A vida
é um ciclo, os antigos já diziam. Fui refletir sobre isso e me veio uma série
de questões. Quando alguém pergunta quantos anos você tem, na verdade quer
saber quantas voltas você deu em torno do sol. O próprio sol leva seu colar
planetário em direção à constelação de Hércules, em um outro ciclo . Nosso
coração bate 100 batidas por minuto, por exemplo. Temos nossos relógios
internos-biológicos, todos comandados pela alternância claro escuro. Através da
retina, ativamos um grupo de neurônios situados na base do hipotálamo, que
disparam ordens para nosso marca passo circadiano(diário).Os ciclos
hidrológicos de rios e bacias também interagem a medida que a terra se aproxima
ou se afasta do sol. No inverno muitas águas, no verão secas. A ação do homem,
através de hábitos modernos com o corpo e com o uso indiscriminado de recursos
do planeta, está alterando estes ciclos
de forma caótica. O uso do carbono contido na queima de carvão e petróleo, está
aquecendo o planeta como uma chapa quente. Degelando geleiras e destruindo
complexos sistemas estuarinos marinhos em todo planeta, verdadeiros berçários
de biodiversidade. Além disso as engenharias feitas sem conhecimento e
sensibilidades ambientais geram
desastres climáticos como o de New Orleans. As obras de retificação do
rio Mississipe fizeram os engenheiros americanos drenar milhares de Kms quadrados
de pântanos e mangues, que hoje se sabe, seriam fundamentais para quebrar a
força das ondas do mar agitado por furacões. Tiveram de fazer um dique, que
como se viu não aguentou. O próximo terá que resistir furacões de grau 5, o
que levará 20 anos. Já era.
Trazendo
para nosso ethos industrial-urbano a experiência desta prosa, pergunto quantas
veredas foram aqui aterradas para se fazer pátios e ruas totalmente
impermeabilizados? Claro que as águas
escorrem para a bacia dos Rios, pelos córregos tributários, a maioria
canalizados sob ruas e avenidas,
insuficientes para comporta-las. Esta ação maluca de impermeabilizar o
solo está mexendo no ciclo hidrológico. Aumentando a evaporação sobre a cidade,
fazendo chuvas cada vez mais fortes. E ao mesmo tempo não permitindo que estas
percolem no solo. Eis o desastre. Faça você mesmo as contas: são bilhares de
caixas d’agua de 1000 litros se
movimentando. Só caros piscinões poderão quebrar esta velocidade, até que se
desmate mais e se impermeabilize mais.
Também
é preciso rever comportamentos e atitudes que não levem em consideração o ciclo
circadiano do corpo humano. A sociedade está cada vez mais noturna e há quem
troque o dia pela noite. O pai da cronobiologia - Ueli Schibler, adverte que
estudos ainda não validados, demonstram que pessoas que trabalham em turnos
diurnos e noturnos alternados seriam mais sujeitas a tumores de cancer. Eis aí
a questão. O rico de se morrer de câncer hoje é de 1/25, por enquanto. Só para
comparar, o risco do avião legacy bater no boeing da Gol era de 1/200 milhões.
Prolifera-se a doença, que os antigos nem falavam o nome. E o cerne do problema
está no nosso modo de vida. Finalizando, é necessário estudar para compreender,
legislar para agir e respeitar todos esses ciclos porque são a própria vida. A
outra opção é a morte.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário