quarta-feira, 22 de abril de 2015

“Crash” mereceu o Oscar


Escolho como guia as palavras de um santo. Nas coisas cruciais, unidade...Nas coisas importantes, diversidade....Em todas as coisas, generosidade....”
Discurso inaugural do presidente Bush

Intrigante ao mesmo tempo em que faz pensar ,O Filme “Crash” é o retrato da América e do mundo com seus dilemas atuais. Falta de oportunidades para as minorias. Racismo contra negros. Drama de persas que são confundidos com iraquianos. Costa riquenhos  que se tornam mexicanos ou brasileiros .Todos  latinos ou seja ,cachorros. Pessoas sem valor, numa sociedade opulenta, que a partir do desembarque nesta aventura de sobrevivência, passarão a sonhar com a loteria que Mr Bush promove todos os anos com o green card( O filme não fala nisso).Explica-se:  apesar de contribuir com sua força de trabalho para aumentar a riqueza e o poder da pátria americana, não serão protegidos por leis .Estão no “Egito ”,biblicamente falando. Advogado lá é fundamental para fazer valer a cidadania(aqui também).Mas quem é cidadão?

No discurso  de Bush, após aquele imbóglio  de sua  polêmica  eleição, havia uma diretriz que absolutamente não foi seguida. A guerra do Iraque, é o exemplo mais eloquente. Durante outro discurso,  o do “estado da União” deste ano, isto ficou bem claro :Do lado de dentro a corte aplaudia. De fora milhares de pessoas, sob pauladas policiais, pediam o fim da guerra. Mesmo os santos de sua fala inicial.

Voltando ao filme, há situações claramente vivenciadas  também aqui no Brasil. O poder de polícia do estado, personificado por gente que vive seus dramas pessoais,  seu salário insignificante ante a conta do médico e do sistema de saúde( os policiais). E por isso transfere toda carga de frustrações ao negro( que é secularmente humilhado)   e  à parcela mais desprotegida da sociedade, que precisa  se fazer cidadã, mas ainda não dispõe de meios ,poder  e  influência.

Sabemos que o  estado constitucionalmente tem este poder de polícia. O que é diferente de ser estado policial. Que os americanos alegam não ser. E que nós, desafortunadamente, volta e meia, entra e sai ditadura ,somos obrigados a “engolir”. Como agora no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro e  queda do ministro da economia. Urdiu-se no palácio do Planalto tal atentado ao direito de privacidade de um cidadão brasileiro? Se tal aconteceu, então temos configurado o crime de responsabilidade do Presidente da república. E onde está a oposição? Alguém já disse que o Brasil não merece este governo e também esta oposição. Deixaram passar a janela de oportunidade do depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios. Agora estão deixando passar  mais uma, no Paloccigate!

Concluo: Hollyood com sua arte imita a vida. E faz para nós a crítica à uma sociedade injusta em que os carrões, sendo símbolo de poder para os brancos, não o são para os afrodescendentes de sucesso. Porque naquele momento crucial de poder do estado, ao ser abordado por um policial branco, a inveja, o ressentimento de se ter menos dinheiro que o negro, fazem o branco  abusar do poder. Todavia a América tem leis e ele vai responder por isso. No Brasil também temos leis. Mas seus rigores ,infelizmente ,só valem para pretos e ....pobres.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

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