quarta-feira, 22 de abril de 2015

“Crash” mereceu o Oscar


Escolho como guia as palavras de um santo. Nas coisas cruciais, unidade...Nas coisas importantes, diversidade....Em todas as coisas, generosidade....”
Discurso inaugural do presidente Bush

Intrigante ao mesmo tempo em que faz pensar ,O Filme “Crash” é o retrato da América e do mundo com seus dilemas atuais. Falta de oportunidades para as minorias. Racismo contra negros. Drama de persas que são confundidos com iraquianos. Costa riquenhos  que se tornam mexicanos ou brasileiros .Todos  latinos ou seja ,cachorros. Pessoas sem valor, numa sociedade opulenta, que a partir do desembarque nesta aventura de sobrevivência, passarão a sonhar com a loteria que Mr Bush promove todos os anos com o green card( O filme não fala nisso).Explica-se:  apesar de contribuir com sua força de trabalho para aumentar a riqueza e o poder da pátria americana, não serão protegidos por leis .Estão no “Egito ”,biblicamente falando. Advogado lá é fundamental para fazer valer a cidadania(aqui também).Mas quem é cidadão?

No discurso  de Bush, após aquele imbóglio  de sua  polêmica  eleição, havia uma diretriz que absolutamente não foi seguida. A guerra do Iraque, é o exemplo mais eloquente. Durante outro discurso,  o do “estado da União” deste ano, isto ficou bem claro :Do lado de dentro a corte aplaudia. De fora milhares de pessoas, sob pauladas policiais, pediam o fim da guerra. Mesmo os santos de sua fala inicial.

Voltando ao filme, há situações claramente vivenciadas  também aqui no Brasil. O poder de polícia do estado, personificado por gente que vive seus dramas pessoais,  seu salário insignificante ante a conta do médico e do sistema de saúde( os policiais). E por isso transfere toda carga de frustrações ao negro( que é secularmente humilhado)   e  à parcela mais desprotegida da sociedade, que precisa  se fazer cidadã, mas ainda não dispõe de meios ,poder  e  influência.

Sabemos que o  estado constitucionalmente tem este poder de polícia. O que é diferente de ser estado policial. Que os americanos alegam não ser. E que nós, desafortunadamente, volta e meia, entra e sai ditadura ,somos obrigados a “engolir”. Como agora no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro e  queda do ministro da economia. Urdiu-se no palácio do Planalto tal atentado ao direito de privacidade de um cidadão brasileiro? Se tal aconteceu, então temos configurado o crime de responsabilidade do Presidente da república. E onde está a oposição? Alguém já disse que o Brasil não merece este governo e também esta oposição. Deixaram passar a janela de oportunidade do depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios. Agora estão deixando passar  mais uma, no Paloccigate!

Concluo: Hollyood com sua arte imita a vida. E faz para nós a crítica à uma sociedade injusta em que os carrões, sendo símbolo de poder para os brancos, não o são para os afrodescendentes de sucesso. Porque naquele momento crucial de poder do estado, ao ser abordado por um policial branco, a inveja, o ressentimento de se ter menos dinheiro que o negro, fazem o branco  abusar do poder. Todavia a América tem leis e ele vai responder por isso. No Brasil também temos leis. Mas seus rigores ,infelizmente ,só valem para pretos e ....pobres.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

De Gurus e Seguidores

 

“Eu sou eu e minhas circunstâncias” Ortega Y Gaset

Como consultor e professor (e esta é a profissão de minha vida),sou procurado por ex-alunos, em situações de tomada de decisão em suas vidas. Aprecio quando vêm só para conversar ,ocasião em que procuro ajudar  explicando a visão de mundo que eles respeitam. E a maior alegria de alguém que realmente formou pessoas é reencontrar um discípulo e ver que  ele é grande e muito maior do que você imaginou lá atrás. Chamo isso de coaching (técnica de treinamento usada em craques de times).Às vezes não cobro por consultorias e coachings. Na minha arte isto é possível, para quem já acha que tem o bastante e a alma não é pequena. No entanto não me considero guru de ninguém. Nem tenho seguidores. Aliás acho essa idéia incômoda. Já pensou a gente caindo num buraco?

