sexta-feira, 13 de março de 2015

Mães para sempre.

“Oh, maternal amor, amor que ninguém esquece, maravilhoso pão que Deus reparte e multiplica.” (Victor Hugo)


             Dia das mães chega de novo,  e representa depois do Natal, a segunda data mais importante  para o comércio em geral. E a dura realidade é que deixamos todos de refletir sobre o imaterial e sagrado, representado em nossas mães, para ceder ao consumismo desenfreado, frouxo de afetos e mutilado por culpas.

              Escrevi meu artigo anterior, falando sobre a “Casa do Pai”, e evoquei a cultura judaico cristã - houve quem perguntasse, porque não “Casa da Mãe”? Então respondo com este arrazoado, afirmando claro e bom som, que a casa é dos dois - um de cada vez e respeitando suas individualidades. Para tanto, relembro duas mulheres da bíblia. A principal delas é Maria, mãe de Jesus, e a outra veremos a seguir.  

              A Pietá de Michel Ângelo, que tive o prazer de curtir dentro da Catedral do Vaticano, inebria e nos faz parar no tempo, não somente  porque é uma obra de arte- mas pela aura da paixão de Cristo, e do sofrimento de sua mãe, Maria,  ali representada amparando seu filho Deus, desfalecido- uma mãe nunca desampara um filho - mesmo alguém que era Deus e fez milagres como o multiplicação dos pães,  deu vistas ao cegos, ressuscitou mortos, e estava na criação do mundo com o Pai e com o “Espírito que pairava sobre as águas”. Mas a bíblia não nos permite esquecer outra mulher, que está na linhagem do salvador do mundo, e era uma prostituta-Raabe- que apesar desta condição, fez o seu papel na história, de tal forma que gerou descendentes e o mais importante deles é o Senhor  - queiram ou não os exegetas domingueiros  , loucos por “power point”  vazios, calvinistas ou não.

            Mas neste dia consagrado à quem deu à luz, homenageamos a mulher guerreira e linda, que pode ser a leitora  deste artigo, ou minha mulher, por exemplo. Pensar que de cada uma de vocês , sairam pessoas que constroem  dia a dia o futuro; e que seu útero, casa de todos nós, é o refúgio psicológico de todo ser humano que foge da crise, da dor, da solidão e  da falta de amor. Bem ensinava Vitor Hugo : Deus dá  nossa mãe, como um pão –maná de amor, que reparte e multiplica, o que a sabedoria e simplicidade de meu avô  traduzia assim: uma mãe cuida de oito filhos-como a minha, adorada , e aqui reverenciada- mas oito filhos não cuidam de uma mãe: e filhos há que até fogem delas quando envelhecem, não dão o pão de cada dia e remédios, e muitas vezes  as depositam num frio asilo, onde morrem por causa do desprezo. 

             Todavia, graças a Deus, para a maioria de nós, filhos, o que queremos é uma mãe for ever, tal como magnificamente registrado no poema “Para Sempre”, do imortal Carlos Drumond de Andrade, que me ajuda a finalizar este  artigo, como um presente para todas elas: 

            Por que Deus permite/que as mães vão-se embora?/Mãe não tem limite, é tempo sem hora,/luz que não apaga/quando sopra o vento/e chuva desaba,veludo escondido/na pele enrugada,/água pura, ar puro,/puro pensamento. 

      Morrer acontece/com o que é breve e passa/sem deixar vestígio./ Mãe, na sua graça,/é eternidade./Por que Deus se lembra- mistério profundo -de tirá-la um dia?/Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei:/Mãe não morre nunca,/mãe ficará sempre junto de seu filho/e ele, velho embora,/será pequenino/feito grão de milho.


José Carlos Nunes Barreto

Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia(ALU)

debatef@debatef.com

quarta-feira, 11 de março de 2015

Xingú ou Pandora?

