"Não saberemos quem somos,se ignorarmos quem seremos"
Simone de Beauvoir
A caminhada é meu exercício preferido, não só pelo benefício físico, mas principalmente porque durante a mesma, advogo por questões sob sursis, reflito sobre a vida, e resolvo pendências comigo mesmo.Agora entendo porque no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, muitos mudam a vida.Descobrem vocações.E tomam decisões cruciais para suas vidas, suas famílias e suas empresas.Já escrevi sobre este evento algumas vezes,por achá-lo singular na existência de um ser humano que "pára sua vida"em um ano sabático, para escutar a sabedoria de sua inteligência espiritual, e, isto embora pareça simples, é algo extremamente radical.Uma forma de achar tempo na marra, para jogar luz sobre temas cruciais da existência.
Em artigo anterior, já escrevi que a correria dos dias que seguem, como torrente tempestuosa a escorrer pelas calçadas da vida, nos anestesia. Faz tudo parecer igual, pasteurizado e sem brilho. E pior é não poder observar as diferenças nas cores, nos sons,nos ambientes(carregados ou leves) e nas pessoas(alegres ou tristes).Principalmente nelas.Um pai ou uma mãe que desaprende a percepção da linguagem do corpo e do tom de voz dos filhos , perde segundo especialistas, oitenta por cento da comunicação com eles.No trabalho e na vida, somos muitas vezes cantores de um samba de uma nota só(com perdão ao Tom Jobim e a seu belo samba-arte).Não sabemos mais escutar:Gente. cachoeiras. Pássaros. O vento. Não temos tempo.
Anos atrás,achei interessante ,publiquei, e agora novamente comento a entrevista do antropólogo Wilian Ury- especialista em técnicas de negociação- intitulada" O Inferno somos nós".Respondendo se concordava com Jean- Paul Sartre, que cunhou" o inferno são os outros".Ury respondeu que o outro somos nós, e, quando dizemos que o inferno são os outros, na verdade,estamos olhando para o nosso próprio inferno anterior.Na negociação , o fundamental é ouvir o outro.Nos treinamentos de nossa consultoria, ministramos cursos de pós graduação sobre o tema, para executivos e funcionários, que precisam aprender a negociar, face a recente democratização da maioria das empresas- uma maré sem volta.Que faz com que os gestores gastem mais de cinquenta por cento de seu tempo com gente, e cada vez mais sentem um gap e despreparo para lidar com este intangível capital intelectual das organizações.
Todos diagnósticos empresariais dos últimos tempos apontam para grandes perdas de produtividade e , via de consequência, de mercado, por não começarmos exatamente por aí.Não há falta de recursos,o que há é desperdício: equipamentos errados são comprados e ou modernizados,instalações são aumentadas quando não há demanda para isso.Tudo sem cuidar adequadamente de pessoas e do clima organizacional.E a lição de casa que fica, é ir conversando com seu chão de fábrica, chão de loja e chão de escola, pois muitas soluções endógenas serão "a salvação da lavoura", para usar um termo do agronegócio, que usa como nunca este conceito, para sair da miséria e gerar riquezas para o País.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Sócio-diretor da DEBATEF Consultoria
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