“Escolho como guia as palavras de um santo.
Nas coisas cruciais, unidade...Nas coisas importantes, diversidade....Em todas
as coisas, generosidade....”
Discurso
inaugural do presidente Bush
Intrigante ao mesmo tempo em que faz pensar ,O Filme
“Crash” é o retrato da América e do mundo com seus dilemas atuais. Falta de
oportunidades para as minorias. Racismo contra negros. Drama de persas que são
confundidos com iraquianos. Costa riquenhos
que se tornam mexicanos ou brasileiros .Todos latinos ou seja ,cachorros. Pessoas sem
valor, numa sociedade opulenta, que a partir do desembarque nesta aventura de
sobrevivência, passarão a sonhar com a loteria que Mr Bush promove todos os
anos com o green card( O filme não fala nisso).Explica-se: apesar de contribuir com sua força de
trabalho para aumentar a riqueza e o poder da pátria americana, não serão
protegidos por leis .Estão no “Egito ”,biblicamente falando. Advogado lá é
fundamental para fazer valer a cidadania(aqui também).Mas quem é cidadão?
No discurso de
Bush, após aquele imbóglio de sua polêmica
eleição, havia uma diretriz que absolutamente não foi seguida. A guerra
do Iraque, é o exemplo mais eloquente. Durante outro discurso, o do “estado da União” deste ano, isto ficou
bem claro :Do lado de dentro a corte aplaudia. De fora milhares de pessoas, sob
pauladas policiais, pediam o fim da guerra. Mesmo os santos de sua fala
inicial.
Voltando ao filme, há situações claramente
vivenciadas também aqui no Brasil. O
poder de polícia do estado, personificado por gente que vive seus dramas
pessoais, seu salário insignificante
ante a conta do médico e do sistema de saúde( os policiais). E por isso
transfere toda carga de frustrações ao negro( que é secularmente
humilhado) e à parcela mais desprotegida da sociedade, que
precisa se fazer cidadã, mas ainda não
dispõe de meios ,poder e influência.
Sabemos que o
estado constitucionalmente tem este poder de polícia. O que é diferente
de ser estado policial. Que os americanos alegam não ser. E que nós, desafortunadamente,
volta e meia, entra e sai ditadura ,somos obrigados a “engolir”. Como agora no
episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro e queda do ministro da economia. Urdiu-se no
palácio do Planalto tal atentado ao direito de privacidade de um cidadão
brasileiro? Se tal aconteceu, então temos configurado o crime de
responsabilidade do Presidente da república. E onde está a oposição? Alguém já
disse que o Brasil não merece este governo e também esta oposição. Deixaram
passar a janela de oportunidade do depoimento de Duda Mendonça na CPI dos
Correios. Agora estão deixando passar
mais uma, no Paloccigate!
Concluo: Hollyood com sua arte imita a vida. E faz
para nós a crítica à uma sociedade injusta em que os carrões, sendo símbolo de
poder para os brancos, não o são para os afrodescendentes de sucesso. Porque
naquele momento crucial de poder do estado, ao ser abordado por um policial
branco, a inveja, o ressentimento de se ter menos dinheiro que o negro, fazem o
branco abusar do poder. Todavia a
América tem leis e ele vai responder por isso. No Brasil também temos leis. Mas
seus rigores ,infelizmente ,só valem para pretos e ....pobres.
José
Carlos Nunes Barreto
Professor
doutor
debatef@debatef.com.br