Vi o filme AVATAR duas vezes, e passei um trabalho em seguida, para meus alunos de graduação analisarem a estratégia deste excelente projeto,   que evidencia, em termos  de produção cinematográfica, um divisor de águas, com quebras de paradigmas, e temas que nos fazem pensar. É mandatário frisar que sua amplitude de correlação, ultrapassa os limites da telona, e o próprio Cameron provou isso, ao visitar a volta grande do Rio Xingu, que secará durante boa parte do ano, após o barramento do Rio, para a construção da represa de Belo Monte, pois fica a juzante de suas turbinas. Um impacto ambiental a um custo  de 39 bilhões de reais, enquanto o governo fala em 19 bilhões.Com esta dinheirama toda, e com calma, melhoraríamos ainda mais nossa matriz energética, apoiando projetos diversificados, como os de energia de cogeração, solar, biogás, hidrogênio, e PCHs-pequenas centrais hidrelétricas pelo país afora, sem repetir o modelo centralizador, e pai de todos apagões que Belo Monte representa.

O cineasta de Avatar viajou 12 horas de barco para ver de perto o problema, e fez o que muito brasileiro não faz: se solidarizar com um povo que habita aquele lugar mágico desde épocas imemoriais.

Seria bom que todo cidadão do mundo,  principalmente os formadores de opinião, acessassem o conteúdo disponível em http://tinymrl.com/ykjplsu ou em http://internationalrivers.org/files  sobre as 230 páginas com fundadas  críticas ao EIA –Estudo De Impacto Ambiental- da usina de Belo Monte, feita pelos mais respeitados especialistas doutores - cientistas que tem estudado aquela  região há dezenas de anos.

É importante neste momento, deixar claro que não somos contra  projetos hydropower- por definição, energia obtida pelo uso da energia de rios e cursos d’agua. Somos contra o ”custe o que custar ”eleiçoeiro que esta obra traz, o “tem de acontecer” porque uma de suas mentoras, a ex – ex ministra de Minas e energia  é, agora candidata à presidente. Por conta dos primeiros embates no Planalto, a ex-ministra do meio ambiente da república foi defenestrada do cargo, pois seus questionamentos atrapalhariam a carreirista de plantão. Agora a obra, cuja relação custo benefício não resiste a mais simples análise, estará sendo feita a toque de caixa, como foi o seu EIA RIMA, cujas inconsistências são mostradas neste estudo crítico, com o  “objetivo de evidenciar para a sociedade, as falhas, omissões e lacunas destes estudos(EIAs) e com o elevado objetivo de subsidiar um processo decisão, que se esperava fosse pautado pelo debate público - sério e democrático”. Todavia ,segundo ao instituições que trabalharam no painel, “o próprio processo de disponibilização do EIA RIMA foi marcado por estranha celeridade, e cheio de atropelos, que se interpuseram ao processo de discussão, limitando-o, secundarizando-o e, assim, desservindo aos avanços já estabelecidos na legislação brasileira”.

     Como a arte imita a vida, em Avatar os interesses imediatos e mesquinhos  fizeram alguns senhores do “stabilichment” atacarem e destruirem um povo e seu rico habitat –Pandora, que era o futuro em termos de princípios ativos contra doenças e processos naturais com retornos bilionários  e sem ferir a floresta. Aqui, o Xingu é tudo isso, além de ser nosso e das futuras gerações.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br 

Somos os 99%?

 “ Ainda vai levar um tempo/ Pra fechar/ O que feriu por dentro/.../Assim caminha a humanidade” cancioneiro popular.

Chamou a  atenção novamente na mídia, semana passada, o movimento “ocupe wall  Street” feito por bem nascidos jovens americanos em Nova York. Eles querem dizer ao mundo que são pobres e que não estão entre os 1% das pessoas da terra possuidoras da maioria das riquezas do planeta. Todavia um estudo do cientista BranKo Milanovic, pelo Banco Mundial desmitificou o assunto, e mostrou que grande parte deles está entre a minoria “odiada”. Os números de Milanovic são taxativos: 60 milhões de pessoas compõe o universo dos 1% mais ricos do planeta, dos quais 29 milhões vivem nos EUA-muitos deles pais, irmãos e primos dos revoltosos. O estudo considerou rica uma pessoa com renda anual maior ou igual a U$34mil dólares (já descontados os impostos), ou pouco mais de 5mil reais  por mês, segundo dados de 2005. Quem não conhece pessoas que ganham  por mês aqui no Brasil estes valores? Pois estão  entre os 1% - e muitos ainda  ocupando as praças da vida para se dizerem injustiçados e pobres . Aqui , segundo o estudo ,são 2 milhões de pessoas ,já que chegamos a sexta posição em PIB no mundo. E na minha opinião,  temos é de parar de reclamar, gastar menos e economizar mais. Algumas carreiras de estado começam com salários bem superiores a isso, e perderam a noção do que ganham, e das referências com o País e o resto do mundo. Os dados do economista excluem   Índia e China para não rebaixar muito as bases de cálculo, mas deixa claro que uma classe média global incluindo  estes países, vive em média com apenas U$1225 por ano( cerca de 2500 reais).E isso significa que os 5% mais pobres dos Estados Unidos ainda tem uma vida financeira melhor que dois terços do planeta. Esses guris são os 5% mais pobres de lá? claro que não!

Depois dos EUA o país com maior número de ricos é a Alemanha com 4 milhões de pessoas, seguido do Reino Unido, França e Itália-todos com 3 milhões de pessoas “bem de vida”. Canadá, Coréia do sul e Japão, como o Brasil, tem 2 milhões. O autor, segundo matéria publicada no site CNNMoney, mostra  dados  divulgados em seu livro ”The have  and  the have-not”(“os que tem  e os que não tem”- em tradução livre), e afirma que existe uma classe média global  em plena expansão, deixou de fora muitos dos “ocupantes” por receberem ajuda do governo americano, em muito superior ao que se observa no mundo.

Voltando nossos olhos para o Brasil percebemos situações parecidas: ajuda governamental, bem vinda colocou“ex-miseráveis” no mapa da “classe média global”o que dá ao mercado interno brasileiro um valor enorme para empresas transnacionais players usarem e literalmente abusarem(vide TIM,Oi e assemelhados) além de  servir como colchão de amortecimento para  crises externas e barbeiragens de economistas do governo de plantão.

Não estou pregando que estamos ganhando bem demais e por isso não devemos buscar melhorias salariais- estou afirmando que algumas categorias, notadamente as federais,  perderam  as referencias e peço vênia para dizer neste arrazoado  quais são elas, para uso da Nação, e dos contribuintes que pagam a conta da insensatez, por não poderem, em função da sangria dos cofres públicos, exigir  do Estado fazer seu papel primordial ,que é cuidar das Infraestruturas, Segurança, Saúde e Educação.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

Os Lacaios e a Escola

“ Ser poeta é quase que divino/Homem, menino./
Ser poeta é viver, matar/Ser Deus,não como o todo-
Poderoso/Jeová./
Ser deus de uma folha de papel,/Com uma caneta./
Ser poeta é ser pateta,/Ser ridículo,um palhaço,/
Ser um eterno apaixonado,/Um desgraçado, um abençoado.”
Gilmar mendes,17 anos,aluno da quinta série de uma escola pública de Salvador Bahia.

Mendes é negro, pobre, nordestino,sofrendo de uma paralisia cerebral, (esteve fora da escola por isso), mas apareceu com sua poesia na coluna dominical  de Gilberto Dimerstein na folha de SP,e  é  um case porque  para  sua sobrevivência emocional, se apegou à poesia como uma bóia em  mar revolto,já que preso a uma cadeira de rodas,  sem recursos, morando em um bairro de periferia da capital baiana dominado pelo tráfico de drogas, não foi aceito durante anos em escolas cujos professores  não sabem ensinar português,quanto mais poesia.E concordo que  é difícil juntar a escola atual à poesia. Escola só é poesia quando os mestres se dão ao ofício como sacerdotes ao altar. Ou como artistas oleiros se dão ao barro. E elas hoje estão um desastre, para os professores e para os alunos. Quem as escolas estão servindo então?

