quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Vida e Morte: Chacinas em Udia

“Muitos se perderam no caminho/ mesmo assim é fácil inventar/ uma nova canção/que venha trazer/ sol de primavera/ a lição sabemos de cor/ só nos resta aprender” - cancioneiro popular
Contam às escrituras que Jesus estava ocupado demais a atender as multidões, fazendo milagres, de tal forma que se atrasou para ir ver a doença de Lázaro–quase um irmão. Quando enfim se desvencilhou dos compromissos, e chegava no lugarejo, ainda longe, Maria e Marta-  irmãs do doente, correram ao seu encontro e relataram o pior: Lázaro havia morrido. Jesus chorou. E esta é a única vez em todos os evangelhos, que esta humana condição é revelada por Nosso Senhor. Gosto de ler esse texto em www.bibiaonline.com.br. O espectro da morte como companheira de nossa existência, aparece nos escritos sagrados, para nos mostrar a brevidade da vida, e o poder de Deus sobre este, que é o temido fim de todos nós. No caso de Lázaro, Jesus pediu que o levassem até a tumba do morto, mas as irmãs tentaram demovê-lo, porque já fazia três dias e ele cheirava mal. A multidão o seguia. Ao chegar ao túmulo Ele ordenou que retirassem a enorme Pedra que bloqueava a caverna, e gritou - “Lázaro vem para fora”. E este apareceu como um fantasma, cheio de ataduras e cheirando muito mal. Jesus não o tocou, apenas ordenou que o desatassem - o que foi imediatamente feito por suas irmãs e amigos, que provavelmente providenciaram banho, comida, e festa para brindar a ressurreição de um amigo querido. Neste milagre, Deus quis ensinar que existe um tempo dEle. Também serviu para lembrar a todos, que para tirar pessoas dos túmulos da vida é preciso atender às ordens do Rei do Universo: mover pesadas pedras; desatar defuntos apesar do mau cheiro - e este é um trabalho de equipe; não é possível fazê-lo sozinho. Pelo que depreendemos no texto, Lázaro tinha muitos amigos. E eles é que fizeram tudo, alegres por estarem vivendo aquele momento mágico, sob as ordens do Mestre.
Mas o que tem haver esta escritura com as chacinas que tem ocorrido em Udia? Permitam-me a licença poética: nossa sociedade esta que nem Lázaro: doente. E mandou sinais - os indicadores de morte violenta. A ONU ensina que acima de 8 mortes por 100 mil habitantes, seria epidemia. MG já estaria muito ruim, cerca de 18 mortes por 100 mil habitantes. Já Udia esta muito pior mais de 30 mortes por 100 mil. Pior inclusive que a média brasileira. As nossas autoridades deixaram a elite da zona sul ilhada entre dois focos de delinquência, os bairros São Jorge e Patrimônio, e que equivalem no Rio ao Complexo do Alemão e a Rocinha antes das UPPs. Agora com as chacinas ocorridas e ainda na metade do ano, com indicador de 22 mortes por 100 mil, o doente morreu e cheira mal. Precisamos de milagres, ou de outro governo - qualquer que seja o partido vencedor das eleições - que use intelligentsia e estratégias como a do Rio de Janeiro: entrar na comunidade e ficar - desatar nós, pegar no pesado, tirar as pedras da falta de comunicação com a sociedade, não ter medo do cheiro ruim daqueles que estão mortos socialmente. As perguntas dos dirigentes hoje são iguais a de Alice (no País das Maravilhas) ao gato na bifurcação da estrada, e a resposta é a mesma. Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve. Oremos!

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com

Um dia para o meio Ambiente?

“É pau/ É pedra/ É o fim do caminho/ É o resto de toco...”
Cancioneiro popular

Acompanho e participo todos os anos das programações do dia mundial do meio ambiente. Contudo, jamais vi tamanha urgência em se fazer “Educação ambiental” e planos de ação emergenciais, como na atual crise do planeta Terra. Caso não tenhamos êxito, enfrentaremos o maior teste pelo qual a humanidade já passou: Um desastre maior que as guerras, maior que a desigualdade social construída por séculos de exploração do homem pelo homem: O aquecimento global sem controle e sem volta. Vê aquela mulher catadora de lixo na porta de sua casa? Como ela, bilhões que estão no limiar da pobreza no mundo, podem se tornar reféns da sede e da fome, e não só eles, outros bilhões, mais ricos na pirâmide social, a seguirão, e no cenário mais pessimista, todos cairemos mortos, como acontecia nas pestes da idade média. Por isso, um só dia para o meio ambiente é pouco ou nada, face ao desafio que emerge com exponencial velocidade. James Lovelovk, em seu livro “Gaia, cura para um planeta doente” (ed. Cultrix,SP), nos ensina que  a Terra possui um sistema auto – regulador composto de todas as formas vidas, incluindo os seres humanos e todas as partes   materiais que a constituem, o ar, os oceanos e as rochas da superfície. Segundo o autor, o sistema terra se assemelha a um organismo vivo, e regula seu clima e a sua química. Logo adicionar gases estufa à atmosfera, por exemplo, através de queimadas na Amazônia, ou nos terrenos urbanos das cidades, tem consequências muito diferentes, se tal fosse feito em um planeta morto como Marte. A cada dia em que emporcalhamos o ar, nos aproximamos da faixa não reversível, acima de 400 partes por milhão, após a qual o sistema Terra ficará sujeito a um superaquecimento irreversível. Hoje estamos na faixa de 380 ppm, ou seja ainda nos resta algum tempo para agir.
Mas sejamos honestos. Alguma vez você pegou um balde d’água para apagar o fogo criminoso ateado no terreno ao lado da sua casa? Ou protestou contra os monstros desmatadores - mor da Amazônia, Blauro Maggi e Lula, que queimam a área da floresta equivalente a um campo de futebol a cada cinco minutos? Para a maioria a resposta é não. E é por isso que o desastre climático já bate à nossa porta, com enchentes assassinas, ventos destruidores, pragas de insetos que agora estão mais aclimatados, e o pior, a alta dos alimentos decretada pelas quebras de safras por motivo de desarranjos climáticos.
 O Professor Lovelock viveu como inglês, a luta contra Hitler na segunda guerra mundial. E compara o desleixo dos líderes mundiais com o Tratado de Kiotto, ao mesmo que ocorreu ao tratado de Munique em 1938, contra o dragão hitleriano. Só se ganhou tempo para que o Dragão crescesse e quase destruísse a Europa. Mesmo as mortes de 20000 velhos no CEE no superaquecido verão de 2005, o furacão em Santa Catarina no Brasil, a inflação dos alimentos, nada nos desperta da anomia e do estupor. Ver a Amazônia ser queimada, matas ciliares dos rios desaparecerem e os novos Neros atearem fogo no mato ao lado de nossas casas, não nos tira da imobilidade. O poeta diria que isto é o mesmo que conviver com um espinho na mão, ou um corte no pé. E a continuar assim não haverá mesmo, promessa de vida para o nosso coração.


José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com

Comida e Remédio

“Outros olhos/ e armadilhas [...]” - cancioneiro popular

 No tempo de nossas avós ninguém comprava tanto remédio em farmácias. Vão dizer que elas morriam mais cedo. É verdade, mas os motivos eram outros. Normalmente a quase total falta de saneamento (que persiste em parte até hoje) e o ainda pouco conhecimento da fisiologia humana por parte dos médicos. O fato é que muitas soluções farmacológicas estavam no terreiro de casa, do chá de quebra pedra para os rins, aos efeitos do limão china no tratamento do resfriado. Não que se queira a volta daqueles tempos heróicos. Mas um pouco de reflexão nunca é demais. Tomar remédios que amanhã criarão dependência ou outras doenças, é se meter em conto de Kafka, e é esta a realidade de muitos aposentados no Brasil. Às vezes o dinheiro da aposentadoria nem dá para comprar a lista solicitada pelo médico.
Ainda bem que médicos conscientes dessa realidade, começam a repensar esse impacto social da farmacologia. E a desconfiar das ofertas insistentes de laboratórios para uso de “amostras grátis” e “ajuda” em congressos científicos. As despesas com propaganda nos EUA equivalem em um ano, ao dobro do que se gasta com pesquisa, ou seja, na produção de novos medicamentos. Estudo americano usando informações de duas empresas que armazenam dados de venda e movimentação financeira de laboratórios farmacêuticos descobriram que as companhias gastaram 57,5 bilhões de dólares em propaganda. E eles explicam que aí estão incluídas as despesas com distribuição de amostras grátis para pacientes, ações diretas com médicos – como pagamento de propagandistas passagens e brindes-publicidade em revistas especializadas e patrocínio de congressos. Enquanto isso, para o desenvolvimento de novas drogas no mesmo período os laboratórios gastaram o equivalente a 31,5 bilhões de dólares, segundo artigo publicado na revista científica Public Library of Science Medicine, em 2004.
Ninguém assume no Brasil algo parecido aos valores apresentados pela indústria farmacêutica americana, mas guardadas as devidas proporções, sabe-se que eles são tão caros quanto, e isso explica os altos preços desses medicamentos, para uma população velha e doente, cuja maioria ganha salário mínimo. Um absurdo que poderia ser evitado, pelo uso parcial dos princípios ativos de nossas ervas medicinais que estão cada vez mais esquecidas, e pelo uso medicinal da boa alimentação, já que somos o que comemos. Mas cuidado, mesmo aí existem armadilhas. Por exemplo, acabo de orientar uma aluna de especialização, numa monografia sobre o risco de se comer Açaí e contrair a doença de Chagas, em virtude da falta de higiene e da precariedade do produto em sua origem. A total falta de rastreabilidade, ou seja, a falta de condições para assegurar a garantia de qualidade do seu processamento na cadeia de valor desde a origem, explica o fenômeno. E Açaí é um símbolo de uma alimentação rica em cálcio, fibras, vitaminas B1, B2 e desoxidantes sendo, portanto um perfeito receituário para saúde e longevidade. O mesmo acontece com produtos alimentícios de alto valor, vendidos em lojas de grife como “natural” quando, na verdade, o que rendem são sérias contaminações aos incautos. Infelizmente, sem boas práticas de fabricação, a comida é um remédio que pode se tornar veneno.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

