Volto ao tema segurança pública após a leitura do livro de Allan de Abreu " Cocaína- A rota caipira". Nele entendemos o porque do aumento da violência no triângulo mineiro nos últimos anos, pois nos tornamos rota do tráfico internacional de drogas, com tudo que isso quer dizer em termos de morte e destruição. Primeiro a releitura de meu artigo a seguir é mandatária, para depois entender a frase de Eric Clapton: "A Cocaína não mente" .Ela corrompe policiais, políticos, magistrados ,ministério público e advogados, além de impor uma guerra sangrenta entre facções criminosas. O País está despreparado para este desafio, principalmente Uberlândia e triângulo mineiro.
“Segurança é uma questão de Estado e deve estar
acima das diferenças políticas. Precisamos de um pacto por uma reforma
institucional profunda. Ou haverá segurança para todos, ou ninguém estará
seguro”. Luiz Eduardo Soares Ex-Secretário Nacional de Segurança Pública.
Após o voto do decano do STF a favor
dos embargos infringentes contra a formação de quadrilha no julgamento do mensalão ,estabeleceu-se de vez a sensação de impunidade na
sociedade brasileira - uma das tragédias que fazem parte do conjunto da obra de
insatisfação da Nação. A ausência de educação e saúde com “qualidade
fifa”, aliadas aos crimes sem solução, à polícia corrupta e despreparada
e a política de encarceramento em massa das classes menos favorecidas, que não
podem usar a justiça da elite e dos grandes advogados, completam a lista mas
não a esgotam, tamanha a miséria espiritual desta agenda.
Vou falar em seguida alguns números
instigantes citados pelo sociólogo e estudioso em tela, criador do conceito das
UPPs, e autor do livro “Segurança têm Saída” pela editora Sextante, que
recomendo aos dirigentes e gestores da segurança pública deste País. Começo com
o número de jovens assassinados na maioria homens e afrodescendentes - são
quarenta mil por ano na faixa de idade entre 14 e 24 anos - de tal impacto, que
já falta na pirâmide etária social este perfil étnico. Se juntarmos a estes, os
cinquenta mil mortos em acidentes de trânsito por ano e os cerca de 40000
mortos em acidentes de trabalho, teríamos mais mortos anualmente que os cem mil
mortos em dois anos e meio de guerra na Síria. E porque nós e o mundo não
percebemos isso? Sem dúvida porque as vítimas são da maioria silenciosa: preta,
pobre e pouco representada. Basta ver o alarde que é feito quando cai um boeing
com algumas dezenas de mortos, que concentram mais usuários brancos e da elite
(o que está mudando, ainda bem, mas não invalida a comparação).
Das quarenta mil mortes por
assassinato, a maioria se dá com a presença do trinômio álcool, armas e tráfico
de drogas, potencializada pela presença de uma polícia que é um verdadeiro
macaco em loja de louças: desaparelhada, sem formação adequada, sem auxílio
adequado de perícias, o que faz com que somente se esclareçam em média 10% dos
assassinatos. Via de consequência, a vida vale muito pouco neste País, a pistolagem
arrebanha tanta gente, e os crimes contra a vida e os patrimônios crescem em
escala geométrica. Pois o professor Soares diagnostica: temos 56 polícias
brasileiras - 27 PMs estaduais, 27 policiais civis estaduais, polícia Federal e
polícia rodoviária federal. Não há um sistema nacional que organize estas
instituições, que na maioria das vezes competem entre si, e raramente dialogam,
mesmo quando as soluções de crimes exigem isso. Não nos esqueçamos das guardas
municipais e das seguranças armadas, que equivalem a quase um exercito
paralelo, com a maioria apresentando carência de formação, agravada pela falta
de controle adequado por parte do estado, e eis o terrível estado da arte da
segurança pública no País.
A grande verdade é que este assunto
virou questão de vida e morte para todo cidadão brasileiro, que enfrenta esta
guerra da falta de segurança diariamente, e é um sobrevivente da ação
desordenada de nossas polícias, com eterno fogo amigo contra a população -
sábia, a qual diz ter mais medo da polícia que dos bandidos, e o autor em
epígrafe, infelizmente, mostra de maneira inequívoca, que ela tem toda razão.
Que Deus nos ajude!
José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da Academia de letras
de Uberlândia (ALU-MG)
debatef@debatef.com
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