Temos 15 milhões de analfabetos com mais de 15 anos. Isto é meia Argentina, e a preocupação não é só quantitativa.Gente sem educação básica, é gente que não pode ser treinada, e por isso tem baixa renda, e por falta de saber ler e escrever não saberá preservar a saúde ao longo do tempo, baixando a longevidade dela e dos filhos, perpetuando a miséria. Respondo então a questão formulada acima: continuará massa de manobra de políticos vigaristas cujos estados tem os menores índices de desenvolvimento humano como o Maranhão, e Alagoas, Berthold Brech à parte.

Os gênios do PT no MEC soltaram foguetes com a marginal melhora do IDEB-Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.Só que não viram que no período que vai da primeira à quarta série-crítica em todo sistema de ensino,numa classificação de 0 à 10 ,o índice ficou estagnado em 3,5.Mais  do que sofrível.E este indicador mostra que daqui a uma década,mesmo para  os 15% que continuarem os estudos até à universidade, esta lacuna persistirá, pois as faculdades e universidades particulares responsáveis por 75% das formaturas, não conseguirão preencher este vazio da sua formação.Como resultado, infelizmente, haverá um simples diploma que não agregará valor ao cidadão, o qual não conseguirá adquirir conhecimentos, e finalmente estacionará  profissionalmente em sub - empregos.

Já estamos cheios de engenheiros que viraram suco, administradores que  se tornaram motoristas de táxi, de pedagogos garis, num desperdício de capital humano jamais visto.E esta é uma matriz de um futuro de dependência, de países como china,Japão, Coreia do Sul e Índia, além dos EUA e CEE,já que todos levam a sério o ensino, do primário ao superior ,e formam engenheiros ,administradores e cientistas que fazem parte de um  projeto de nação, feito por patriotas que não vendem,como lacaios, seus países aos interesses de empresas nacionais e multinacionais.Tenho dito.


Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

Crimes de Guerra

“ A guerra é de vital importância para a Nação. É o domínio da vida ou da morte , o caminho para a sobrevivência ou a destruição.” Sun Tzu em “ A Arte da Guerra”.

Ao refletir sobre os 12 anos do “nine eleven” americano, que mudou  o mundo contemporâneo, reli a obra em epígrafe, haja vista sua luz, que atravessa séculos –desde 960, a iluminar estratégias de empresas e governos, principalmente  após arqueólogos chineses encontrarem, em  1972, fragmentos do livro deste general chinês, que é o mais sábio tratado militar da humanidade. Segundo ele “um soberano não pode convocar o exército só por raiva, e um general não pode lutar apenas por vingança. Uma pessoa com raiva pode recuperar a serenidade, e o ressentido pode ser apaziguado, mas um estado  arruinado não se recupera ,e os mortos- não podem retornar à vida”. Me lembro, então, que era esperado na Universidade de Miami, para um pós doutorado a ser orientado pelo “Chair person” do 4º “ Simpósio internacional de sistemas e novas energias”  em Shangai na China, do qual participei com um artigo do meu doutorado na USP, e que terminou menos de 20 dias antes daquela tragédia de guerra- Inclusive a tempo de eu visitar NY e uma esplêndida biblioteca que ocupava os 3 primeiros andares do World Trade Center. Estávamos em agosto de 2001 e  até aquele momento, eu pensava que iria para Universidade de Miami em janeiro de 2002.Recebi, entretanto, logo após a retaliação americana, um e-mail do orientador recomendando que ficasse no Brasil, pois alguns de seus orientandos, com o mesmo perfil étnico que eu, estavam sendo levados para Guantánamo-sem julgamento. Era a Guerra.

