“Ê Ê /Hoje eu vô pegá você/Ê Ê/.../Ê Ê/vô pegá você” - Funk
da periferia
Escolas de lata, professores surrados na saída das aulas, alguns
assassinados. Diretores e gestores de escolas encurralados pelo tráfico de
drogas em regiões carentes. Milhões de adolescentes que chegam ao final do
ciclo básico sem conseguirem aprender matemática, física e química, matérias
fundamentais para a produção de bens e serviços. Apesar disso, e paradoxalmente,
uma pesquisa mostrada numa edição de revista semanal brasileira mostra que 90%
dos pais estão satisfeitos com o ensino recebido por seus filhos. Autoengano ou
o sucesso da propaganda de governos inescrupulosos? E este é o panorama da
educação que estará freando o desenvolvimento do País. Via de consequência, por
falta de mão de obra qualificada na área tecnológica, muitas empresas transnacionais
já estão indo embora, levando investimentos e oportunidades.
Como explicar que em comparação com o Reino Unido, um
benchmark, o estado brasileiro gasta no ensino fundamental cerca de 30% menos
por aluno, enquanto no ensino superior nosso gasto é 30% maior? Simples: Inversão
de prioridades e desperdício de recursos.
Precisamos criar uma “cultura da dona de casa” (Housekeeping)
em torno da escola, em que os pais, através de conselhos aliados aos diretores,
possam transformá-las e melhorá-las utilizando indicadores de desempenho e
planos de ação.
A matéria prima que
chega ao ensino superior está cada vez pior. Jovens recém-saídos do ensino
médio que não sabem ler e interpretar um texto. Em que física e matemática são
terrores que ameaçam a formação de engenheiros e arquitetos. Química deixa
atordoados médicos, farmacêuticos e nutricionistas. E estas lacunas perseguirão
por toda vida os profissionais, limitando-os, e cobrando um alto preço da
sociedade em termos de erros técnicos, envolvendo perdas econômicas e sociais.
O mal resultado, mostrado acima gerou uma crise, que não se
resolverá com mais salário para professores, mas sim com gestão e mudança de
perfil econômico – financiado com rubrica federal já existente - dos alunos
pobres em sua maioria, e sem condição de pagar os 100 dólares mínimos exigidos
por uma mensalidade.
Uma série de fusões
está acontecendo e culpa-se a inadimplência. Um trivial problema de
administração, e após esse fato, segue-se a lei de ajuste de capacidade do mercado:
Demissões em massa de mestres e doutores, os mais caros, assim que os cursos
são reconhecidos pelo MEC. Um verdadeiro desperdício de capital humano, já que 90%
deste pessoal especializadíssimo, no Brasil, ao contrário do EUA, CEE, China e
JP, só encontra trabalho nas universidades, e não em empresas. De que adianta
formarmos mestres e doutores se não sabemos usá-los? Seria mais sensato
gastarmos mais com o ensino fundamental, médio e tecnológico, enquanto nos
preparamos para usar melhor estes cérebros em futuro próximo. Como grandes
atores deste cenário, desafio os novos prefeitos eleitos com as sábias palavras
de Mahatma Gandhi: Acreditar em algo, e não vivenciá-lo, é ser desonesto. Ou a
refletirem com Newton Von Zuben no livro de Regis de Morais, org. ”Sala de aula
que espaço é este”? ed. papirus: A sala de aula deveria ser pensada como o árduo caminho que leva da angústia do
labirinto à fundação da liberdade.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com
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