As pessoas costumam afirmar que os
economistas são arrogantes. Falam uma língua diferente, o economês, e tem
linhas de pensamento conflitantes, que
quando contrariadas pelos fatos, não são revistas pelo autores e seguidores. O
tema de nossa reflexão hoje, é baseado em uma leitura que fiz nas férias, e que
julgo indispensável neste começo de
século: “O Capital no século XXI” de Tomas Piketty - que não é arrogante, nem
tem um discurso de economês, pelo contrário ,é elegante, possui um suave trato com as palavras, e apresenta
competentes pesquisas sobre desigualdade de riqueza e renda, que inovam e
impactarão o cenário da economia politica,
no século XXI, tanto quanto Marx
no século XX, daí o sucesso editorial
jamais visto em um livro de economia.
A principal força desestabilizadora da
distribuição de renda, é o fato da taxa de rendimento do capital privado ser muito mais elevada que o crescimento dos
salários e da produção, e se nada for feito, algo acontecerá de muito grave e
revolucionário, envolvendo o despertar das massas prejudicadas. O trabalho é conclusivo, ao comparar as desigualdades de
renda e capital, no tempo e no espaço, ao redor do mundo, utilizando o
coeficiente de Gini(indicador sintético
de desigualdade que varia de 0 a 1–quanto mais próximo de 1 pior).Em 2010 este índice era 0,36 na Europa, 0,49 nos Estados Unidos, e 0,19 nos países escandinavos – O PNUD órgão
da ONU avaliou o Brasil em 0,56- o 3º mais desigual. E o que mais me
impressionou nas pesquisas de Piketty, é
que pouca coisa mudou desde a belle
époque- as pequenas
mudanças que ocorreram foram exógenas (com ação de fora
das sociedades estudadas –como por exemplo guerras) –via de consequência,
a desigualdade não mudou por ações de governantes, nem em
países democráticos como Inglaterra e EUA. Como seria diferente por aqui?
Aprecio tabelas e gráficos com análise
quantitativas e qualitativas para
expressar resultados, o que o livro
apresenta fartamente. No capítulo sete,
por exemplo, em três tabelas, o autor mostra qualitativamente que em 2010 ,em termos de propriedade do
capital, em todos países o índice médio de Gini foi 0,70, enquanto que para renda do trabalho foi 0,30( menos da metade). Percebam que o
indicador gini de capital somado à renda ,mascara o poder dos rentistas,
enquanto sabe-se que esta desigualdade é por demais potencializada com ações de
patrimonialismo ,corrupção e desvios de orçamentos públicos. Uma das sugestões
de Piketty ( Polêmica) é taxar os mais ricos com, por exemplo, impostos sobre
grandes fortunas, de tal forma que o estado
lidere e reproduza uma distribuição mais equânime :os 10% mais
ricos ficariam com 30%do capital nacional, os 50% mais
pobres com25% e os do meio com
45%.(contra os atuais 10% mais ricos com mais de 50% de renda e capital, os 50%mais pobres com
menos de 20%).
Nas notas de conclusão, o autor dá uma
estocada em textos consagrados de
Sartre, Althusser e Baldiou - seguidores de Marx, que segundo ele, não
apresentam com o mestre, soluções sobre a questão do capital e das
desigualdades entre classes sociais, por
terem sido comunistas engajados,
e usarem esses dados para lutas de outras naturezas. Tudo isso faz muito sentido, ao olharmos para este
seco, desigual e esquecido País no lado
de baixo do equador.
Jose Carlos Nunes
Barreto
Professor Doutor e
presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU
debatef@debatef.com
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