Segundo Sun Tzu, 5  coisas são mandatórias quando se deseja prever o desfecho de uma guerra:  “O Caminho”, ou seja, a harmonia do governante com o povo; O Tempo(clima);O Terreno; A Liderança e as Regras. Segundo o mestre, numa guerra, é fundamental destruir os planos do inimigo. Depois destruir suas alianças, e por fim atacar suas tropas. Ele destaca que o ideal é vencê-lo sem combates, o que dá sentido ao recrudescimento da espionagem, pelo Estado americano e demais países avançados em tecnologia da informação, desnudada agora pelo escândalo,  posto a nu pelo herói Snowdem.

Em toda guerra, a primeira vítima ,dizem, é a verdade. Acredito. Vejam nossa guerra política interna, entre o governo petista e a classe médica, lançando a população contra os médicos. É Crime em uma guerra, não cumprir as leis- e o governo Dilma não cumpre a leis do País ao tentar revalidar, a qualquer preço, a atuação de médicos cubanos como política de estado. Subordinando a Nação à política de saúde  dos Castros ditadores, ao invés de fazer aqui as revoluções na área médica, que o País necessita e tem pressa. Dilma agora é o Bin Laden que sempre sonhou ser. Esta medida é uma cunha para que outras desregulamentações aconteçam, e um míssil ou avião, em nosso arcabouço.

Ela foi gestada como estratégia de guerra- estava pronta há um ano, enquanto seu ministro Padilha “negociava” com nossas autoridades médicas-que são culpadas sim , por não terem resolvido a tempo a mudança do currículo médico, e por não terem pressionado o congresso por leis, que obrigassem nossos médicos recém- formados prestarem serviços em lugares ermos do Brasil. Todavia, inaceitável é, que um governo democrático não cumpra a Lei, e faça propaganda contra uma classe, para tirar proveito eleitoreiro. Finalizo  com as palavras do mestre Sun Tzu, e as envio  diretamente à Presidente e aos governos de seu partido “mensaleiro”: ”Um bom líder avança sem desejar glória, e se retira sem temer os castigos”. Vide o julgamento de Nuremberg e o da ação 470 ora no STF - O crime de guerra não compensa.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlandia(ALU-MG)




O capital

As pessoas costumam afirmar que os economistas são arrogantes. Falam uma língua diferente, o economês, e tem linhas de pensamento  conflitantes, que quando contrariadas pelos fatos, não são revistas pelo autores e seguidores. O tema de nossa reflexão hoje, é baseado em uma leitura que fiz nas férias, e que julgo  indispensável neste começo de século: “O Capital no século XXI” de Tomas Piketty - que não é arrogante, nem tem um discurso de economês, pelo contrário ,é elegante, possui  um suave trato com as palavras, e apresenta competentes pesquisas sobre desigualdade de riqueza e renda, que inovam e impactarão o cenário da economia politica,   no século  XXI, tanto quanto Marx no século XX, daí  o sucesso editorial jamais visto em um livro de economia.

A principal força desestabilizadora da distribuição de renda, é o fato da taxa de rendimento do capital privado  ser muito mais elevada que o crescimento dos salários e da produção, e se nada for feito, algo acontecerá de muito grave e revolucionário, envolvendo o despertar das massas prejudicadas. O trabalho  é conclusivo, ao comparar as desigualdades de renda e capital, no tempo e no espaço, ao redor do mundo, utilizando o coeficiente  de Gini(indicador sintético de desigualdade que varia de 0 a 1–quanto mais próximo de 1 pior).Em 2010  este índice era 0,36  na Europa, 0,49 nos Estados Unidos,  e 0,19 nos países escandinavos – O PNUD órgão da ONU  avaliou o Brasil em  0,56- o 3º mais desigual. E o que mais me impressionou  nas pesquisas de Piketty, é que pouca coisa mudou desde  a belle époque-  as  pequenas  mudanças  que  ocorreram foram exógenas (com ação de fora das sociedades estudadas –como por exemplo guerras) –via de consequência, a  desigualdade  não mudou por ações de governantes, nem em países democráticos como Inglaterra e EUA. Como seria diferente por aqui?

