sábado, 3 de julho de 2021

Namorados


Quando o homem ama uma mulher, fala muito com ela, e sobre ela; quando deixa de a amar, fala com ela sobre ele.”

Johann Goethe

 

Há poesia  no olhar. Um certo clima... De algo novo como criança. Doce como a esperança. Coração pulando a mil. Que faço para expressar  meu amor? Flores nem pensar, isso já faço sempre. Em dias especiais ,como o dia dos namorados, presentes devem ser especiais. Talvez um jantar, quem sabe uma poesia...mas, e se a  rima não for rica? E se as palavras não saírem ?

 

Hoje acordei assim: encantado com o amor. Duas vidas, um homem, uma mulher, que antes nunca se cruzaram, de repente, ao gatilho do olhar, se juntam, e para isso movem terra e mar, e passam a correr lado a lado  como “as paralelas dos pneus na água da chuva ”,descritas na poesia musicada de Belchior.Que também é romântica. Nada melhor do que chover em eventos importantes. Início de namoro, casamento, no reencontro depois da briga...É como o ungir sobre nossas cabeças, da benção do Pai das Luzes, quem sabe o prenúncio do florescer da primavera que se apresenta...

 

Namorados há que são lúdicos. Brincam o tempo todo em seu estado de graça. Casais românticos, dizem que são poucos, diz a canção, não acredito...vejo-os por toda parte. Acho sim, que são loucos, como diz a música do Chico César. Por isso, não há como seguí-los, completaria Salomão em Eclesiastes...  Faço gosto do meu amor. Porque contém tudo isso. Mesmo tantos anos depois do primeiro beijo, não conseguimos ficar longe um do outro. É a mística de Vênus. Às vezes uma paixão, tipo terremoto de sete graus na escala de Richiter, outras vezes, um gostar doce e calmo, como as águas puras e borbulhantes de uma nascente. Que, mais a frente,  será um forte , caudaloso e revolto rio.

 

Sorrio quando lembro de nossas viagens, do nosso amanhecer juntos, e, de nossos cafés da manhã aos domingos. Quer coisa pior de que uma manhã de domingo longe de casa, e/ou brigados/separados? Como bem ilustrou uma nova compositora do nosso cancioneiro popular, ao descrever o desespero da solidão de quem ama, e se vê nesta situação: “ Vou bater na tua porta, completamente  nua, quem sabe então assim, você repara em mim”. Desespero faz  parte. ” É paixão, é amor”.

 

Se você não tem um amor, arranje um. Há sempre um chinelo, que se adapta a  um pé descalço e carente, filosofava com sabedoria, meu saudoso pai. Todavia se, após muitas tentativas, nada deu certo. Relaxe. Ande na chuva. Leia poesias. Cante uma canção. Normalmente o amor chega nestas horas, e se apresenta de formas imprevisíveis, para quem está fértil e pronto. Às vezes,  aparece  numa pessoa que sempre esteve do seu lado, e que, por você ainda não estar preparado pelo “cupido”, “ nem a via  sob este olhar mágico". Ou , supremo prazer, um velho romance antigo, que não deu certo, agora  reaparece no “palco de ilusões”, para se tornar realidade. E, quando isso acontecer, siga seu coração ,que nunca deixou de ser romântico, porque, após tantos anos de seca no deserto da afeição, beberá dessa fonte, primeiramente como quem tem muita sede,sem educação nenhuma...Sôfregamente... Depois, aos poucos, saciados e completos, compartilharão a vida um do outro, ou como lembra Vinícius de Moraes: “posto que é chama, que seja imortal enquanto dure”. A partir daí, beije...muito!

E que assim seja!

 

        José Carlos Nunes Barreto

Pós-doutor e editor executivo da Revista Sciencomm

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário