TOP GUN


“Tá  lá o corpo /estendido no chão/
Em vez de prece /uma praga de alguém.”
Do nosso cancioneiro popular

Em recente artigo neste CORREIO, me referi à luta com armas para defender a liberdade frente à possível ditadura, quando perguntei se compensava votar contra elas em 23 de outubro. Recebi críticas. O que acho normal. Ser contra o desarmamento foi tornado o equivalente a ser “bárbaro”, o que leva os defensores da liberdade de se ter ou não uma arma à uma posição defensiva. Em outro recente artigo no Jornal “O estado de SP”, o professor Denis Lerrer da UFRS foi fulminante: “ Estamos provavelmente diante de uma das maiores farsas da história republicana”. Se referia ele à campanha em curso para desarmar os cidadãos de bem deste País, no momento em que a segurança pública está em frangalhos, e o narcotráfico, o crime organizado e a corrupção sistêmica se alastram. Vivi 22 anos em Santos no litoral Paulista, onde temos o maior porto da América latina. Comparando os números da Segurança Pública desta cidade aberta ao mundo (portanto teoricamente mais exposta), verificamos que o balneário no quesito roubo seguido de morte está a menos da metade do indicador de Uberlândia em ocorrências por mil habitantes. Os dados de Santos estão próximos aos de Juiz de fora e de outras cidades de porte equivalente. Esta situação têm levado vários cidadãos honrados da cidade a buscarem uma arma para proteger a vida da família e o patrimônio. Não os critico por isso, apesar de não pensar nesta opção como solução pessoal. Mas só a expectativa de não poder comprar uma arma a partir de outubro nos coloca psicologicamente fragilizados diante de meliantes que poderiam entrar em nossa casa, estuprar nossas filhas, mulheres, e por fim tirar nossas  vidas, independente de qualquer reação, e sem que se possa sequer contar com o direito sagrado de lutar para sobreviver.

Os americanos são a principal democracia do mundo e convivem com armas desde tempos imemoriais. Há excessos por lá? claro que há. Mas há também justiça e instituições fortes que asseguram o direito e a responsabilidade pelo uso destas armas. Quanto ao Brasil, existe no momento uma verdadeira miopia estratégica. Quinhentos milhões de reais estão sendo gastos com um referendo que engana e desarma uma nação. A história tem mostrado verdadeiros genocídios de povos que se submeteram à loucura de um governo fraco, que para tirar o foco dos principais problemas da nação, impinge esta decisão. E quem vai decidir? Claro que é a maioria desinformada. Sem educação básica para evitar sermos passados para trás por políticos corruptos e dissimulados. Milú Vilela em artigo na “Folha de SP”, dia 15/09/2005,,cita Felipe González, ex- primeiro ministro espanhol,que mais que triplicou o PIB per capita durante seus 14 anos de governo :. “A educação é a única variável estratégica que nunca falha para o desenvolvimento de um país.” Ser desenvolvido é não votar em lideranças que expõem a população a este ridículo escrutínio, e sim proporcionem a todos cidadãos, ter acesso à Educação de qualidade- esta sim a verdadeira  arma máxima- a Top Gun.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

A Reforma


“Saber, poder, querer. A trilogia do empreendedorismo. Tal qual na trilogia do “triângulo do fogo”, (calor, combustível, comburente), é necessário existir os três ingredientes que se completam.”
(Adaptado).

Tenho feito reflexões sobre a reforma universitária que gostaria de compartilhar. Em primeiro lugar parabenizo o ministério da educação pela iniciativa  , pelo debate decorrente, pela luz acompanhada de calor. A universidade, mil anos após sua fundação, é vítima  de esgotamento em seus modelos, e é tempo de repensá-la principalmente aqui no Brasil. Para melhor contribuição, tenho o olhar voltado para  pontos, a meu ver equivocados do projeto. Por ordem de importância:

1-Uma reforma do ensino superior nunca deveria estar dissociada dos ensinos fundamental e médio.” A universidade começa na pré-escola”, como prega com propriedade o ex-ministro da educação, o professor Cristovam Buarque.

2- A reforma não toca na questão crucial  do efeito cartorial  do diploma universitário. Milhares de pessoas acreditam que o diploma universitário lhes abrirá a porta para os empregos, e é necessário assegurar que na era do conhecimento as habilidades e competências devem ser construídas durante e após a formação, sendo testadas periodicamente para validação do diploma, mesmo décadas após a formatura do aluno. Eliminar-se-ia o termo ex-aluno e teríamos então ex-médico, ex-engenheiro, ex-advogado, ex-doutor, etc. Aliás esta medida seria um tsunami sobre todos os cartórios profissionais que deverão ser repensados e requalificados, ficando somente os indispensáveis ao exercício profissional, em benefício da sociedade.

3-O conceito de público e privado está totalmente fora de foco neste projeto. Há universidades particulares que possuem cursos que atendem o interesse público e há universidades públicas que só atendem o interesse privado (vide a nebulosa atuação das fundações). O que não podemos é impor conselhos em universidades, pois isto fere a autonomia universitária!

4- É imoral o termo popularização da universidade, num país onde somente 1/3da população completa o segundo grau e menos de 10%dos jovens entre 18 e 24 anos chegam à universidade (contra 50% nos países desenvolvidos).O que precisamos é de uma base de ensino que cresça e eleve os melhores à universidade pela meritocracia, mesmo que com políticas compensatórias para minorias, como na UNICAMP.É assim em todo lugar do mundo, porque de bom senso!

5-Como na constituição americana, com poucas linhas, devemos traçar diretrizes que serão seguidas ou não e que quando comparadas aos “benchmarks”, através de ferramentas tipo “Balance Score Card”, e divulgadas, farão crescer as melhores e perder mercado as piores, como aprendemos com o provão.

6-Na Pós graduação temos excelentes centro de pesquisas, como IAC, Hospital Sara Kubschek entre outros, formando especialistas e mestres   e  a reforma sequer menciona esta hipótese. Porque?

7-Depois de décadas formando doutores nas universidades públicas num esforço da sociedade, agora os “caça níqueis” particulares estão despedindo todos os professores com esta titulação após terem seus cursos aprovados pelo MEC. Um escândalo que só acontece no Brasil e que não é corrigido neste arremedo de reforma. 

Finalizo com mais uma questão: Porque não institucionalizar o ensino  universitário fora do campus e para o mundo, através dos endereços eletrônicos, via ensino a distância, como já fazem as grandes USP,Harvard e MIT?

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com