Aprecio tabelas e gráficos com análise quantitativas e qualitativas  para expressar resultados,  o que o livro apresenta fartamente. No capítulo sete,  por exemplo, em três tabelas, o autor mostra qualitativamente  que em 2010 ,em termos de propriedade do capital, em todos países o índice médio de Gini foi 0,70, enquanto que  para renda do trabalho foi  0,30( menos da metade). Percebam que o indicador  gini de capital somado à  renda ,mascara o poder dos rentistas, enquanto sabe-se que  esta desigualdade  é por demais potencializada com ações de patrimonialismo ,corrupção e desvios de orçamentos públicos. Uma das sugestões de Piketty ( Polêmica) é taxar os mais ricos com, por exemplo, impostos sobre grandes fortunas, de tal forma que o estado  lidere e reproduza uma distribuição mais equânime :os 10% mais ricos  ficariam  com 30%do capital nacional, os 50% mais pobres com25% e os  do meio com 45%.(contra os atuais 10% mais ricos com mais de  50% de renda e capital, os 50%mais pobres com menos de  20%).

Nas notas de conclusão, o autor dá uma estocada  em textos consagrados de Sartre, Althusser e Baldiou - seguidores de Marx, que segundo ele, não apresentam com o mestre, soluções sobre a questão do capital e das desigualdades entre  classes  sociais, por  terem sido comunistas  engajados, e usarem esses dados para lutas de outras naturezas. Tudo isso  faz muito sentido, ao olharmos para este seco, desigual  e esquecido País no lado de baixo do equador. 

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU
debatef@debatef.com



Luz x Apagões


No gênesis disse Deus Haja Luz; e houve luz. Que bom, porque só nos damos conta da importância da luz, quando estamos em trevas, como agora, neste apagão de sete horas em 18 estados brasileiros. Se ele tivesse acontecido em 1960- época das máquinas de escrever, o prejuízo não seria tão grande em nossas vidas.O paradigma da energia elétrica condiciona nosso cotidiano à dependência de equipamentos que nos dão conforto, e em alguns casos até a vida, como em uma UTI. E nem cogitamos que de repente ela pode falhar, e isso ocorre em todos os lugares do mundo- em alguns com freqüência maior, dependendo de como são projetados e geridos estes sistemas. Nos EUA, por exemplo, empresas com nível de qualidade seis sigma proporcionam 1 hora de falta de energia elétrica a cada 34 anos, enquanto empresas com nível de qualidade quatro sigmas sete horas de falta de energia elétrica por mês, em média(Werkema,C.Criando a Cultura Seis sigma,Ed. Qualitymark RJ 2002). Um sistema elétrico seis sigma gasta menos que 1% do seu faturamento com retrabalho e erros operacionais por isso é tão confiável. Já um sistema com nível de qualidade quatro sigma gasta até 25%  do faturamento com erros e retrabalhos, perfazendo cerca de 6000 erros por cada milhão de operações.Quantos erros tem o processo seis sigma? cerca de 3 por cada milhão de operações.A má notícia é que as evidências mostradas na operação do sistema energético brasileiro( apesar de não conhecer nenhuma pesquisa da ANEEL com esta métrica),apontam para um nível de qualidade entre 3 e 3,5 sigmas, o que eleva o número de erros para até 66000 erros por cada milhão de operações , o que significa gastar até 40% do faturamento com erros e retrabalhos -  pagamentos com precatórios e demandas judiciais, advindas de prejuízos e mortes causadas a consumidores.

O atual apagão é muito diferente daquele de 2001,quando faltou oferta de energia devido a uma equivocada falta de investimentos estatais, que aliada às condições hidrológicas desfavoráveis e  uma expansão da economia, fez de uma crise anunciada, a realidade de um apagão continuado. Medidas de racionamento foram então coordenadas por um ministério da falta de luz, e por um governo comandado por um presidente alcunhado à época de “príncipe das trevas”. Não há como um apagão acontecer sem desdobramentos técnicos e políticos. O que de novo acontecerá sob a era dilmista.

Ocorre que depois da porta arrombada, buscam-se a toque de caixa soluções e não raro os “Midas”como os que, na contramão das medidas consensuais contra o aquecimento do planeta, implantaram as termoelétricas e ainda encareceram nossas contas de luz,  ao invés de conceberem uma cesta de soluções(PChs-pequenas centrais hidrelétricas, eólicas, solar, células de combustível, gaz natural e a associação destas),teimaram no paradigma grandes centrais hidrelétricas com milhares de quilômetros de linhões, o que agrava a vulnerabilidade do sistema.

Enquanto isso, no plano mundial, há uma revolução tecnológica na produção e transporte de energia elétrica semelhante àquela ocorrida quando passamos do mainframe para os laptops, deixando a produção de ser centralizada para ser gerada localmente. Será que vamos perder o bonde da história  da energia reprisando erros de governos e sem uma política de Estado?

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

Cuidar bem das pessoas é a meta(2)

Estive de férias por alguns dias, refletindo em uma praia chamada Itacoatiara, que faz parte de uma reserva florestal bem próximo ao turbilhão do Rio de Janeiro e fincada junto à pedras monumentais que seguram as ondas do atlântico, ao lado de uma preservada vegetação de mangue. Todas as vezes que isso acontece, há um produto: Estar sozinho consigo mesmo, às vezes dá medo, mas é inspirador. Tomar chuva e sol-ficar no sereno, Descobrir depois ser um animal com fome, e sede de justiça, exige coragem, mas nada como  voltar à tenda à noite  e curtir o netinho de 2 anos.
Agora  entendo por que no caminho da Santiago de Compostela , na Espanha, muitos mudam a vida. Descobrem vocações. E tomam decisões cruciais para suas vidas, suas famílias e suas empresas. A correria dos dias que seguem como torrente tempestuosa a escorrer pelas calçadas da vida, nos anestesia. Faz tudo parecer igual, pasteurizado e sem brilho. E pior é não poder observar as diferenças nas cores, nos sons, nos ambientes (carregados ou leves) e nas pessoas (alegres ou tristes). Principalmente, nelas. Um pai ou uma mãe que desaprende a percepção da linguagem do corpo e do tom de voz dos filhos, perde, segundo especialistas 80% da comunicação com eles. No trabalho e na vida somos muitas vezes cantores de um samba de uma nota só (com o perdão ao Tom Jobim e seu ao belo samba-arte). Não sabemos escutar. Gente. Cachoeiras. Pássaros. O vento. Não temos tempo.
Anos atrás, achei interessante e novamente comento, a entrevista do antropólogo Wilian Ury - especialista em técnicas de negociação -, intitulada "O Inferno somos nós". Respondendo se concordava com Jean-Paul Sartre que cunhou "o inferno são os outros", Ury respondeu que o outro somos nós e quando dizemos que o inferno são os outros, na verdade estamos olhando para o nosso próprio inferno interior. Na negociação, o fundamental é ouvir o outro. Nos treinamentos de nossa consultoria (lançamos em 2012  um MBA em Gestão de pessoas em parceria com a UNIUBE) e ministramos cursos de extensão sobre o tema  para executivos e funcionários que, como afirma Ury, querem aprender a negociar. Porque a democratização de algumas  instituições(são poucas ainda – normalmente aquelas campeãs como melhor lugar para se trabalhar) está exigindo deles ouvir a outra parte. Por isso gastam mais de 50% do tempo com este item e sentem que não estão preparados para lidar com o intangível: o capital intelectual. Todos diagnósticos empresariais dos últimos anos mostram  que as grandes perdas de produtividade e via de conseqüência de mercado, se dão justamente por não começarmos por aí. Não há falta de recursos. Há desperdício.. Equipamentos errados são modernizados. Instalações são aumentadas quando não há demanda para isso.. Tudo sem cuidar das pessoas e  do clima organizacional. E a  lição de casa que fica é  ir conversando com seu "chão de loja", ”chão de fábrica” ,desenvolvendo talentos humanos, e  os bons resultados .não tardarão a acontecer. Para finalizar - ainda pensando sobre tudo que aprendemos nestes últimos anos, ao analisar essa  inversão de valores, e a ausência da ética da diversidade nas empresas- nada melhor que a velha poesia da canção de Raul Seixas. "Prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.", mesmo revisitando um artigo de seis anos atrás.

