quinta-feira, 30 de julho de 2015

O Resultado do descaso

Relembrando Milton Santos, maior geógrafo do Brasil: ”O espaço é a morada do homem, mas pode ser também a sua prisão”.

O ano de 2010 está findando e será reconhecido no futuro como aquele em que aconteceu a batalha do Rio, quando forças da legalidade finalmente enfrentaram o poder paralelo do tráfico nos morros do Rio de Janeiro. Parecia um filme "Tropa de Elite 3", só que real, e nele, muitas vidas de inocentes foram ceifadas,  apesar dos números serem frios e dizerem que não houve o esperado “banho de sangue”. Todavia mais uma vez, os negros e pobres foram sacrificados no altar do descaso do estado. Os especialistas em segurança já apontavam para a escalada da violência no Rio e no Brasil, primeiro na década de 80, epidêmica e acima de 8 homicídios por cem mil habitantes-depois catas trófica, hoje, acima de 31 mortes para cada 100 mil habitantes. A causa principal é o tráfico de drogas alimentado pela Bolívia, em mais de 80% do total de suprimentos. Em qualquer guerra, o fundamental é cortar o suprimento, e se não o fazemos é por falta de ação ou comprometimento com a causa. Uma parte sensível de nossa polícia é corrupta e está vendida ao tráfico. Especulava-se no programa “Roda Viva” da rede Cultura, logo após o evento em questão, em entrevista com o ex - secretário nacional de segurança pública e ex- secretário de segurança pública do Rio no governo garotinho, que o catalizador do movimento terrorista, que precipitou a ação das forças legais no Rio, seria a queda de braço entre traficantes e policiais, pela taxa cobrada pelos últimos para fazerem “vista grossa” ao tráfico. Lamentável, mais precisamos dizer com todas as letras, que a principal tomada das forças da lei e da ordem ainda não foi feita, qual seja, acampar e intervir nas polícias do País.

Curioso que as inteligências nacionais não tocam no assunto,  ficam no “border line” enquanto os comandantes do tráfico, de dentro das cadeias de “segurança máxima” comandam massacres na população civil, em represália ao alto preço cobrado pela banda podre da polícia brasileira. E não estamos falando de algo inusitado no mundo. A operação “mãos limpas” na Itália e a destruição do cartel de Cali pelas ações em prol da legalidade na Colômbia, por exemplo, fizeram desaparecer as bandas podres da polícia e do judiciário nestes países, reféns até então da máfia. Prendeu-se e julgou-se chefes de polícia, delegados, juízes e procuradores corruptos e macunados com o tráfico de drogas e de armas. Não precisamos “reinventar a roda”. A boa pergunta a ser feita é: Porque ainda não foi realizado isso aqui?

A paz é o melhor presente que desejamos a todos neste final de ano. Populações inteiras prisioneiras dos bandidos em suas comunidades, anos a fio, comemoram este natal livres da “lei do silêncio”, e os negócios da sociedade civil começam a florescer em morros e favelas ocupados agora pelas unidades de polícia pacificadoras no Rio- um modelo a ser seguido por BH e por todas metrópoles brasileiras. Simples assim: sai o poder paralelo, entra o estado, que agora tem uma enorme avenida a ser construída em termos de relacionamentos e serviços para a população. Quem pode mensurar o prejuízo de dezenas de anos desta ocupação ilegal de território pelas milícias e máfias de drogas e armas? E como não responsabilizar o estado por tanta demora em agir?

Cristo, o Senhor do natal e de nossas vidas, nos ensina que “se conhecermos a verdade, a verdade nos libertará”. Esta verdade renova mente, corações e espírito trazendo perspectivas de cura para o corpo. Atitudes  novas, como essa das autoridades do Rio, transformam  o espaço urbano e principalmente nossas casas. E felicidade nada mais é que isto: salvar a alma das opressões do maligno e seus anjos, libertar o corpo de doenças e vícios, construir liberdades.

Felicidades! E Feliz natal a todos e todas.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

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