Reengenharia na Educação

“Ê Ê /Hoje eu vô pegá você/Ê Ê/.../Ê Ê/vô pegá você” - Funk da periferia

Escolas de lata, professores surrados na saída das aulas, alguns assassinados. Diretores e gestores de escolas encurralados pelo tráfico de drogas em regiões carentes. Milhões de adolescentes que chegam ao final do ciclo básico sem conseguirem aprender matemática, física e química, matérias fundamentais para a produção de bens e serviços. Apesar disso, e paradoxalmente, uma pesquisa mostrada numa edição de revista semanal brasileira mostra que 90% dos pais estão satisfeitos com o ensino recebido por seus filhos. Autoengano ou o sucesso da propaganda de governos inescrupulosos? E este é o panorama da educação que estará freando o desenvolvimento do País. Via de consequência, por falta de mão de obra qualificada na área tecnológica, muitas empresas transnacionais já estão indo embora, levando investimentos e oportunidades.
Como explicar que em comparação com o Reino Unido, um benchmark, o estado brasileiro gasta no ensino fundamental cerca de 30% menos por aluno, enquanto no ensino superior nosso gasto é 30% maior? Simples: Inversão de prioridades e desperdício de recursos.
Precisamos criar uma “cultura da dona de casa” (Housekeeping) em torno da escola, em que os pais, através de conselhos aliados aos diretores, possam transformá-las e melhorá-las utilizando indicadores de desempenho e planos de ação.
 A matéria prima que chega ao ensino superior está cada vez pior. Jovens recém-saídos do ensino médio que não sabem ler e interpretar um texto. Em que física e matemática são terrores que ameaçam a formação de engenheiros e arquitetos. Química deixa atordoados médicos, farmacêuticos e nutricionistas. E estas lacunas perseguirão por toda vida os profissionais, limitando-os, e cobrando um alto preço da sociedade em termos de erros técnicos, envolvendo perdas econômicas e sociais.
O mal resultado, mostrado acima gerou uma crise, que não se resolverá com mais salário para professores, mas sim com gestão e mudança de perfil econômico – financiado com rubrica federal já existente - dos alunos pobres em sua maioria, e sem condição de pagar os 100 dólares mínimos exigidos por uma mensalidade.
 Uma série de fusões está acontecendo e culpa-se a inadimplência. Um trivial problema de administração, e após esse fato, segue-se a lei de ajuste de capacidade do mercado: Demissões em massa de mestres e doutores, os mais caros, assim que os cursos são reconhecidos pelo MEC. Um verdadeiro desperdício de capital humano, já que 90% deste pessoal especializadíssimo, no Brasil, ao contrário do EUA, CEE, China e JP, só encontra trabalho nas universidades, e não em empresas. De que adianta formarmos mestres e doutores se não sabemos usá-los? Seria mais sensato gastarmos mais com o ensino fundamental, médio e tecnológico, enquanto nos preparamos para usar melhor estes cérebros em futuro próximo. Como grandes atores deste cenário, desafio os novos prefeitos eleitos com as sábias palavras de Mahatma Gandhi: Acreditar em algo, e não vivenciá-lo, é ser desonesto. Ou a refletirem com Newton Von Zuben no livro de Regis de Morais, org. ”Sala de aula que espaço é este”? ed. papirus: A sala de aula deveria ser pensada  como o árduo caminho que leva da angústia do labirinto à fundação da liberdade.