José Carlos Nunes Barreto
Professor-doutor
Uberlândia (MG)

Lambanças do poder



         Na recente visita de Dilma Roussef à Cuba, ao responder uma, pergunta sobre direitos humanos na ilha, a presidente se enfiou   numa  saia justa, ao comparar Cuba aos Estados do Brasil e EUA, este principalmente por causa dos eventos de  Guantánamo. Conseguiu com isso um dos piores incidentes diplomáticos já vividos por um primeiro mandatário nacional, repetindo  e agravando,  o desastre que foi a declaração de Lula em visita anterior, comparando os dissidentes cubanos à bandidos e traficantes brasileiros. Nossa autoridade máxima queria fechar, romântica e perigosamente os   olhos, para homenagear seu passado de guerrilheira e revolucionária- que hoje respeitamos, mas o mundo mudou presidente, e prova disso é que a senhora é a primeira mulher presidente deste País. Não precisava acrescentar esta lambança ao seu belo currículo Lattes.
Todavia, não é só os representantes do PT no executivo do planalto central que reproduzem tais erros. Governos municipais, estaduais de vários partidos além do judiciário em todo território nacional, nos brindam com situações dignas do velho trio, ”Os trapalhões”- com o perdão aos artistas ainda vivos e exemplos de profissionalismo e arte. Por exemplo, o PSDB de São Paulo ao promover a bárbara desocupação da localidade Pinherinhos  com sua truculenta polícia, atendendo uma decisão judicial insensível e polêmica de  reintegração de posse, em favor de um notório usurpador social-construiu uma efeméride negativa, e um vexame perante a comunidade mundial, mostrado pelas mídias aos quatro ventos - uma vergonha!
Já o PSD de Kassab, fez coisa pior: resolveu higienizar a região da cracolândia também com a polícia do PSDB de  Alkimin, tudo visando confundir o eleitor que vota em novembro para prefeito da cidade de São Paulo- o terceiro maior orçamento do País. Note-se que este realmente é um problema-chaga da cidade que se arrasta há pelo menos dez anos e atravessou várias administrações. Sabe-se também que é mais fácil trabalhar o tangível, qual seja demolir casas, pintar muros e lavar calçadas-difícil, e foi o que não fizeram, é promover um sistema que promova recuperação física, emocional e espiritual de pessoas, escravas de um vício que incorpora a rua como parte da doença. Cadê os profissionais de saúde pública destes governos? não viram que só fizeram espalhar estas vidas por outras ruas da metrópole causando mais dor e sofrimento inclusive para familiares co - dependentes?
Concluo saudando a decisão do STF, que autorizou o CNJ a investigar as contas milionárias dos barões da justiça nacional que segundo a procuradora nacional -“alguns são bandidos de toga”, fazendo uma ressalva: foi o próprio STF em 12 de agosto de 1992 -em seção administrativa, presidida por Nelson Jobim-que encheu as burras do judiciário e MPF,  ao criar a PAE, ou norma que estabelece isonomia entre poderes com efeitos retroativos à década de 90: uma derrama de bilhões de reais, pois foi estendida ao poder judiciário e ministérios públicos estaduais. O que o STF fez, cumprindo agora sua missão, foi garantir ao CNJ o poder de abrir processos contra magistrados expostos no COAF e suspeitos de malversação de recursos, sem ter de esperar as corregedorias locais viciadas muitas vezes pelo compadrio. Isto  não aconteceria naquela ilha, senhora presidente!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor