quarta-feira, 11 de março de 2015

O capital

As pessoas costumam afirmar que os economistas são arrogantes. Falam uma língua diferente, o economês, e tem linhas de pensamento  conflitantes, que quando contrariadas pelos fatos, não são revistas pelo autores e seguidores. O tema de nossa reflexão hoje, é baseado em uma leitura que fiz nas férias, e que julgo  indispensável neste começo de século: “O Capital no século XXI” de Tomas Piketty - que não é arrogante, nem tem um discurso de economês, pelo contrário ,é elegante, possui  um suave trato com as palavras, e apresenta competentes pesquisas sobre desigualdade de riqueza e renda, que inovam e impactarão o cenário da economia politica,   no século  XXI, tanto quanto Marx no século XX, daí  o sucesso editorial jamais visto em um livro de economia.

A principal força desestabilizadora da distribuição de renda, é o fato da taxa de rendimento do capital privado  ser muito mais elevada que o crescimento dos salários e da produção, e se nada for feito, algo acontecerá de muito grave e revolucionário, envolvendo o despertar das massas prejudicadas. O trabalho  é conclusivo, ao comparar as desigualdades de renda e capital, no tempo e no espaço, ao redor do mundo, utilizando o coeficiente  de Gini(indicador sintético de desigualdade que varia de 0 a 1–quanto mais próximo de 1 pior).Em 2010  este índice era 0,36  na Europa, 0,49 nos Estados Unidos,  e 0,19 nos países escandinavos – O PNUD órgão da ONU  avaliou o Brasil em  0,56- o 3º mais desigual. E o que mais me impressionou  nas pesquisas de Piketty, é que pouca coisa mudou desde  a belle époque-  as  pequenas  mudanças  que  ocorreram foram exógenas (com ação de fora das sociedades estudadas –como por exemplo guerras) –via de consequência, a  desigualdade  não mudou por ações de governantes, nem em países democráticos como Inglaterra e EUA. Como seria diferente por aqui?

Aprecio tabelas e gráficos com análise quantitativas e qualitativas  para expressar resultados,  o que o livro apresenta fartamente. No capítulo sete,  por exemplo, em três tabelas, o autor mostra qualitativamente  que em 2010 ,em termos de propriedade do capital, em todos países o índice médio de Gini foi 0,70, enquanto que  para renda do trabalho foi  0,30( menos da metade). Percebam que o indicador  gini de capital somado à  renda ,mascara o poder dos rentistas, enquanto sabe-se que  esta desigualdade  é por demais potencializada com ações de patrimonialismo ,corrupção e desvios de orçamentos públicos. Uma das sugestões de Piketty ( Polêmica) é taxar os mais ricos com, por exemplo, impostos sobre grandes fortunas, de tal forma que o estado  lidere e reproduza uma distribuição mais equânime :os 10% mais ricos  ficariam  com 30%do capital nacional, os 50% mais pobres com25% e os  do meio com 45%.(contra os atuais 10% mais ricos com mais de  50% de renda e capital, os 50%mais pobres com menos de  20%).

Nas notas de conclusão, o autor dá uma estocada  em textos consagrados de Sartre, Althusser e Baldiou - seguidores de Marx, que segundo ele, não apresentam com o mestre, soluções sobre a questão do capital e das desigualdades entre  classes  sociais, por  terem sido comunistas  engajados, e usarem esses dados para lutas de outras naturezas. Tudo isso  faz muito sentido, ao olharmos para este seco, desigual  e esquecido País no lado de baixo do equador. 

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU
debatef@debatef.com



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