José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

O Out-Put Show

    “Longa é a arte/ Breve é a vida” - Tom Jobim

    Tenho uma velha caixa de brinquedos em que meus filhos brincaram durante a infância. Sem saber o que fazer com ela após os meninos crescerem, me deparei com uma questão crucial: como jogar fora aquilo que para mim representava tanto emocionalmente? Foi quando, ensinando na pós-graduação sobre inovação, resolvi fazer o que ensinava: inovei. E passei a usar aqueles brinquedos para montar maquetes, primeiro com alunos da pós-graduação, depois com os da graduação. Cada construção criada mostrava vida própria, para o grupo aplicar conceitos de logística, gestão da produção, gestão da qualidade, gestão ambiental, gestão de pessoas, e gestão de segurança/saúde ocupacional. Brinquedos que iriam aumentar o volume de lixo no universo são hoje meus instrumentos de trabalho e me lembro das vezes que cheguei com eles em direção à lixeira e voltei. Observo curioso, alunos sentarem no chão, rirem e brincarem enquanto aprendem. É como se visse de novo meus filhos naquela situação. Subo um degrau na motivação, ao vê-los tirar fotos de suas obras de arte e inovar nos relatórios enviados por e-mail, anexando às mesmas, observações nunca antes feitas em situações similares na vida real, proporcionando criação de valor.
Pois a gestão do conhecimento chegou a este milênio como o único fator de produção significativo para a geração de riquezas no universo corporativo. Diversos autores vêm alertando desde meados da última década do século passado sobre a importância da inovação neste processo. Descreve-se um salto quântico no sucesso empresarial toda vez que ferramentas da qualidade de última geração, tipo “seis sigma”, são incorporadas ao capital humano das organizações. Exemplos desses resultados são observados no Brasil em diversos setores produtivos, como o setor sucroalcooleiro, que se aproximaram desse saber fazer e o captaram diligentemente, com método, eficiência e eficácia, em atenção às necessidades dos clientes internos e externos das organizações. Segundo TERRA,J.C.(2001) em sua tese de doutorado intitulada “Gestão do conhecimento - O Grande Desafio Empresarial”, as idéias e conceitos são adquiridos, gerados, armazenados, e difundidos através de modelos de gestão do conhecimento individual e/ou coletivo das organizações, e são advindos de uma  miríade de fontes, formas de aquisição e síntese de lições aprendidas.
   
      A Gestão do Meio Ambiente, da Saúde e Segurança Ocupacional que em tempos recentes eram relegados a segundos e terceiros planos, agora fazem parte do processo, através de sinergias entre o ambiente e pessoas que são o principal ativo de uma organização. Como não cuidar de quem gera riquezas nas organizações? Infere-se, portanto que a moderna Administração fará do chamado SIG-Sistema Integrado de Gestão, um verdadeiro out-put show, após adquirir, gerar, armazenar e difundir conhecimento, fazendo inovação, quebrando paradigmas, e construindo o futuro como nossas crianças e alunos o fizeram quando, brincando aprenderam a aprender. 


José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor

debatef@debatef.com

Os Resíduos e você

“O que a gente pode pode/ O que a gente não pode/ explodirá/ Realce...”
Cancioneiro popular