Interessante  é ler as opiniões de gurus e de um guru dos gurus como Peter Drucker, que desencarnou em novembro último, farto de dias e “ supitando” sabedoria. Ele foi o maior especialista em administração do século passado - o Pai do “Management”. Descreveu a sociedade brasileira como um mix de instituições de negócios, governos, cultura e entes sociais, oriunda de rápida transformação a partir do campo, em menos de 50 anos. Na década de 50,ele foi o primeiro a afirmar que os trabalhadores faziam parte dos ativos de uma organização. Um escândalo para a época! Ensinou que desenvolvimento econômico e social se faz com gestão acima de tudo.

Boris Tabacof da FIESP em recente artigo no Jornal “O estado  de SP”, exaltou o mestre, e o fez como contraponto  à   visão monetarista tradicional dos economistas da PUC RJ que “governam” o estado brasileiro há 12 anos. Detalhou como  o planejamento do desenvolvimento em função apenas da poupança e do investimento - tese destes jovens, prejudica a nação.

O fato é que com o pífio crescimento do País na última década, hoje somos BRICs comendo poeira. E parece que não temos  estadistas. Não se pensa mais o estado como se fazia no começo do século passado. Idéias seguidas de ações que nos fizeram crescer como a China de hoje, no chamado “milagre brasileiro”. Décadas e décadas até meados  de 1986.Anos JK, Brasília,Itaipu e toda infraestrutura logística. Criação do Sistema S(senai/sesi)e Liceus de ofício. Criação de Universidades de verdade(Não estas últimas anacrônicas - salvo exceções ). Instituições que até hoje são fundamentais para o País.
Peter Drucker foi consultor e coach de vários ícones de administração de empresas como Jack Welch da GE, Alfred Sloan da GM e Andrew Grove da Intel. Contudo já velho, desencantou-se com o capitalismo e passou a ser voluntário do chamado terceiro setor (ONGs),que saldou como o paradigma salvador da sociedade neste século . Ressaltou  no fim, que a cobiça desenfreada dos executivos das grandes corporações transnacionais (seus seguidores até então), gerou as fraldes e o estouro da bolha das pontocom ,  destruindo reputações e vidas. Alertou que tudo pode se repetir de novo, agora com a bolha de preços dos imóveis americanos. Os “sem misericórdia” cairão novamente em sua própria armadilha,  não sem antes serem duramente disciplinados  pelo mestre. Que descansa em paz.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

De vinhos, educação e futebol

 

“Da pura água/criar o vinho/do puro tempo/extrair o verbo”, Orides Fontela

Ainda respirando a derrota do Brasil para a França, me pergunto porque a arte, do  futebol deste País,  morreu naquela tarde na  forma e na essência, revivendo na gente aquele antigo   complexo de “vira-latas”? Apaga, apaga. Como fazemos com uma versão inicial e indesejada de um artigo. Ou com uma lembrança ruim qualquer. Mas como tudo na vida tem os dois lados, podemos desde já mostrar o lado bom: Estamos livres deste gargalo de produção. Nos jogos da “Pátria de chuteiras” na copa, muitos negócios pararam. As expectativas exacerbadas de vitória fizeram o povão esquecer nossas mazelas: A fome, o desemprego, a falta de educação e de oportunidades, o endividamento das pessoas e do Estado( o que é muito pior para a Nação).O autor do gol da França Henry Roussen (?),antes do jogo afirmava aos jornais que os brasileiros são bons em futebol porque ficam na rua jogando bola das 8 h às 18H, e não vão à escola. O que não deixa de ser verdade. O que ele não disse é que um em um milhão de bons jogadores brasileiros negros e pobres como Robinho, tem a oportunidade de jogar uma copa do mundo. A maioria fica pelo caminho, reféns dos PCCs da vida, porque o estado brasileiro não dá escola de qualidade, nem infra estrutura adequada para a saúde, nem políticas públicas decentes para geração de renda. Um desastre! daí o espaço para a atuação do estado paralelo do partido da “Correria”(crime no jargão da favela).

Conversei dias destes com um ex-reitor de uma universidade Federal. O assunto foi sobre a omissão da academia nesta história. Como podemos continuar errando como o Parreira? não mudarmos o jogo a tempo de evitar a derrota! Como não aprendermos com os erros? Uma universidade elitista, fora de realidade. Longe do chão de fábrica, longe  da sociedade. E pior na “reforma lulista” vai continuar sorvendo os maiores recursos da educação. Quando sabemos que o maior problema está no ensino básico. Aceitar isso passivamente é o mesmo que atuar como aquele timinho do Parreira. Se arrastar em campo. Perder a honestidade intelectual. Mas a vida continua. Isto que é mágico. Como as boas idéias .Como os bons vinhos. E por falar nisso, adorei a crônica “Um pouco de vinho” do consultor Hélio Mendes no jornal ”O Correio” de UDI dia 26 p.p. Sou um apreciador deste secular ”nectar dos deuses”. Um mero aprendiz, a me encantar com os  momentos que ele proporciona à mesa. Gosto de ler os rótulos com especificações e cepas das uvas. Algumas manjadas: cabernet, Merlot, Pinot Noir. Outras nem tanto: Malbec, Chenin, chardonnay entre muitas. Aprender a conhecer, cada uma. Outra arte. Solver com classe. ”World class” no gosto. “Bouquet” na taça. É alimento para a alma-está na santa ceia representando o sangue de Cristo. É remédio - recomendado na bíblia pelo apóstolo Paulo ao díscípulo Timóteo para a cura dos males digestivos e por nossos médicos de hoje contra o mal colesterol. É um produto cuja cultura de produção, após milhares de anos, se modernizou, e está no final de uma cadeia de suprimentos que gera renda e prestígio para investidores. Precisamos extrair daí, como a poeta, novos sonhos e novo arrebol.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br 

Fé e Confiança



Aos meus alunos de pós graduação tenho sempre de mostrar “cases” de planejamento estratégico bem sucedidos, e neles constato que a visão dos fundadores é o que move essas organizações. Quem acreditaria na revolução contida em um pequeno computador pessoal, na década de 70?-caso da Microsoft de Bill Gattes -ou  que um armazém de varejo em Uberlândia disposto a fazer entregas a seus clientes se transformaria na maior empresa de logística da América Latina, tantos anos depois ?-caso do Grupo Martins do Sr alair Martins, ou que o sonho de Martin Luther King “libertaria” a sociedade negra americana  e geraria a poderosa Condolleza Rice de hoje?- Sempre pergunto em minhas consultorias: como você e sua empresa esperam estar fazendo negócios daqui a dez anos? A maioria dos empresários não sabe a resposta. Alguns poucos respondem na ponta da língua. Têm-na como visão ,após o filtro dos princípios(crenças e valores)somados à análise do ambiente de negócios.  Há fé nestes líderes.

Ao “tocarem” as organizações (religiosas, empresas ou países) essas lideranças têm a seu favor “insights” que lhe são emprestados por conselheiros, normalmente fora dos papéis e ambições hierárquicas da organização que dirigem. Esses costumam dar ao líder opiniões e informações imaculadas, com elevada franqueza e iluminada perspectiva de êxito. Há entre esses conselheiros e líderes uma relação de confiança que Saj-nicole Joni chama de estrutural em seu brilhante artigo ”A Geografia da Confiança” em “Harvard Dusiness Review” 2004-03, após estudar a questão de liderança em 150 empresas européias e americanas. Há segundo a autora, dois outros tipos de confiança: a profissional e a pessoal.Fica claro que um dirigente precisa de um “kitchen board” -uma espécie de conselho de sua cozinha- ,para que suas decisões possam acontecer após ouvir pelo menos três opiniões as vezes estruturais, outras profissionais e algumas até pessoais,  porque após tomadas e executadas moverão muitas vezes mercados, países e o mundo.

   Interessante notar que quando se movem dentro da organização, os conselheiros podem mudar o peso de suas opiniões junto ao líder. A confiança profissional cresce à medida que a liderança trabalha lado à lado com indivíduos que reiteradamente demonstram domínio sobre certos processos e áreas do saber. Alguns homens de confiança estrutural deixam de sê-lo, quando assumem cargos dentro da organização e passam a ser “contaminados” pelos interesses corporativos. Já a confiança pessoal, normalmente conservada  a partir de laços familiares ou de amizade, é réfem de todas as mazelas que estas relações abrigam, fazendo despencar(no divórcio por exemplo)conselheiros e ascender novos, com todos os seus impactos.

Por maior que seja a ascensão de alguém no papel de líder, a tríade de confianças estrutural, profissional e pessoal   é mais do que necessária em seu corpo de conselheiros para tomada de decisões que podem mudar a vida de milhares de pessoas e a sorte de organizações. Já a fé...esta só vem de Deus(para os que crêem).

Concluindo:“ “A Fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vê-em” ensina a bíblia, ”um líder para ter sucesso deve aprender  a usar a geografia da confiança”  completa Saj-Nicole Joni. Que tal ficarmos com as duas, fé e confiança, para líderes e para nós mortais comuns nesta pós-páscoa?

José carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
Debatef@debatef.com.br


O Nobel da Arquitetura



“Criações, sejam elas crianças, poemas ou organizações, têm vida própria.” Starhawk

Arquitetura é a arte de criar espaços organizados e animados, por meio do agenciamento urbano e da edificação, para abrigar diferentes tipos de atividades humanas(Aurélio)Para isso o candidato a arquiteto têm de fazer uma prova de habilidades específicas, que exige  saber desenhar e ter uma visão espacial desenvolvida. É necessário também aguçada sensibilidade na utilização de cores, sombras, e saber criar. Por fim, ao longo de cinco anos de estudos em uma grade de matérias que lhe farão entender a história da arquitetura, e através dela o conjunto de obras realizadas em cada continente, cada civilização, cada época. Aprender a dar conforto ambiental à suas edificações, saber dispor os elementos de um espaço urbano, usando princípios, normas técnicas e materiais adequados. Será um artista da função, do belo e da forma.

Convivo com a alma do(a) arquiteto(a) há dezenas de  anos. Como professor há dez anos. Como profissional de engenharia e arquitetura há 30,com destaque para os seis anos como diretor e presidente de uma associação de Engenheiros e arquitetos, seis anos como inspetor – chefe do CREA SP em Cubatão SP, além de quatro anos como conselheiro estadual no CREA SP além de um ano como Chefe da assessoria técnica no CONFEA em Brasília. Há diferenças gritantes e complementares entre engenheiro(a)s e arquiteto(a)s. Que “brigam” desde sempre. Mas a sabedoria faz o bom engenheiro(a) arquitetar, e apesar da  ciumeira, consegue-se fazer um bom arquiteto(a) engenheirar.

Na oportunidade em que Paulo Mendes da Rocha-inquieto, agitador, aplicador de soluções estéticas em locais de pouca delicadeza, incômodo para o estabelecido- recebe em Istambul o prêmio Pritzker – considerado o Nobel da arquitetura, não poderia deixar de louvar esta classe, principalmente por teimar em criar e acontecer apesar do custo Brasil ou seja, o custo da margem e da pouca visibilidade, nas palavras de Teixeira Coelho(Autor de “Niemeyer” ed.Iluminuras) no caderno Mais da folha de SP de 16/04/2006.

Tive contato com a obra de Mendes da Rocha durante a visita aos pavilhões da Mostra “Menos estética mais ética” na 7a Mostra de Arquitetura da Bienal de Veneza em 2000,e fiquei assombrado, ao lado de  um filho arquiteto e urbanista, Gustavo Henrique Garcia Barreto, a quem homenageio. Esta convivência me faz entender melhor o papel da inovação e da criação como matéria prima dos processos de produção hipercompetitivos, e que Sthefen Covey (autor de “Os sete hábitos de pessoas altamente eficazes - ed. Best Seller)chama de Criar Sinergia, ou o sexto hábito eficaz para se chegar a  uma vitória pública. Sair da dependência exige segundo o autor, desenvolver primeiro a integridade, que seria a  vitória particular (sendo proativo, tendo imaginação e partindo para a ação planejada),depois o ganha -ganha ,o entendimento do outro, além da sinergia, completam o instrumento que deve ser constantemente afinado para configurar uma aspiral ascendente de sucesso. Aos 78 anos Mendes da Rocha é como um menino ao criar. Aos 97 Niemeyer também. Para eles somente “o céu é o limite”. Picasso e Michelângelo os esperam lá. E que demore!

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

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Os Ciclos da Vida



A vida é um ciclo, os antigos já diziam. Fui refletir sobre isso e me veio uma série de questões. Quando alguém pergunta quantos anos você tem, na verdade quer saber quantas voltas você deu em torno do sol. O próprio sol leva seu colar planetário em direção à constelação de Hércules, em um outro ciclo . Nosso coração bate 100 batidas por minuto, por exemplo. Temos nossos relógios internos-biológicos, todos comandados pela alternância claro escuro. Através da retina, ativamos um grupo de neurônios situados na base do hipotálamo, que disparam ordens para nosso marca passo circadiano(diário).Os ciclos hidrológicos de rios e bacias também interagem a medida que a terra se aproxima ou se afasta do sol. No inverno muitas águas, no verão secas. A ação do homem, através de hábitos modernos com o corpo e com o uso indiscriminado de recursos do planeta, está alterando  estes ciclos de forma caótica. O uso do carbono contido na queima de carvão e petróleo, está aquecendo o planeta como uma chapa quente. Degelando geleiras e destruindo complexos sistemas estuarinos marinhos em todo planeta, verdadeiros berçários de biodiversidade. Além disso as engenharias feitas sem conhecimento e sensibilidades ambientais geram  desastres climáticos como o de New Orleans. As obras de retificação do rio Mississipe fizeram os engenheiros americanos drenar milhares de Kms quadrados de pântanos e mangues, que hoje se sabe, seriam fundamentais para quebrar a força das ondas do mar agitado por furacões. Tiveram de fazer um dique, que como se viu não aguentou. O próximo terá que resistir furacões de grau 5, o que  levará 20 anos. Já era.

Trazendo para nosso ethos industrial-urbano a experiência desta prosa, pergunto quantas veredas foram aqui aterradas para se fazer pátios e ruas totalmente impermeabilizados?  Claro que as águas escorrem para a bacia dos Rios, pelos córregos tributários, a maioria canalizados sob ruas e avenidas,  insuficientes para comporta-las. Esta ação maluca de impermeabilizar o solo está mexendo no ciclo hidrológico. Aumentando a evaporação sobre a cidade, fazendo chuvas cada vez mais fortes. E ao mesmo tempo não permitindo que estas percolem no solo. Eis o desastre. Faça você mesmo as contas: são bilhares de caixas d’agua de 1000 litros  se movimentando. Só caros piscinões poderão quebrar esta velocidade, até que se desmate mais e se impermeabilize mais.

Também é preciso rever comportamentos e atitudes que não levem em consideração o ciclo circadiano do corpo humano. A sociedade está cada vez mais noturna e há quem troque o dia pela noite. O pai da cronobiologia - Ueli Schibler, adverte que estudos ainda não validados, demonstram que pessoas que trabalham em turnos diurnos e noturnos alternados seriam mais sujeitas a tumores de cancer. Eis aí a questão. O rico de se morrer de câncer hoje é de 1/25, por enquanto. Só para comparar, o risco do avião legacy bater no boeing da Gol era de 1/200 milhões. Prolifera-se a doença, que os antigos nem falavam o nome. E o cerne do problema está no nosso modo de vida. Finalizando, é necessário estudar para compreender, legislar para agir e respeitar todos esses ciclos porque são a própria vida. A outra opção é a morte.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

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Viver não dói, Dr Bernardo!



Algumas experiências acontecidas desde que passei a escrever com frequência na mídia impressa, são muito interessantes, cativantes. E por serem por demais significativas é impossível guardá-las só para mim.Q uando escrevi “Hotel Ruanda ”recebi um e-mail de alguém ligado à raízes islâmicas-lindo-dizendo que eu seria a voz também do seu povo. Não há dinheiro que pague uma palavra de carinho de uma leitora que se viu em algumas linhas escritas por este escriba ano passado em “Namorado”. Semanas atrás escrevi sobre ”O absurdo do assédio moral” e citei como exemplo o professor Bernardo Bernardino. Um negro. Recebi e- mails do movimento negro pedindo os telefones de Bernardo, que eu não tinha. Depois fiquei sabendo, com alegria que o mesmo se recuperara, através de um e-mail de agradecimento do próprio Bernardo. Que me emocionou. E por isso divido esta emoção com vocês: “Agradecimento”. Prezado amigo Barreto, muito obrigado pelo seu artigo e pela consideração de um velho e bom amigo. A vida foi cruel demais para comigo quando entrei para a lida sindical. A humilhação constante a que fui submetido pela direção da UNITRI,chegou até a minha alma. Foi quando aconteceu aquele “acidente” comigo. Mas já estou  me recuperando. Estou na casa de minha mãe (dá o endereço e o telefone). Mas vou ter de me tratar com psicólogo e psiquiatra por dois anos além de tomar remédios muito fortes. Estou vindo do INSS e não pude ser atendido porque a instituição não deposita o mesmo desde 2001. Tive de voltar em casa e levar todos os meus holerites para provar que o mesmo foi tirado do meu salário. Acho que amanhã vão fazer uma auditoria lá . Reze pela minha recuperação. Um abraço Bernardo. ”Liguei depois e falamos por 10 minutos. O encorajei a continuar vivendo. Mas em casa refleti e resolvi tomar emprestadas as palavras do poeta Carlos  Drumond de Andrade. Peço vênia para citá-lo a seguir:

”Viver não dói.

Definitivo, como tudo que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
Mas das coisas que foram sonhadas
E não se cumpriram


Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
O que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas,  por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor e não
conhecemos, por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos
por todos beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos, não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos
Mas porque o futuro está sendo
Confiscado de nós
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.


Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
Mais me convenço de que o
Desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
faz perder também a felicidade.

A dor é inevitável
O sofrimento é
Opcional”.
 
José carlos Nunes Barreto
Professor doutor

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sábado, 18 de abril de 2015

Freakonomics ou Eureca!

“Desconfie sempre da sabedoria convencional. O senso comum precisa ser confrontado com perguntas, muitas perguntas...” Steven Levitt- Num dos meus recentes artigos tomei emprestada , a forma de ver o mundo do premiado professor Steven Levitt, (co-autor de Freakonomics) da Universidade de Chicago, quando em suas análises de extrema simplicidade, desvenda o lado oculto das coisas. Me refiro à questão do aborto: A legalização do mesmo em 1973 trouxe como benefício acidental a queda da criminalidade nos EUA. Este é um fato constatado em dados estatísticos no seu trabalho que ganhou a prestigiosa medalha John Bates Clark,que é uma ante-sala do prêmio Nobel. Neste estudo Levitt demonstra que a legalização do aborto foi responsável por metade da queda da criminalidade nos anos 90.Explica-se: Com esta medida se impediu o nascimento de milhões de crianças pobres e principalmente indesejadas, muitas vezes filhas de mães solteiras. Condições que matematicamente aumentam a probabilidade do ingresso do menor ,em uma vida de crimes. A esquerda acusou-o de propor medidas racistas e eugenistas(ou seja eliminar os negros, índios,e minorias). Os conservadores acusam o professor ,de ser propagandista do aborto. Também a este escriba, por ter afirmado que a igreja, notadamente a romana, tem que assumir suas responsabilidades por impedir o aborto( entre outras tantas medidas contraceptivas importantes e que evitam a gravidez sem precisar chegar a este extremo de matar um feto ) .Como cristão não recomendaria o aborto. Mas estou trabalhando sobre dados e fatos científicos que não podem ficar na penumbra, neste momento de caos e reflexão sobre a segurança pública. As igrejas como integrantes da sociedade não podem fugir a este debate em função da sua responsabilidade ao guiar seu rebanho. Não teremos recursos para construir presídios de segurança máxima para tanta gente, que seria boa caso nascesse num ambiente de amor, exemplos e compreensão do lar ou de sucedâneos. Tudo que fizermos atualmente será pouco, porque juntamente com esta política pública deveria haver outras “casadas” como a descriminalização das drogas para acabar com este mercado do inferno. Muita gente já pregou no deserto: Al capone, um mito por sua força mafiosa, só existiu por causa da lei seca nos EUA. Uma simples aplicação da lei de oferta e procura, como sabemos hoje. Então não adianta me atacarem por causa do aborto. Acho que antes disso o estado, a sociedade ,a igreja que somos todos nós, deveríamos aplicar a prevenção para principalmente evitar a epidemia de grávidas menores e com problemas de insegurança alimentar(vide última pesquisa IBGE sobre o assunto) Este é um momento crítico em que além de, ter fé em Deus, e rezar , fazer o bem é assumir escolhas cruciais para os próximos 20 anos: Votar certo; educação de qualidade em tempo integral com formação tecnológica tipo SENAI; Merenda escolar reforçada; Primeiro emprego para valer (não esta vergonha do PRONATEC da Dilma );Políticas de adoção de orfãos com os paradigmas de mercado , e tendo o estado apenas como regulador. Como diria meu avô: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. -José Carlos Nunes Barreto Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU debatef@debatef.com

Filhos do Universo


“Quando os justos triunfam há grande alegria,mas,quando os ímpios sobem,os homens de bem escondem-se” Salomão em Prov.28:12

A propósito da tensão entre as duas Coréias. E dos testes nucleares da Coréia do Norte a lançar brumas de guerra no horizonte, me lembro do muro caído de Berlim .Dos carros todos iguais do lado oriental passando em levas para o lado ocidental. Em 1990 estive lá a tempo de tirar uma lasca do muro (Que guardo até hoje) e de viajar pelo lado oriental, para ver de perto a obra do atraso comunista: escassez de alimentos, degradação ambiental, atraso institucional, tecnológico e político. O mesmo observamos hoje no lado norte coreano. Com ajuda de um satélite qualquer à noite, vemos a Coréia do sul, totalmente iluminada. Pelo progresso e pela sociedade livre. O norte jaz em trevas. Da falta de investimento em energia. Do pensamento único. Da falta de oportunidades e de liberdades constitucionais. Todos tem um dono. Um falso Deus. (Que já foi simpático à maioria)Pequeno e obtuso, hoje governa com mão de ferro tirando dinheiro da alimentação de seu povo para construir armas nucleares com a clara intenção de afrontar seus vizinhos e os EUA. Muitos governantes como ele, no poder são picados pela mosca azul, e “se acham”. No Brasil então, a tentação do autoritarismo é muito maior. A tal ponto do ex-presidente Lula, em conversa com um empresário próximo do poder, pedir para que este não acordasse seu demônio interior, se "não fecharia o Congresso e faria as reformas que precisam ser feitas”. A questão toda é que, neste caso, estaríamos numa ditadura de esquerda, tal qual a de Fidel, ou a de chavez. E estas são as trevas mostradas acima. Os mais pobres é que sofreriam mais. Por isso devem pensar neste “desabafo” de Lula antes de votar. A lição a seguir, vai principalmente para os que ainda precisam usar o “bolsa família”. Apesar dos ditadores, ela chegou até nós desde 1927-Desiderata, poema de MaxEhrmann’s :

“Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se que há sempre paz no silêncio. Tanto que possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam. Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes – eles também tem sua própria história. Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a Terra e o Universo vão cumprindo o seu destino. Evite as pessoas agressivas e transtornadas, elas afligem nosso espírito. Se você se comparar com os outros você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você. Viva intensamente o que já pode realizar. Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde, ele é o que de real existe ao longo de todo tempo. Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo está cheio de astúcia, mas não caia na descrença, a virtude existirá sempre. “Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.” Muita gente luta por altos ideais e em toda parte a vida está cheia de heroísmos. Seja você mesmo, principalmente, não simule afeição nem seja descrente do amor; porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto ele é tão perene como a relva. Aceite com carinho o conselho dos mais velhos, mas seja compreensível com os impulsos inovadores da juventude. Alimente a força do Espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários, muitos temores nascem do cansaço e da solidão. E a despeito de uma disciplina rigorosa seja gentil para consigo mesmo. Portanto esteja em paz com Deus como quer que você o conceba e quaisquer que sejam seus trabalhos e aspirações, na fatigante jornada da vida, mantenha em paz com sua própria consciência. Acima da falsidade, dos desencantos e agruras, o mundo ainda é bonito, seja prudente. Faça tudo para ser feliz.”

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor-doutor

debatef@debatef.com