“Muitos se perderam no caminho/ mesmo assim é fácil inventar/ uma
nova canção/que venha trazer/ sol de primavera/ a lição sabemos de cor/ só nos
resta aprender” - cancioneiro popular
Contam às escrituras que Jesus estava ocupado demais a atender
as multidões, fazendo milagres, de tal forma que se atrasou para ir ver a
doença de Lázaro–quase um irmão. Quando enfim se desvencilhou dos compromissos,
e chegava no lugarejo, ainda longe, Maria e Marta- irmãs do doente, correram ao seu encontro e
relataram o pior: Lázaro havia morrido. Jesus chorou. E esta é a única vez em
todos os evangelhos, que esta humana condição é revelada por Nosso Senhor.
Gosto de ler esse texto em www.bibiaonline.com.br. O
espectro da morte como companheira de nossa existência, aparece nos escritos
sagrados, para nos mostrar a brevidade da vida, e o poder de Deus sobre este,
que é o temido fim de todos nós. No caso de Lázaro, Jesus pediu que o levassem
até a tumba do morto, mas as irmãs tentaram demovê-lo, porque já fazia três
dias e ele cheirava mal. A multidão o seguia. Ao chegar ao túmulo Ele ordenou
que retirassem a enorme Pedra que bloqueava a caverna, e gritou - “Lázaro vem
para fora”. E este apareceu como um fantasma, cheio de ataduras e cheirando
muito mal. Jesus não o tocou, apenas ordenou que o desatassem - o que foi
imediatamente feito por suas irmãs e amigos, que provavelmente providenciaram
banho, comida, e festa para brindar a ressurreição de um amigo querido. Neste
milagre, Deus quis ensinar que existe um tempo dEle. Também serviu para lembrar
a todos, que para tirar pessoas dos túmulos da vida é preciso atender às ordens
do Rei do Universo: mover pesadas pedras; desatar defuntos apesar do mau cheiro
- e este é um trabalho de equipe; não é possível fazê-lo sozinho. Pelo que
depreendemos no texto, Lázaro tinha muitos amigos. E eles é que fizeram tudo, alegres
por estarem vivendo aquele momento mágico, sob as ordens do Mestre.
Mas o que tem haver esta escritura com as chacinas que tem
ocorrido em Udia? Permitam-me a licença poética: nossa sociedade esta que nem
Lázaro: doente. E mandou sinais - os indicadores de morte violenta. A ONU
ensina que acima de 8 mortes por 100 mil habitantes, seria epidemia. MG já
estaria muito ruim, cerca de 18 mortes por 100 mil habitantes. Já Udia esta muito pior mais de 30 mortes por 100 mil. Pior inclusive
que a média brasileira. As nossas autoridades deixaram a elite da zona sul
ilhada entre dois focos de delinquência, os bairros São Jorge e Patrimônio, e
que equivalem no Rio ao Complexo do Alemão e a Rocinha antes das UPPs. Agora
com as chacinas ocorridas e ainda na metade do ano, com indicador de 22 mortes
por 100 mil, o doente morreu e cheira mal. Precisamos de milagres, ou de outro
governo - qualquer que seja o partido vencedor das eleições - que use intelligentsia
e estratégias como a do Rio de Janeiro: entrar na comunidade e ficar - desatar
nós, pegar no pesado, tirar as pedras da falta de comunicação com a sociedade,
não ter medo do cheiro ruim daqueles que estão mortos socialmente. As perguntas
dos dirigentes hoje são iguais a de Alice (no País das Maravilhas) ao gato na
bifurcação da estrada, e a resposta é a mesma. Se você não sabe para onde ir,
qualquer caminho serve. Oremos!
José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor
debatef@debatef.com