Ando as voltas com análises de viabilidade técnica econômica financeira de projetos por conta das minhas atividades profissionais. E dias desses apareceu uma inusitada, pois era de um aterro industrial. Digo isso porque este equipamento de controle de poluição é dos mais esquecidos nas cidades brasileiras, principalmente agora quando a produção Industrial explode puxada por um aumento do PIB de 6% no último trimestre. Um aterro industrial possui ETE-estação de tratamento de esgoto, e incineradores para resíduos perigosos, que podem ser industriais, de farmácias, de hospitais e de laboratórios,
Ou da sua casa. Porque nossos resíduos são tão desconsiderados nos planejamentos estratégicos de governos e de empresas? Porque existe uma propensão natural do ser humano, desde nossos pais bíblicos, até por sobrevivência, de afastar para longe de sua tenda seus resíduos. Uberlândia por exemplo manda seus resíduos classe 1 – os perigosos, para Ribeirão preto, o que caracteriza a expressão internacionalmente conhecida ”NO in my back Yard”, não em meu quintal, por favor!
Primeiro vamos deixar claro uma coisa: Lixo é resíduo, e ele pode ser perigoso ou não (o classe 2). Mesmo o não perigoso traz sérios problemas para a saúde pública, por conta dos vetores de contaminação, tão conhecidos, como ratos, baratas, moscas e principalmente pelo líquido efluente que brota dele - o chorume, altamente poluidor, porque tem alta demanda biológica de oxigênio e alta demanda química de oxigênio, é pior que esgoto, e quando cai em um corpo d'água retira rapidamente seu oxigênio gerando os tietês da vida, mesmo no subsolo onde a gente não vê. Em virtude disso, deve ser tratado em uma estação de esgoto acoplada ao aterro sanitário para não afetar o lençol freático e a água da região. Nosso aterro sanitário em Uberlândia está no final de vida útil, porque ninguém discute isso em campanha eleitoral? Mais de 70% das cidades brasileiras dispõe inadequadamente o lixo, sem coletar chorume, logo grande parte das doenças do SUS é devido às contaminações deste estado da arte. Portanto o lixo quando depositado em lixão, e/ou aterro controlado, não tem o efluente tratado, como quando disposto em aterro sanitário feito adequadamente com estudos de impacto ambiental, e respeito às normas técnicas vigentes para destino final de resíduos domésticos não perigosos.
Via de consequência remédios vencidos, pilhas e lâmpadas fluorescentes à base de mercúrio não deveriam estar em aterro sanitário, muito menos em lixão e aterro controlado, mas sim em aterro industrial, mas por falta de políticas publicas e de comunicação, a população joga neles e até nos rios e terrenos baldios e tudo acaba nos rios e mananciais de superfície, voltando depois na água que se bebe, pois, atenção, nenhuma ETA deste País tem capacidade técnica para extrair micros poluentes orgânicos persistentes e outros que se agregam à água, causando a epidemia de cânceres que estamos assistindo. Explodirá ainda mais, se as autoridades não atentarem em seus programas de governo, para os resíduos urbanos, perigosos ou não, que são, todavia, seguros indicadores de aumento da riqueza de um povo que vota.


José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com



Os Avarentos

“Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre nós” Salmo bíblico.


Me chama a atenção a quantidade de Organizações não Governamentais que desviam dinheiro arrecadado na sociedade, cujo endereço seria os necessitados, motivo da missão da organização. Não há controle adequado no Brasil sobre doações bem interessadas de toda parte, principalmente do exterior. E a Amazônia chega a ter uma ONG para cada seis índios. Mas lá, como em todo lugar deste País, algumas fazem como o “establishment” na parábola do bom samaritano, contada por Jesus aos hipócritas - fariseus e doutores da lei: Após ser assaltado e espancado por ladrões, um judeu foi deixado à beira da estrada. Por lá passaram ao largo além daqueles, os sacerdotes, religiosos, e quem sabe certos “ongeiros” da época, todos compatriotas seus. Foi um inimigo marcado pelo opróbrio, um samaritano, que se compadeceu do judeu, colocou-o sobre o cavalo, pagou médico, hospedaria etc., e ainda mandou “pendurar” o que passasse do numerário deixado para o tratamento, para ser pago na sua volta pelo mesmo caminho.
O sempre atual tema proposto por Jesus na parábola do bom samaritano, “arrepia” muitos políticos e religiosos, até “evangélicos”. Eles usam instituições filantrópicas de utilidade pública no Brasil, para desviar vultosas somas de recursos, que ao longo dos anos, vão para contas de laranjas, e para paraísos fiscais, e exatamente por isso, não têm compromisso político em acabar com a pobreza neste País. O fato dessas somas consideráveis não serem usadas para retirar pessoas de “desvios” do caminho, colocadas que foram por peças pregadas pelo destino, não conta para esses agentes, cujo modelo mental é de total irresponsabilidade social, ou seja, socializar perdas, e faturar com o que é público e destinado à maioria.
Todavia, caro leitor, quantas vezes não deparamos nós com esse fato na nossa própria família? E é em casa que tudo começa. Aquele tio irresponsável (e religioso) que nunca divide os remédios da mãe doente com os irmãos, mas faz questão de faturar sua parte no aluguel da casa da velha. Ou aquela filha que apesar de bem empregada, e usar caras roupas de grife, nunca paga sua parte na conta coletiva do restaurante, nem nos presentes combinados para a tia avó enquanto viva, mas faz questão absoluta, de receber sua parte nos despojos da mesma, agora, após a sua morte. Ou nas lições deixadas pela briga familiar pela herança deixada pelo avô rico. Os familiares mais pobres são passados para trás, porque não tem bons advogados. E os mais ricos e que “nem precisavam”, fazem questão até daquele copo de cristal assim assado. Enfim há total falta de misericórdia. E o que é misericórdia? Ela é prima da caridade é fruto do espírito da tríade fé, esperança e caridade proposta pelo apóstolo Paulo aos cristãos. Significa pensar nos outros em primeiro lugar. Se colocar no lugar de outrem, e procurar sentir o que passa no seu coração. O principal resultado para quem a pratica é ver criado na alma um “espírito público”, que gerará sinergias, liderança, e fará o povo, qualquer povo, atravessar “o mar vermelho a pés secos”. E que Deus nos livre dos avarentos.



José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com


Luzes e Gestão para a Educação

Estive em SP a serviço do MEC, para reconhecer mais um curso. É nesta atividade que estou na estrada há mais de 40 anos como gestor e professor, e posso dar uma contribuição para a educação do Brasil. A propósito, ainda estamos sob o impacto do anúncio pelo MEC de que 17 escolas de medicina, entre elas 4 federais, jogam no mercado médicos despreparados, face as notas das avaliações de alunos, projeto pedagógico, instalações, professores e corpo técnico daquelas IES - Instituições de Ensino Superior.
 Fico feliz quando vou a esses lugares, e ofereço ao INEP um serviço, para melhorar as organizações escolares. Muitas vezes ao colocar o pé no recinto, em função do foco e do treinamento recebido, percebo fragilidades, itens cruciais para o sucesso do ensino, e checo pontos estratégicos antes apresentados como perfeitos, e que, todavia “in loco”, se mostram verdadeiros fracassos.
Causa constrangimento a todos nós, a infeliz entrevista do coordenador da Escola de medicina da IFES - Instituição Federal de Ensino Superior- de Salvador, culpando os alunos baianos pelo mau resultado do curso. O aluno é o out-put, e é por isso que checamos os egressos, sendo o papel da coordenação fundamental neste fracasso. É como se o oleiro culpasse o barro escolhido, pela má forma da peça esculpida. Eis o absurdo.
Tenho pena de milhares de alunos que se formam sem perspectivas de futuro, por causa de gestões clamorosas em nossas escolas de educação superior. Jovens pobres, que trabalham de dia para pagar seus estudos à noite, e que pela falta de infra estrutura, qualidade de projetos pedagógicos, ou inadequação do Plano de desenvolvimento da Instituição – a visão da organização-, são obrigados a amargar o limbo, penalizando  também o País.
Não adianta colocar a culpa nos trópicos, na falta de equipamentos, de professores e técnicos preparados. O maior problema da educação superior no País é a falta de gestão. Muitas escolas possuem ótimos laboratórios, mas não o utilizam adequadamente porque seu projeto pedagógico é míope. Visitas técnicas que fariam ”a ficha do aluno cair” são ignoradas. Projetos interdisciplinares que formatariam o senso de conjunto e fariam o amálgama de conceitos, nelas inexistem, até porque, a excessiva especialização de alguns mestres e coordenadores, os leva a ter uma “fatiada” visão de mundo.
Estamos falando aqui, de uma amostragem num universo de menos de 20% dos 24 milhões de jovens entre 18 e 24 anos. Por conseguinte, mais de 80% deles estão fora da Universidade, exatamente o inverso das metas universais de países como China e Índia, é o 80/20 invertido, infelizmente. E o dado assustador mostrado pelo Instituto Educar, é que 75% dos estudantes do ensino superior da nação estudam em escolas privadas, e nelas, a inadimplência chega a 50% até poucos anos atrás - e não é mais assim por causa do FIES-Hoje na pauta de cortes do governo.
 Lembrando Victor Hugo: “Nos olhos do jovem brilha a chama, nos olhos do velho, brilha a luz”, com tantos milhões de estudantes necessitados, e sendo atendidos pelo programa FIES - Financiamento de Ensino Superior do MEC, antevejo o desastre já anunciado pelas quedas das ações da Kroton, e outras grandes empresas de educação no Brasil. Finalizo clamando(de novo) por luzes e gestão na educação, para mudarmos a história da educação neste País.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com